Líberiz

Capítulo 14 – Festa na Corte

Fira chegou ao castelo em plena madrugada. Desabou na cama e acordou no dia seguinte com a escudeira arrumando o quarto. Agora sim, Bert poderia imaginar coisas sobre ela e a amiga. Esse pensamento a incomodou. “Que desgraça! Antes, quando não havia acontecido nada, eu levava tranquilamente, mas e agora? Onde encontro coragem para encarar Bert?” Ajeitou-se na cama e reparava na escudeira arrumar as coisas. Bert fazia tudo sem incomodá-la e por fim, quando viu a sua dama desperta, falou:

— Bom dia! Posso mandar trazer o desjejum, milady? A água do banho já está trocada e chegou uma mensagem para a senhora. Coloquei em cima da mesa.

Fira olhou a escudeira e via que ela agia naturalmente, como se nada tivesse ocorrido. “Como ela consegue? Estive ontem na casa dela, interagi e ainda fiz sexo com a amiga dela.” Suspirou. Sabia que Bert não poderia agir de outra forma. Era sua empregada e esta situação era constrangedora.

— Bom dia, Bert! Pode mandar trazer o desjejum e, por favor, poderia me dar a mensagem?

— Sim, milady. 

A escudeira pegou o envelope e levou até a cama. Fira o pegou e logo viu o selo real de Alcaméria. “Mmm… Então o rei Deomaz resolveu me chamar para a festa. Vai ser interessante ver Cárcera cara-a-cara.”  Rompeu o selo e abriu a mensagem. O coração da duquesa acelerou. Reconhecia aquela letra.

“ Cara duquesa Líberiz,

Uma recepção será realizada daqui a dois dias para celebrar o meu retorno, às seis horas da tarde, no salão real do castelo de Alcaméria. Espero contar com a sua presença, pois o ducado de Líberiz e seus súditos, me acolheram muito bem e contribuíram para que hoje estivesse em pleno gozo de minha saúde e salva em meu lar. Um quarto será disponibilizado no palácio para acolher a duquesa, visto que o ducado de Líberiz não tem residência oficial em Alcaméria.

Respeitosamente,

Princesa Cécis de Alcaméria” 

— Que raio de mensagem foi essa?

— Milady?!

— Nada, Bert. Estava pensando alto. Pegue uma roupa de montaria, enquanto vou tomar meu banho. Depois vá às cocheiras e sele nossos cavalos. Preciso falar com Dinamark.

 — Sim, milady.

Bert respondeu alarmada, com a reação de sua dama, ao ler o pergaminho. Sabia que algo sério ocorrera, pela reação da duquesa. 

Fira se levantou. Tinha que sondar com Dinamark se Cárcera fora, de fato, convidado para a recepção na corte. Também queria saber se os convites dos outros ducados foram enviados pelos escribas reais. 

****

— A que devo a honra, minha querida? Fiquei feliz com a sua visita, mas estou curioso. Algum problema premente?

— Na verdade não, meu querido amigo. Eu estava muito tempo reclusa e resolvi dar uma volta pelo ducado. Como há tempos não vinha aqui em seu condado, resolvi lhe fazer uma visita. Desculpe-me não ter avisado.

— Que nada! Estou feliz que esteja aqui. Almoçará comigo? Só sinto que minha esposa não nos acompanhe. Ela está com uma tosse recorrente e nosso curandeiro falou que seria melhor mudar de ares. Ela foi passar uma temporada em Clátea.

— Aquele condado beira-mar no reino de Dayna? Não é muito distante? Mira estava um pouco fraca, pelo que soube.

— É, sim, Fira, mas infelizmente o curandeiro falou que se ela permanecesse aqui, talvez piorasse. Faço qualquer coisa para que minha esposa melhore e sabe disso.

— Claro, Dinamark, e deve mesmo. Mira é uma mulher excepcional.  

Fira pausou a fala, sentando-se em uma poltrona e recebendo um cálice de brandy, oferecido por Dinamark. Gostava da mulher do conde. Ela era divertida e culta. Quando se encontravam, passavam muito tempo conversando.

— Bom, daqui a dois dias irei para Alcaméria. Recebi um convite para uma recepção na corte em homenagem à princesa.

— É, soube que vão dar esta festa. Fiquei triste que não me chamaram e a nenhum conde de Líberiz. Tenho alguns amigos condes do ducado de Pergos e parece que foram convidados. 

— Que grosseria de nossa alteza! De qualquer forma, recebi hoje de manhã o convite. Ainda está a tempo de chegar. Não vamos nos precipitar.

— Pelo que entendo, o seu foi o último a chegar, então. Soube que os outros ducados receberam este convite desde ontem de manhã.

— Sim, mas não é como se a própria princesa enviasse as mensagens. Sabe que são os escribas que as fazem e enviam. Talvez não tenham tido tempo suficiente para elaborar todos.

Fira insinuou, querendo descobrir se Dinamark sabia algo, em relação aos convites enviados. Não queria dizer que recebera o seu escrito pelas mãos da princesa.

— Sim, mas pelo que andam especulando por aí, o de Cárcera foi escrito pelo próprio rei. Mais uma indelicadeza de nossa alteza, já que todos tinham quase certeza de que ele foi o mandante. Isso é uma afronta à própria filha. 

Fira bebeu um gole da bebida para ter tempo de pensar no que Dinamark falara.

— Parece que o rei quer minimizar o que ocorreu. 

Fira comentou pensativa. A situação toda se tornava mais estranha.

— Sim. Parece que ele não acredita que tenha sido Ivanir Cárcera que executou este plano. Ou então…

— Então, o que?

— Ao rei não lhe importa muito o que pensam e nem o que a princesa quer. Ou melhor, não se importa com a filha. Se ela morresse, casaria a segunda filha e pronto. Teria Cárcera ao lado do mesmo jeito.

Fira meneou a cabeça. Conversaram durante o almoço e no resto da tarde.

****

— Por que fez isso, Cécis?!

O rei Deomaz havia chamado logo de manhã a princesa, para conversar com ele na sala do trono. Recebera a notícia de que Cécis havia mandado um convite para a duquesa de Líberiz, feito de próprio punho. 

Ele tinha intenção de convidar Fira Líberiz, apenas para não parecer mal-agradecido perante os outros duques e não fazer a filha parecer uma idiota. No entanto, não queria dar regalias à nobre. O pretexto daquela festa era fazer com que Ivanir voltasse ao círculo da coroa e que os outros ducados entendessem que ele não culpava o duque pelo ocorrido. 

Normalmente, Cécis discutiria com ele diante de tal afronta, mas os tempos que passou no castelo de pedras, fez com que entendesse que nada vindo do soberano, seu pai, seria para fazê-la se sentir bem. Conseguiu dissimular, o melhor que pôde, um semblante abatido e chocado.

— Mas, pai, pensei que a recepção fosse para homenagear o meu retorno! Quando nos falou da festa, fiquei muito feliz que o senhor estivesse contente em me ter de volta e, quem nos proporcionou isso foram os cidadãos de Líberiz. Achei que seria de bom tom um convite para a duquesa, vindo de mim.

Concluiu, dissimulando estar sentida com a repreensão do pai. O rei Deomaz a observou e não sabia como se portar diante da filha submissa. Após o sequestro, a filha mudara. Estava reclusa, não enganava mais a guarda para fugir de Alcaméria em busca de aventuras e, passou a utilizar vestidos como suas roupas diárias. “Talvez o sequestro não tenha sido tão ruim assim. Não sei o que ela sofreu, mas parece que lhe fez bem. Se foi Cárcera que a sequestrou, ele a colocou nos eixos.” Sorriu internamente. 

Cécis era uma eterna dor de cabeça e, em dado momento, o rei passou a não se importar se ela retornaria. Entretanto, agora tinha que mudar a imagem que Ivanir Cárcera ganhara com toda a história, perante o reino. 

— Sim, filha. – Falou com falsa compreensão. – Mas chamar a duquesa para pousar aqui?

— Um dos conselheiros me falou que o ducado de Líberiz não possui residência oficial aqui em Alcaméria. Achei que seria rude da nossa parte se não lhe oferecesse.

Baixou os olhos, diante do pai.

O rei não poderia contestar a filha que agia tão prontamente. Talvez ela tivesse razão. Afinal, os nobres poderiam esperar essa ação da coroa. Deomaz não tinha muita paciência para esses jogos, todavia, já estava impondo a presença de Ivanir Cárcera. Tudo que queria, fazia. O mínimo que esperava, era a lealdade e subserviência de todos. Era arrogante, porém, esta questão toda do sequestro o tornou um alvo para discórdias e tramas. Teria que ter sutileza para não angariar mais inimigos e antipatia dos ducados. Suspirou.

— Tem razão, minha filha. Você está certa desta vez, e se isto fizer você feliz, não discutirei mais.

Cécis deu um sorriso efusivo e se pendurou no pescoço do pai, agradecendo radiante. Deomaz se assustou com a reação da filha, que lhe cobria de beijos no rosto, como uma doce menina. Ficou constrangido, pois nunca tivera este tipo de contato com as filhas.

— Obrigada, pai! – Falava alegremente.

— Ãh… Mmm… Tudo bem. Pode ir. –  Dispensou a filha, encabulado.

Cécis ganhou o corredor de seu quarto apressada. “Que ridículo agir assim, mas não vou deixar você fazer o que está querendo, meu pai. Cárcera ainda será o homem mau da história. Você não empurrará ele goela à baixo, nem a mim, nem a ninguém!”

Entrou no quarto, fechando a porta atrás de si.

— Ai! Que raios, Caterina! Está querendo me matar de susto?

A irmã estava sentada na cama de Cécis e sorria de orelha a orelha. Há dias via Cécis circulando de vestido pelo palácio e se enfiando na sala de bordar com as damas. Gargalhou ao pensar nela com agulhas e linhas na mão.

— Vim ver o que anda aprontando, Cécis. Encontrei Dólias ontem e ela saiu bufando da sala de costura e bordado. Perguntei o que era e ela disse que você estava lá dentro, tentando aprender a bordar e distraindo as nossas damas. Não preciso dizer que ela contou isso com pesar e desprezo. 

Cécis gargalhou diante do relato da irmã.

— Ora, Cat, nossa irmã não herdou nosso humor. Estou, apenas… tentando me encaixar e transformar minha vida dentro deste palácio. Quero ser uma pessoa mais agradável a todos.

Cécis respondeu debochada, piscando várias vezes os olhos, fazendo Caterina rir. 

— E está conseguindo? Certamente existem damas bem interessantes para conversar sobre costura.

Falou, soltando uma gargalhada maior.

— Não tanto quanto gostaria, mas… – encolheu os ombros. – Bem, Lady Gertrude… é este o nome da filha do marquês de Gerola, não?

— Sim. É esse o nome da filha dele. – Caterina respondeu divertida.

— Ela, vendo a minha enorme dificuldade com as agulhas, se dispôs gentilmente a me ensinar. Disse que poderia procurá-la, qualquer dia desses, em sua residência. Ainda fez questão de me falar que sua mãe é uma dama muito ocupada, com algumas questões sociais, assim como o senhor seu pai. A coitadinha fica o dia inteiro solitária em sua casa… 

As duas riram mais ainda, diante do relato da princesa.

— Você não presta, Cécis! Estava só vendo quanto tempo duraria sua reclusão. Tinha certeza de que aprontaria algo. Vestida deste jeito? Essa não é você. – Continuou rindo.

Cécis diminuiu o riso, olhando para a irmã. Como poderia falar para ela que estava só se distraindo com essas traquinagens para que não enlouquecesse?

– E você? Não a vi ontem o dia inteiro. 

A irmã abaixou a cabeça encabulada e Cécis não compreendeu muito bem. Caterina não costumava ter este tipo de comportamento com ela.

— O que houve? Algum problema?

Perguntou, sentando-se ao lado da irmã.

— Não tem problema nenhum. Na verdade, está tudo ótimo.

Caterina respondeu, mas a princesa herdeira percebia que ela mantinha a postura encabulada. O rosto baixo e ligeiramente rubro, não encarando Cécis, fez a princesa ter um estalo. Inspirou fundo e cerrou os olhos fortemente. “Eu vou matar Aneirin!”

— Onde você esteve ontem o dia todo, Caterina?

— Em meu quarto. – Respondeu rápido e simples.

— Sozinha?

— Não. Aneirin estava comigo…

Cécis levantou e colocou a mão na cabeça. Bufava e andava de um lado a outro, pisando forte. A imagem em nada casava com as roupas que a princesa trajava.

— Eu mato Aneirin! Ela não perde por esperar. Nunca mais na vida vai conseguir sequer…

— O que está falando, Cécis?! – Perguntou a irmã mais nova diante do surto da princesa.

— Do que estou falando? Como assim do que estou falando? Eu entendi muito bem o que ela fez ontem o dia inteiro com você!

— E daí? Não foi por isso que armamos para ela trocar com a Pátiz?

— Armamos para que vocês se conhecessem melhor! Para que namorassem, sei lá! Mas não que ela no segundo dia… Que ela…

Cécis escutou uma enorme gargalhada soar pelo quarto. A princesa herdeira olhou para a irmã, que a observava com uma expressão divertida no rosto.

— Sinceramente, Cécis, nunca pensei que você fosse uma mulher romântica, ou retrógrada. Se está preocupada com a minha castidade, esqueça, pois esta já perdi há tempos. – Continuou rindo e deu uma pausa antes de voltar a falar. – Não foi Aneirin que me abordou. Gosto dela há muito tempo e não queria mais esperar que me olhasse. Chamei-a no quarto e quando ela entrou, fechei a porta e ataquei aquela boca gostosa. Não se preocupe, minha irmã. Foi tudo perfeito e vim agradecer a você por isso. E só para constar, não foi apenas durante o dia. Depois que jantamos, todos reunidos como uma linda família feliz, voltei para meu quarto e ela me esperava com um delicioso banho de aroma de rosas. A noite foi igualmente perfeita!

Cécis não conseguia fechar a boca diante do relato da irmã. Tentou se aprumar e assimilar o que acabara de ouvir. Sentou-se ao lado da irmã, sentindo-se ridícula.

— Pelos Deuses! Acabei de constatar que minha irmãzinha querida é um monstro. Coitada da Aneirin! Eu tenho que dar um suporte a ela. Deve estar traumatizada!

As duas irmãs caíram na gargalhada e Cécis abraçou a irmã mais nova. Ficaram mudas por alguns momentos, apreciando a cumplicidade.

— Cécis, eu estou preocupada.

— Por quê, irmã?

— Dólias nunca gostou de você e sempre teve inveja. Pelo visto, nosso pai não vai desistir de Cárcera e o casamento.

— Acha que nosso pai tem algum sentimento por nós? – Estreitou mais a irmã nos braços. – Tenho certeza que não, Cat. Ele só quer a sucessão do jeito que pensa ser melhor. O interesse dele é este palácio, o poder e o dinheiro que vem dos ducados.

— Eu também não o amo, Cécis. Nunca tive mais que algumas horas sozinha com ele, durante a minha vida toda. Você conseguiu mais dias inteiros com ele, com as repreensões que levou por sempre o enfrentar do que qualquer uma de nós. Ele nem deve conhecer o rosto de nossa irmã mais nova. Por que ele não mudou a lei de sucessão? Líberiz é um ducado e o fez. Assim você conseguiria assumir sem esses estratagemas ridículos.

— Porque ele é um miserável. Só pensa no que ele quer e em nada mais.

As duas irmãs conversaram durante algum tempo. Cécis, apesar de confiar na irmã, não lhe falou uma vírgula do que planejava. Se queria fazer bem-feito, faria sozinha. Isto ela aprendeu, e muito bem, com a duquesa Liberiz. Não pouparia esforços para proteger as irmãs do destino que elas partilhavam. O pai se livrava muito fácil dos entes familiares. Quanto menos sua irmã soubesse, melhor para ela.  

****

— Está divina, minha irmã?

Caterina cochichava próxima ao ouvido de Cécis. A recepção começara e as filhas do rei estavam perfiladas, sobre o tablado do trono no salão real de recepção. O rei parecia satisfeito, exibindo orgulhoso as belas filhas, ricamente ornadas em joias e vestidos magnificamente bordados. Todos que chegavam, eram anunciados pelo senescal e passavam em frente à realeza, cumprimentando a família.

— Não acha que Dólias exagerou?

Caterina continuava provocando a irmã mais velha, que prendeu o riso diante da insinuação da pequena Cat. Assim era a forma como Cécis gostava de chamar a irmã.

— Vermelho combina com ela.- Respondeu debochada, fazendo Caterina prender o riso. 

As duas sabiam que na corte dificilmente uma dama usava vermelho, para não referendar às cortesãs das áreas baixas da cidadela. Cécis achava uma bobagem. Logo Dólias se dispôs a usar aquela cor que todos criticavam.

— Que horas a gente pode sair daqui de cima? – Perguntou Cécis.

— Não acredito que você nunca ficou aqui em cima! – Ralhou a irmã.

— Sempre tive coisas melhores para fazer.

— Até entrarem todos os duques. – Respondeu Caterina. – Se tiver algum retardatário, chegará sem ser anunciado.

Cécis suspirou num sinal de enfado, estendendo a mão para que outro nobre passasse por ela, beijando-a. A esposa deste, fez uma mesura, cumprimentando a princesa.  A princesa herdeira sorriu em retribuição, sem muito ânimo.

— Melhore o sorriso, irmã.  Dá para perceber sua cara de irritação.

O rei Deomaz as olhou severo.

— Perdoe-me, pai…

Cécis falou humildemente, levando Caterina a prender novamente um riso. Escutaram o senescal bater outra vez o grande cetro. Mais um nobre chegava.

— Com vocês, a duquesa Fira Líberiz!

O nome pronunciado pelo senescal fez o coração de Cécis acelerar em ansiedade. Aquela era a mulher com quem a princesa partilhava segredos escusos e, em quem depositou uma confiança que jamais teve em outra pessoa. Aprumou-se para não deixar que os gestos denunciassem a aflição que tomava todo o corpo. Engoliu em seco, quando a duquesa entrou pela porta do salão. Cécis deixou de respirar momentaneamente. “Como pode estar mais maravilhosa?” 

— Também acho a duquesa linda. Respira, minha irmã, que, por sua causa, ela vai dormir aqui.

— Hã?!

Diante da expressão da irmã mais velha, Caterina teve ímpetos de gargalhar, não conseguindo malograr o riso. Forçou para se conter, pois a duquesa se aproximava e seu pai, novamente, olhava para as duas com um rosto severo. 

A pequena princesa pensou que nunca vira a irmã mais velha com aquele olhar. Era certo que ela disfarçava bem, todavia, Caterina vislumbrou um brilho diferente. Lady Fira Líberiz passou cumprimentando todas as princesas e ao chegar em frente a Cécis, demorou um pouco mais na mesura. 

— Fico contente que esteja bem e gozando de boa saúde, princesa. Alegro-me em saber que Alcaméria tem milady em seus braços.

— E eu me alegro em ver que a duquesa aceitou o nosso convite. Eu, meu pai e o reino, temos uma dívida enorme com o ducado de Líberiz.

Cécis falou num tom um pouco mais alto do que cumprimentara os demais duques. Muitos que estavam próximos escutaram o cumprimento e Cécis sabia que suas palavras circulariam entre as bocas dos convivas àquela noite. Era exatamente isto que queria. 

Não queria facilitar os planos do pai e, se conseguisse, faria com que não fossem adiante. O rei Deomaz ficou rubro de raiva, diante das palavras da filha, entretanto não poderia se descontrolar. Cárcera ainda não havia sido anunciado e se dependesse dele, todos veriam o apreço que tinha pelo duque.

— Majestade…

Fira se postou de frente ao rei e a rainha, em um cumprimento elegante. 

— Eu também lhe agradeço, Lady Líberiz. Existem súditos leais em seu ducado…

Fira sentiu as palavras ferinas do rei. Todos sabiam que a princesa havia sido resgatada por um grupo rebelde. Ela não poderia deixar que ele crescesse na sua alusão.

— É irônico como nos enganamos com o caráter das pessoas, meu soberano. O grupo Rélia era caçado por mim. Diante de tão grande feito, libertando a sua filha, devo dizer que estou disposta a dar-lhes um indulto. Tal feito, não podemos deixar de reverenciar, meu rei.

Um murmúrio de aprovação foi ouvido no salão, entre os convidados. Cécis, mais uma vez, se segurou para não rir e via o rosto do pai ficar mais vermelho do que já estava. “Se meu pai não tivesse boa saúde, caía morto agora”. A princesa pensou, enquanto reparava o rei fazer uma mesura simples, dispensando a duquesa. Observou a madrasta. A terceira esposa de seu pai era uma alienada. Constatou, definitivamente, o que sempre pensara dela.

Lady Fira se afastou, se juntando ao restante dos convidados. Ninguém podia questionar a beleza e elegância da duquesa. Seguramente, ela era a mulher que mais chamava atenção no salão, depois da princesa herdeira, é claro. Cécis havia se esmerado ao escolher seu vestido e ao se arrumar para a recepção. Não gostava desse tipo de roupa, mas se portava elegantemente quando trajava. 

Foi obrigada a fazê-lo ao longo dos anos, diante da educação rígida que seu pai impunha. Nem o vestido carmim que Dólias havia escolhido para atrair olhares, conseguiu ofuscar os traços belos e a formosura com que Cécis se apresentava. Seu vestido perolado em brocados e bordados dourados, faziam um contraste, perfeitamente harmônico, com o negro das vestes de Fira, também ornados com bordados em ouro. 

A duquesa despertou a curiosidade de muitos filhos e filhas de nobres. Alguns lançavam olhares ousados, enquanto em outros, despertava uma inveja indiscreta. Já a princesa Cécis se perdia entre o arrebatamento e a raiva ciumenta, daqueles que a cobiçavam. “Merda, Fira! Tinha que vir tão gostosa assim?” A impaciência começava a rondar o temperamento impetuoso da princesa. Ela queria estar ali, dentre os convivas e perto de Fira, mas o protocolo ainda não havia terminado.

— Calma, irmã. Se tudo correr bem, a bela Lady Líberiz estará entre seus lençóis ainda hoje. Quer dizer, se você tiver competência… 

Caterina falou jocosa, vendo o olhar espichado da irmã em direção à duquesa. 

– Mas se contenha que ainda falta a firula que nosso pai quer fazer com Cárcera. Ele ainda não foi anunciado.

— Quem disse que quero alguma coisa com Lady Líberiz? Só estou agradecida.

— Sei. Cécis, ela é linda e não tem nada de mais em admirá-la. Eu mesma já babei muito em recepções aqui. O problema é que você nunca ficava e nunca percebeu. Agora fica aí, quase matando quem chega perto dela. 

— Para Cat. Como você falou, não tenho competência e, depois, Lady Líberiz já deve ter seus pretendentes.

— E desde quando se importou com isso? Não acredito que você está com medo?

— O que mais falta para a gente descer dessa merda?

Perguntou impaciente querendo cortar a conversa da irmã.    

— Duque Cárcera, esqueceu?

— O homem é meu carrasco até numa recepção. 

Um burburinho se fez e o senescal se aproximou para falar com o rei. Deomaz autorizou um mensageiro entrar. Quando o homem se aproximou do tablado, trajando as cores do ducado de Cárcera, a princesa herdeira virou o rosto, tentando esconder o horror em seu semblante. 

O gesto, embora feito sem muito alarde, não passou despercebido por nenhum convidado. Lady Fira olhou um ponto qualquer no tablado real para se distrair do ocorrido. Não podia rir e não conseguia segurar a satisfação com que presenciou a atuação da princesa. “Você é uma grande atriz, Cécis. Deuses! Essa mulher vai acabar com o teatro do pai!” 

Depois que o rei Deomaz leu a mensagem, se pronunciou.

— Daremos início à festividade. O nobre duque de Cárcera teve um pequeno acidente com sua carruagem e, assim que possível, chegara para a recepção.

— Graças aos Deuses! 

Cécis sussurrou para a irmã mais nova.

— Acho que o homem quer é causar impacto!

— Pois eu acho que ele não quer me ver pela frente. 

Cécis declarou com convicção.

As princesas e o rei desceram do tablado real e finalmente puderam se misturar aos convidados. Alguns filhos de nobres cercaram Cécis, apresentando sua alegria por tê-la de volta. Ela sabia que a maioria estava impactada por vê-la ali, em uma recepção, vestida como uma verdadeira princesa. Outros se aproximavam desconfiados, pois conheciam o temperamento bélico dela em outras ocasiões, mas incrivelmente a princesa se mostrava simpática e bem-humorada. 

Cécis, entre uma conversa e outra em seu grupo, não deixava de procurar com os olhos Lady Fira. O salão era grande e havia muitos convidados. Eventualmente ela perdia a duquesa de vista. “Pelos Deuses! Ela está maravilhosa! Tenho que ter muito sangue-frio para manter a minha cabeça no lugar.”   Pensava ocasionalmente, e ainda refletia se o que maquinou não havia sido um erro.    

— Boa noite, princesa. 

Cécis escutou uma voz ligeiramente rouca atrás de si. Não saberia dizer se a pele arrepiada de seu pescoço se fez visível para quem estava próximo a ela.

— Boa noite, Lady Líberiz. Fiquei muito feliz com a vossa presença.

— Sim! Todos nós ficamos. Gostaria de expressar a alegria em tê-la aqui, milady.

O filho herdeiro do duque de Kendara, falou mais que efusivo. A princesa estava cercada de vários nobres e suas famílias e, a espontaneidade do rapaz a incomodou. Durante a recepção, ficara claro que a duquesa de Líberiz despertara grande interesse por parte de muitos. Foi cercada o tempo todo de pessoas que conversavam com ela animadamente.

— Obrigada, milorde Ranaz. Como vai seu pai? Não o vi hoje, mas sei que o salão está cheio e todos nós estamos comemorando o retorno da bela princesa, Cécis.

Fira encarou brevemente a herdeira, retornando o olhar para o rapaz. 

— Com certeza, o duque Kendara está em alguma roda animada, celebrando.

Ela concluiu cortês e educadamente animada. Era elegante sem dar créditos demasiados aos elogios. 

— Agradeço a sua lembrança, Lady Líberiz, mas meu pai está adoentado. Não pôde vir hoje.

O rapaz falou encabulado, levando Cécis a imaginar o que ocorria com o pai dele.

— Ah, que pena! Gosto muito de seu pai. Mande minhas estimas de melhoras para ele. – concluiu, Fira.

— As minhas também, milorde! – Anuiu Cécis. 

— Certamente seu pai nos faz falta. 

Completou Caterina, que acabara de chegar na roda. 

— Ele é um grande contador de anedotas e sempre acabo minhas noites na roda que ele junta em torno de si. 

— Mandarei suas estimas para ele, miladies. Estou certo de que apreciará muito.

O herdeiro de Kendara respondeu, olhando-as instruído e engolindo um grande gole de vinho.

— Duquesa, gostaria de lhe apresentar minha irmã, Caterina.

— Não é necessário, princesa Cécis. Eu conheço sua irmã de alguns saraus. – Fira se voltou para a irmã de Cécis. – Como vai, princesa Caterina?

— Eu estou ótima! Principalmente agora que minha querida irmã retornou. Talvez esteja enfadada com todos lhe agradecendo, mas quero deixar meus cumprimentos também.

— Eu me sinto cada vez mais feliz, em ver que foi, através de súditos do meu ducado que a princesa retornou. Não precisa me agradecer. É uma obrigação de todos nós. Acredito que se a princesa estivesse em perigo em qualquer ducado e alguém a visse, faria o mesmo.

— Nem todos…. 

Caterina respondeu, enquanto o olhar se espichava em direção à grande porta de entrada. 

O duque de Cárcera acabava de entrar no salão e era recepcionado pelo rei. Todos à volta delas olharam na direção, onde a princesa Caterina mirava. Cécis prendeu a respiração e Fira a observou atentamente. “O que está acontecendo?” Pensou Lady Líberiz preocupada. O rei não teve qualquer tato ao conduzir o duque diretamente ao grupo onde elas estavam.

— Minha filha, o duque de Cárcera veio prestar homenagem pelo seu retorno.

— Milady… – Fez uma reverência acentuada. – Meu contentamento com seu retorno não tem medidas!  

Cécis o reverenciou também, baixando a cabeça e os olhos. Tomou um grande alento, antes de retornar a cabeça e responder.

— Obrigada, milorde.

Foi seca e não conseguia fixar o olhar diretamente no duque. Mantinha o rosto de lado e os olhos baixos. A face dela estampava um visível desconforto. O rei notou que ela se retraíra com a presença de Cárcera.  Se fosse em outras épocas, Cécis diria meia dúzia de impropérios, mas se manteve polida diante do nobre. No entanto, todos perceberam o medo serpenteando os gestos da princesa com a chegada do duque. O rei errara no movimento que fizera. Ele não contava com aquela reação. “Então deve ter sido mesmo Cárcera que a raptou… Como vou reverter isso?”

— Milorde, vamos deixar os jovens conversarem. Vamos tomar um vinho. Quero apresentar algumas pessoas a você.

— Como queira, meu soberano. – Respondeu Cárcera. – Senhores… miladies… – Prestou outra reverência.

Antes de se afastar, o duque olhou para Fira. Seus olhos estavam repletos de ódio. O gesto não passou despercebido pelos membros do grupo. A intriga estava lançada. 

— Senhores, eu vou me recolher. – A princesa herdeira falou.

— Mas já, milady? – Um dos convidados perguntou, consternado.

— Não me sinto muito bem. Devo ter bebido demais. Caterina… – se voltou para a irmã.

— Diga, minha irmã.

— Poderia se desculpar por mim a quem perguntar pela minha presença?

— Certamente, irmã. 

— Ah, e faça as vezes com Lady Líberiz. Ela é nossa convidada e ficará hospedada conosco. O senescal sabe o quarto em que ela pousará. – Se dirigiu a Fira. – Perdoe meu deslize, milady. Espero que tenha uma noite agradável e divertida.

— Não se preocupe, princesa. Eu entendo… Estou muito bem acompanhada com sua irmã e os senhores distintos que nos cercam. – Sorriu discreta.

Cécis tentou se apressar para sair do salão, sem fazer muito alarde. Volta e meia era parada por alguém. Eventualmente, sentia alguns olhos sobre ela, todavia focou em seu objetivo. Ninguém falaria que era um gesto de rebeldia, pois o ocorrido no seu grupo de convivas havia se espalhado como fogo em palha seca pelo salão. Depois de algum tempo alcançou a saída.

A única coisa que a desanimava era saber que Fira estaria ali, a noite toda, e não poderia desfrutar da presença dela. Chegou ao quarto e se trancou. Retirou o mais rápido que pôde aquelas roupas, que julgava desconfortáveis, e se jogou na cama. Ela não poderia fazer mais nada além do que fez. Teria que esperar para continuar seu plano.

***

Lady Líberiz conversava com todos, sem exceção. Sempre foi uma mulher apreciada nas recepções, pois mantinha cordialidade e um leve toque de humor, divertindo os convidados. Não era exagerada em seus gestos e, agora que era a governante legítima do ducado, despertava interesse pelos homens solteiros e algumas mulheres, também. O rei Deomaz via seu intento de abafar o feito da duquesa e retornar a estima do seu escolhido, escorrer pelas mãos. Principalmente depois que a filha se sentira mal, diante do duque. Estava louco para acabar com a festa. Lady Líberiz se aproximou da princesa Caterina e lhe falou mais intimamente. 

— Princesa, poderia me mostrar o paço da praça? Lembro que, da última vez que estive aqui, me falou que era uma linda rua vista da varanda do salão, mas não consegui me desvencilhar das conversas na época.

— Claro, milady! Venha comigo. – Se voltou para os seus acompanhantes. – Com licença, senhores. 

Não esperou resposta, virando-se em direção a varanda. Também queria se desvencilhar deles. A princesa Caterina puxou Fira pela mão com intimidade, carregando-a para fora do salão. Algumas pessoas estavam na varanda, mas a princesa tinha um local mais reservado. Caminhou toda a extensão, até chegar no outro extremo. Ninguém chegava até ali.

— Pelos Deuses! Ainda bem que me chamou. Ninguém merece ficar a noite toda escutando as baboseiras que falam para nós!

Fira não conseguiu segurar o riso. Ela também não aguentava mais tanta mesura e bajulação. A frivolidade da corte não fazia o feitio da duquesa, mas imaginava que a única das princesas que não gostava daquilo deveria ser Cécis.

— Então não gosta das recepções?

Juntou-se à princesa, parando ao seu lado para olhar a cidadela de Alcaméria.

— E você gosta? Percebi que é muito educada, duquesa, mas sua simpatia tem um limite e vi em seu rosto que ele acabou. 

Fira sorriu novamente diante da espontaneidade da princesa. Pedira para Caterina para levá-la para ver a cidade para desafogar das frivolidades. Estava preparada para conversar sobre outras futilidades com a irmã de Cécis, mas seria apenas uma pessoa para ter que aturar. No entanto, se deparou com uma garota que estava louca para se livrar daquilo tudo.

— Tem razão, princesa. Eu tenho um limite, mas sei também que não posso chutar tudo. Tenho uma posição e se não gostasse de mantê-la, teria que renunciar ao ducado. Infelizmente é um papel que temos que preservar. 

— Deuses! Eu fico feliz que não seja herdeira de nada. Cécis tem uma vida dos infernos!

Fira tentou ver o rosto da princesa para saber onde ela queria chegar e, se acaso, Cécis falara algo para irmã. Caterina era uma garota que começara a adquirir feições mais fortes. Lembrava Cécis nos traços, mas o cabelo era longo e num tom de castanho claro, diferente dos negros cabelos da princesa herdeira.

— Às vezes é desgastante, mas infelizmente cada um tem seu compromisso. Entendo que o que aconteceu com a princesa Cécis deva ter sido um choque para ela…

— … É. – Caterina falou um pouco desiludida. – Minha irmã voltou diferente.

— Diferente como?

— Ela era rebelde e vivia aprontando. Não gostava dessas coisas que normalmente as garotas gostam e sempre se encrespou com nosso pai. Agora está até usando vestidos e abaixa a cabeça para ele. Você viu hoje. Em outras épocas, ela entrava na corte vestida de calças só para enfurecer o rei Deomaz. 

A princesa Caterina sorriu, deixando um ar de saudade transparecer nas feições e depois continuou a explanar.

— Nunca deixaria um homem se impor sobre ela. Hoje se sentiu mal, só em ver o canalha e ainda por cima, meu pai apoiando… 

Caterina pendeu a cabeça, desanimada.

— Acha que sua irmã sofreu alguma violência no cativeiro? 

— Não sei… Ela não fala, mas está muito mudada. Queria minha irmã de volta, sabe. Desculpe dizer essas coisas e gostaria que fosse discreta. Minha irmã não gosta de homens para se relacionar e hoje, não saiu da linha. Em outros tempos, ela já estaria escorando alguma dessas filhas de nobres em algum canto. No dia seguinte, meu pai teria uma “baita” dor de cabeça para encobrir o que ela fez e ainda, dispensar a menina apaixonada. Hoje ela se encolheu e foi dormir.

Fira não queria mostrar qualquer reação diante do relato da princesa, e se esforçou para isto, entretanto viu que Caterina estava empenhada em fazer uma imagem da irmã que sabia não ser a real. 

“Ela está querendo fazer com que me interesse pela irmã. Que grande dupla!”  

Lady Líberiz conhecia bem o que ocorria nos bastidores de Alcaméria e, definitivamente, Cécis sempre poupou o reino de suas aventuras. Não era verdade o que a garota relatava para ela.

— Então, acha que a princesa está traumatizada?

Continuou dando corda para Caterina.

— Não sei, mas ela lhe tem muito apreço. Vi do jeito que ela a olhou hoje. Se você pudesse ficar amanhã para conversar com minha irmã, talvez seja algo que a tire da apatia… 

Caterina jogou a frase no ar para ver se a duquesa se interessava. Fira esboçou um sorriso de canto de boca. Definitivamente, a garota teria que aprender mais, até conseguir manipular uma pessoa como ela. Mas, a duquesa gostou de saber que Cécis não era completamente sozinha naquele palácio.

— Eu ficarei até amanhã, princesa, mas não sei se o rei gostaria de ver meu rosto o dia todo. Sei que você é perceptiva e já entendeu que não sou bem quista pelo vosso pai.

— Esquece ele. É um cretino! Por ele, minha irmã estaria morta e ele casaria Dólias com o duque Cárcera e sei também que você sabe disso.

Estava difícil para Fira se conter diante da impulsividade da princesa mais nova. Viu que Cécis tinha uma grande aliada no palácio, mas agora, tinha certeza de que a princesa não falara nada para a irmã. As palavras saíam fáceis pela boca de Caterina para uma mulher que ela mal conhecia.

A duquesa sentiu a presença de alguém e se virou. A guarda pessoal de Cécis estava de prontidão ao lado delas. Fira se lembrava bem da arrogância da coronel Aneirin, impedindo-a de se aproximar da princesa tempos atrás. A guarda-costas tinha o cenho fechado. “O que ela faz aqui?” Fira se perguntava.

Reparou que a princesa Caterina ao se virar, abriu um enorme sorriso.

— Fira, esta aqui é a coronel Aneirin. Minha guarda pessoal. – Apresentou-as.

— Prazer, coronel. – Inclinou a cabeça sutilmente, recebendo outro cumprimento discreto em troca, mas a coronel nada falou.

— Tenho que ir. – A princesa falou efusiva. – Por favor, peça para o senescal lhe mostrar o seu quarto. Tenho um compromisso agora. 

Caterina comunicou, abrindo um grande sorriso. 

— Não se preocupe, princesa, eu já me alojei. Fui conduzida ao meu quarto quando cheguei. O rei já tinha deixado tudo em ordem para me receber.

— Não tenha tanta certeza, duquesa. Provavelmente, foi minha irmã que fez isto. Já vou.

— Até mais, princesa.

Fira respondeu sorrindo, diante da euforia da garota. “Pelo visto a arrogante coronel mudou de posto e a princesinha gostou disso… É, Cécis! Você tem uma amiga na família, no entanto, muito tagarela. Mais um pouco e ela me falaria o que você fez nos últimos quinze dias, além de contar o que o pai programou para o dia de amanhã.”

Fira se debruçou no alambrado da varanda, olhando as luzes das casas da cidade. Agradecia por estar sozinha alguns minutos e repassava mentalmente tudo que ouviu e presenciou no salão. Tomou a decisão de se recolher. O rei não se importaria e até agradeceria, assim como Cárcera. “O que o homem tem de bonito tem de canalha.” Sentiu alguém se aproximar e virou-se na direção dos passos. “Pensando no demônio, eis que ele chega.”

— Cansada, Lady Líberiz?

Perguntou despretensioso, como se fossem bons amigos.

— Um pouco, milorde. A viagem foi longa.

— Satisfeita com o desfecho do que planejou?

Fira o olhou diretamente e pode vislumbrar a raiva que tentava conter sob uma capa de calma.

— Não sei a que se refere, milorde, mas estou satisfeita em ver que todos estão bem. Vai dormir aqui no palácio, duque?

Fira podia ver, mesmo na penumbra, ele engolir a saliva forçosamente.

— Não. Eu tenho a minha residência oficial aqui em Alcaméria e é lá que ficarei. Pelo visto, milady e o vosso pai nunca se preocuparam com algo assim. Talvez não goste tanto da vida na corte… – O duque se virou para sair. – Tenha cuidado, milady, aqui é um canto muito escuro. Mesmo no palácio real, temos que nos cuidar.

Fira o acompanhou com o olhar até que o duque sumisse através do portal da varanda.

— Idiota! Ainda teve a petulância de me ameaçar. 

A duquesa deixou escapar a frase entre os dentes. Estava realmente cansada. Não sabia se pela viagem, festa, ou o estresse emocional de ter que lidar com todas aquelas pessoas. 

Resolveu sair discretamente e se recolher. Tinha certeza de que não conseguiria conversar com Cécis, pois, na manhã seguinte, iria partir cedo. Fez o que precisava para abafar a ação do rei. Lembrou-se da princesa e não pode deixar de sorrir. “Ela estava linda e mais ferina do que nunca!” 



Notas:

Oi, pessoal!

Será que vai dar bom com essas duas?

Beijo a t@das e bom fim de semana!




O que achou deste história?

6 Respostas para Capítulo 14 – Festa na Corte

  1. Oiiie, Bi!! 🙂
    Nossa, que capítulo incrível! Grande, como gosto!!!
    Fira elegante e controlada como sempre!
    cati falando pelos cotovelos, fez bem A princesa Cécis n contar seus planos, ainda q acho q Cati tentaria n abrir a boca RS. Melhor assim!
    a guarda pessoal de Cati foi logo buscá-la. Fira n sabe de nada RS.
    Cécis fez uma mudança exagerada, vão desconfiar q tá aprontando algo!
    Esse besta de Cárcera, achando q pode ameaçar Lady Fira! Q ela tranque a porta! Acha q ele n saberia o que ela planejou?! RS
    bem, até quarta ou próximo capítulo!!
    Beijooosss e um abraço pra sua esposa! Que estejam super bem, apesar do resultado das eleições .. vamos com Fé!!

    • Oi, Lailicha! Que bom que voltou!
      Sim, a Caterina é linguaruda. rs E a duquesa está na cova dos leões. Tem que se cuidar muiiito!
      Brigadão, Lailicha, pela compreensão e carinho de sempre!
      Um beijo grande pra ti e sua esposa

    • Oi, Anônimo!
      Acredito que não tenha sido só você a estranhar não. Acho que toda a corte de Alcaméria estranhou, inclusive o pai. rsrsr Cécis definitivamente não é assim. he he he
      Obrigada pelo comentário e carinho!
      Abraços e bom fim de semana

  2. Essa Cat é demais, parceira perfeita da irmã.
    Duvido que Cécis não vá encontrar a sós com amada Fira, e ainda mostrar todo seu desgosto pelo ciúmes que sentiu.
    Sábado maravilhoso com esse grande capítulo 👏👏👏

    Bjs e uma ótima semana Carol

    • Oi, Blackrose!
      Outro sábado com um capítulo pra curtir fim de semana. rs
      Pois então, a Cat é extrovertida que só, né? E também tenho a impressão de que a Cécis não vai deixar passar essa noite. Veremos o que vai aprontar nesse próximo capítulo. rs
      Muito obrigada, Blackrose!
      Bom fim de semana pra você e sua família!
      Beijão

Deixe uma resposta

© 2015- 2022 Copyright Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução total ou parcial do trabalho sem a expressa autorização do autor.