Líberiz

Capítulo 29 – Novos Ducados, Novos Condados

— Bert!

Assim que chegou no castelo, Fira foi até a sala da criadagem chamando a escudeira. A empolgação tomou conta da duquesa quando Cécis lhe confidenciou algumas mudanças que a rainha faria no reino e precisava conversar com Bert.

— Ela não se encontra no castelo, senhora. – Falou uma serviçal. – Recebeu um recado de casa, dizendo que seu filho Edwin havia caído de uma árvore e estava inconsciente.

— Deuses! – Fira se compadeceu da escudeira-amiga. – Peça para o mestre-curandeiro me encontrar no estábulo. Conte o que houve e diga para ele levar o que precisar para tratar do menino. Vou levá-lo até lá.

— Sim, milady.

Em menos de quarenta minutos, Fira entrava pela casa da escudeira com o curandeiro. Atravessou o portal, sem nem ao menos pedir licença e viu os outros dois filhos de Bert e Maia sentados nas cadeiras da sala. A menina chorava, enquanto o rapazinho acariciava o cabelo da irmã, tentando consolá-la. Trazia os olhos marejados, também.

— Onde estão suas mães? – Perguntou a duquesa.

— No segundo quarto do corredor, senhora.

Respondeu o menino, lembrando da fisionomia da amiga de suas mães.

Fira encontrou Bert sentada na cama, limpando o rosto do menino com um pano úmido. Ele parecia estar inconsciente ainda. Maia chorava silenciosa, ao lado da esposa e viu lady Líberiz entrar com um senhor vestido em uma bata longa branca, amarrada na cintura com um cordão de linho. A veste de curandeiro fez com que Maia levantasse, imediatamente, segurando Bert pelo braço e pedindo a esposa para se afastar.

— Deixe que o mestre veja como Edwin está, Bert.

A escudeira se levantou de imediato, permitindo que o homem se aproximasse. Bert deixou que as lágrimas, finalmente, escorressem por seu rosto e se aproximou de Fira, se ajoelhando diante da duquesa.

— Muito obrigada, milady. Edwin é um dos anjos que chegou em nossas vidas. Não podemos perdê-lo…

— Bert, se levante! Pelo amor aos Deuses! Será que não percebeu ainda que estimo muito você e sua família? Estou aqui como uma amiga! Perdoe-me se… se sempre tudo a minha volta se trata de algo relacionado a mim ou do ducado…

— Shhhh! – Ralhou o homem. – Vocês fazem barulho demais! Saiam e me deixem trabalhar. Alguém traga uma vela para que eu veja como estão os olhos do menino.

Saíram, constrangidas, e Maia foi levar a vela para o homem, enquanto Fira e Bert caminharam para fora da casa. 

— Perdoe-me, Fira. Meus filhos e minha esposa são o maior tesouro que tenho. Edwin é um menino agitado, mas um bom menino. Não é desobediente, entretanto, ama correr pelos campos e brincar. Maia, eventualmente, os leva para nossas plantações, contudo, às vezes ele consegue sair dos olhos dela.

— Crianças na idade dele fazem isso, Bert. Os pais fazem o que podem, mas estes pequenos anjos, são peraltas. – Colocou a mão sobre os ombros caídos de Bert. – Fique calma. Não passará de um susto esta brincadeira dele.

— Assim espero, Fira. – Olhou a duquesa, sem graça. – Tem problema se lhe chamar assim, aqui?

— Lógico que não. – Sorriu confortadora. – Uma vez, quando era criança, quis pregar uma peça em meu pai. Quis me esconder tanto dele, pois tínhamos esse tipo de brincadeira, que me tranquei, sem querer, numa cela de um calabouço abandonado na casa de campo.

Bert sorriu com o relato e incentivou a duquesa a continuar.   

— E o que aconteceu? Ele lhe encontrou?

— Encontrou sim; um dia depois e me deu uma surra invejável. – Gargalhou. – Ele nunca havia me batido, no entanto o desespero dele foi grande. Pior foi ter passado a noite num lugar escuro, em que escutava sons estranhos. Não sei se era pela minha imaginação ou não, mas durante a noite escutava vozes. Me borrei de medo e não dormi a noite inteira.

Fira voltou a gargalhar, fazendo a escudeira seguir junto na risada.

— Tenho certeza de que você nunca mais quis se esconder dele deste jeito.

— Não mesmo! – Riu.

— Não posso afirmar, mas acho que o duque Virtus não tirou mais os olhos de você.

Fira sorriu, lembrando da infância e das traquinagens que fazia. Tinha saudades do tempo em que não se preocupava com nada. Agora parecia que sua vida aquietaria outra vez.

 — Bert, com a produção e venda da sidra que produzem, não tem mais necessidade de trabalhar para mim. Por que faz?

Fira reparou, ao longo dos meses, que elas prosperaram e Bert nunca lhe pediu para deixar o cargo. Elas não necessitavam mais do dinheiro que Fira lhe pagava.

— Com sinceridade, eu não sei, mas, com toda certeza, gosto do que faço. Não tenha dúvidas disso. Só sinto que não confie mais em mim, como confiava antes.

— Lógico que confio. Por que diz isso? – Fira perguntou chocada.

— Não reparou que não me leva mais para lugar algum? Sempre lhe acompanhava em tudo, Fira. Hoje em dia, você arruma desculpas para me dispensar.

Fira teve consciência da mudança de comportamento no último ano em relação a escudeira. A verdade era que confiava tanto em Bert e nutria um carinho tão grande pela escudeira, que não percebeu que a apartara para protegê-la.

— Você acreditaria se lhe dissesse que fiz isso para lhe proteger? Você tem uma família linda e cuida dela com amor. É uma amiga discreta, pois não me julga. Eu me enfiei em tantas encrencas neste último ano que não quis te envolver. Foram coisas perigosas, o que fiz. Eu me odiaria se algo lhe acontecesse, por conta de minhas atitudes e decisões.

— Sabe que poderia contar comigo, não sabe?

Fira pensou sobre a pergunta e a resposta que encontrou era que sim; ela sabia que poderia contar com Bert. Mas como dizer a escudeira e amiga que fez coisas que muitos desaprovariam?

— Eu sei, Bert. Talvez tivesse medo de lhe decepcionar.

— Me decepcionar, por quê? Por tentar fazer as coisas ficarem melhores? Eu não entendo vocês. Divinay é cheia de mistérios e acha que eu não vejo. Existem coisas que eu percebo dela e não sei ao certo o que acontece, mas sei que ela é metida com grupos questionadores e evita me falar.

A escudeira inspirou fundo e olhou os campos de plantio. Tentava achar as palavras para fazer a duquesa entender que ela não era cega diante das situações que envolviam as pessoas que gostava.

— Você recebeu a princesa em Líberiz e apesar de falar o quanto a situação era politicamente difícil para o ducado, via a interação de vocês ao longo dos dias. Só um idiota para não ver a quantidade de vezes que vocês almoçavam juntas, ou jantavam na sua sala particular. Depois veio a derrocada do rei Deomaz, que para mim, particularmente, ele foi tarde.

Ela Bufou exasperada.

— Fira, eu sei que participo mais intimamente de sua vida, por lhe servir diretamente, mas os espiões desse reino inteiro são uma merda. Como não conseguiram ver estas coisas?

Fira se espantou com a forma direta e simples com que Bert colocou os acontecimentos. Riu ao perceber o quanto foi tola, diante da escudeira-amiga.  Sim, achava que ela poderia perceber muitos acontecimentos e a admirava por nunca ter lhe questionado.

— Fira, eu lhe acompanhei quando você pegou aquele soldado que a espionava e contava para o conde Remis. Vi a forma como o matou por traição. Acha que me chocaria mais? Sempre lhe admirei, pois, apesar de ver a frieza com que matava alguns traidores, não era injusta. Fazia para a própria proteção. O fato é que nem todos os traidores são pegos e os espiões são idiotas. Sei que tem uma vida diferente de nós, contudo estes cretinos não conseguem ver o que tem pela frente.

— A verdade, Bert, é que os espiões são limitados. Não conseguem ver o todo. É um guarda que faz a segurança do corredor e depois passa a informação para uma outra pessoa que observou outra peça da história.

— Uma corrente que se quebra. Dá prosseguimento a interpretações de outros e não veem o todo.

— Isto! Se você não viu tudo, você não sabe de tudo. Assim a coisa chega aos ouvidos dos governantes. Sempre em partes.

— Mas não você. – Sorriu. – Sempre se meteu a fazer as coisas por si mesma.

— Quando podia, sim. Não dá para fazer tudo, entretanto é angustiante não poder fazê-lo. Às vezes, fico pensando se o que uma ou outra pessoa me trouxe de notícia foi o que realmente aconteceu.

— Por isso você faz bem. Você avalia e não toma como verdade absoluta. Respondendo a sua pergunta anterior, eu continuo sendo sua escudeira porque tenho orgulho de ser. Não sei o que teve que fazer para que tudo acontecesse no reino e para a derrocada de Deomaz. Este não é o meu papel. Apenas sei que não gostaria que Cárcera tomasse o poder e, também, não gostava da forma que nosso rei governava. Os Deuses terão que julgar os seus atos, Fira, caso tenham sido atrozes demais, mas não eu.

— E respondendo a sua pergunta, Bert: Eu confio em você. Agora, mais do que nunca, vejo que tomei a decisão correta em lhe deixar de fora. Você e sua família não mereciam riscos.

Sorriu, passando os braços sobre os ombros da escudeira, voltando o olhar para os campos, como a outra fazia. Bert recebeu o conforto do abraço da soberana-amiga e enfim, teve coragem de lhe perguntar o que estava há alguns dias lhe rondando a cabeça.

— E a princesa?… É tão boa quanto as fofocas da plebe falam? – Riu.

Fira sorriu, bobamente, e não se irritou com a invasiva da escudeira.

— Não sei o que as fofocas falam, talvez mais à frente possa me contar, mas sei que não devem ser verdadeiras.

— Não?! – Olhou para Fira, intrigada.

— Não, mesmo. Provavelmente não chega aos pés do que ela é de verdade.

Virou o rosto para a escudeira e sorrindo, piscou, levando Bert a gargalhar.

— Ontem na assembleia aconteceu uma coisa…

— Eu sei. – Bert a interrompeu.

— Merda! Delante é um espinho, sabia?

Falou chateada e Bert gargalhou.

— Não fique chateada com Delante. Ela se exultou com o que a princesa fez. Ficou chocada, mas exultante. Ela detesta Avar e achou que a ação da princesa foi magnifica.

— Sim, contudo não tira o fato de que estou tão acostumada com a presença dela que a esqueço.

— Delante não conseguiu saber se você aceitou ou não. Presumi que sim, pois enviou um mensageiro ontem e hoje saiu cedo.

— Você está pior que os espiões, Bert. Que coisa feia! Devo me preocupar com você? – Fira ralhou com a escudeira, mas riu logo em seguida. – Aceitei. – Respondeu com um sorriso bobo no rosto.

— Avar vai se matar depois de ver que deu forças para algo que beneficiaria você. Bem-feito! Quem manda ser burro?  

Mais uma vez Fira riu, e a conversa distraída com Bert fez o tempo passar. A noite caia devagar, quando Maia chegou com notícias. O curandeiro falou que não parecia grave e que ele deveria acordar em breve, no entanto preferia levá-lo ao hospital da cidadela para observá-lo. Pediu que trouxessem uma charrete do hospital para transportá-lo. Fira os deixou. Não poderia fazer mais nada pelas amigas, orando aos Deuses para que tudo corresse bem.

Edwin acordou um dia depois, alegrando Bert e a família. Ele conquistou a simpatia de todos no hospital por ser um menino risonho e brincalhão e, quando foi liberado para retornar para casa, alguns curandeiros e amiguinhos que fez, sentiram sua falta.

***

Um mês e meio se passou e a presença da princesa Cécis em Líberiz era vista por todos. Ela chegava, Lady Fira a acompanhava em caminhadas e passeios a cavalo, sempre acompanhadas por guardas, nobres da corte de Líberiz e suas famílias.

Saraus aconteciam por uma ou outra festividade. Travava conversas agradáveis no salão, fossem nos saraus, ou nos jogos que marcavam no castelo. Cécis se mostrava cordial e simpática, atendendo a todos. Às vezes, demostrava o desagrado de tudo aquilo, particularmente para Fira, entretanto, queria se empenhar e demonstrar, publicamente, que tinha um apreço real e verdadeiro pela soberana do ducado. Pensava que desta forma, ficaria mais difícil dos condes exigirem da duquesa de Líberiz uma postura de findar o cortejo e estava certa.

— Fira, eu sei que falei que queria que eles aceitassem e também, que nos conhecêssemos e tudo mais, sem que tivéssemos a pecha do sexo entre nós…

Fira sorriu, antevendo as expectativas da princesa, contudo esperou que continuasse a sua preleção

– … mas… ah, merda! Eu gosto de fazer amor com você, está bem? Isso é uma tortura! – Falou desesperada.

Fira prendeu o riso. O que menos queria era desagradar a princesa, viu um lado maravilhoso dela durante aqueles meses. Era uma pessoa atenciosa, carinhosa e extremamente solícita. Percebeu, ao longo do tempo, que ela não o fazia apenas para mostrar aos nobres; fazia quando estavam sós, também. Era algo natural, o zelo com que Cécis a tratava. Um cuidado que nunca sentiu de mais ninguém. Nem mesmo seu pai conseguia ser tão esmerado.

— Peça minha mão…

— O que?

— Peça a minha mão em casamento. Eu aceitarei com todo o meu coração.

Fira se regozijou ao ver o espanto na expressão do rosto da princesa. Sabia que a chocaria, no entanto, tinha esse desejo guardado lá no fundo. Ela queria ser amada, como estava acontecendo. Sempre se curvou diante das responsabilidades, porém, lá no fundo, algo faltava. Este desejo que crescia com força dentro dela.

Quando pensou a primeira vez sobre o assunto, se espantou tanto quanto o espanto que via, agora, no rosto de Cécis. Entretanto, tudo era tão menor quando pensava em tê-la ao lado o resto de sua vida.

— O que eu estou dizendo é que: Não importa o que vai ser ou acontecer, o importante é o que trago em mim aqui. – Fira apontou para o peito. – Sua irmã deliberou a lei de separação em todo o reino. Se não tem segurança do nosso futuro, não há o que temer. Podemos nos separar se não der certo.

— Do que está falando, Fira? Segurança do nosso futuro? Eu é que pensei que não tinha essa vontade. Por mim eu me casava hoje com você… ou melhor, nos casávamos agora! – Se jogou sobre a duquesa rindo e beijando-a. – Quer casar comigo? Agora tem que aceitar!

Este foi um dos momentos em que elas falaram sobre casamento, porém sempre um problema político, uma questão de negociação comercial e outros problemas vinculados a Alcaméria, ou a Líberiz, cortavam as brincadeiras. Arrastavam o assunto e se mantinham distantes. Não queriam que alguém pegasse algum deslize delas para fomentar fofocas e atiçar as fogueiras. Muitos ainda eram reticentes em relação ao enlace.

***

Mais uma recepção começava no salão do castelo de Líberiz e, desta vez, os protocolos foram montados. A rainha Dólias de Alcaméria, visitaria o ducado que mais progredia e auxiliava na reconstrução do reino. A duquesa Fira Líberiz ajudava a corte a construir as bases do novo ducado, que fora instituído no lugar do ducado de Cárcera.

O ducado de “Dotcha”, receberia os cidadãos remanescentes do antigo reino que fora assolado pela coroa em outros tempos. Nada melhor do que alguém que recebeu informações privilegiadas de como o antigo reino funcionava, para auxiliar nas bases do novo ducado.

Heloise Kendara e Divinay receberiam a comenda de duquesas das mãos de Fira Líberiz. Fira não as indicara, contudo agradeceu a rainha Dólias, pessoalmente, pela indicação. Confiava em Heloise e mais ainda na consorte dela, Divinay. Com a nova comanda dada àquelas mulheres, Heloise e Divinay passariam a ser as duquesas de Dotcha. Heloise e Divinay de Dotcha governariam um ducado, juntas, em que a estrutura se pautaria em duas Assembleias distintas escolhidas pelo povo.

Os condados instituídos, seriam indicados pela população. Após a composição dos condados, a sucessão voltaria a ser hereditária. Seriam mudanças demais no reino de Alcaméria para uma só geração, senão ocorresse desta forma. No entanto, a constituição da Assembleia teria a vigilância do povo.

Fira estava exultante, afinal, não fora ela que iniciara uma nova dinastia real, consolidando um casamento com uma mulher. Pelo menos, esta carga não pousou sobre os ombros dela, que há tempos, vinha se equilibrando numa corda bamba para que a relação dela e de Cécis se tornasse algo natural para o povo de Líberiz e para a sua Assembleia. 

A recepção começou conforme os protocolos. Lady Líberiz estava sozinha no tablado com os serviçais espalhados pelo salão e nenhum convidado poderia entrar até que a rainha chegasse. A rainha Dólias chegou e foi anunciada pelo senescal. Assim que entrou, exigiu que fechassem a porta do salão, não deixando mais ninguém ser apresentado. Caminhou até Fira, que ficou apreensiva com a atitude da soberana.

— Minha soberana…

Fira fez uma reverência formal. Estava preocupada.

“O que aconteceu de errado? Será que Dólias mudou de ideia quanto a sucessão de Heloise e Divinay?”

Dólias trazia um leque na mão e abanava-se, impaciente e frenética!

— Não acredito que esteja fazendo isso comigo, Fira!

Reclamou, recebendo um olhar de incompreensão por parte da duquesa.

— Eu não quero ficar em cima desse tablado, a noite inteira, recebendo nobres e mais nobres. Alguns que nem conheço. Já passei por isso a vida toda! Anuncia minha irmã e meu noivo, o pai e a mãe dele e Heloise e Divinay. Depois, deixa o povo todo entrar e a gente começa essa merda de dar a comenda para elas logo!

Fira tentou não rir, contudo não conseguiu. Recebeu um largo sorriso da rainha que se postou a seu lado.

— Você me assustou como o inferno, Dólias.

— Era essa a intensão, queridinha! – A rainha gargalhou, afetada. – Vamos acabar com essa merda logo, que “tô” com uma fome de cão. Minha irmã deve ser apaixonada por você, mesmo. Pegar esse tempão de estrada, toda semana, para te ver, é o fim! Minha bunda está quadrada de tanto que sacudi naquela carruagem! – Dólias deu um cutucão com o cotovelo em Fira. – Você deve ser gostosa. Depois me fala uns truques para fazer com Ranaz. – Gargalhou novamente. – Manda logo esse povo entrar.

E assim a festa começou. Heloise e Divinay receberam a comenda e as pessoas se espalharam pelo salão, comendo e bebendo em comemoração. Em dado momento, um grupo se formou. Nele estavam a família real, o duque Kendara e esposa, Heloise, Divinay, Fira, Bert, Maia, além de alguns condes de Líberiz e famílias. A conversa era trivial e leve. O conde Avar se sentiu à vontade, pois todos o respondiam com cordialidade, sem desprezo. Bebeu e estava solto.

— Me diga, Fira. Agora é sua prática trazer serviçais para que se sintam como nobres?

Gargalhou da piada, desmerecendo a presença de Bert e esposa, que baixaram a cabeça. Elas não queriam participar da recepção. Sabiam que causariam impacto, contudo Fira e Divinay insistiram.

Divinay ainda se acostumava com a condição de amar uma mulher da classe social que sempre enfrentou. Ter que engolir Avar na mesma roda de conversa, era torturante. Fazia pelas pessoas que aprendeu a respeitar e amar. Tentava compreender os meandros políticos que estas pessoas precisavam lidar. Ficou vermelha de ódio, engolindo-o. Fira abriu a boca, entretanto foi Heloise que se prontificou para responder.

— Creio que muitos serviçais tenham mais modos que alguns nobres, Conde Avar, mas vou deixar para que a minha futura cônjuge lhe responda.

Olhou para Divinay, dando a ela a total liberdade para se colocar.

— Entendo que tenha medo de mudanças, milorde. Deve ser duro ter poder e, de uma hora para outra, ver que nem tudo é como se quer. Talvez o “Rélia” não tenha sido contundente nos planos que articulou para abrir seus olhos, ou o senhor não foi tão inteligente para compreender. Já se perguntou por que o seu condado e o de Remis sempre foram atacados por um grupo rebelde e outros como Verome nunca foram? Pois é. Eu sou uma mulher, insignificante aos seus olhos, mas sempre me perguntei sobre isso.

Terminou a preleção, recebendo um tapa da rainha nas costas, que estava alterada pelo álcool.

— Garota, disse tudo! Adorei você! – Virou-se para Heloise. – Me empresta ela para fazer alguns discursos lá no Conselho de Alcaméria. Tem dias que me dá uma vontade mandar os guardas entrarem e matarem todos a flechadas! Meu lindo aqui é que nunca deixou.

Terminou de falar, apertando o queixo de Ranaz, que conteve o riso.

Os filhos e esposa de Avar, seguraram o nobre, para que não falasse mais nada. Fira colocou a mão sobre o ombro de Bert, cordialmente, encarando o conde e antecipando seus planos.

— Sabe, Avar, existem umas terras que a coroa de Alcaméria dividirá em condados que farão parte da coroa, sem ducados intermediando. Sinta-se privilegiado, pois está recebendo a notícia de primeira mão. Eu, pessoalmente, indicarei alguns vassalos que sei que tem competência administrativa para fazer com que essas terras se tornem produtivas. A Maia é uma delas. Assim que, não se sinta minimizado com a presença delas, afinal, serão tão nobres como o dileto conde, contudo com uma posição mais prestigiosa. Estarão ligadas diretamente a coroa.

Bert e Maia a olharam, descrentes e assustadas.

— Isso aí, duquesa! – Falou alto a rainha. – Tem gente que não consegue ver quando está por baixo!

Cécis sentiu que a irmã estava extrapolando. Nunca vira sua irmã tão alterada, embora estivesse convivendo, verdadeiramente, há poucos meses com ela. Se dispôs a tirá-la da roda, assim como os filhos de Avar, o puxaram para fora, com a desculpa que precisariam conversar com outros nobres.    

— Vocês podem nos dar licença? Tenho um assunto a tratar com minha irmã, que não pude comentar em Alcaméria.

Todos assentiram e Cécis a levou, dirigindo-se para os jardins internos do castelo. Recebeu um olhar interrogativo de Fira, no entanto, a princesa apenas acenou. Falaria com a irmã em particular.



Notas:

Olá a tod@s!

Ainda não acabou e terá mais um pouco. rs No penúltimo capítulo aviso para não ter surpresas. 

O reino se reerguendo. Ainda tem algumas peças soltas que Fira terá que acertar.

Espero que gostem, pois essa é uma história de contos de fada. 😉 

Um beijão e boa semana!




O que achou deste história?

3 Respostas para Capítulo 29 – Novos Ducados, Novos Condados

  1. Amando essas resoluções do reino, e Dólias roubando a cena no final da trama😂😂.

    Esperando o casamento do nosso casal mais amado.

    😘
    Boa semana Carol

    • Oi, Blackrose!
      Pode deixar que essa semana eu fiz um para comemorar o mês arco-íris e a semana dos namorados. Espero que goste. rs Já tá postado. 😉
      Um beijão para você e obrigadão!

Deixe uma resposta

© 2015- 2023 Copyright Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução total ou parcial do trabalho sem a expressa autorização do autor.