A semana começou corrida, como sempre. Segunda feira, o pior dia da semana, e a Camila não me deixou, um minuto sequer, esquecer do tal encontro com a tal Sarah. Foi às 18h que ela me ligou pedindo para buscá-la no serviço.

E foi às 20 horas que saímos de casa, já que, minha amiga disse que eu deveria avaliar tudo, se a menina era pontual, o modo de andar etc… etc… etc.

Escolheu uma mesinha num canto reservado do bar e uma outra onde ela teria uma visão adequada da mesa onde eu estava.

– E se eu não gostar da menina?

– Vai ao banheiro e me liga! Só diz: “não quero”. O banheiro é do lado de fora do bar e vou instruir você a ir embora! Quando você for para o banheiro, também vou levantar e te esperar no carro. De maneira alguma, deixe a menina te acompanhar!

– Tá bom.

Ela sentou-se à mesa que escolheu. O bar não estava muito cheio e ela ficava me olhando disfarçadamente, pegou um livro que trouxe pra fingir que estava lendo. Onde já se viu ir para um bar para ler um livro? Só ela mesma para ter umas ideias trouxas assim.

Quando olhei para a porta, vi uma moça toda vestida de preto, com vários piercings na orelha e nariz, provavelmente, em outras partes também. O cabelo era tingido de preto, maquiagem super sinistra, lábios pintados com um batom marrom escuro e olhos delineados com um lápis preto. Foi se aproximando e, à medida que se aproximava percebi se tratar de Sarah.

Não tenho preconceitos com estilos, acho que todos devem se vestir e andar como bem entenderem. Então não me deixei levar pela aparência, vai que a garota tenha um papo inteligente, mas para o meu total desespero a primeira frase que a garota soltou, foi:

– E aí beleza, gata?

Não tenho nada contra gírias, mas essa palavra “gata” às vezes, para mim, é sem noção e ela mastigava um chiclete com a boca aberta fazendo aquele barulhinho estranho. E se sentou meio esparramada na cadeira. Minha vontade foi sair correndo, mas todos merecem uma chance, né?

– Tudo bem comigo e com você?

-Beleza! Juliana, né? Putz, que gafe a minha! Sarah, prazer!

Segurou a minha mão e começou a sacudir de forma veemente.

-Todo meu!

-Tipo assim… Que bom que você veio! Você é gata como na foto, mesmo!

– Obrigada!

– Mas, e aí, não vai beber nada?!

– Não, ainda estou sem sede.

– Mas, será que você podia pedir uma cerva pra mim?

– Uma o quê?

– Birita, pinga, cachaça… cerveja! O que você preferir!

– Mas, por que você não pede?

– Sou menor!

– O quê?!

– Pois é, tenho 17 anos!

Nessa hora, juro que adoraria matar a Camila! Tive que controlar o impulso de levantar da mesa e ir até onde ela estava e fazer picadinho dela.

– Tudo bem!

Levantei e fui até o balcão que tinha um rapaz com a cara entediada. Acho que ele nem ia se importar de dar a cerveja para a garota, mas quando olho para trás, meio sem graça, acreditem se quiser, a menina olhava descaradamente para a minha bunda. Senti o sangue subir para o meu rosto no mesmo instante. (Camila sua filha da mãe! Você me paga! Vamos, Juzinha, conte até 10… Calminha… Inspira… Expira… O encontro só está no início). Pedi a cerveja dela e voltei para a mesa super constrangida.

– Valeu! Mas, e aí, o que você faz?

– Sou responsável pelo RH de uma empresa!

– Legal! Mas, você num é novinha demais, não?

– Não, tenho 23 anos. Mas, e você? Estuda?

– Nada! Num curto estudo, não. Saca?! Na moral, isso é coisa pra CDF, além do mais, meu pai me banca, na moral, sem estresse.

– Ah, saquei!!

– Mas, tipo assim… Meu sonho é tocar na minha banda com meus brothers.

– Hum! Você toca numa banda?

– Não. Ainda não! Tô montando uma, na moral ainda conversando com uns mano aí pra ver se dá certo. Aí vamos fazer um som da hora.

– Entendi.

– Mas, ainda num defini um estilo… Esse é o atual, gostou? Furei o piercing da língua ontem… Olha só!

Meu DEUS! Como vou sair daqui?! A garota colocou a língua inchada para fora me mostrando o novo piercing. E, para piorar a situação, o chiclete que ela tava mastigando caiu na mesa o que ela pegou e colocou novamente na boca. Melhor ligar para maluca da Cami para ela dar um jeito de me tirar daqui! O pior que a @$%#@%##@&#@ tá olhando pra cá e eu tô vendo que tá morrendo de vontade de rir.

– Olha… é… eu preciso ir ali, no banheiro… Você me espera um minuto?

-Vai lá! Num saio daqui, não.

Levantei e percebi Camila erguendo o braço, pedindo a conta. Entrei no banheiro, peguei o meu celular e disquei o número dela e, logo, ela atendeu. Mal deixei ela falar “alô” e já disse tudo num fôlego só.

– Camila, sua filha da puta! Você me paga por essa. Me tira daqui, urgente!

– Olha só! Fica calma, Ju.

Ela mal conseguia falar, tentando segurar o riso.

– Eu já tenho o plano pra te tirar daqui….

– E qual é?

– Olha, eu saí, estou na quadra de baixo, te esperando. Melhor não ir para o carro, vai que a garota te acompanhe na porta. Agora volte para a mesa, que daqui a 5 minutos eu te ligo e você me atende lá.

– Tá bom… 5 minutos… Se passar disso você vai se ver comigo!

Nem deixei que ela se despedisse e desliguei o celular bufando. Não me entendam mal. Primeiro, não pratico a pedofilia. A menina é totalmente sem juízo e o pai ainda banca! Vejam bem, não daria certo um relacionamento desse, eu uma mulher (desastrada…azarada…etc…etc), e independente com uma garota daquelas. Um relacionamento fadado ao fracasso. Quando retornei a garota continuou a falar e mastigar o chiclete

sem parar e o pior, acho que por causa da língua inchada, ela falava meio enrolado e rápido, o que tornava uma missão difícil compreender o que ela dizia. E eu aguardando a Camila ligar, então a salvadora da pátria ligou, no momento certo.

O celular com aquela musiquinha chata e vibrando, atendi meio desesperada, quase deixando ele cair no chão.

– Alô!

– Presta atenção! Diga apenas “Sim mãe”…

– Sim, mãe!

– Agora diz: “Tô com uma amiga, agora… Não posso ir aí!”.

– Tô com uma amiga, agora…. Não posso ir aí!

– Seja mais convincente, Ju! Faça uma cara preocupada!

Ela tava de curtição comigo… O que será que ela quer? Fiz a cara de preocupada porque, realmente, tava preocupada com as tramas da Camila.

– Bom, agora diz… “O que o papai tem?”

– O que o papai tem?

– Põem a mão na cabeça…

Coloquei a mão na cabeça, como ela mandou.

– Agora diz… “Já tô indo”. E, quando você se levantar, vai explicar pra ela que o seu pai está passando mal e precisa ser levado urgentemente no hospital e que, infelizmente, você tem que ir, mas que vai

ligar pra ela, já que você tem o número dela. Diz que vai passar a noite inteira no hospital e que sente muito por estragar o encontro que estava sendo maravilhoso. Mas que, logo, ligará para marcar outro!

– Já tô indo.

– Agora, desliga. Te vejo daqui a pouco!

Fiz uma expressão preocupada e uma cara de choro… Ainda bem, que fiz aulas de teatro na escola, olhei para Sarah que estava com a atenção toda voltada para mim.

– Preciso ir, era minha mãe no telefone. Meu pai está passando mal e eu preciso levá-lo ao hospital… Sou filha única, sabe? Desculpe, por acabar com o nosso encontro assim…

Levantei, peguei minha bolsa, ela também se levantou e segurei em suas mãos:

– Tenho o seu telefone. Te ligo para remarcarmos um novo encontro. Sinto muito, mesmo!

– Tudo bem! Depois você me liga…

Ela deu três beijinhos no meu rosto e, olha que foi um beijo meio melado… Acho que foi pelo chiclete.

– Desculpa, mesmo. Estava maravilhoso, mas tenho que ir!

Virei as costas e quase saí correndo em direção ao carro, entrei rapidamente, liguei, acelerei e fui parar na esquina de baixo. Camila,

quando me viu, começou a rir sem parar. Entrou no carro e eu peguei minha bolsa e comecei a dar algumas bolsadas nela.

– Eiiii!! Pára! Melhor sairmos logo daqui, porque ainda estamos perto do bar! Aiii! Isso tá doendo.

– Camila… DEUS…que vontade de te matar!

– Amiga! Desculpa! Eu não podia imaginar! Mas, e aí, o que ela tava dizendo?!

Durante o caminho fui contando a conversa com Sarah para Camila… E a cretina tirou sarro da minha cara a noite inteira. Agora, não iria nos outros encontros nem amarrada!

– Você tem que ir, Ju! Impossível que todas sejam iguais! Você tem mais três encontros! E, lembra do combinado? Eram os quatro encontros e eu não ia te pedir mais nada!

– Não vou, e pronto!

– Amanhã, eu te convenço!

– Duvido!

– Olha, Juzinha, do meu coração! Você tem curso de teatro e era uma das melhores, apesar de que, sempre foi tímida. Não se preocupe, eu tenho os planos de fuga prontinhos.

Fiquei calada. E ela continuou tentando me persuadir a ir aos próximos encontros. Com um cupido desses não preciso de inimigos ou,

talvez, eu fique encalhada a minha vida toda. Bem que devia ter cursos para cupidos. Porque a Camila como cupida está sendo ótima “inimiga”.

 

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Bom dia pessoal, espero que gostem do capitulo extra desta semana, em comemoração à copa. Segunda feira retorno com o próximo! 

Abraço a todas e obrigada pelos comentários no capitulo anterior! Bom restinho de semana a todas!

 



Notas:



O que achou deste história?

2 Respostas para CAPITULO 03

  1. Tadinha da Juliana e ainda é o primeiro encontro. Se começou deste jeito imagino os outros.
    Bjus e até o próximo capítulo

  2. Coitada da Ju…
    E bom pra mim ???? choro de rir
    Espero que no fim ela consiga achar alma gêmea.

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