CAPITULO 08

A vida é engraçada e nos prega algumas peças durante o nosso caminho. Fazer amor com a Camila foi a melhor e a pior coisa que me aconteceu na vida inteira. Sentia falta dela, passei o domingo inteiro ligando e ela não atendeu, e foi assim uma semana.  Queria ir atrás dela, porém, respeitava seus limites. Se ela precisava ficar sem falar comigo eu entenderia.

E assim, foi chegando mais uma semana ao fim e eu já não aguentava a falta de notícia. Fui parar na porta do serviço dela, esperei e a vi sair, mas logo avistei Diego parado e, depois caminhando até ela, enlaçando sua cintura possessivamente e seguindo para o carro.

A dor que senti foi profunda, eu apenas queria que ela olhasse dentro dos meus olhos e dissesse que aquilo que tinha acontecido com a gente não tinha importância. Fiquei com ciúmes de vê-la com o namorado, ele a abraçando. Liguei o carro e não olhei para trás, mas ela me viu passando e abaixou o olhar.

Decidi que iria procurá-la em casa e iria esclarecer isso de uma vez por todas. Fui para o apartamento dela, o porteiro me conhecia e me deixou subir direto. Chamei na porta e ela não atendeu. Uma vizinha saiu do apartamento e sorriu para mim.

– Ela está na casa do namorado.

Novamente aquela dorzinha incomoda.

– Obrigada!

– Disponha!

Fiquei andando pelo corredor e depois decidi descer e esperar dentro do carro. Fiquei me torturando, imaginando o que ela estava fazendo com o namorado naquela hora. A raiva, o desespero e o amor acumulados por anos, todos os sentimentos em conflito dentro de mim. Logo vi o carro do Diego estacionar e ela descer, estava um pouco abatida. Ele foi embora e ela ficou parada, olhando para o meu carro. Desci e ela me esperou.

– Oi!

Consegui pronunciar fracamente.

– Olá!

O silêncio se estabeleceu entre nós, aquele silêncio incômodo.

– Vamos subir!

– Tá.

Ela seguiu na frente e eu atrás. Entramos no elevador e subimos para o andar dela, no maior silêncio. Ela abriu a porta do apartamento e entramos.

– Você deseja algo?

– Sim!

Estava na hora de desabafar.

– Por que, Camila? O que aconteceu?

– Não sei, Juliana. Eu não sei! Tô confusa.

– Olha, Camila… Eu amo você! E, agora, não estou dizendo como amiga! Eu sempre amei você, desde os 11 anos de idade… Achei que era coisa de infância. Aquele amor platônico. Achei que era errado desejar uma menina. Então engoli tudo e depois me envolvi com outras garotas, pelas quais, me apaixonei, mas não amei nenhuma. Eu te amava e fiquei absorvendo esse amor por anos. Achava impossível, então cultivei esse amor como amiga. E já tinha me acostumado a ser somente sua amiga, mas de repente, tudo mudou e eu percebi que nunca esqueci você e acho que nunca esquecerei. E você me deu uma pontinha de esperanças naquela noite. Sei que você também sentiu tudo que senti. E se você não sentiu me diz. Diz pra mim!!?

Segurei em seu braço firmemente, olhando dentro dos olhos dela.

– Diz, Camila, diz que não sentiu nada por mim além de amizade!? Que eu saio por aquela porta e você nunca mais vai ouvir falar de mim. Porque eu também não conseguiria te ver apenas como amiga e não sentir essa dor aqui no meu peito.

Ela começou a chorar, mas não disse nada.

– Diz pra mim que você não me quer do mesmo jeito que eu te quero?

A puxei para mim e beijei seus lábios de uma forma desesperada, o qual fui correspondida com a mesma intensidade e depois empurrada de uma forma bruta. Senti o gosto das nossas lágrimas que se misturaram em minha boca.

Ela olhou para o chão e fracamente disse:

– Vai embora, por favor!

– Eu não acredito em você! Você não pode estar fazendo isso comigo, Camila! Você, naquela semana, quis me ajudar desesperadamente a encontrar o amor da minha vida, me fez enxergar que ele sempre esteve ao meu lado e era você. E agora você pede para que eu vá embora?

Ela soluçava.

– Vá embora. Por favor, Ju…

Eu segui rumo à porta e, calada, enxuguei minhas lágrimas. Era assim que terminaria a nossa amizade. Ela fechou a porta depois que passei e eu sussurrei pela ultima vez:

– Eu te amo, Camila!

E fui embora. Chorei por horas dentro do meu carro, depois dirigi sem rumo pela cidade até sair dela. Sem direção definida, parei meu veículo à beira de um rio e vi o sol nascer. Teria que tirá-la de mim agora ou nunca.

Durante os dias que se seguiram, mergulhei inteiramente no trabalho tentando evitar pensar nela. Joguei as roupas de cama daquela noite no lixo por ainda terem o cheiro dela, mesmo depois de lavadas. Eu estava empenhando todas as minhas forças para esquecê-la.

E os dias se transformaram em semanas, até que se seguiu mais um mês. Estávamos em dezembro. Natal, ano novo… Sempre fico deprimida com essa época. Liguei para minha mãe, iria passar com eles na cidade onde nasci. Ainda estava no início do mês, mas estava planejando tirar férias.

No meio da noite daquele dia, recebi uma ligação estranha. Lohanna. Fazia um bom tempo que não falava com ela.

– Juliana, lindinha! Quanto tempo hein, querida?! Esqueceu de mim, da mulher artificial mais linda dessa cidade.

Era impossível não rir com Lohanna, estava precisando disso.

– Oi, querida Lo lo! Como você está?

– Encalhada! Mas um dia desencalho, você vai ver! Então, queridinha, quer sair comigo? Tenho uma amiga para te apresentar.

– Amiga?

– Sim. Fique tranquila, ela é lindíssima e tem muito em comum com você. Acho que vocês se darão bem!

– Ai, Lo lo, tenho trauma de encontros. Tive alguns desastrosos…

– Poxa, lindinha… Você me parece tão desanimada. Vamos lá! É um encontro entre amigas.

Depois de vários argumentos, ela conseguiu me convencer a ir. Marcamos em um restaurante japonês perto da casa dela. Vesti-me da maneira mais simples que podia, jeans, regata e All Star e as encontrei. Lohanna esplendorosa, como sempre. Se eu não soubesse que ela era uma “mulher artificial” acreditaria facilmente que era uma mulher de verdade. E, ao lado dela, estava uma moça branca, cabelos curtinhos e castanhos escuros, olhos amendoados, com um sorriso gentil no rosto.

– Juliana, esta é Olívia. Olívia, esta é Juliana.

Consegui dar um sorriso sincero a ela.

– Prazer, Juliana.

– Todo meu, Olívia.

– Sabe, Ju, a Olívia cometeu o mesmo engano que você, marcou um encontro achando que eu era mulher mesmo.

Olívia ficou vermelha como um tomate, ela realmente era encantadora.

– Não fique com vergonha, também cometi o mesmo engano.

Caímos na risada.

– Bom, você precisa ver, Juliana, se fosse só esse tipo de engano, mas eu tenho o azar me acompanhando há mais tempo que você imagina.

– Mesmo?!

– Sim…

– Então temos algo em comum!

– Você também?!

– Digamos que é uma herança genética.roman

– Aposto com você que tenho mais azar que você!

– Hum, duvido…

Então começamos a contar os nossos desastres e azares da vida. Foi Olívia que começou a contar.

– Quando eu tinha 5 anos, havia começado a estudar e na minha escola tinha daqueles pilares dispostos em fileira e toda a criançada ficava passando entre o estreito espaço entre eles, era uma forma de diversão para todos.

– Sim… E aí?

Perguntamos, Lohanna e eu, em uníssono.

– Bom, eu vivia passando por lá também, digamos que sempre fui raquítica, porém um dia fui passar e não sei como consegui ficar presa! Minha cabeça prendeu entre os pilares e não soltava mais. De todas as crianças da escola fui a primeira a ficar presa lá, tiveram que chamar até bombeiro para me tirar de lá.

Rimos muito dessa história, então foi minha vez.

– Bom, quando eu era criança, fiquei muito doente e minha mãe me deixou com minha vó porque ela tinha que trabalhar. Então ela entregou para minha vó meu xarope para a febre e foi embora. Minha vó, meio desligada, colocou junto com outro vidro idêntico e quando deu a hora de me dar o remédio ela trocou os vidros, dentro do que ela pegou tinha manteiga de galinha e ela me obrigou a tomar.

Novamente caímos na risada.

– Ah, Ju, a sua foi mais fraca. Sua vez, Olívia.

– Bom, não vou lembrar de todos os micos, mas me lembro de um quando eu era mocinha, decidi ir ao cinema com a turma da escola e tinha um cara lá que queria porque queria ficar comigo. Mas eu não estava nem um pouco afim. Estava muito interessada no filme, mas o cara sentou do meu lado e começou a segurar a minha mão e ficava beijando, tentando me convencer que eu devia ficar com ele porque a vida era curta e devíamos aproveitar as oportunidades.

– Que mala! – Exclamou Lohanna.

– Pois é! Então, me distrai e ele deu uma mordida no meu dedo e doeu muito… Dei um pulo tão alto e gritei “SEU CACHORRO… POR QUE VOCE ME MORDEU?” O cara ficou super sem graça e o cinema inteiro escutou meu grito e caiu na risada. Fiquei puta da vida e minhas amigas pegam no meu pé até hoje.

Passamos a noite inteira contando dos nossos micos, rimos muito de tudo. Olívia, realmente, era uma pessoa interessante. Contei sobre meus encontros desastrosos, as duas riram muito de mim e me declararam vencedora. A mulher mais azarada da face da terra merecia até um troféu abacaxi como pagadora de mico.

Olívia estava a pé e eu ofereci uma carona até a casa dela. Ela aceitou e fomos embora. Ela morava próxima a minha casa. Estacionei em frente a casa dela.

– Você não quer entrar?

– Não… Prefiro não incomodar!

– Não será um incomodo. Vamos?

Decidi entrar. Assim que entramos no quintal que era cheio de rosas e gramado, um cachorro grande e amarelo pulou sobre ela.

– Quieto, Mick… Este é o Mick, meu cachorro e amor…

Ela disse, acariciando o animal. Cada vez mais gostava dela.

– Oi, Mick… – Disse passando as mãos na cabeça do animal que, aliás, era um labrador muito bonito.

– Ele gostou de você, como eu! – Ela disse timidamente.

Entramos para dentro da casa, ela me mostrou a sala, os livros que tinha na estante e CD’s, onde muitos eu já tinha lido e escutado.

– Temos o gosto muito parecido, mesmo!

– Sim!

– Sabe, passamos a noite inteira conversando, mas eu não sei muita coisa sobre você.

– Realmente, era porque tínhamos muitos micos. Lohanna ficou impressionada com tantos micos para duas pessoas.

– Então o que você faz?

– Sou arquiteta, e você?

– Sou gestora de RH, me formei em psicologia.

– Acho interessante essa profissão, entender os complexos da mente humana não é fácil. Você deve ser bastante paciente.

– Um pouco!

Dei uma volta pela sala de estar da casa dela, tinha um quadro na parede.

– É lindo… De quem é?

– Meu!

– Nossa, então você é uma artista.

– Não exatamente!

A obra era surrealista. Havia uma mulher no meio da tela e com o peito aberto, ao invés de coração havia uma caixa que parecia ser de chumbo, o que era mais marcante era o rosto fechado e triste. Os tons eram fortes, vermelho amarelo e a pele da mulher era de várias cores.

– Realmente muito lindo!

– Que bom que gostou! É o meu favorito!

– Acho que preciso ir embora, já esta tarde.

– Não vá, fique mais!

Ela segurou minhas mãos e olhou em meus olhos. Então se aproximou mais de mim, passou os dedos em meu rosto contornando-o e me beijou. Correspondi.

 

 



Notas:



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5 Respostas para CAPITULO 08

    • Poxa!ela é tão de boa, a Olivia rsrsrs, Camila malvada! mas já esta acabando semana que vem penúltimo capitulo.

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