Entramos no apartamento e eu apontei o sofá para que ela sentasse. Ela olhou tudo em volta como se tivesse memorizando todos os detalhes do meu apartamento, suspirou.

– Senti saudades deste lugar!

– Hum!

Eu queria dizer que havia sentido saudades dela ali naquele sofá, de escutar a voz dela, das discussões que tínhamos quando discordávamos de alguma coisa. Ela sempre me vencia, porque eu, no final, sempre concordava com ela por não aguentar mais escuta-la buzinando no meu ouvido.

– Eu senti saudades de você!

Ela disse deixando uma pequena lágrima escorrer por sua face, a qual senti vontade de conter com os meus lábios e abraçá-la. Nunca a vi tão frágil como vi naquele momento. Eu queria esquecer aqueles dois meses de sofrimento e correr para ela, abraça-la e beijar aqueles lábios. Mas, me segurei.

– Vamos… Estou apressada. Diga logo o que tem a dizer e vá embora!

Ela abaixou a cabeça e disse.

– Terminei com o Diego!

– O que?! Quer dizer que você vem aqui abatida assim porque terminou com o Diego e veio para que eu a consolasse? Pelo amor de deus, Camila! É melhor você ir embora!

Fui até a porta e a abri. Apontei pra fora!

– Vai! Chega! Cansei!

– Não. Eu.

– Se você não for, te ponho pra fora… Juro pra você, Camila.

Ela se levantou e veio até mim, me agarrou e me beijou de uma forma bruta, forçada, invadindo minha boca com sua língua sedenta. E foi a minha vez de empurrá-la, contendo minhas lagrimas a empurrei para fora e fechei a porta em sua cara. Ela ficou batendo na porta

– Ju, me escuta! Deixa-me entrar. Por favor!

– Eu odeio você, Camila! Nunca mais quero vê-la! Você vem aqui e me beija achando que está tudo bem, agindo como se nada tivesse acontecido e me fala do fim do seu namoro!

– Você não pode me falar nada e sua namorada? Você pode até estar com ela, mas sei que você ainda me ama.

– Você não sabe de nada, sua arrogante. Prepotente

– Sei sim!

Ficamos discutindo uma de cada lado da porta, nem me importei se os vizinhos estavam escutando, que todos fossem para o inferno.

– Vá para o inferno, Camila! Você e o mundo! Eu já não me importo mais e deixe de se achar a sabe tudo.

– Eu não me acho a sabe tudo, Ju! Mas eu sei que você ainda me ama, sabe por quê?  Eu também amo você.

– Ah, é? Você me ama como amiga e quer chorar no meu colo porque terminou com o seu namoradinho. Não sou trouxa, me deixa em paz!

– Não! Eu amo você como mulher. Juliana, por favor, quero te dizer tudo que tenho para falar, olhando nos seus olhos e não com uma porta entre a gente.

– Eu não quero escutar.

Em um gesto totalmente infantil, tapei os ouvidos e comecei a cantar desafinadamente:

– La La La La La..

– Pára de agir feito criança, Juliana Ferreira!

– La La La La…

– Olha, quer saber?! Se você não me escutar, eu não vou sair daqui.  Vou passar a noite inteira aqui.

Eu só consegui escutar as últimas palavras “passar a noite inteira aqui”.

– Você não é louca!

– Você sabe que sou louca, sim. Se você não me escutar eu vou ficar aqui até você sair amanhã para trabalhar e aí te obrigo a escutar tudo. Eu te amarro e você vai ter que escutar!

– Eu te processo!

– Deixa de ser infantil, Juliana! Me processe, então! Me prenda, aliás, já conheço a cela de uma cadeia e tenho direito a cela especial. Lembra?! Estivemos juntas em uma.

Eu já estava de saco cheio e com vontade de dar uns tapas na cara dela por me fazer lembrar, por me fazer querê-la tão intensamente que até doía. Abri a porta num rompante de raiva e fui pra cima dela querendo descontar toda a dor e raiva. Consegui desferir uma tapa no rosto dela que foi pega de surpresa, vi as marcas dos meus dedos impressos na pele do seu rosto. Ela levou a mão ao local e de seu olho caiu uma pequena lágrima que me fez arrepender-me no mesmo momento do tapa que tinha dado.

– Desculpe! Camila… Eu!

– Ju, não se desculpe. Se este tapa for fazer passar toda a dor que você sentiu, se me bater fizer passar tudo que você sentiu durante esses anos todos e se for me fazer esquecer dessa dor que está aqui, agora no meu peito, martelando… Sabendo que eu fui a culpada de tudo ter dado errado. Pode bater!

– Não! Eu…

Ela me segurou pelas mãos e me puxou para dentro do apartamento.

– Vamos para dentro, chega de show para os vizinhos!

Eu concordei. Ela me conduziu até o sofá depois de trancar a porta e sentamos frente a frente. Me abraçou.

– Não sou digna da sua amizade, Ju. Não tenho o direito de te pedir isso agora, porque também não é isso o que eu quero. E tudo o que desejo é que você seja feliz com sua namorada. Mas eu preciso te dizer tudo o que se passou comigo.

– Espera aí! Eu não tenho…

– Por favor, Ju, me deixa continuar.

– Tá!

– Depois que eu saí daqui naquela noite, me senti perdida, não imaginava que poderia sentir tudo o que senti nos braços de uma mulher, muito menos nos braços da minha melhor amiga. Eu não havia percebido, aliás, fui perceber tudo após o beijo lá na boate. Acreditava que te amava como amiga. Mas, aquela semana que passamos juntas, nos metendo em encrencas por minha causa, me perguntava secretamente se era isso que eu queria mesmo. Que você arranjasse outra… Que ficasse com outra… Mas, eu queria ver você feliz e isso era tudo que me importava. Eu não imaginava que você tivesse sentido aquilo que me disse sentir. Então lutei durante os dias seguintes, tentando me convencer de que éramos apenas amigas. Naquele mesmo sábado, o Diego chegou e a gente se encontrou, saímos juntos… Mas eu não consegui ficar com ele porque eu só pensava em você.  Juro que tentei desesperadamente ficar com ele, afinal, era um namoro de dois anos e, até então, eu o amava. Estávamos até planejando nos casar, ter filhos. Eu já ia te chamar para ser madrinha do meu casamento, mas, de repente, vi o meu mundo ruir e os meus planos junto e eu já não queria você como madrinha. Eu queria você como namorada, amante. Eu queria fazer amor com você todas as noites, dormir e acordar, fazer coisas simples que pessoas que se amam fazem ao teu lado. Mas tive outro impasse, fiquei com medo de assumir isso para mim mesma. Desculpa, sei que demorei muito, mas precisava me aceitar primeiro para poder viver isso plenamente. Mas agora eu sei que cheguei tarde e vi o quanto você está feliz com sua namorada.

Ela se levantou e me deixou no sofá, olhando para o nada. Absorvendo as palavras dela, uma a uma. Até a palavra namorada me chamar a atenção.

– Camila!

– Ju, quero que você seja muito feliz…

Ela se ajoelhou na minha frente e olhando dentro dos meus olhos disse:

– Eu te amo, sei que nunca te disse isso assim, olhando nos seus olhos, mas eu amo você acima de tudo e demorei para perceber que te amava desde criança. Desculpe se fui uma burra, uma tola por não notar que eu não devia ser o seu cupido e, sim, aquela que te faria feliz a vida toda. Mas, agora é tarde, não?

Novamente, se levantou e caminhou até a porta.  As palavras dela fizeram efeito “ela me ama” era o que importava! Era hora de lutar para que isso desse certo. Ela já estava fechando a porta, quando eu acordei e corri até ela.

– Camila, espera! Não é tarde. Eu não tenho namorada.

– O quê?!

– Eu amo você, também!

Pulei no pescoço dela e a beijei!

– Amo você! Amo você! Amo você!

Fiquei distribuindo beijos pelo rosto dela e dizendo que a amava.

– Eu também! Me desculpa, amor.

Nos abraçamos forte e entramos em meu apartamento, para mais uma vez, comprovarmos o nosso amor com gestos e não palavras.

Foi preciso que ela me metesse em encontros que, definitivamente, não foram convencionais, com várias pessoas diferentes, que eu fosse presa e quase assediada por duas loucas ninfomaníacas para meu cupido perceber que a pessoa que deveria ser flechada para fazer a minha felicidade era ele próprio. Aliás, um cupido assim ninguém mais tem. É meu, somente meu!

Posso ser uma grande azarada, desastrada. Mas, será que para o amor é preciso ter sorte? Acredito que não. Até o azar pode te trazer um grande e inesquecível amor. Para o amor é necessário atenção, cuidado e, principalmente, paciência. Tudo é possível. Mas Camila não quis aposentar o arco e flecha e as asinhas de cupido. A próxima missão dela seria arrumar um par ideal para as mulheres que encontrei.

– Ai, Camila você não vai fazer isso, né?!

– Claro que vou! Imagina a Sarah, Noeli e a Lohanna encontrando um grande amor com a nossa ajuda! Pensa por esse lado, Ju, agora são dois cupidos. Eu e você, juntinhas.

– Você não toma jeito, Camila. Tenho pena dessas daí.

– Que nada! Se eu conseguir realizar o encontro ideal para cada uma delas, elas vão ter que me ligar todos os dias e dizer que sou o melhor cupido do mundo!

– Não exagera porque, pra mim, você não foi um bom cupido!

– Claro que não fui! Eu queria você pra mim, só que demorei a perceber!

– Palhaça! Você esqueceu que não temos contato com elas, além da Lohanna?

– Amor da minha vida, nada que um dedinho do destino e da internet não possa ajudar!

Ela pegou o telefone.

– Ju, o primeiro encontro que você teve foi com a Lohanna, então ela será a nossa primeira vitima.

– Sim.

– Qual o telefone dela?

Passei o número e logo ela tava discando.

– Lohanna, tudo bem? Aqui é a Camila. Tá tudo bem com ela, sim…

Eu já estava morta de curiosidade, querendo saber o que minha amada estava aprontando. Aliás, já estávamos há três meses juntas, não desgrudávamos e passávamos o máximo do nosso tempo disponível juntas. Dormíamos juntas, acordávamos juntas, almoçávamos, etc.

– A Olívia tá aí, também? Mande um beijo para ela e para a namorada dela, Thais.

– Deixa eu falar com a Lo lo, Camila.

– Não, calma aí! Deixa eu terminar aqui!

– Pois é, Lo lo. Tenho o telefone de um cara gatíssimo e o e-mail dele, acho que você vai adorar. Ele também, claro!

Aí sim, fiquei mais curiosa. Quem seria?

– Anota aí! Diego Rodrigues, e-mail: diegorod@hotmail.com, mande umas fotos para ele que tenho certeza que ele vai se interessar. E o telefone é 9908-8818. Ora, linda, não precisa agradecer, qualquer coisa eu e a Ju estamos aqui. Beijo!

Desligou o telefone.

– Sua louca, você deu o telefone do seu ex para ela!

– Fica tranquila. Você sabe que homens não notam pequenos detalhes e vamos instruir Lohanna a não revelar que é uma mulher artificial, por enquanto… Aliás, sei que o Diego tem jeito para o time cor de rosa!

– Sua doida! Como é que eu fui me apaixonar por você?!

– Porque eu sou uma louca, doida de pedra, e você é uma psicóloga que gosta de pessoas com esse tipo de desvio e decidiu que deveria cuidar de mim.

– Acho que pode ser!

Caímos na risada, eu estava plenamente feliz com minha doida de pedra, namorada e melhor amiga. As próximas operações cupidos, um dia talvez, a Camila decida contar pessoalmente a vocês! Se cuidem e lembrem-se: “Cuidado com o seu cupido”, ele pode ser o amor da sua vida. Então, preste atenção nos detalhes e tente não se meter em confusão. Porque seu cupido pode não ser muito esperto para te tirar dela.

FIM

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Gostaria de agradecer a todas que acompanharam essa historia e me desculpar se deixei faltar algo e pelo atraso na postagem.

Fiquem a vontade para me dar feedback!

Um Beijo!

Indiazinha.



Notas:



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