Diferentes?

Capítulo 23 – Imaginar, fazer e amar

Tive um dia cansativo, porém proveitoso. Nem fui a Grasoil. Depois de horas de negociação, fechei a consultoria com a Destor e agora era realidade, faltava apenas assinar o contrato. Precisava colocar alguém na Grasoil para que me liberasse para este novo projeto. Ia ser difícil não poder ver a Sophia sempre. Depois de ontem, nós não havíamos conversado e eu estava louca para chama-la para jantar. Estava morrendo de saudades e apreensiva. O que ela teria conversado com a filha? Parei na porta do prédio da minha empresa discando para o celular dela. Escutei dois toques e logo depois sua voz do outro lado da linha. Eu estava tão irremediavelmente apaixonada que sentia seu perfume. Que loucura! Se bem que… Parecia que tinha um eco de sua voz atrás de mim. Voltei-me e…

— Oi!

Ela estava com um sorriso lindo e o celular próximo ao ouvido. A danada quando queria tinha um humor daqueles. Continuou a falar pelo telefone, mesmo estando de frente para mim.

— Oi, tudo bem? Que bom que você ligou! – Eu ria como uma boba olhando para ela. – Eu estava pensando em te pegar para fazermos alguma coisa. Você quer dar um passeio comigo? Uma caminhada pela orla, quem sabe.

Continuei falando pelo telefone e olhando para ela, dando continuidade a sua brincadeira.

— Eu iria te fazer a mesma proposta, mas queria passar em casa antes para tomar banho e trocar de roupa.

Ela abriu mais o sorriso e continuou.

— Ótimo! Você está de carro? Se quiser, eu te pego na porta de seu trabalho. É só esperar um pouquinho.

— Você consegue vir para o centro de carro? — continuávamos na mesma brincadeira boba de nos falarmos ao telefone, mas nos olhando e sorrindo. — Isso aqui está uma loucura com tantas obras. Um verdadeiro inferno para chegar e outro para estacionar.

— Cheguei mais cedo para não ter problemas e estacionei na Grasoil.

— Ah, claro! Você tem vaga cativa lá. Que ingenuidade a minha.

Ela abriu o sorriso novamente e desligou o celular. Deu-me um beijo no rosto e colocou a mão em meu braço me conduzindo para a rua. Começamos a andar lado a lado, nos encaminhando em direção à empresa dela. A gente não estava sabendo muito bem disfarçar em público, sabe. Acho que é aquela coisa de início de relacionamento que tudo a gente acha uma gracinha. Eu queria tocá-la, abraça-la e não podia. Centro da cidade, hora do rush e eu apenas pensando no momento em que nós pudéssemos estar sozinhas para beijá-la. Era tudo que eu queria sentir. Aqueles lábios quentes e macios em contato com os meus. Aquele corpo gostoso colado a mim.

— Levo você até sua casa e espero se arrumar. Quem sabe ficamos ali na Urca mesmo. Tomamos um chope por lá.

— Não se incomoda? Não é difícil para você? Afinal…

— Não tem problema para mim. Não vou dizer que não fico “mexida”, mas tenho que enfrentar meus demônios, não é verdade? “Eles”, — ela se referia aos sequestradores – tiveram negado o pedido de liberdade provisória. Pelos trâmites, já devem ter entrado com o “habeas corpus”, mas não acredito que seja concedido, pois é um crime considerado hediondo, então continuarão presos. E depois, você é a pessoa que quero estar junto e aquele é seu lar. Eu mesma não sei se quero sair da Urca. Gosto de lá. Talvez venda o apartamento, pois não é um local que eu tenha muita afinidade. Foram muitos anos vivendo uma mentira com o Cassio. Talvez eu compre outra coisa por ali mesmo, não sei ainda.

— Um passo de cada vez então.

— Sim.

Chegamos a Grasoil e fomos direto para o estacionamento. Entramos no carro de Sophia e quando eu fechei minha porta, Sophia se voltou para mim e puxou-me para um beijo. Deus! Como era bom beijá-la! Nossas bocas começaram em movimentos suaves nos sentindo. Logo meu corpo foi tomado por um calor sem precedentes, me deixando com o ventre em contrações. Invadi de vez sua boca com a minha língua em um beijo apaixonado e ela gemeu entre nossos lábios. Apartou-se ofegante e virou para frente, segurando o volante. Eu me assustei achando que tinha feito algo errado.

— Fiz alguma coisa errada?

Foi minha pergunta idiota. Ela sorriu, olhando para mim com uma cara de safada, ligando o carro.

— De errado nada, mas… – Ela falava ofegante ainda. – Se eu não paro, daqui a pouco, algum segurança vem saber o que está acontecendo aqui dentro do carro.

Eu gargalhei. Será que, realmente, eu fazia isso tudo com a minha “poderosa olhar de falcão”? O carro tinha insulfilm, mas se ficássemos paradas no estacionamento, até mesmo por conta do que ocorreu em relação ao sequestro dela, era capaz de vir atrás, saber o porquê de estarmos ali. Ela engatou a primeira e saiu com o carro.

— Céus, Cléo! Às vezes você me faz perder o controle.

Gente, ela não era do tipo de se expressar com frases como “você me deixa maluca” ou “tô doida com você”, a não ser quando transávamos.  Essa frase dela me envaideceu, pois eu sabia que ela queria dizer “Cléo, você me deixa louca”!

Ela ligou o rádio e tocava uma música de Chico Cesar, na voz de Daniela Mercury.

“Quando me chamou, eu vim. Quando dei por mim, tava aqui. Quando lhe achei, me perdi. Quando vi você, me apaixonei”.

Ela fez um gesto tão fofinho, gente! Retirou a mão que estava pousada no câmbio, pegou a minha, levou-a até seus lábios e beijou. Nada demais, não é? Muito normal, se não fosse ela e não fôssemos nós. Continuei segurando sua mão, acariciando. Eu sorria fácil com o nosso momento. O mundo podia acabar que eu não ligaria.

— Hoje fui falar com o Cássio.

Voltei para o mundo real e caí de cima de uma montanha. Meu corpo retesou e eu já ia largar a mão dela, porém ela segurou firme e entrelaçou seus dedos.

— Só fui conversar com ele. Não se preocupe. Nós ainda temos que arrumar as coisas da separação, antes dele voltar para o pós-doutorado dele.

Relaxei um pouco.

— E como foi?

— A Mel tinha razão. Ele está arrasado e não só pelo que aconteceu. De verdade, ele está sentido e se culpando. Bem… Acho que ele gostava mais de mim do que imaginei. Não sei se por costume ou, se a única forma de amor que conheceu foi esse relacionamento cordial que tínhamos. De fato, vejo que o nosso casamento o satisfazia de alguma forma, não sei por quê. Infelizmente ele vai ter que superar, pois a mim, não satisfazia. — Ela me olhou, sorrindo com os olhos e relaxei por completo.

Chegamos à porta da minha casa e saí do carro, mas quando caminhei para abrir o portãozinho, vi que Sophia não havia saído do carro. Retornei, mas nem cheguei a me aproximar do carro, pois ela já abria a porta para sair. Fechou a porta, acionou o alarme e veio de encontro a mim.

— Tudo bem? – Perguntei preocupada.

— Tem que estar. – Ela falou enfática.

Quando abri a porta e ela entrou, parecia que havia soltado o bocado de ar que tinha preso nos pulmões. Eu abracei-a forte e ela aninhou a cabeça entre meu ombro e pescoço. Ficamos assim durante um tempo. Pouco depois, ela cheirava meu pescoço me causando calafrios. Começou a beijar ali onde sua boca se alojara e quando vi, já beijava minha orelha, segurava meu lóbulo entre os dentes e sugava. Minha pele se arrepiou e, mais uma vez, meu ventre se contraiu.

Hoje não seria tão fácil nos livrarmos de nossas roupas, pois eu estava com uma calça social e camisa de seda de botões e ela com uma calça jeans bem apertada e, a camisa era igualmente social com “vaaariooos” botões. As sandálias de salto alto, não creio que seriam um problema, afinal sempre assisti filme pornô em que as mulheres transavam com a sandália, embora nunca entendesse muito bem aquilo.

Enquanto nos beijávamos, íamos desabotoando nossas próprias blusas, mas eu não conseguia ficar com minhas mãos muito tempo longe do corpo de Sophia e voltei-me a ajuda-la com a sua roupa. Nem parecia que havíamos feito amor no dia anterior. Num pequeno espaço de tempo, estávamos sôfregas e sedentas uma da outra novamente. Segurei o meu afã, pois da forma que estávamos, faríamos amor ali mesmo de frente a porta.

Abracei-a forte, impedindo-a de continuar desabotoando sua camisa. Beijando, fui empurrando-a em direção ao corredor com o forte objetivo de chegar ao quarto. Ao longo do percurso, parávamos, tocávamos e literalmente nos amassávamos. A loucura de pensamentos e sentimentos que dava o tom era tamanha que beirávamos o desespero. Quando chegamos à porta de meu quarto, ela estava fechada e rapidamente viramos ao mesmo tempo para abri-la. Seguramos a maçaneta juntas e empurramos a porta. Foi nesse momento que nos olhamos e nos demos conta de nosso desatino. Começamos a rir uma para a outra. Sophia me olhou, diminuindo o riso e carinhosamente segurou com as duas mãos meu rosto me encarando. Seus olhos estavam lindos, brilhantes.

— Ah, Cléo! Eu desejo sempre poder olhar esses olhos lindos, beijar a sua boca e suspirar de prazer com você. Que nada aconteça para me separar dessa felicidade que é ter você em meus braços.

Ela me beijou de uma forma tão doce e apaixonada que fez parecer que eu flutuava. Quando dei por mim, estávamos de frente e sentadas na cama terminando de nos desnudar. Resvalei sua camisa lentamente por seus ombros e ela, a minha camisa pelos meus. Resolvi acabar de vez com minha tortura. Queria tê-la e queria que ela me tivesse. Abri meu sutiã e saí da cama para retirar a minha calça. Eu me queria nua para ela e queria-a totalmente nua para mim, mas meu gesto de me desnudar estava deixando-a paralisada. Seu olhar sobre o meu corpo era intenso. Quando terminei de me despir, ela chegou-se para a beirada da cama e estendeu sua mão para tocar meu ventre tão suave e reverente que pensei se seria possível sentir tanto amor através do toque de alguém. Meu ventre contraiu e meu prazer já transparecia pelo meu sexo visivelmente molhado. Sophia segurou minha pelve e trouxe meu corpo para o alcance de seus lábios. Iniciou a beijar meu abdômen. Eu estava de pé e minha visão de cima, olhando seus atos sobre meu corpo, descendo pelo meu ventre e alcançando minha vulva, me fez arfar e um gemido forte brotou de meu peito. Sua boca… Sua língua rígida em contato com meu bulbo e em seguida resvalando por minhas entranhas, estremeceu-me a ponto de desequilibrar. Minhas pernas fraquejaram antes mesmo do orgasmo eclodir. Ela foi me conduzindo para cima da cama e sobre ela, sobre seu rosto. Tesão demais… A essa altura já queria chegar ao ápice, desesperadamente. Movi meus quadris sobre seus lábios à procura de um contato maior. Sua língua pressionou meu clitóris com força e eu gritei no auge do gozo.

— SOPHIA!

Meu corpo sacodiu em espasmos e eu não mais sabia onde estava. Minutos depois, eu abri meus olhos deitada de bruços e ela deitada de lado colada ao meu corpo, olhando-me com um sorriso nos olhos. Sim, os olhos dela sorriam enquanto seus dedos macios acariciavam meus cabelos, minhas costas, meu corpo.

— Você é linda fazendo amor, sabia?! – Ela falou.

Virei-me para ficar de frente para ela.

— E você é terrivelmente gostosa fazendo amor, sabia?!

A gargalhada dela também era terrivelmente gostosa e sempre que tinha a oportunidade de provoca-la, eu o fazia.

— E você ama me deixar envergonhada, mas saiba que falando essas coisas, pelo menos nesse momento, você não consegue.

Sophia estava com uma expressão safada no rosto. Céus! O que eu mais poderia querer?

Debrucei-me sobre ela e beijei-a encaixando meu corpo sobre o dela. Nossos corpos já sinalizavam que não parariam, enquanto não nos saciássemos da nossa saudade. Invadi sua boca com a minha língua e traguei seus gemidos que me excitavam sobejamente. Deixei seus lábios para correr os meus em pequenos beijos por seu pescoço, orelha, ombros e, por fim, seios. Sophia normalmente era econômica nas palavras, mas não quando fazia amor.

— Isssss, Cléo! Cléo! Me suga, vai! Assim gostoso…

Sua voz morria entre suspiros e isto me deixava alucinada. A voz rouca, seus gemidos, o bambolear de seu quadril sob o meu. Iniciei uma dança encaixada em sua pelve. Ela não segurou o estímulo, era como se já estivesse na borda. Elevou seu corpo e sentou-se, me colocando acomodada entre suas pernas. Voltamos a mover nossos corpos forçando o contato entre nossos sexos. Os sons de nosso amor reverberavam em todo o quarto. Mais forte… mais rápido… gostoso assim… estou chegando… eram palavras ditas com prazer desesperado até que ela gritou e senti seu líquido escorrer sobre mim. Não demorou mais que alguns segundos, sentindo-a estremecer em meus braços, para que eu chegasse ao clímax novamente. Vê-la em êxtase era lindo demais e o que mais me excitava, era saber que tudo que ela sentia, era por estar comigo.

Continuamos assim abraçadas por algum tempo, tentando controlar nossas respirações descompassadas. Não sei porque, ela estava mais sensível do que o costume. Olhamo-nos e ela delicadamente retirou os fios de cabelo que haviam grudado em meu rosto, sem deixar de observar minha face. Voltou a me beijar intensamente e, sem aviso, pegou a minha mão com seus dedos entremeados aos meus, levando-os até sua vulva.

— Entra em mim, Cléo! Quero sentir você dentro de mim, agora.

A fala sussurrada entre meus lábios, a voz de comando embargada de prazer, o ato de me conduzir para a entrada dela, fez mais uma vez minha pele arrepiar e o delírio se instalar em minha mente e em meu corpo. Fiz o que me pediu. Entrei forte, pois o descontrole já me tomava novamente. Senti suas paredes apertando meus dedos e, sem pudores, ela cavalgou em meu colo. Não queiram que eu descreva o que sentia, pois não havia palavras que conseguissem traduzir tal sentimento. O que posso dizer é que, quando ela veio à tona em seu gozo, eu simplesmente experimentei uma sensação de incrível plenitude. Ela sacodindo em meus braços novamente e eu querendo aninhá-la, para que pudesse reter esse momento em minha memória para sempre, mesmo sabendo que esse era apenas o nosso começo.

Deitamos e desta vez ela que estava com os olhos fechados. Eu quem a acariciava, embevecida na linda visão de seu corpo nu e seu semblante relaxado. Ela sorriu, sem abrir os olhos e eu não poderia perder a oportunidade de mexer com ela.

— Você é linda fazendo amor, sabia?! – Eu falei.

Ela abriu os olhos com um sorriso maior e retrucou.

— E você é terrivelmente gostosa fazendo amor, sabia?!

— Você foi muito má hoje comigo. Vou pensar se merece que eu faça amor com você novamente.

Ela se apoiou nos cotovelos para me olhar. Um sorriso safado estampava em sua face.

— Se você disser o que eu fiz de tão mau assim, quem sabe eu possa pensar em algo para reparar meu terrível erro.

— Você não ligou nem uma vez durante o dia para que eu escutasse sua voz e para me tranquilizar do que rolou ontem, e aí, quando chegamos, você já veio me pegando e não deixou nem que eu tomasse um banho.

— Bom, o banho eu posso resolver, posso te ajudar a se banhar agora. – Eu sorri pensando na intenção que ela tinha com esse banho. — Quanto à ligação, fiquei imaginando se não te atrapalharia, pois ontem me disse que teria a reunião com o pessoal da Destor, então o que pensei em fazer foi te pegar depois do trabalho.

— Como sabia que estava na minha empresa?

— Liguei para o Dago e você não estava lá. Depois liguei para a Hermes e me identifiquei, na certa sua secretária me daria a sua real posição, sabendo de quem se tratava. Depois disse que não era nada demais e que falaria diretamente com você no dia seguinte. Provavelmente ela não deu o recado por este motivo.

Ela elevou as sobrancelhas me provocando e eu bati em seu braço rindo.

— Sua cachorra! “Se prevaleceu” de sua posição para enganar a minha secretária!

Ela gargalhou e segurou minhas mãos, que já davam tapas de leve em seus ombros.

— Vamos tomar um banho e vamos jantar.



Notas:



O que achou deste história?

Deixe uma resposta

© 2015- 2021 Copyright Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução total ou parcial do trabalho sem a expressa autorização do autor.