Ponto de Vista

Ponto de Vista – Parte Final

Ponto de Vista

Parte Final

 

                 Quando entramos na sala, só faltava o Sr. Quaw, o chefe dos anciões. Mais cinco minutos, e ele entrou.

– Muito bem! Disseram que os militares conversaram e têm uma sugestão a dar. Verdade coronel?

– Sim senhor. Somos favoráveis à proposta deles e complementando, já que não há nenhum membro deste conselho que pertença ao planeta central, decidimos também que já é hora de todos os planetas do Império terem autonomia sócio-econômica e sermos aliados de fato e não mais satélites do planeta central.

– Pelos Deuses! Têm plena consciência do que estão falando e das conseqüências que isto pode acarretar para vocês?

– Sim senhor, temos sim.

– E vão em frente mesmo assim?

– Vamos, esperamos que da melhor forma, pacífica, se não possível, faremos o que for preciso.

– Boa sorte! Que consigam, em paz, para o bem de todos. Já estava na hora. Tentaremos descobrir uma forma de preservá-los.

– Obrigado.

– Pelo jeito, é desejo antigo e geral, só não tinham como faze-lo, ou faltava coragem.

– Cris, são milhares de anos de subjugação. Dê-lhes um desconto.

                 Os anciões saíram e todos olhavam-na com respeito, murmurando algumas palavras.

– Pelo jeito a cabeça a prêmio é a tua mesmo.

– Sou a oficial mais graduada do planeta central. Sou a responsável direta por decisões dessa magnitude.

                 Acordo feito, assinado e selado.

                 Chegou notícia do alto comando, solicitando a Federação o meu comparecimento ao seu Q.G., e a ordem para que Cibe se apresentasse imediatamente.

                 Logicamente recebi a autorização.

                 Ao chegarmos no planeta Qualtz, fomos direto para o Q.G.      Mais formalidade e disciplina, impossível. O equivalente a marechal nosso, estava sentado numa cadeira de espaldar alto, com outros militares à sua volta, numa configuração ovalada. Não havia mesa e a sala era grande e clara. Houve as apresentações militares de praxe. Cibe parecia uma estátua, imóvel e impassível.

– Capitã, enquanto estava a caminho, tudo nos foi passado, entendemos, pensamos e discutimos. O novo sentido das emoções sentidas é claro. Os povos de seu planeta já sabem de seu pedido, e estão torcendo, e você foi transformada em quase heroína. Sabe que não é função nossa.

– Nem tive tal intenção ou pretensão senhor.

– Acredito. No entanto aconteceu. Nós concordamos que há lógica no pedido, e já encaminhamos ao Imperador. O Império já é rico o suficiente para continuar com todo esse controle. Vamos deixar que alcem vôo. No entanto, você não agiu de acordo com nossos preceitos. Tomou uma decisão não de guerra, no acordo de Esfig, e deveria vir diretamente a nós, antes que a coisa se espalhasse e o povo tomasse conhecimento e partido. Pensaremos na sua punição.

– Sim senhor.

– Sim senhor, uma ova!

– Cris!!!

– Olha aqui senhor. De certa forma, eu dei início a tudo isso. Fui “convidada” a vir aqui e só vou ficar assistindo? Agora vão punir alguém por estar 100% certa? Fui chamada aqui apara quê? Para ver a sua “justiça”?!

– Não me lembro de te dar licença para falar, ou pedi sua opinião. A continuar com esta atitude, posso puni-la da mesma forma. Que ainda não decidimos qual será. Sim você por enquanto é convidada, não defensora, e isto não é um julgamento.

– Bom, se ela for punida, eu mereço tanto quanto ela. Pense bem, senhor. Tudo acontece no tempo certo. A Capitã me encontrou agora. Os Squaltz nos uniu, somos uma só. Foi pela minha emoção e humildade que ela veio a entender o anseio antigo dos povos do Império e fez com que vocês entendessem. Essa relação me dá todo o direito de defende-la em qualquer lugar. Dizem que vocês vão puni-la, então já houve o julgamento, sem sua presença e sem sua defesa? Eu aposto que esses povos e mesmo o conselho dos anciões gostariam de te-la à frente na transição e como um contato que podem confiar. Heróis não forçam, não decidem e pronto, se tornam heróis. Eles acontecem, eles existem por sua atitude e coragem.

– Ela conhecia as regras. Sabia que poderia até mesmo ser morta.

– Então terão uma heroína e mártir. Não acham que seria um pouco mais complicado explicar a todos os militares porque a mataram? Imaginem a popularidade do Imperador! Nem todos os militares são do planeta central, mas ela é admirada por todos.

– E você?

– Eu? Morreria com ela ou por ela. Ou se vocês tiverem um mínimo de inteligência e “lógica”, estaria sempre do lado dela, fazendo o trabalho que sugeri, bem como aumentando as fronteiras do império, fazendo mais aliados, com os de Esfig e não venham me dizer que a Federação não é economicamente viável, comercialmente falando.

– Você fala e pensa rápido, não?

– Falei com algumas pessoas e segui alguns conselhos recebidos.

– Ah! Sabe ouvir também! E se a expulsarmos?

– Aposto que a Federação vai adorar uma oficial como ela.

– Capitã, tinha conhecimento destas idéias?

– Francamente, não Senhor.

– Concorda?

– Não tenho muita certeza senhor, mas posso lhe garantir que ela é tremendamente convincente quando quer algo.

– É sua squaltz, não há nada que possamos fazer para deixa-lá longe, não é?

– Não Senhor.

– Tenente, não nos envolveremos neste processo, mas veremos quanto a vocês.

– Obrigada Senhor.

                 Entrou um ordenança.

– Senhor! O conselho dos anciões do império, solicita uma audiência, se possível, antes que decidam algo quanto a capitã.

– Tenente…

– Garantia senhor (Cibe me olhava espantada).

– Muito bem cabo. Diga-lhes que podem entrar, jamais deixaríamos de recebê-los a qualquer hora.

                 Pelo jeito, o Sr. Quaw, tinha conseguido reunir todos os anciões, inclusive de Qualtz.

– Obrigado por nos receber senhor.

– É uma honra para nós.

– Desculpe a intromissão, mas queremos solicitar a Cap. Cibe para…

                 O marechal começou a rir.

– Não há dúvidas que a Tenente é eficiente, e diante do vosso pedido, nós aqui cremos. Acredito que o Imperador deverá concordar.

– Bem, temos algumas pessoas solicitando a permissão.

– Então está certo. Elas trabalharão com vocês, no entanto, é uma oficial de guerra, e comanda uma espaçonave, portanto, não deverá relegar suas funções de defesa do Império.

– Não senhor. Tenha certeza. Obrigada senhor.

– Tenente Cristina… nós conversaremos outras vezes. Tenham um bom dia.

                 Depois de algumas conversas com os anciões, já fora do Q.G., despedidas dos militares e parabenizações, despedimo-nos e fomos para casa. Uma casa que também era minha, mas eu nunca vira. Espaçosa, térrea, com jardim de flores lindas, que eu nem conhecia, clara e aconchegante.

                          Teríamos muito, muito trabalho mesmo. E confiança, e esperança de todos em nós. Não falharíamos, afinal estávamos juntas.

                          Nunca havia pensado em ter uma mulher ao meu lado. Então percebi que atravessei uma cidade desconhecida de mãos dadas com uma.

                          Tudo bem, porque esta é uma mulher que amo. Mais que tudo. Falei sério quando disse que daria minha vida por ela, pois sem ela, não há para mim, vida nenhuma, não há beleza, não há prazer.

                          Mas… nada de falar em morte. Agora é trabalho, é vida. Hum… agora, não. Daqui a pouco. Agora estamos só nós duas, em nossa casa, e temos até amanhã, antes de começar a trabalhar. E há o chuveiro, a cama…, o tapete… Ah! Isto é só o início. Vou beijá-la com a alma… vamos viver!!!

FIM.



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