Líberiz

Capítulo 32 – A Tranquilidade é Superestimada

Cécis retornou ao quarto designado a ela pela passagem e pouco mais tarde, Fira entrava pelo salão e tomava o assento à cabeceira. Alguns condes e famílias já se encontravam no local e, a duquesa deixou o assento à sua direita livre para a chegada da princesa. Cécis não tardou e como sempre, vestida em calças e casaca. Alguns nobres ainda estranhavam, mas para Fira ela estava perfeita.

Começaram o desjejum entre conversas sobre a festa e o novo ducado. Discutiam como economicamente poderia refletir na prosperidade do reino e no comércio entre eles.

— Cárcera tinha uma produção de metal invejável. Os melhores ferreiros se concentram lá.  Certamente os nossos fazendeiros terão benefícios, ao negociarem arados e outros instrumentos para as plantações. –  Afirmou Verome.

— Agora poderemos negociar com Dotcha e teremos total apoio das duquesas.

Fira pontuou. Ela queria acabar de uma vez por todas com aquele nome maldito. Queria, um dia, que o nome de Cárcera não fosse mais que uma lembrança ruim.

— Certamente, milady.

Ouviram a voz de Mira, ex-mulher de Dinamark. Havia acabado de entrar na sala com seu filho. Fira a olhou, levantando-se, fazendo com que todos à mesa se levantassem também.

— Venha, Mira, junte-se a nós. – Falou a duquesa com um sorriso nos lábios. – Sentimos sua falta ontem.

Mira aproximou da mesa e o conde Verome se adiantou para puxar uma cadeira para ela. A condessa era uma mulher jovem, ainda. Dinamark casara com ela, pouco antes do pai dele morrer. Ele beirando os trinta e dois, considerado velho para o casamento, e ela, tinha apenas dezoito anos na época. Hoje, aos vinte e nove anos, parecia uma menina, dado o tanto que Dinamark a escondia dos assuntos políticos. Muitas vezes, ele inventava desculpas para não a levar às recepções e, em outras tantas, Fira chegou a mostrar seu descontentamento com a situação.

— Ora, duquesa, nunca fui de frequentar as festas e dado o que nos ocorreu, ficaria um pouco deslocada. O desjejum é algo intimista e acredito que seja um bom começo para mim.

— Pois fique à vontade, condessa. Saiba que é muito bem-vinda à minha mesa.

Todos sentaram e Mira foi cumprimentada pelos nobres presentes. Talvez Remis fosse o único deslocado. Estava sem seu companheiro de ideias ao lado. Avar não havia aparecido.

Algumas conversas triviais daqui e dali, deixou o ambiente descontraído. Mira interagia, timidamente, e à medida que os diálogos ocorriam, ela se soltava mais, a ponto de alguns sorrisos inibidos bordarem seu rosto, mostrando um semblante espontâneo e gentil.

— Diga-me Lady Mira, vai indicar alguém para representar o condado na Assembleia?

O conde Deshi perguntou sem qualquer intensão de pressionar a condessa, apenas levantou uma questão para travar uma conversa com a nobre. Esta parou, momentaneamente, baixando os talheres no prato. Fitou-o e, depois, correu os olhos pela mesa, a fim de perceber o que as pessoas estariam especulando, ou esperando de resposta. Virou-se para a duquesa e Fira se aprumou. Lady Líberiz conhecia aquele tipo de olhar. Era quase um pedido de socorro.

— Acredito que Lady Mira ainda esteja arrumando as coisas no condado, milorde. – Voltou seu olhar para Mira. – Não precisa se preocupar com isso agora, condessa. Tome seu tempo e se acaso quiser conversar sobre algo, ou ter uma opinião de fora do condado, terei imenso prazer em lhe atender, milady.

— Obrigada, Lady Líberiz. A verdade é que já venho pensando sobre isso e gostaria de conversar com a duquesa, mas não queria trazer assuntos de trabalho num dia de descanso e lazer.

— Não há problema nenhum de minha parte. Depois do desjejum, poderemos conversar. Isso se nossos nobres condes não ficarem se roendo de curiosidade e não se matarem sobre a mesa.

Falou, rindo e de forma jocosa, para descontrair o ambiente, levando os nobres a fazerem pilhérias. O assunto encerrou, voltando para as conversas triviais. Uma hora mais tarde, Fira conseguiu se desvencilhar da sua corte. Cécis andaria pela cidadela, lhe esperando. A duquesa procurou a noiva, assim que se despediu da condessa Mira. Queria almoçar na taberna do recente amigo Bernard. 

— Bert, sabe se Cécis retornou da cidadela?

— Retornou, sim. Quer que eu a chame?

— Gostaria que falasse para ela se arrumar com roupas de montaria, que nós sairemos para almoçar. Vamos até a taberna das montanhas. Depois, vá à estrebaria e peça para aprontarem os cavalos para nós. Pátiz irá junto, mas só nos três e a coronel, entendido?

— Vou agora mesmo, milady!

Bert saiu entusiasmada, fazendo Fira rir da situação. A escudeira percebera que não seria um almoço qualquer.

— Ah, Bert! Será que deixei você de fora, tanto assim, nos últimos tempos? Parece até que gosta das confusões que eu te metia antigamente!

****

Quando as duas nobres entraram na taberna, acompanhadas apenas da escudeira e futura condessa, e da guarda pessoal da princesa, Bernard se empertigou atrás do balcão. Como havia falado para a duquesa, desfez o grupo rebelde, no entanto, passou a conhecer os hábitos de Lady Fira. Alguma coisa saíra do lugar. Largou o balcão à cargo da atendente e se dirigiu até o grupo que acabara de se sentar.

— Como vai, Bernard?

— Eu vou muito bem e milady? Como está? – Mirou-a. – Soube do noivado. -olhou para a princesa – Parabéns às duas. Desejo muita felicidade!

— Nosso noivado foi ontem à noite e era inesperado!

Falou Cécis, admirada que em menos de meio dia, a notícia tivesse chegado àquela taberna.

— Eu sinto muito, mas as pessoas não seguram muito a língua dentro da boca. – Sorriu. – O que vão querer para beber e comer?

Fizeram o pedido e ao final, Fira perguntou para o estalajadeiro se ele teria um local mais reservado para que elas comessem e conversassem. Ele sinalizou afirmativamente e pediu para elas o seguirem.

Era uma área nos fundos. Quando entraram, viram o pequeno, mas confortável espaço, decorado com uma mesa de seis lugares e um sofá em couro velho.

Cécis havia notado que Fira estava tensa. Ela não fora até ali apenas para saborear a comida e a bebida daquela taberna. Via Fira se debatendo internamente, mas não queria explanar diante de Pátiz e de Bert e, agora, aquela situação inusitada.

— Belo espaço, Bernard! – Fira elogiou o homem, sorrindo cínica.

— Desfaça o sorriso, milady. Nunca encontrei com meus companheiros aqui. – Devolveu o sorriso no mesmo tom.

— Eu sei que não. Janot perdeu muito tempo vigiando este lugar.

Gargalhou, fazendo o homem rir junto.

— Só fico intrigado como achou a minha cabana naquela época.

— Isso é um segredo, Bernard. – Sorriu, desalentada.

— Também fará segredo com o que pretende confabular hoje, Lady Líberiz? Não acredito. Imagino que algo grave está para ocorrer, senão, não pediria para eu abrir esta sala para você.

— Só quero um pouco de privacidade e uma boa comida para pensar. Não se preocupe. Tenha certeza de que se acaso precisar, não hesitarei em conversar com você. – Respondeu desanimada.

— Fique à vontade. Trarei pessoalmente a comida e o vinho para vocês, para ouvidos diferentes não circularem por aqui. – Bernard respondeu, respeitando os limites de sua soberana.

— Obrigada, meu amigo.

As mulheres se acomodaram em silêncio, depois da saída de Bernard. Questionavam-se daquela interação do estalajadeiro e Fira.

— Ué? Não sabiam que Bernard era o chefe do Rélia? – Fira sorriu sem ânimo. – Eu descobri algum tempo atrás e conseguimos entrar num acordo.

As três mulheres permaneceram mudas, durante um tempo, digerindo mais aquela revelação a respeito das tramas de Lady Líberiz.

— Pelos Deuses, Fira! Fale logo, ou eu vou morrer engasgada com o vinho, que nem chegou ainda!

— E eu que pensei que a tensão era só minha. – Reclamou, Cécis.

Fira olhou a escudeira, que pela primeira vez, lhe falava com intimidade e ousadia. Gargalhou e logo sufocou o riso.

— Já está com essa intimidade toda, condessa? – Falou jocosa, para logo depois, fechar o cenho. – Vocês têm razão. Estou há horas me debatendo, para não fazer uma besteira.

— Fale logo o que é, Fira, e nós ajudamos a decidir se é besteira ou não. – Decretou Cécis. – É sobre a conversa com a condessa Mira?

— Em parte sim, pois ela me deu a certeza de algumas suspeitas. Resumindo, vou enforcar Avar e toda a família.

— O quê?!

As três mulheres, exclamaram, forçando o tom baixo da voz. Fira achava que a desconfiança que tinha sobre Avar, poderia ser pelo tanto de antipatia que nutria por ele. Tempos atrás, havia falado com Cécis que não gostava do sabor da morte e era verdade, entretanto, gostava menos ainda da traição. Não admitia ter a sua vida ameaçada e, muito menos, a vida das pessoas que amava.

— Não me olhem assim. – Suspirou. – Não estou tramando a morte dele e da família por capricho. Eu via a interação dele com Dinamark e notava que tinha algo estranho nas atitudes dele, pouco antes do sequestro. Mira veio conversar comigo hoje. Está um pouco perdida, pois Dinamark sempre a deixou à parte. Ela me confessou que Dinamark a maltratava há tempos. Não a espancava, mas era extremamente grosseiro e ela se retraía, saindo das vistas dele para que não chegasse a termo.

— Fira, o que isso tem com Avar? – Cécis perguntou impaciente. – Fico consternada por Mira, mas não entendo a relação.

— Mira encontrou mensagens trocadas entre Dinamark e Avar. Ele sabia de tudo e ajudou Dinamark e Cárcera no golpe.

Respondeu com ironia e esgotamento.

— E a família dele? Por que disse que enforcaria a todos?

Bert inquiriu, mais pela curiosidade do que por achar que Lady Líberiz responsabilizaria a família inteira pelos atos do conde.

— Pelas mensagens, foi a mulher e os filhos de Avar que ficaram em Clátea, vigiando e cuidando do cativeiro em que Mira e o filho dela estavam. Roth, o filho de Avar, mataria os dois, se Dinamark conseguisse que Cárcera armasse para mim e eu fosse enforcada. Pelo que entendi das mensagens, Avar se recusou a matá-los antes que eu e Cécis estivéssemos fora de circulação, mas o faria assim que tivesse confirmado a nossa morte.

— Era uma garantia para ele. – Pontuou, Pátiz.

— Sim. Janot conseguiu em tempo encontrar Mira e o filho, libertando-os. O fato é que ele não encontrou nada no cativeiro que comprometesse outra pessoa, a não ser o próprio Dinamark, que era do dono da propriedade e visitava a mulher, intimidando-a. Pelo que parece, quando fui resgatada do castelo de Cárcera, a família de Avar deixou a propriedade.

— E Lady Mira só encontrou essas mensagens agora?

Pátiz questionou, pois havia passado um bom tempo, desde que tudo ocorreu.

— Não que ache que as mensagens não sejam verdadeiras, mas por que só agora?

— Ela disse que não havia mexidos nas coisas de Dinamark e nem tinha entrado na biblioteca da casa. Como falei, anteriormente, ela me contou que estava um pouco perdida. Disse que ontem veio à recepção, porém não passou da porta. Assim que chegou, viu Avar conversando com uma garota, que ela não conhecia. Escutou quando ele a chamou de filha e quando a menina respondeu a uma pergunta dele, ela reconheceu a voz da pessoa que eventualmente levava a comida para ela no cativeiro. Ela recuou alarmada e retornou, dali mesmo, para sua casa.

— Se assustou… – Pátiz concluiu.

— Sim. Disse que não esqueceria aquela voz, nunca mais na vida. Ontem, quando chegou em casa, além do medo, tomou-se de um sentimento de revolta e finalmente entrou na biblioteca, revirando tudo. Ela me trouxe algumas coisas, mas falou que existe muito mais. Está apavorada, com medo de Avar lhe fazer algo.

— Mas ele não sabe que ela tem posse disto. – Pontuou, Bert.

— E precisa saber? Se fosse comigo, já teria agido, só por precaução. Imagina existir alguém que pudesse me revelar? Ele trocou mensagens com Dinamark e não sabe o que aconteceu com elas.

— Tem razão, Pátiz. A vida de Mira e do menino estão em risco. Por isso, assim que Mira foi embora hoje de manhã, mandei que Janot escolhesse os nossos melhores homens para vigiar a casa dela. Não vou dar essa oportunidade para Avar. Foi isso que me fez trazer vocês aqui. Tenho que pegar Avar desprevenido e, ao mesmo tempo, proteger Mira e o filho.

— Posso ir até a casa dela e pegar as mensagens, Fira.

— Esse que é o problema, Bert. Ele, assim como Dinamark, tem espiões espalhados. Se eu mandar você na casa dela, depois que ela me encontrou no castelo de Líberiz hoje, Avar pode desconfiar. Tudo deverá estar em mãos para conseguir prendê-lo e condenar, tanto a ele, quanto a sua família. Ao mesmo tempo, não posso deixar Mira exposta.

— Isto se aplica a Pátiz e a mim. – Cécis concluiu, consternada. – Não podemos ir até lá, também. Estamos muito ligadas a você, Fira.

— Sim. – Fira afirmou.

— Posso levar uma mensagem até Divinay. Ela poderá arregimentar, com os amigos, para tirar a condessa e o filho de lá. Ela é vista como uma camponesa que caiu nas graças de milady Heloise. Você, Fira, pode falar com seu amigo Bernard, para pegarem as mensagens. Formam-se dois grupos diferentes, dificultando qualquer assalto vindo da parte do “dileto conde”. – Bert finalizou, com sarcasmo no tom de voz.

— O que… Como sabe…

Fira foi pega desprevenida. Sabia que Bert era esperta e via tudo à volta dela, mas saber de Divinay, era algo que a surpreendeu.

— Ora, Fira. Na nossa conversa, naquele dia que meu filho se acidentou, pude ligar alguns pontos. Seus e de Divinay. Principalmente depois que ela e Heloise ficaram juntas. Aliás, não sei ainda o que Delante tem a ver com tudo que ocorreu, mas sinto que poderíamos utilizá-la, também.

Fira soltou uma enorme gargalhada. Ficou pasma com a postura de sua escudeira/amiga e mais ainda, com a percepção que tinha a respeito de tudo. Sentia-se ridiculamente exposta. Não teve medo, ou inseguranças, mas pensou que, afinal, não era tão imprevisível como pensava.

— Me lembre de tomar cuidado quando negociar com você, depois que assumir o condado. Poucas vezes em minha vida, me senti tão imbecil como agora.

— Não vai me dizer que não pensou na ideia que eu explanei? Não acredito, mesmo, nisso.

— Na ideia dos dois grupos agirem juntos? Nessa eu pensei. Mas, em minuto nenhum da minha vida imaginei que você sabia de Divinay e no tipo de interação que eu tive com ela.

Bernard chegou com os copos e o vinho. Distribuiu a bebida calado, e as mulheres pararam de falar no mesmo momento. Todas na mesa o encararam.

— Está bem! Vou pegar um copo na taberna e volto. Discutir estas coisas sem um gole de vinho é o fim! – Reclamou, vendo que elas perceberam que escutara a conversa. – Eu aceito, – declarou – mas dou um aviso, não quero chamar muita gente para isso.

Fira pegou o copo e bebeu um pouco da bebida, sorrindo. Viu o chefe rebelde sair. Tomou outro gole, pensando que não estava mais sozinha no mundo. Seus pensamentos foram interrompidos por Cécis.

— Se condenar a família de Avar, quem colocará à frente do condado?

— Eu não sei…

Fira bebeu mais um pouco do vinho. Suspirou, deixando que a mente vasculhasse alguma resposta para Cécis.

— Sabe que é uma grande mudança, não sabe? O que quero dizer é que; o rei caiu e apesar de termos colocado Dólias, que era da família, a lei de sucessão foi alterada. Com isso veio a brecha, pois Cárcera não tinha herdeiros e foi condenado por traição. Entrou uma mulher e a esposa dela no lugar do duque. Vamos nos casar e isso, ainda é estranho às pessoas e…

— …E Mira vai assumir o comando do condado de Dinamark. – Declarou, Fira.

— Oi?! – As três mulheres exclamaram.

Fira balançou a cabeça e tomou mais um grande gole de vinho. As consequências do que fizeram, caiam em cascata e a tensão crescia a cada momento e a cada mudança.

— Ela me falou que, quando tudo terminasse, não queria deixar o condado à mercê de conselheiros. Pediu para que a ajudasse a se orientar e que ela assumiria o condado e o assento na Assembleia. Não queria mais se esconder e se retrair. O que acha que eu falaria para ela? Vocês diriam para que não a ajudasse?

Pátiz estava calada e verteu todo o conteúdo da caneca de vinho. Pousou o copo na mesa, rudemente, e encarou todas as mulheres, que olharam a coronel com surpresa.

— Eu tenho mais quinze anos para me aposentar. Não adianta imaginar o que os outros pensam ou, no que se pode provocar com isso. Meu pai encarou guerras no comando de Alcaméria e por motivos torpes, dos quais eu não gostava. Eu gosto do que vejo acontecendo no reino hoje, mas, Fira Líberiz é vista como uma subversiva. Alguns chamam de revolucionária e temem represálias da guarda. Pelo menos, foi o que escutei nas fofocas do mercado. Não me perguntem por que, pois nunca vi ninguém sendo oprimido, aqui em Líberiz.

— Hábitos e temores de outras épocas, Pátiz. – Cécis afirmou, segura.

— Que seja. Não me importa. O fato é que Fira está sempre na frente de tudo, colocando o rosto para bater. Isto é a única coisa que todo mundo vê. Não importa quem concorde ou discorde. Não tenho nada com isso, pois estou aqui para apoiar, no que for preciso, e no que acredito ser o certo. Mas, pelo pouco que entendo de política, gostaria de perguntar; – virou-se para Fira – Onde estão seu aliados? Estão descansando suas bundas, placidamente, em seus tronos?

— São uns merdas!

Declarou Bernard, chegando com a comida e autorizando uma moça a entrar para colocar o restante sobre a mesa. A moça saiu e ele se sentou junto a elas.

— A coronel Pátiz está certa, Fira. Se pegar Avar e enforcá-lo sob a bandeira de Líberiz, todos, inclusive o povo, ficarão com medo de você. Todo mundo arrota e quer liberdade, e olha que lutei muito por isto, mas na hora, ninguém quer a responsabilidade ou as mudanças acontecendo. É mais fácil colocar o peso nas costas de outra pessoa. Eu aceito o encargo e tenho gente para atuar, mas, ache alguém que leve os créditos por condenar Avar.

— E se eu não conseguir que alguém compre a briga? Vou deixar como está? Avar é meu conde e não diz respeito às questões relacionadas à política de Alcaméria.

— Fira, vou te chamar assim, pois já ultrapassamos esta etapa; o que estou falando, não é como amigo. É como um homem de fora, que vive com o povo. Isto refletirá na sua imagem. Encarará dificuldades.

Bernard suspirou. Não achava que estaria de volta, tão cedo, junto com seus amigos rebeldes.

— Você pode declarar a condessa Dinamark como liderança no condado, com tanto que você não seja a mão que condenará Avar. Seria um fardo muito grande para o povo aceitar. Verão você como uma mulher autoritária e especularão se você não estaria fazendo isto para tirar do caminho um opositor de seu governo.

— Deuses! Nunca pensei que…

— … Que tudo que fez para se proteger e proteger seu povo resultasse nisso? – Bernard riu. – Seu pai foi um bom homem, mas ele sabia as limitações que tinha e sabia que não era a hora de atuar. Ele tinha certeza de que quando morresse, tudo ruiria. Virtus Líberiz fez o que pode e me alegro que o legado dele seja você, mas não se ache intocável, Fira. Pátiz tem razão. Está na hora de colocar seus aliados com a cara na frente.

Fira o encarou. Entendia o que Bernard falava, mas, e se não conseguisse apoio? Estava num impasse entre atuar e ter no seu governo uma massa de insegurança. Até mesmo por quem sempre defendeu: seu povo. Cécis estendeu a mão e pegou a dela, acariciando, confortadora.

— Deixa que eu atue desta vez. – A princesa a olhou com carinho. – Sigo hoje mesmo para Moritz. Um ducado diferente, para variar, e tenho certeza de que consigo que eles façam a ação. Seguimos o plano e eles prendem Avar, sob a pecha de que já sabiam do ocorrido, quando auxiliaram no seu resgate, junto a Cárcera, investigaram e arregimentaram tudo.

— E se não conseguir. Eu não quero que você se arrisq…

— … Vou conseguir. Não confia em mim, minha noiva. – Falou com um ar de falsa decepção. – Ou então confie em Lady Rogan. – Sorriu.

Todos olharam para Cécis, sem entender, mas Fira fechou os olhos e sua expressão era de contentamento. Voltou com olhar, fitando a princesa amorosamente.

— Tudo bem. Mas amanhã estará na minha biblioteca, relatando todo o desfecho. Sem isso, não autorizo.

Gargalhou, vendo Cécis, jogar um pano em seu rosto, indignada com a pilhéria.



Notas:

Oi pessoal!

Então, esse é nosso penúltimo capítulo. A demora foi porque eu tinha que rever a escrita para ficar do jeito que queria, mas aí está. 

Queria falar para vocês também que desafiei a Tattah a escrever um conto da Evernood e da Blindwar. Ela está fazendo um ótimo trabalho! Convido a quem acompanha as história das duas detetives a ler esse “caso” onde as duas estão envolvidas pela escrita da Tattah, a nossa Maga das letras. rs E para quem nunca leu, convido a ler desde o início. São contos curtos de um mesmo casal. 

Um beijão a tod@s!




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2 Respostas para Capítulo 32 – A Tranquilidade é Superestimada

  1. Carol!!!
    Que capítulo maravilhoso!!! Amei o desfecho. Amei a estória. Sei quanto é difícil terminar e despegar, mas tudo tem seu fim e momento certo. Eu tô achando ótimo como vc tem escrito. Falta o final… vamos lá!
    saudades de vc TB e de comentar!!!
    Ahhhh, tava com saudade da detetive Evernood e Blindwar!!
    Logo lerei!!!!!
    Beijos

  2. Ai ai ai Carol!
    Nossa meninas vão deixar saudades.

    Mas depois de tudo ainda tem uns ratos escondidos por aí, se mexer mais encontrar mais kkkk

    Já tá sendo um quase adeus, espero lê mais algumas histórias suas, Carol, sem dúvidas são fantásticas

    Bjs 😘

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