Diferentes?

Capítulo 32 – Olhos Verdes

— Mãe me desculpa, mas nesse quesito sou mais descolada que você. Sou lésbica desde os dezessete anos, como farei vinte e um daqui a três semanas, sou lésbica quatro anos na sua frente.

— Eeeee ponto para a “equipe Mel”!!!!!

 A Donna sacaneou ovacionando a resposta de Mel para Sophia. A galera ria horrores da cara da minha “ave de rapina”. Vi Sophia desconcertada e com uma cara que transparecia estar chocada!

— O que?! Com dezesseis você tinha perdido a virgindade com seu primeiro namorado?!!

A gargalhada foi geral!

— Aí gostei da discussão. Presta atenção Lucy que agora você vai conhecer a vida sexual todinha da sua namorada.

Donna falou se dirigindo à Lucy e Beth deu uma tapa na perna dela, mas estava rindo também.

— Para de provocar Donna? — Beth falou.

— Sim, mãe. — Mel continuou sem dar muita trela para as provocações. — Ele foi o primeiro e único. Um ano depois me apaixonei por uma menina que tinha entrado na minha turma naquele ano. Pirei, pois não conseguia pensar em mais nada e a garota nem lésbica era. “Me virei” para esconder ao máximo de vocês, pois eu mesma achava que tinha enlouquecido e que não era normal.

— Minha filha, eu nunca iria…

Mel balançou a cabeça interrompendo Sophia.

— Hoje eu sei mãe, mas naquela época eu mesma me recriminava.

— E o que fez você mudar de ideia? Por que não me falou depois?

— O que me fez mudar de ideia? Você se lembra da Diana?

— Sim. Era uma amiga sua do judô.

— Pois é. Ela era uma “graaande” amiga minha! Muito grande mesmo, mãe!

Dessa vez até eu não consegui me conter. A cara da Sophia estava demais. Ela não conseguiu ter reação. Todo mundo ria enquanto a Mel agachava ao lado da cadeira e a abraçava.

— Desculpa mãe. Mas eu não sabia o que pensar e o que fazer. Pensa bem. Como naquela época, eu com dezessete anos, chegaria e falaria? “Mãe tô namorando uma garota”! Mesmo para a relação que eu tinha com você, era um pouquinho demais não acha?!

Tentávamos conter nosso riso para não ficar mais difícil para a Sophia. Ela realmente estava sem chão. Ela cruzou os braços e perguntou não dando chances de Mel recuar.

— E você pode dizer agora como aconteceu?

— Mãe.

— Não tem mãe nem meio mãe. Pode me contar?

— Tá bom, mas não diz que não avisei. Um dia a gente treinou até mais tarde e todo mundo tinha ido embora. Fomos para o vestiário tomar banho. Na verdade eu não tinha me tocado que ela me olhava com outros olhos. Só, que quando eu estava saindo do banho e ela também, esbarramos e ela me agarrou. Na verdade eu nunca tinha realmente reparado nela, mas o beijo estava tão bom e eu fiquei tão excitada que eu deixei rolar.

— Deixou rolar o que?!!

— Mãe, você está me deixando sem graça.

Todo mundo ria novamente com a cena e aí a Donna entrou para detonar de vez com Sophia.

— Sophia se liga. Sua filha descobriu o que era comer pastel lá no vestiário.

Ninguém aguentou. Foi uma explosão de risos total. Até Mel gargalhava e não conseguia se controlar.

— Mãe, vamos deixar isso para lá. Depois a gente conversa.

— Só me diz uma coisa. Um tempo depois vocês cortaram relações porque eu me lembro. O que houve?

— Houve que eu “peguei ela” transando com outra garota lá no vestiário e depois descobri que eu tinha tanto chifre, que eu devia ter a coluna super torta por conta disso e não sabia. Depois passei no vestibular e fui para São Paulo. Fiquei “deprê”, mas uns sete meses depois comecei a namorar uma menina de Campinas que fazia faculdade comigo. Terminamos um ano depois e aí só dei “uns pegas” numas garotas em boates e festas. Satisfez a curiosidade?

— Bem que você falou, sapata! – Erick se dirigia a Donna. – Em poucas palavras toda uma vida sexual.

Ríamos, mas acho que o clima ficou meio tenso e a galera parou de rir. Sophia estava um pouco catatônica.

— Cléo.

— Oi amor.

Preocupei-me, pois Sophia estava bem séria.

— Nunca me conte quantos namorados teve, quantos você só pegou e nem a forma que foi.

— Tá bom.

Só consegui falar isso, pois realmente já transei em uns lugares bem inusitados que não convinha expor para ela. Mas acho que meu “tá bom” meio que denunciou isso. Ela me olhou na mesma hora e eu inspirei fundo prendendo a minha respiração. O auge da desgraça de Sophia foi a Lucy.

— Olha pelo lado bom sogrinha. Pelo menos você está ao lado de pessoas sinceras. Elas não mentem quando você questiona.

Explodimos em gargalhadas pela terceira ou quarta vez. Nesse momento Sophia desistiu. Abaixou a guarda sorrindo. Mas que ela tinha ficado bem chocada anteriormente, ah isso tinha.

……………..

O resto do fim de semana foi bem agradável. O pessoal foi para a Praia Mole num quiosque que é totalmente gay. Eu e Sophia acompanhamos, mas não ficamos no quiosque. Não queríamos nos expor naquele momento delicado, pois a poeira já baixava e Sophia teria a oportunidade de, quem sabe até, retornar para a Grasoil. Caminhamos pela praia conversando e fomos até a Praia da Galheta. Esqueci-me de dizer para Sophia que era uma praia de naturismo. Como tal, não precisávamos tirar a nossa roupa, pois só nas praias de nudismo é que se exigia isto, porém muita gente lá na Galheta tirava. Passeamos um pouco, mas logo retornamos. Era uma praia muito bela, mas realmente ver um monte de homens nus naquele momento, não era o que poderíamos dizer de programa de domingo legal. Eu e Sophia falamos para o pessoal que ríamos embora, pois queríamos dar uma volta na ilha. Mais à tardinha encontraríamos com eles.

Subimos e pegamos o carro no estacionamento da praia e fomos em direção ao extremo norte da ilha. Sophia disse que queria ir a “Jurerê”. Eu ri.

— Porque você está rindo?

— Porque acho que o programa de classe média “já está dando” para você, não é?

— E por que você acha isso?

— Qual é Sophia? Churrasco na beirada da lagoa ontem foi demais, não foi? E depois, Jurerê é uma praia mais de alto nível. Acho que você está querendo correr dos pobres mortais.

— Sabe, eu acho que às vezes você me julga muito mal?

— Vai me dizer que você achou mega legal o churrasquinho? Tá. Deixe-me fazer um breve memorando: Farofa, molho à campanha, prato de plástico, coxinha da asa de frango pego com a mão, lascas de carne passando dentro de assadeira, pão de alho com as crostas queimadinhas, abrandar o fogo alto da churrasqueira com cerveja e isso tudo arregimentado pela Donna.

Ela não me olhava, pois estávamos na estrada, ela dirigia e o tráfego estava bem intenso, mas não parava de rir.

— Pois eu amei tudo. Sabe desde quando não faço uma coisa destas? Desde a faculdade.

— Mmm… Então a senhorita já experimentou a “luxúria pagã”?!!

— Lógico. Eu fiz faculdade esqueceu? Evidente que minha vida era um pouco limitada por conta da Melissa. Ela era bebê e eu acabava declinando da maioria das festas. Mas, como o Cássio também queria viver a vida, ele sempre ia para as festas da turma dele e eu não me furtava deste direito também. A maioria que eu ia, eram aquelas que eu podia levar a Melissa, ou seja, participei de muitos churrasquinhos na casa de amigos. Como o Cássio ia a quase todas as festas da turma dele, inclusive as “chopadas” e as noturnas, eu por vezes deixava a Melissa com ele e uma babá. Ele não poderia reclamar, pois ele o fazia quase toda semana.

— Interessante essa conversa. Estou gostando dela. Pegando o gancho da discussão entre Mel e você ontem, conte-me sobre a vida secreta de Sophia. Você me disse que nunca tinha traído o Cássio. Nunquinha mesmo? Nem nessa época de faculdade?

Ela sorriu com malícia.

— Você não é fácil!

— O que? Só quero saber um pouco mais sobre a vida da pessoa pela qual eu me apaixonei…

— Ok. Então vamos lá. Quando eu falei que nunca traí foi porque depois desta onda de faculdade, eu quis realmente seguir minha vida com ele. A Melissa estava com uns seis anos e eu queria cuidar dela e queria educá-la com bons valores. Queria ser o seu exemplo da vida, não o exemplo da “moral e bons costumes sociais”, e sim exemplo de dedicação, amor. Mostrar que o certo é certo, pois há respeito e não medo nas relações humanas e o errado é errado, pois você extrapola o limite do outro. Não queria largar de mão essa participação na vida dela.

— Ok. Não foge do assunto. Já entendi que quando assumiu que o casamento era o que queria para sua vida e de Mel, você foi direitinha, mas… Pelo visto lá atrás você até deu pulada na cerca.

Ela riu daquele jeito malicioso novamente que me deixava com um tesão danado. Seu rosto assumia uma expressão deliciosa que transferia diretamente para o meu corpo. Vamos combinar que estávamos na seca. Há três dias só trocávamos umas carícias na hora de dormir e eu estava subindo pelas paredes.

— É. Beijei algumas vezes na boca.  – Sorriu.

— Que safada! E ainda me falou que nunca teve nada!

Ri a abraçando pela cintura enquanto dirigia e beijando seu rosto.

— Cuidado, Cléo! Você quer nos tirar da estrada?

Ela falou rindo, mais para implicar comigo e me distrair do assunto.

— Não sai do assunto não, “engraçadinha”. Agora me fala. Teve alguém que você gostou nessa época?

— Não. Era bom beijar, mas ninguém me atraiu ou chamou minha atenção a ponto de deixar minha linha de pensamento. Era coisa de garota mesmo. Mas vejo que hoje a “galera” como vocês falam, está bem saidinha!

Eu ri, pois sabia que ela se referia ao que soube da Mel. Bem ciumenta esta minha mulher.

— E garotas?

— Garotas?! Não… quer dizer, teve uma festa que fui, que eu bebi bastante. Estava bem alta e uma garota me beijou. Mas nunca foi meu foco.

— Sei… E você gostou?

Ela me olhou de rabo de olho e sorriu. Retornou o olhar para a estrada.

— Por quê? E se tivesse gostado? Acha que explica o porquê de ter me apaixonado por uma mulher a essa altura da vida?

— Talvez, não sei.

— Você já teve alguma mulher que beijou?

— Não saia da conversa. “Me diz” se gostou de ter beijado a garota.

— Eu estava bêbada… Realmente foi diferente… Se eu comparar o que sentia ao beijar os caras e ao beijar essa garota, posso dizer que foi mais agradável.

— O que? Sua safada e dizendo que nunca sentiu nada por mulher alguma!

Falei com falsa indignação rindo e ela gargalhou.

— Pode ter certeza que foi algo que não me abalou ou mexeu comigo, pois no dia seguinte, nem me importei com o ocorrido. Atribuí à loucura do álcool e deletei da minha cabeça.

— O que fizeram? Só se beijaram?

— Por que essa curiosidade toda?

— Claro! Quero saber exatamente onde piso. Pode ir falando!

— Tá. Admito que nos beijamos muito tempo… e que… rolou uns “amassos”… Mas depois fui embora, pois tinha que acordar cedo eee… a coisa estava saindo do controle e eu não queria, mas com eu disse, não mexeu comigo a ponto de pensar nisso depois.

— Tá bom! Pode parar! Chega que minha curiosidade passou. Não estou gostando mais do rumo da conversa. O que… O que você está fazendo?

Sophia parava em frente a uma pousada. Especificamente no estacionamento da pousada.

— Você vai ver. É uma surpresa.

Ela fechou o carro e não me deu muita bola. Foi entrando e pediu a chave. O rapaz da recepção entregou-lhe e desejou um bom dia.

— Sophia, o que você está aprontando?

Perguntei por perguntar, pois eu desconfiei da intenção dela.

— Você poderia confiar em mim? Vem!

Ela me puxou pela mão. Acompanhei-a até a entrada de um bangalô com vista para o mar. Ela abriu a porta, entramos e ela trancou a porta. Virou-se para mim já me pegando e beijando deliciosamente.

— “Desculpa”, Cléo, mas estamos há três dias na casa de seus pais e vamos ficar mais dois. Eu não estou aguentando! Fiz essa reserva aqui para podermos vir uma hora ou outra. Estou louca para fazer amor com você!

Ela estava com uma cara de cachorro sem dono que eu não aguentei. Comecei a rir e a abracei.

— Entendi e amei.

Colei meus lábios aos dela. Nosso beijo começou lento e calmo, mas não tinha jeito. Eu mesma estava pelas bordas e o beijo foi ficando mais caloroso. Sua boca se encaixava a minha e nossas línguas movimentavam compassadas. Uma grande emoção crescia em meu peito e eu me sentia fazendo amor através de nossas bocas.

Ela acariciava minhas costas enquanto nos beijávamos e subiu uma das mãos até minha nuca. Agarrou meu cabelo com força, mas sem realmente puxar. Ela sempre fazia isso. Era uma atitude até dominadora, mas devo reconhecer que me deixava nas nuvens. Não era agressivo ou bruto. Apenas segurava, mas pegava firme.

— Cléo, você me deixa maluca. Não consigo nunca me controlar com você…

As palavras eram sussurradas entre os lábios. Comecei a ofegar excitada com o contato de nossos corpos.  Fomos caminhando abraçadas e nos beijando até chegar à cama. Deitei com o corpo de Sophia sobre mim. A minha saída de praia era de um tecido fino e leve. A mão de Sophia subia pela minha coxa até que chegou ao meu sexo. Ela passou a mão sobre meu biquíni e depois afastou as laterais introduzindo seus dedos em minhas dobras molhadas.

— Issssss! Você está deliciosa molhada assim para mim…

— “Me faz” ficar mais molhada, faz…

— Ahhhh! Cléo. “Me sente” toda dentro de você!

Ela introduziu seus dedos enquanto beijava meu pescoço… minha boca…

— Deus Sophia! Empurra mais…

— Isssss! Isso Cléo! Me pede gostoso. Me pede que eu faço…

Enlouquecia com essa mulher me falando coisas entre sussurros e beijos. Ela despertava meu desejo, minha luxúria, além de meu amor. Puxei minha saída de praia e soltei a parte de cima do biquíni. Afastei meu corpo do dela fazendo se retirar de dentro de mim. Sua expressão era de desolamento.

— Tira sua roupa…

Ajudei-a tirar a sua saída de praia e seu biquíni também. Virei-me de bruços na cama e puxei seu corpo para cima do meu. Queria seu sexo em contato com meus glúteos.

— Vem assim… Me dá a sua mão.

Peguei a mão de Sophia e passei por baixo de meu corpo até colocá-la novamente em minha vulva. Ela começou a se mover sobre mim beijando minha nuca, minhas costas e roçando seu sexo em meu traseiro.

— Isso Sophia. Mexe assim atrás de mim…

Ela mexia, mas continuava burilando meu núcleo. Eu estava louca de tesão. Ouvia sua respiração pesada sobre mim e alucinava imaginando a cena do corpo dela se comprimindo de encontro ao meu. Apertei meu sexo sobre sua mão para forçar o contato e movimentei mais meu quadril até que não suportei e vim à borda. Senti a mão de Sophia completamente molhada e coberta com meu líquido antes mesmo do meu corpo se acalmar. Ela retirou a mão e se apoiou na cama para continuar se movendo sobre meus glúteos. Vi que ela forçava e sua vontade de chegar estava deixando-a alucinada. “Me virei” novamente de frente e introduzi meus dedos nela. Ela encaixou suas pernas entre a minha coxa forçando minha mão para penetrá-la mais.

— Mexe dentro de mim Cléo… mexe mais…

As paredes de sua vulva se contraiam comprimindo meus dedos. Céus! Estava excitada novamente. Só o pensamento de estar dentro dela, de sentir seu líquido me molhando… de perceber seu desatino comigo… Senti um jato molhar completamente minha mão quando Sophia gemeu alto no auge de seu prazer.

Ela deixou seu corpo relaxar sobre o meu e eu retirei devagar meus dedos provocando tremores em seu corpo. Acariciei seus cabelos e puxei seu queixo para chegar a sua boca. Beijei-a suave. Seus olhos estavam fechados e percebi uma lágrima escorrer. Assustei-me.

— O que foi amor?!

Ela não abriu os olhos e sorriu levemente.

— Estava pensando em quanta felicidade estou tendo ao seu lado e agradecendo por isto.

Ela desalojou a cabeça de meu peito e me deu um beijo rápido.

— Cléo. A próxima vez que viermos visitar seus pais, já poderemos ficar em pousada, não é?

Eu gargalhei.

— “Minha desesperadinha”, se a gente não fizesse tanto barulho fazendo amor, eu juro que não te deixava nessa seca toda. Eu realmente não tenho cara de encarar meus pais no dia seguinte.

— Mas acho que essa solução improvisada vai aliviar um pouco.

Eu continuava rindo, pois ela estava parecendo criança olhando um pote de sorvete.

— Sim. Essa solução foi ótima! Você só poderia me dizer que horas fez isso?

— Lembra quando sua mãe pediu para comprar aquele peixe para assar no mercadão e você tinha unha para fazer?

— Você é inacreditável! — Beijei-a novamente. – Isso me lembra que uma e meia da tarde vamos ter que estar lá.

— Sim. E por isso pretendo aproveitar bem as duas horas que ainda temos.

……………

Olhos verdes1



Eles verdes são:
E têm por usança,
na cor esperança,
E nas obras não.
Cam. Rim.


São uns olhos verdes, verdes,
Uns olhos de verde-mar,
Quando o tempo vai bonança;
Uns olhos cor de esperança,
Uns olhos por que morri;
Que ai de mim!
Nem já sei qual fiquei sendo
Depois que os vi!


Como duas esmeraldas,
Iguais na forma e na cor,
Têm luz mais branda e mais forte,
Diz uma — vida, outra — morte;
Uma — loucura, outra — amor.
Mas ai de mim!
Nem já sei qual fiquei sendo
Depois que os vi!


São verdes da cor do prado,
Exprimem qualquer paixão,
Tão facilmente se inflamam,
Tão meigamente derramam
Fogo e luz do coração
Mas ai de mim!
Nem já sei qual fiquei sendo
depois que os vi!


São uns olhos verdes, verdes,
Que podem também brilhar;
Não são de um verde embaçado,
Mas verdes da cor do prado,
Mas verdes da cor do mar.
Mas ai de mim!
Nem já sei qual fiquei sendo
Depois que os vi!


Como se lê num espelho,
Pude ler nos olhos seus!
Os olhos mostram a alma,
Que as ondas postas em calma
Também refletem os céus;
Mas ai de mim!
Nem já sei qual fiquei sendo
Depois que os vi!


Dizei vós, ó meus amigos,
Se vos perguntam por mim,
Que eu vivo só da lembrança
De uns olhos cor de esperança,
De uns olhos verdes que vi!
Que ai de mim!
Nem já sei qual fiquei sendo
Depois que os vi!


Dizei vós: Triste do bardo!
Deixou-se de amor finar!
Viu uns olhos verdes, verdes,
uns olhos da cor do mar:
Eram verdes sem esp’rança,
Davam amor sem amar!
Dizei-o vós, meus amigos,
Que ai de mim!
Não pertenço mais à vida
Depois que os vi!

Gonçalves Dias1



Notas:



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