Líberiz

Capítulo 4 – Noite reveladora

Enrolou-se, rápido, na toalha que trazia consigo para secar os cabelos. Rogan, pela primeira vez, demonstrou embaraço ao encontrar a duquesa completamente nua. Não tinha intenção de pegá-la nesta situação. Levantou-se de súbito e virou de costas.

— Perdoe, milady! – Falou apressada. – Eu só queria… só gostaria…

A Duquesa, depois de refeita do susto, achou graça diante da reação de Lady Rogan. Observava a mulher de costas com o rosto voltado para a lareira. Ela sempre tivera uma resposta para tudo na ponta da língua e ouvi-la gaguejar, fez Fira rir gostosamente.

— Ora, ora. Finalmente Lady Rogan ficou sem palavras. Isso é inusitado e confesso que gostei muito. – Continuou rindo. – Vamos lá, Rogan, não tenho nada além do que já viu em outras mulheres e tenho certeza de que já viu muitas vezes.

Mas nenhuma me atraiu tanto quanto você, Fira.” Rogan pensava, enquanto se voltava para dar uma resposta para a outra.

— Certamente, Milady, no entanto, fui descuidada e invadi a intimidade de seu quarto. Até para implicâncias e provocações há um limite. Eu devo, e quero me desculpar pela falta de senso. – Falou séria.

Rogan começou a abandonar a ideia de seduzir a morena. O breve momento em que viu Lady Líberiz nua, constatou que sua implicância com a Duquesa não era só pela vontade de irritá-la ou de se vingar das pequenas provocações que aconteciam, constantemente, entre as duas. Ela estava atraída pela outra, há algum tempo. Uma atração diferente, da qual não conseguia comparar com nenhuma vivida, exceto na adolescência, quando começou a entender que seu foco eram as mulheres.

O riso de Fira foi reduzindo até chegar a um sorriso leve, quase imperceptível. Tentava compreender o que ocorreu para que Lady Rogan tivesse aquela reação. Não era típico dela se retrair. “Ah, Rogan! Logo agora que estava tão interessante!” Se aproximou e viu a outra dar um passo para trás. Estreitou os olhos, mirando-a diretamente para “pescar” algo através do olhar.

— O que está acontecendo, Rogan? – Deixou a cabeça pender de lado. – Agora você me deixou intrigada.

Incomodada, Rogan tentou se afastar para o lado. Queria sair dali. Tinha que sair do quarto, antes que os questionamentos ficassem insistentes e perigosos. Fira se colocou de frente para ela. Ao lado havia uma poltrona que dificultava a passagem de Rogan. Tentou se espremer entre a poltrona e a Duquesa, não conseguindo evitar o contato de seus corpos. Lady Líberiz não facilitava, observando-a. Permaneceu firme em sua posição. Quando Rogan conseguiu passar, Fira segurou seu braço, impedindo-a de caminhar em direção à porta.

— Eu esperava mais de você. O que há? – Sorriu debochada. – Não consegue lidar com uma mulher que não tem certeza se conseguirá satisfazer?

Aquela afirmativa fez Rogan se assustar e tentou perceber a expressão de Fira. Queria entender se ela estava apenas provocando, para deixá-la mais envergonhada, ou se existia uma vontade real da Duquesa em encarar uma noite de prazeres com ela. O coração de Rogan acelerou. Não sabia o que pensar e, mais uma vez, se espantou, quando Lady Líberiz, ainda segurando o braço, aproximou o corpo do dela.

— Você parece não acreditar. Talvez eu deva fazer algo para incentivá-la.

A Duquesa deixou a toalha cair no chão e colou o corpo no da sócia. Passou a mão pelos curtos cabelos e nuca, segurando-a, trazendo a cabeça da sócia para depositar um pequeno beijo nos lábios dela. Rogan arfava e sentia o sangue correr nas veias, diante da investida de Fira. Estava incrédula e confusa.

Estou perdida!”. Era a frase que vinha à cabeça de Rogan ao ser beijada tão suavemente. O coração pulsava forte, fazendo-a acreditar que não resistiria diante de outra investida da Duquesa. A respiração descompassada batia no rosto de Fira que, ao ver a reação de sua cativa, abriu um enorme sorriso. Aproximou o rosto novamente, beijando com mais intensidade. Entreabriu os lábios e forçou a língua. Rogan não pensou mais. Segurou Lady Líberiz, forçando o corpo contra o dela, conduzindo um beijo voraz.

As mãos de Rogan agarraram o corpo nu, empurrando Fira até a cama, fazendo-a cair de costas sem interromper o beijo. Depois de acomodada sobre a Duquesa, enquanto a beijava, deslizou uma das mãos até um dos seios salientes. Escutou um gemido abafado sair dos lábios carnudos que a fez contrair o corpo em frenesi, sentindo a umidade irromper em seu sexo. “Pelos deuses! Ainda estou vestida e numa excitação sem fim.”  Constatou desesperada, louca para ter a pele da Duquesa colada à dela.

Fira facilitou a ânsia de Rogan, desfazendo os laços da camisa de algodão cru que emanava um perfume de roupa seca ao sol. Abriu a camisa completamente e abraçou-a, fazendo os seios se roçarem. Viu a pele de sua sócia arrepiar por inteiro. Deslizou os lábios sobre a face da mulher de cabelos negros, chegando ao ouvido e sussurrou.

— Me mostra sua experiência, Rogan. Me faça deseja-la com todas as minhas forças.

Instigou com uma voz rouca e sensual. Mordeu de leve o lóbulo, sorrindo, vendo a outra tremer ao escutar as palavras ditas com languidez.

Rogan desprendeu-se dos braços de Fira, ficando de joelhos na cama. Desfez-se da sua calça, que a impedia de sentir completamente a intimidade da Duquesa. Ficou completamente nua, deitando-se novamente sobre o corpo da mulher morena. A excitação a assaltou violentamente. Observou que no rosto da companheira de cama não existia mais qualquer traço de sarcasmo ou deboche. Apenas um semblante repleto de promessas e lascívia.

Acomodou-se para beijar os lábios rubros de sabor refrescante, conduzindo a mão até a intimidade que tanto almejava. Já sonhara em tocar o corpo daquela mulher inúmeras vezes. Quando esteve em noites anteriores numa taberna, saiu frustrada, não conseguindo parar de pensar em Fira. Compreendeu que os planos das duas não era o que mais a atraía naquela história toda.

— Ah!

O som de gemidos ganhou o ar, quando Rogan tocou o sexo úmido de Fira. Os dedos se entremearam nas dobras e deslizaram fáceis. O líquido viscoso brotava abundante, fazendo o desejo de Rogan aumentar. Introduziu um dedo e sentiu as paredes dilatarem. Retirou e logo introduziu mais um.

— Isss! Isso, Rogan. Entra gostoso.

Novamente, Rogan sentia verter o próprio líquido, escutando a voz permeada de excitação. Mexeu forte dentro da cavidade quente e sugou o bico túrgido do seio da Duquesa. Fira movia a pelve de encontro a mão habilidosa, extraindo cada vez mais prazer. O ápice se aproximava e Rogan se retirou de dentro da mulher morena, fazendo-a reclamar.

— Não!

Gritou Fira em desespero, apertando as unhas nas costas da companheira de cama. A outra riu, desprendendo-se do agarro.

— Calma, minha querida, temos muito tempo.

Rogan traçou um caminho de beijos miúdos pelo abdômen e ventre da Duquesa, dispersando a frustração que provocara anteriormente. Alcançou o sexo de Fira e deslizou a língua por toda a extensão, fazendo-a se contorcer em excitação. Lambeu as dobras. Introduziu a língua na pequena abertura, para depois resvalar até o clitóris hirto da morena. A duquesa gemeu alto, outra vez.

Os cabelos curtos de Rogan não incomodavam comumente, contudo a franja lhe caiu nos olhos, fazendo com que se afastasse momentaneamente, para retirá-la da face suada. Escutou um resmungo agoniado da amante. Cada som emitido pela morena, causava-lhe uma ebulição selvagem. Movida por uma vontade insana, introduziu um dedo, movendo-se dentro de Fira, enquanto burilava o bulbo de nervos vorazmente.

 Lady Líberiz retesou todo o corpo e Rogan a sentiu escorrer, enquanto as paredes contraiam e relaxavam em torno do dedo ousado. O orgasmo chegou de súbito.

O suor de seus corpos se misturou, na medida em que Rogan subia, deslizando seu corpo sobre o de Fira, para alcançar a boca que já lhe fizera sonhar. A Duquesa estava inerte, quando sentiu ser beijada e entreabriu os lábios para dar passagem a língua, que julgou ser a mais gostosa que havia saboreado seu corpo.

Serenaram, trocando carinhos sutis, despretensiosas, somente para apreciar o momento de languidez.

— Eu alcancei as suas expectativas, mas me diga, o que levou você a querer isto comigo?

Perguntou Rogan, com um largo sorriso no rosto e um tanto confusa, depois que se desprendeu do corpo de Fira.

— Quem disse que alcançou as minhas expectativas? Ah, sim. Você me fez gozar, mas…

— Mas?

Questionou Rogan, contrariada. Não era possível que estivesse enganada. Sentiu como o corpo da Duquesa reagiu a ela. Sentiu como o orgasmo havia sido construído e liberado de forma intensa. Como Fira não se satisfez? Se perguntava, enquanto uma expressão triste se formou em sua face.

 A Duquesa, mesmo na sua letargia, não cansava de se regozijar pelas provocações. Fira riu.

— Você é muito convencida.

Rogan riu também. Entendeu que havia sido instigada. Silenciaram por alguns momentos, apreciando as sensações do prazer satisfeito.

Lady Liberiz estava tensa, antes de começar o pequeno jogo de sedução. Desde que acordara, naquele dia, pensava em Rogan enfiada em sua cama. Aliás, já a queria há algum tempo, entretanto, ao perceber a insegurança dela, alegrou-se por ver que a vontade não partia apenas de si.

 — Ainda não fez tudo para tornar minha noite tão agradável quanto desejo. Deixe-me fazer entender.

Fira segurou a cintura de Rogan e a jogou de lado, para se posicionar por cima. Encaixou a pelve nos quadris da sócia e começou a se mover de forma sensual. Pegou as mãos de Rogan, levando a seus seios. Rogan soltou um gemido, vendo a Duquesa se esfregar, despudoradamente, em seu ventre. Desceu as mãos pela lateral daquele corpo que lhe tirava o senso, segurando logo em seguida os quadris, para poder se acomodar entre as coxas de Fira. Ela estava em seu limite.

Os sexos se encaixaram e a dança dos corpos aumentou. Arfantes e sentindo cada uma a umidade e a intimidade da outra em contato, tremiam tamanha a excitação que crescia desenfreada. Deram-se as mãos e puxavam o corpo da outra, para forçar mais o contato. A luxúria aumentava desmedida a cada movimento em que os sexos se acariciavam vibrantes. Não tardou para que gritos de uma deliciosa agonia tomasse conta do quarto. Sentiram o gozo se misturar e o cheiro acridoce do ápice, rescender no ar.

Rogan deixou o corpo relaxar sobre o colchão e tentava se lembrar quando em sua vida teve um orgasmo tão impetuoso. “Eu tô perdida com essa mulher.” O medo começava a tomar-lhe o íntimo. Tinha que se proteger, a qualquer custo, da proximidade de Lady Líberiz.

 A Duquesa se aconchegou ao corpo, jogou o braço sobre a cintura e beijou o rosto que se perdia em pensamentos. Empertigou-se, pelo jeito calado e distante em que a sócia se colocou. Começou a reparar nas reações de Rogan e sentiu-se insegura.

— Pelo que vejo, as mulheres com quem se deita são mais experientes do que eu.

Falou, sentindo uma pontada e expressando parte de suas preocupações. Fira começou a pensar que não agradara a enigmática mulher, diante da reação dela. 

Rogan a olhou séria.

— Na verdade, não acredito que experiência tenha a ver com o que se sente numa cama. Quer dizer, em parte não tem a ver.

— Você ficou muito séria de repente.

Outra vez, a Duquesa se posicionou. Estava angustiada, pois sentira afinidade e até cumplicidade na cama com aquela estranha figura. As rusgas, as provocações e a personalidade de Rogan, pouco a pouco a atraiam mais sexualmente. Percebeu que se sentia à vontade ao lado dela, e que a cada encontro era um gostoso desafio. Se Rogan não tivesse gostado do que tiveram, se frustraria.

— Apenas estou pensando, se acaso não cruzamos uma linha que deveria ser mantida entre nós. Não tem nada a ver com ter ou não gostado, se é o que quer saber. Foi tudo delicioso, não tenha dúvidas. Você é uma mulher excepcional. No entanto, o fato é que nós temos um plano a executar e não vai ser nada fácil, nem para mim e, muito menos para você, se estreitarmos laços.    

Fira inspirou fundo. Sabia que Rogan estava certa, mas não queria conjecturar sobre o caso, naquela noite. Queria descontrair, depois de meses de tensão.

Após a morte do pai, até mesmo quando descobriu sobre o que Cárcera pretendia fazer no reino, não tivera dias de sossego. Um silêncio incômodo se formou entre elas.

Rogan estava perdida nos diversos problemas que envolviam sua vida. A traição à coroa, mesmo que por uma causa justa, e o que descobriu sobre a atração por Fira, assustava-a. Sempre viveu na superficialidade, se alimentando de emoções fortes e fugazes, e isto bastava. Um grande problema começava a a açoitar a mente. Como faria, agora que rompera esta película do que era confortável para ela?

Lady Líberiz, por outro lado, como uma mulher mais pragmática, tentava imaginar uma forma de reconduzir o plano, para que ela pudesse desfrutar da presença de Rogan um pouco mais. Ela se incomodava com o fato de nunca ter conhecido alguém que tivesse despertado tanto desejo e agora, teria que abrir mão para salvar as terras e seu povo.

— Rogan…

— Sim.

A mulher de cabelos negros, virou a cabeça de lado no travesseiro, para encarar Fira e escutá-la. No rosto, uma ruga de preocupação marcava um vinco entre as sobrancelhas.     

 — Você atingiu minhas expectativas. – Sorriu e logo emendou a fala. – Isto porque você realmente fez tudo muito bem, mas não gostei de ter você ter me lembrado de meus problemas. Queria dormir relaxada e agora, vou dormir tensa de novo. Sinto que você terá que consertar isto…

Fira rolou para cima do corpo estirado a seu lado, assaltando a boca com fome. Rogan queria impedi-la. Tinha que se distanciar da Duquesa, porém dedos atrevidos apertaram um de seus mamilos, fazendo com que os pensamentos voassem, disparados, para fora do quarto.

****

— Deseja mais alguma coisa, milady?

— Não, Bert. Hoje não vou sair e Dinamark não virá jantar comigo. Vou me recolher mais cedo.

— Então, posso ir?

Bert perguntou um pouco sem jeito. Sabia que era cedo para ser dispensada e normalmente não pediria algo assim para a duquesa.

- Pode sim, Bert.

Fira respondeu, dispersa. Desde que retornara do castelo de pedras de Avar, estava introspectiva e confusa nas decisões a tomar. Sabia que o melhor, e mais seguro, era continuar com o plano, no entanto, nada lhe tirava da cabeça que as coisas poderiam ser diferentes e mais prazerosas para ela.

Foi educada por seu pai e tinha consciência da responsabilidade com seu povo. Este papel nunca foi um incômodo, entretanto, seu pai nunca lhe mostrou o que fazer, e como pensar, caso ocorresse algo como o que estava acontecendo. “Responda à promessas de aliança, caso confie em quem estará em sua cama, mas nunca se revele para alguém que não confie.” Estas eram as palavras do pai que martelavam em sua mente.

— Bert, você confia na sua esposa?

Perguntou de súbito, antes que a escudeira se retirasse.

— Como? – Questionou a escudeira, confusa. 

Servia Lady Fira há alguns anos e ela nunca fizera perguntas de cunho tão pessoal.

— É que imagino que, para viver com Maia, você deva confiar muito nela, ou não?

— Sim, milady. Confio sim. Acredito que deva ser assim em um casamento, não?

— É, acredito que sim…

Fira lia alguns pergaminhos da contabilidade do comércio de Líberiz. Em nenhum momento levantou a cabeça para falar com Bert. Não queria expor sua insegurança, ao iniciar aquela conversa.

Bert a olhou desconfiada. Desde cedo notara que sua dama estava distante, diferente do que sempre se mostrava. A escudeira a admirava em todos os sentidos. Era uma patroa justa. Ensinava-lhe a se portar em qualquer meio, utilizar armas e se defender. Pagava-lhe um “soldo” justo, com o qual conseguia viver com dignidade, sustentar a sua esposa e filhos que adotaram. Sorriu ao perceber que sua dama a estava questionando em nível sentimental.

— Eu e minha esposa nos conhecemos por acaso… – Bert iniciou uma conversa mais solta. – … me apaixonei sem querer. Foi numa situação que nunca passaria pela minha cabeça.

Bert queria chamar a atenção da Duquesa e conseguiu. Fira deixou o pergaminho de lado e a olhou com interesse. A escudeira continuou a falar.

— Meus pais vivem no campo. Nós sempre moramos no campo. Eu estava vindo para a cidadela para comercializar os grãos que colhemos. Quase atropelei minha esposa com a carroça, pois ela estava distraída e eu, correndo para pegar o pregão de grãos no comércio. Parei os cavalos e desci da carroça desesperada. Ela estava sentada no meio de uma poça de lama, xingando até a minha última geração. Eu ria dela sem parar. – Bert deu uma pequena pausa para rir das lembranças. – Ela se levantou com raiva e partiu para cima de mim, tentando me bater. Com certeza, eu faria o mesmo, caso acontecesse comigo.

Bert parou de falar, tentando perceber se sua dama estaria interessada no restante da história. Fira imaginou a cena e riu da situação.

 — E o que aconteceu depois?

— Segurei os braços dela, antes que me atingissem, e olhei o rosto sujo de lama. Eu paralisei, diante da intensidade dela e da beleza. Soltei-a e comecei a me desculpar. Não sosseguei até convencê-la a aceitar que eu a levasse para casa. No dia seguinte, fui até casa dela com um conjunto de saia e blusas, para presenteá-la, com a desculpa de que lhe devia. Ela me sorriu e começamos a conversar. A partir daí, começamos a nos falar e a sair juntas. Eu me apaixonei pelo jeito dela, pela personalidade, pelo carinho e cuidado que tinha com todos que conhecia. Ela era amiga e simpática com todos, além do rosto mais lindo que já vi em minha vida.

Bert parou de falar, tentando reparar na expressão de Lady Líberiz. Parecia compenetrada, mas não indicava aborrecimento por ouvir a história. Continuou.

— Hoje fazemos cinco anos de casadas. Faremos uma pequena festa para amigos e parentes, que não se importam em ter duas mulheres em comunhão num casamento.

Fira a olhou intrigada com a história e, ao mesmo tempo, curiosa.

— Por que não me disse? Não precisaria ficar aqui até esta hora.

— Desculpe, Milady, mas como acha que eu pediria dispensa de meus deveres por ser meu aniversário de casamento?

Fira sorriu. Sua escudeira era tão prática quanto ela. Era uma empregada e como tal, não se permitiria a abusos com a contratante, principalmente por se tratar da soberana do ducado.

— Então vão dar uma festa? Por que não fui convidada? – Perguntou jocosa, querendo encabular a escudeira.

 — Minha casa é humilde, minha senhora. Ela não é digna de recebê-la.

Fira se chocou e, pela primeira vez, sentiu-se envergonhada diante de sua escudeira. Depositava em Bert mais confiança do que em qualquer outro. A escudeira era uma pessoa do povo, Porém tinha uma conduta ilibada, longe das inúmeras falcatruas que cercavam a nobreza. Tomou uma decisão.         

— Se sua casa não é digna de me receber, então não sou digna de entrar na grande relíquia dos deuses, quando morrer.

Bert sorriu tímida e baixou a sua cabeça, falando sem jeito.

— Eu me alegraria muito com a sua presença, Milady. Apenas pensei ser abuso de minha parte fazer tal convite. Tenha certeza de que seria muito bem-vinda e que seria uma enorme honra recebê-la.

— Então me fale onde mora e a que horas devo chegar, Bert. – Fira respondeu e sorriu cúmplice.

***

— Deuses! Como devo me vestir?

Algum tempo mais tarde, Fira se encontrava de frente a inúmeros vestidos de festa. Pensava que não deveria se vestir com ostentação, diante do que acreditava ser o modo de vida de sua escudeira.

— Por que me enfiei nessa encrenca?! – Bufou.

Parou durante alguns segundos no meio do quarto, olhando à volta. Após a noite que teve com Rogan e, em como começou a tentar entender as atitudes dela, viu que o jeito que levava a vida era quase irrefletido.

Fazia tudo pelo objetivo de dar segurança ao ducado, mas sem pensar no que isso significava e nas pessoas que se beneficiariam com as decisões que tomava. Lógico que fazia para manter o ducado em pé e seus habitantes bem, no entanto conhecia verdadeiramente a vida de quem dependia dela? Uma questão tão ridícula que era a decisão de como se vestir para uma festa, chamou a atenção para o abismo que existia entre ela e seu povo. As festas que dava no ducado eram tão pomposas quanto as festas da corte.

— Que merda, Rogan! Por que tive que te conhecer?! Você podia ter recusado minha oferta e eu arrumaria outra forma de me livrar de Cárcera. Não ficaria com esse monte de perguntas na cabeça!

No momento que esbravejou, viu uma calça de montaria em couro de corte simples. Seguiu com o olhar para a parte em que tinha as blusas de verão e observou, com interesse, uma camisa de algodão cru. Sorriu, lembrando do encantamento que teve ao livrar o corpo de Rogan de uma veste parecida com aquela. Pegou a peça, satisfeita. Agora era só calçar uma bota e estaria bem para ir à festa de sua escudeira.

Saiu das dependências do castelo, dispensando a guarda. Bert não morava na cidadela e pegaria um cavalo na cocheira.

— Mas, Milady, não pode sair sem escolta. A noite não demora a cair e os tempos estão difíceis. É perigoso! – Falou o cavalariço.

Que merda! Devia ter saído pelo meu estábulo”. 

 Pensou, irritada com a preocupação de todos. Desde que saíra do quarto até a cocheira, todos a advertiram de perigos e mais perigos. Parou, momentaneamente.

 — Tem razão, rapaz. Acho que não vou sair. Estou cansada e é uma besteira cavalgar a essa hora com a noite se aproximando.

—  Sim, Milady.

Sentiu uma agonia, enquanto falava com o cavalariço. Virou-se e retornou para o castelo. A guarda que fazia a segurança dos corredores a cumprimentou e, antes que ela entrasse em seu quarto, deu ordens para que não fosse incomodada. Leria um pouco e dormiria cedo. Não queria ser interrompida, salvo algo muito sério. Os soldados não questionaram, embora parecesse relativamente cedo para Lady Fira se recolher. Perfilaram e montaram guarda na porta do quarto da duquesa.

A verdade era que Lady Fira não gostou das inúmeras pessoas a advertindo. Sabia que não podia se utilizar, a todo momento, da saída pelo estábulo particular, principalmente por ainda ser dia claro. Evidente que as seis horas da tarde a noite encobriria seus passos, mas Bert lhe avisara que a festa começava pouco antes do entardecer, pois, no outro dia, todos acordariam cedo para trabalhar.

Corria o risco de ser descoberta, porém odiava ser monitorada por todos. Entrou no quarto e decidiu que não poderia faltar à festa de Bert. Havia dado a sua palavra e queria entender um pouco mais sobre a forma de viver da escudeira. Coisas que não conseguia entender estavam acontecendo dentro dela. “Isto meu pai nunca me ensinou.” 



Notas:

Oi, pessoal! 

Então, as minhas publicações ficarão entre terça e quarta-feira a partir de agora. Peço que relevem algum erro de português, pois as minhas revisoras estão doentinhas essa semana. Emanem boas energias para elas, que agradecerão muito. rs

Beijos e boa semana a tod@s!

 




O que achou deste história?

12 Respostas para Capítulo 4 – Noite reveladora

    • Oi, Lucy Frausto!
      Que legal que tá gostando! É, esse cap era pra dar uma arrepiada mesmo. rs
      Vamos, que vamos!
      Obrigada pelo coment e carinho, Lucy!
      Um beijão pra você!

    • Holaaaaa,
      Adorando a estória!!! Oxen oxen Oxenteeee, que isso de que vc me contou? Tô passada, eu n tenho nenhum registro e vc sabe que nunca revelaria nada, né?!! Como já aconteceu em outros momentos que já sabia e ainda assim comentava como se nem soubesse!! RS. O fato deu ter quase acertado é q amo ler e analisar, mas errei feio!! Queroooo ver vc me surpreendo dona , Bi!!

      Rogan se lascou, eu sabia. A mais Duro sempre amolece primeiro kkkk.
      Lady tá num probleminha e agora com dúvidas como está comandando seu reino. Foi bom Bert a convidar…
      Estou ansiosa por esse amor bandido! Bem a vc disse q era uma estória erótica, vc sempre manda bem! 🙂
      Tulipas, que lindo, tudo MT romântico!!:)

      Espero que as meninas que te ajudam fiquem bem, envio emanações de cura para seus chakras!!
      Como pedido ,deixo a parte que tem que corrigir:

      “Você atingiu minhas expectativas. – Sorriu e logo emendou a fala. – Isto porque você realmente fez tudo muito bem, mas não gostei de ter você ter me lembrado de meus problemas. ( Essa última frase).
      N lembro se vi mais pq me peguei bastante envolvida com a estória rsrs.
      Fiquem com Deus!! Beijos pra vc, sua esposa e as Betas!!

      • Eita,saíram umas palavras erradas e n pode mais editar…:(. Bem, esses teclados dois celulares são MT pequenos kkkkk.
        Fuiii

      • Oi, Lailicha!
        Valeu pela correção! Vou acertar lá.
        Então, concordo contigo. A mais durona é a primeira a arriar. rsrs No caso delas, as duas são meio bicudas. he he he Acredito que as coisas devam esquentar e elas ainda vão se bicar muito! rrsrsr
        Hoje tô na correria Lailicha. Peço que compreenda o coment pequeno. Tô morta! Cheguei ainda a pouco pra postar.
        Um beijão pra ti e pra mocita e obrigada sempre pelo carinho!

Deixe uma resposta

© 2015- 2022 Copyright Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução total ou parcial do trabalho sem a expressa autorização do autor.