Diferentes?

Capítulo 8 – Ondas e tormentas

Novamente o silêncio incômodo se instalou entre nós. Entrei na Urca e já me aproximava de sua rua.

— Você está com fome? – Sophia me perguntou.

— Um pouco.

Respondi esperançosa que ela me convidasse para jantar. Engraçado, sempre fui uma pessoa de atitude diante de meus namorados, mas diante dela parecia que eu pisava em ovos. Tive raiva de mim e, de repente, soltei.

— Na verdade, estou faminta. Quer jantar comigo? Podemos procurar algum lugar. Tem um restaurante pequeno no Leme de comida espanhola. Você gostaria de ir?

— Na verdade, eu estava pensando em comer em casa. Eu queria saber se você gostaria de comer comigo. Pedi para minha empregada deixar a comida preparada para quando chegasse e a conhecendo do jeito que conheço, deve ter feito comida para um batalhão inteiro.

— Então está me convidando só porque sua empregada é exagerada? – Mexi com ela.

— Não vai me pegar dessa vez. Sabe que não é isso.

— Se não é isso, então quer a minha presença. Por quê? – Ela me olhou aturdida e eu gargalhei. – Ok! Não precisa me dizer porque quer a minha presença, além do mais, não quero dispensar o convite. Estou com fome mesmo.

Entramos na rua da casa dela.

— Qual a casa? — Atentei-me de estalo a um pequeno detalhe. Ela era casada. – E o seu marido? Não vai se incomodar? Quero dizer, ele deve estar esperando por você e ter alguém junto, pode não estar nos planos dele.

Falei mais para apaziguar o que sentia. Não queria dar de cara com o homem que rivalizava comigo. Na verdade, eu é que rivalizava com ele, mas para mim, ele que era o entrave. Sophia se acomodou no banco e ficou mais séria do que eu gostaria.

— É o apartamento da esquina com a avenida da orla.

— Umh?!

— A minha casa… é o apartamento da esquina. E não se preocupe com o Dr. Brandão, ele não está. Viajou para Michigan para fazer seu pós-doutorado.

Do jeito que ela falou secamente, as coisas não deviam ir muito bem para os dois. Se bem que, a forma que as coisas aconteceram entre nós, era mais do que provável que o relacionamento dela estivesse indo passear na China há muito tempo. Espantei esse pensamento, pois não estava nem um pouco a fim de sentir dor de corno pelo chifre alheio. Passei uma semana de cão tentando esquecer o que aconteceu entre nós e, quanto mais eu pensava, mais me recriminava por ter deixado aquele quarto de hotel.

Nesse exato momento, eu estava chutando toda a minha sensatez, pelo simples fato que, eu queria cair novamente sobre aquele corpo que embalava meus sonhos e sem pensar o que poderia acontecer amanhã. Bobagem pensar nisso. Amanhã é amanhã e pronto. Estacionei em frente, retiramos as malas e fomos subindo.

— Então, o que a sua empregada fez? –Tentava devolver um pouco de leveza ao clima. — Saiba que eu sou chata para comer!

Seus olhos já sorriam novamente. Esse simples gesto me fez relaxar também.

— Realmente não sei o que ela fez, mas pelo que conheço da culinária dela, deve estar bom.

Chegamos e ela foi abrindo a porta, dando-me passagem.

A sala era ampla com janelões típicos de apartamentos antigos. Deixou a mala na entrada e disse para segui-la. Andamos por um corredor e entramos na cozinha. Havia baixelas de inox com tampa sobre a mesa e ela destampou uma a uma.

— Não é um super jantar, mas acho que dá para matar a fome.

— Mmm… Percebi a sua estratégia. Queria economizar na conta. — Ela sorriu e eu me aproximei da mesa. — Acho que a gente vai ter que esquentar.

— Nada que um micro-ondas não resolva. O que quer beber? “Te garanto” que bebida, pelo menos, tem variedade.

— Não sei. O que sugere?

Ela olhou a comida.

— Batata rosti e filé ao molho… ummmh… há um molho escuro que pode ser madeira ou mesmo ao vinho. Acho que um bom vinho Côte du Rhone resolve o nosso problema.

– Está calor para vinho.

Falei querendo implicar. Seu olhar estreito caiu sobre mim, mas um ligeiro sorriso demonstrava que a minha implicância a havia instigado. Ela pegou um controle sobre a bancada e apertou o botão direcionando-o para um aparelho de ar condicionado. Setou a temperatura para 16 graus.

– Resolvido o seu problema. Brevemente não sentirá que o vinho não cairá bem no seu jantar.

Eu balancei a cabeça, olhando para ela sorrindo. Ela conseguia reverter diversas situações e isso me fascinava. Saiu e, em poucos minutos, retornou com uma garrafa de vinho na mão e duas taças. A temperatura do ambiente já caía e o ambiente ficava agradável. Estávamos em um clima despojado e resolvi ajudá-la, colocando a comida nos pratos. Coloquei a comida uniformemente arrumada e levei ao micro-ondas. Comemos em um silêncio angustiante, em dado momento, quando já estávamos praticamente terminando, ela parou por uns instantes e me olhou um pouco entristecida.

— Meu marido é um homem muito reconhecido na área dele. Estamos passando por um momento difícil e…

Com toda a sinceridade, não é o tipo de conversa que eu quero ter agora”. – Pensei.

Recriminei-me mentalmente por esse sentimento mesquinho, pois provavelmente ela devia estar com “zilhões” de sentimentos de culpa, por ter levado uma mulher com quem ela queria transar para o teto em que ela dormia com o marido.

Droga! Também não quero transar com ela sob o teto que ela dorme com o marido, principalmente porque eu não gosto nada, nada, de pensar que ela dorme com um marido”!

— Deus! O que eu estou falando?! Desculpe-me, mas é que apesar de já não viver maritalmente com o Cássio há muitos anos, nunca aconteceu de me envolver com alguém.

Essa parte da conversa já estava me interessando mais. Pelo menos descobri que ela não transava mais com o “dito cujo”.

— E ele? Nunca se envolveu com ninguém?

— Não sei. Provavelmente sim. Se o fez, e acho que sim, nunca deixou chegar até mim.

— Você achou que nunca pudesse acontecer com você?

— Nunca pensei sobre isso e como nunca aconteceu… — Ela deu de ombros.

— Ok. – inspirei fundo — Vamos fazer o seguinte. Vamos jantar e depois vou para casa. Você deve estar cansada e talvez esse não seja o melhor lugar para estarmos ou conversar sobre isso.

— Mas eu quero estar com você! Eu gostaria de… de poder dormir e acordar novamente com você.

Seu olhar estava perdido, cheio de angustia e isso me enterneceu. Sua postura era de derrota, como se estivesse travando uma verdadeira batalha. Sua forma de portar e agir mudou completamente no momento em que se deu conta de onde estávamos. Parecia que esse apartamento a oprimia.

— Então te faço outra proposta. Terminaremos de comer e aí você pega algumas roupas e vamos para a minha casa. Talvez você fique mais à vontade lá.

Ela me olhou indecisa. Continuei a estimulá-la, incentivando-a a pensar um pouco nela mesma. Não sabia as coisas que ela pensava ou o que se passava com ela, mas o fato é, que nessa casa, eu não a via como a “Senhora olhar de falcão”. Não parecia ela e não me interessava ver alguém que era tão viva, tão segura, ficar oprimida por paredes imaginárias de uma vida escura.

— Você tem algo a fazer amanhã? Você tem filhos a cuidar? Tem alguém que precise de você nesse momento? – Sorri.

Olhou-me retomando a segurança que sempre vi em seus gestos. Seu corpo falava e me dizia que agora sim sou quem você conhece”.

— Ok! Se você puder esperar, vou apenas pegar algumas coisas pessoais e ligar para minha filha. Ela mora em São Paulo e sempre me liga nos fins de semana. Provavelmente vai se preocupar se ligar amanhã aqui para casa e não me encontrar. Ela raramente liga para meu celular aos sábados a não ser quando sabe que não estou.

— Falou. Vá e eu estarei aqui quietinha, esperando. — Falei com um enorme sorriso no rosto, afinal iria tê-la em meus braços novamente. Braços? Que braços?! Eu iria tê-la em mim todinha novamente, isso sim. Meus pensamentos estavam cada vez piores. Estava desenvolvendo uma sede enorme dela.

Seu sorriso me iluminou. Após ter pegado suas coisas e ter falado ao telefone, saímos novamente de seu apartamento. A transformação de comportamento foi assustadoramente rápida. Sua postura mudara e ela estava altiva, linda! Peguei de sua mão, a pequena valise que ela aprontara, para colocar na parte de trás do carro e nossas mãos se tocaram. Um pequeno choque me acometeu e pude vislumbrar que o mesmo ocorreu com ela. Era sempre assim quando estávamos relaxadas. Este tipo de reação de nossos corpos, não podíamos negar que ocorria. Andamos menos de dois minutos com meu carro até chegar a minha casa.

Abri a porta, deixando-a entrar na frente e pude ver a sua forma de andar a passos firmes, mas movendo os quadris sensualmente. Fiquei imaginando aquele traseiro colado a mim mexendo daquele jeito.

Deus! Esse meu pensamento foi tão lésbico!” — Pensei e sorri ao mesmo tempo.

Como um despertar, fiz uma rápida retrospectiva da minha vida e percebi que, apesar de nenhuma mulher jamais ter me chamado a atenção sexualmente, também nenhum homem o fez. Ou seja, eu era mesmo aquele tipo de “lésbica adormecida”!

Saí de meu devaneio quando a percebi, voltada para mim com os braços cruzados e sorrindo daquela forma bem sacana, tipo: “Eu percebi o que você estava olhando”. Não baixei meu olhar, pois não daria esse gostinho para ela e ainda provoquei.

— Você tem um jeitinho de andar tão gostoso…

— Jeitinho de andar?! – Ela elevou as sobrancelhas e seu sorriso continuava cínico.

— Sim. — Aproximei-me quase me colando a ela. — É um tipo de jeitinho que me faz pensar como seria você mexendo embaixo de mim…

Neste momento, eu falava quase sussurrando bem próximo a sua boca. Meu movimento deu certo, pois ela me agarrou, mas ao invés de me beijar como eu pensava que faria, girou-me e colou seu corpo ao meu, segurando-me por trás. Colou sua boca em meu ouvido e puxou meu quadril de encontro à sua pelve.

— E você? – Sua voz rouca e baixa me arrepiou. – Como é seu jeitinho de andar? Também quero saber como se move embaixo de mim… – Terminou a frase com beijos miúdos em minha orelha e se roçando em meu traseiro.

Ela era descarada, dominadora e deliciosamente sensual. Tinha uma pegada maravilhosa! Gemi no mesmo instante e amoleci aconchegada a ela. Eu ficava pensando em, “que momento eu deixei de ser a pessoa que sempre impunha a presença, para ser esse poço de geleia que me transformava em seus braços”?

Ainda de costas, desci minhas mãos pelas laterais de seu corpo, chegando a sua pelve e tracionando mais para mim. Iniciei um rebolado que a fez desistir de me torturar. Seu gemido saiu alto e ela me rodou novamente para que eu ficasse de frente, permitindo que ela tomasse minha boca loucamente.

Sua língua forçou a entrada e eu permiti de bom grado que entrelaçasse a minha. Eu apertava seu corpo de encontro ao meu e ficamos nos degustando insaciáveis. Suas mãos percorreram minhas pernas, acariciando e levantando meu vestido avidamente, passando por meu abdômen até que pousaram sobre meus seios massageando-os forte.

— AAAAHHH!

Joguei minha cabeça para trás e gemi enlouquecida sob seus toques. Ela também perdia sua cabeça me empurrando até o sofá. Quando percebi, estávamos deitadas, nos esfregando vorazes e retirando todas as nossas peças de roupa. Sua mão deslizou entre minhas pernas e seus dedos se alojaram fundo em minha cavidade, abundantemente úmida.

— Sophia… Sophia…

— IISSSSS! Isso! Chama meu nome, chama! “Me” pede, vai! “Me” pede!

Seus dedos resvalaram para fora de mim, encontrando meu bulbo duro. Moveu-os rápido.

— MMMM! AAAAHHHH Vai, Sophia! Esfrega mais forte.

Ela arfava debruçada sobre mim, me beijando e sorvendo-me violentamente. Estava descontrolada também. Seu cheiro penetrava em minhas narinas, o que me levou a uma vontade louca de senti-la. Afastei bem minhas pernas para que ela acomodasse e a penetrei ao mesmo tempo em que ela me bolinava. Seu urro me deu a certeza de que nosso prazer seria completo. Quase perdemos o compasso, quando nosso clímax se aproximou. Tentei segurar ao máximo, mas meu corpo começou a convulsionar com seus toques ritmados e firmes sobre meu clitóris. Sacudi inteira, porém meus dois dedos ainda estavam dentro dela quando, em meu torpor, percebi que ela movimentava violentamente tentando atingir seu orgasmo, aproveitando-se da posição em que se encontrava. Essa percepção de seu corpo movendo sobre o meu e suas paredes contraindo-se, comprimindo meus dedos, levou-me a borda novamente.

— Entra em mim também! Entra agora! – Supliquei.

Em um movimento liso e contínuo, ela penetrou e eu agitei meus quadris fortemente e estoquei-a com igual furor.

— UUUURRRR!

Desabamos, fatigadas pelo imenso prazer satisfeito.

XXXXXXXXXXXX

Já passavam das 4:15h da manhã e havíamos ido dormir a pouco mais de duas horas. A cena de nós duas na cama parecia com aquelas de filmes ou livros de romance. Ela dormia de lado e eu estava encaixada ao seu corpo, com uma de minhas pernas jogada sobre as suas e, meu braço circundando sua cintura. O seu perfume embalava meu sono, pois era de um floral amadeirado e tinha a impressão de estar em uma floresta na primavera.

Seu celular tocou e ela começou a se mover sob meus braços. Apertei-a e gemi contrariada.

— Mmm não. Fica quieta. – falei ronronando.

— Não posso, amor. Pode ser algo importante.

Realmente alguém ligando àquela hora, não devia ser algo muito bom. Ninguém liga às quatro da manhã para dizer que está com saudades de você, no entanto eu estava toda boba só de ouvi-la me chamar de amor. Nem reparei na conversa. Falei para ela voltar a dormir e me assustei, quando ela levantou-se de pronto.

— O que houve? – Perguntei assustada.

— Dagoberto e Erick estão no hospital.

— O que?! Que hospital?

— Estão em um hospital em Copacabana, mas ainda não sei o que aconteceu. Dagoberto está muito nervoso, pois parece que Erick está no centro cirúrgico.

Arregalei meus olhos assustada e também levantei para colocar uma roupa. Apesar do pouco tempo que os conhecia, gostava muito de Dagoberto. Nossa empatia foi mútua.



Notas:



O que achou deste história?

Deixe uma resposta

© 2015- 2021 Copyright Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução total ou parcial do trabalho sem a expressa autorização do autor.