– Então é isso.

Minha expressão deve ter mudado tanto que você mudou o tom de voz.

– Eu não queria dizer isso…

– Sim, você queria, tanto que acabou dizendo. O que mais te incomoda, Cris? -você não respondeu. – Eu sei o quanto foi difícil. Diferente do que você acha, eu não quis estar longe de vocês. As únicas pessoas que me dão sentido na vida. Você acha que foi fácil ouvir suas preces? Sim… ouvia todas… você, Marina, Sílvia… e foram essas orações que me mantiveram, como você diz, dormindo. Por que o destino me mandava aceitar a ida, mas não quis… eu lutei… e pedi a Ele que me mandasse de volta. E quando senti que você iria embora, quando senti sua mágoa… Quando senti sua dor… – te olhei dentro dos olhos neste momento. – Contrariei ao desígnio Daquele em quem sempre acreditei. E Ele me ofertou a sua dádiva… O livre arbítrio. – você sentou na cama.

Me ajoelhei na sua frente, segurei suas mãos e puxei seu rosto para que me visse. – Não importa quantas vezes eu tenha que te dizer. Não importa quantas vezes eu tenha que te provar. – fui me aproximando de você que foi recuando.

– Sua amiga… sei quem é. Bonita… Muito.

Eu fui te encurralando até você deitar.

– Sim, muito bonita, sensual… sabe como conquistar… Mas só tem uma mulher capaz de me fazer sentir o que eu sinto. A primeira a quem me entreguei de verdade… A única… a que me fez rever todos os meus conceitos, a que me trouxe de volta a vida, a que me ressuscitou… – te acariciava e minhas mãos te exploravam sedentas.- Te quero, minha vida… Não me rejeita…

Fui te explorando, te reconhecendo, passando por lugares que já conhecia, mas absorvendo a emoção da primeira vez.

– Que saudades, meu amor… – sussurrei em teu ouvido. – Vem pra mim, estou aqui…sempre estive…sempre… – e te tocava como se nunca o tivesse feito. Impus ao teu corpo uma experiência peculiar.

Depois de mais de uma hora te olhando, te sentindo minha como nunca senti, mexi em teus cabelos. Encostei bem devagar meu rosto no teu. Nossos narizes se tocavam, eu absorvia teu hálito quente, vivo…

– Vida… – pronunciei timidamente, recebendo um resmungo de volta. Tínhamos galgado mais um degrau em nosso relacionamento, mais uma barreira havia sido quebrada. Aprofundei meu rosto em teu pescoço, beijando, mordendo… – Vida… – pronunciei mais forte e teus braços ganharam meu corpo em segundos. – Gian…

A palavra te fez se levantar imediatamente. Te alcancei…

– Calma…você dormiu só uma hora… – me abraçou de novo.

– Preciso ir, Endless… – fiz uma careta… – Te amo… – quando você dizia isso, nada mais importava.

Te beijei… – Vai… nosso filho te precisa…depois de amanhã ele vai estar de volta…

Você me beijou mais uma vez e foi pro banheiro. Giovanna dava seu primeiro sinal de fome na noite.

Em casa de Marina, Biel era todo festa. Ficou esfuziante diante da chegada de nossa filha…

– Esse menino não tem jeito… – Sílvia proferia atônita e eu sorria.

Nossa Giovanna estava calada, me olhava de quando em quando. Deixei Biel ficar mais perto. O olhar dele era curioso, parecia detalhar cada pedaço de nossa menina…

– Pronto… quieto assim, acho que se apaixonou…

E, de verdade, ele começou a seguir Giovanna, quieto, apenas se deslocando quando íamos ao quarto ou á cozinha. Quando a deixei num berço improvisado, ele ficou imóvel do lado dela, apenas olhando…

– Olha isso… – Sílvia disse ao perceber essa reação do filho… – Ganhamos um calmante para Biel… – rimos da situação.

Meu celular tocava…

– Lúcia… sim… não se preocupa… ele está voltando amanhã… te ligo pra dizer tudo e quero que você esteja lá pra qualquer eventualidade… tá…obrigada…

Oito horas da manhã. Você e Gian estavam de volta a casa. Senti tua tensão. Esperamos ansiosas a reação dele. O colocamos no quarto, no berço. Ficamos esperando. Giovanna queria comer e eu levei-a para nosso quarto, enquanto você ficou com ele. Quando estive de volta, você amamentava nosso menino.

– Ele não espirrou ainda…

Apesar do alívio aquela frase trazia uma tristeza grande, a que denunciava que nossos filhos primogênitos estavam em maus lençóis.

– Não podemos deixá-los… – você disse comovida.

– Ainda não é o caso… – ouvimos a voz de Lúcia bem atrás de nós.

Na sala, conversávamos com Lúcia, Marina e Sílvia quando a campainha tocou…

– Deve ser a Lídia…

Você abriu a porta abraçando a mulher loura que trazia um embrulho enorme nas mãos…

– Presentinho pros meus fofos… – disse te abraçando longamente.

Quase sem querer olhei pra Lúcia que se apresentou pálida de repente, incomodada, olhando fixamente para Lídia que, ao vê-la, teve a mesma reação. Me ergui e comecei a fazer as apresentações…

– Lídia, você já conhece Marina e Sílvia… – a galega cumprimentou as meninas…

– Esta é Lúcia a pediatra dos gêmeos…

A loura se esforçou num sorriso e ergueu a mão para a pediatra que logo a recebeu na sua…

– Como vai, Lúcia?…

– Prazer… – respondeu a morena.

Entre conversas e comilanças, o dia se passou agradável. Marina e Sílvia foram as primeiras a se despedir levando um Biel exausto e adormecido. Pouco depois foi a vez de Lídia acompanhada de Lúcia que lhe ofereceu carona sem ser recusada.

Estávamos sós.  Já tínhamos amamentados nossos bebês. No quarto, um silêncio forte. Você via uns papéis de trabalho, talvez organizando algumas coisas pra volta ao batente. Aproveitei pra tomar banho, e isto seria uma constante entre nós. Redobrada a higiene pelos recém-nascidos. Quis te encontrar na cama, mas você não estava. Meu receio de tua mágoa ainda pairava sobre mim. Não pude evitar uma lágrima. Senti o peso de seu corpo habitar o colchão…

– Vida?…

Chamei baixinho sem nenhuma resposta, suspirei conformada, mas não consegui evitar dizer… “Te amo… muito…” esperei tua reação. Se viesse ou não, seria a minha verdade: nunca deixaria de te amar. Os minutos, a angústia e a resposta quando teus braços me alcançaram. Quando teu corpo grande se uniu ao meu e tudo se transformou em paz e felicidade… “Eu também…” e o amor  não precisou de voracidade ou aflição, acalmou-se em sua certeza e descansou.

Mas o descanso não durou muito, pois o coro dos famintos começou e entre mamadas e xixis, chegamos a manhã feliz. A babá costumava chegar às sete horas e você ainda dormia daquele jeito que eu amo: toda por cima de mim. Levantei com cuidado pra não te acordar. Fiquei por uns momentos te admirando. A boca entreaberta, o braço esticado para o lado onde eu durmo como se eu ainda estivesse lá, as pernas aparecendo. Pernas minhas que o desejo já implorava pra tocar. Desejo infinito e crescente. Fui acordada pela campainha e corri antes que o barulho te despertasse. Era a babá. Fui com ela até os “lindos das mamães”. Giovanna já estava acordada, mas quietinha. Nosso Gian ainda dormia. Depois de cumprimentá-los com um cheiro nas cabecinhas, voltei pro nosso quarto. Passei por você até o banheiro e fiquei imaginando coisas não muito católicas. Ri de meu estado crítico de inanição sexual. Estava te querendo tanto que, por um momento, pensei em você comigo em baixo da água quentinha do chuveiro, tuas mãos procurando cada parte de meu corpo entregue, sem barreiras. Desliguei o chuveiro um tanto afogueada, prestes a me satisfazer sozinha, mas queria apenas o seu toque, o de mais ninguém. Ninguém poderia me satisfazer a não ser você. Saí do banho. Te olhei e sabia que não estava dormindo, estava apenas de olhos fechados esperando alguma reação minha. Foi então que, sem perceber, eu me despi do roupão e me enfiei embaixo do edredom e nos vimos num abraço forte como se quiséssemos nos fundir em um só corpo…

– Temos que amamentar as crianças… – eu dizia enquanto sentia teus lábios em meu pescoço…

– Sim, temos… – você respondeu sem se afastar um milímetro.

– Meu Deus… precisamos resolver isso logo… – tuas pernas já entre as minhas não me deixavam pensar muito.

– Vamos resolver… hoje… à noite… só nossa…” você dizia enquanto aumentava a intensidade dos movimentos.

Foi quando o berro forte nos afastou de repente…

– É o Gian…

Ouvi suas palavras, ainda mole e sem nenhuma noção. Vi quando foi para o banheiro e ouvi o chuveiro. Me recompus e fui para o quarto dos bebês. Peguei Giovanna no colo, a cabecinha se movimentava na procura pelo seio e eu o entreguei a ela, os olhinhos fechando e abrindo enquanto sugava forte. Apesar de apenas quarenta e poucos dias de nascidos, nossos filhos eram grandes e nasceram apenas com seis meses. Giovanna já quase adormecia quando você apareceu no quarto, os cabelos molhados. Voltei a dar atenção pra nossa filhota. Senti quando se sentou ao meu lado já com Gian no colo. Ficamos ali nos olhando de vez em quando, enquanto nossos tesouros se fartavam do que era nosso por direito. Teu seio, meu seio. A babá, talvez percebendo o momento íntimo, saiu sem que percebêssemos. Senti uma paz enorme e segurei tua mão. Te sorri. Era essa nossa comunhão. A corrente da qual fazíamos parte ganhara elos novinhos. Estávamos juntas e mais fortes que nunca e isso era o mais importante.

Terminamos com a comilança dos pequeninos e voltamos para o quarto já trocadas de roupa, não resistimos e nos abraçamos…

– Vem comigo… – te puxei pra fora da casa na praia.

Caminhamos de mãos dadas depois abraçadas. Paramos um pouco para contemplar o mar. Senti tua emoção quando vislumbrei algumas lágrimas caírem de teus olhos e tocar meu ombro desnudo pela blusa de alça que eu usava…

– Eu sei… – te disse me aconchegando mais nos seus braços.

– Como estava precisando disso…

Me confundi com tuas palavras…

– Ver o mar?

Alguns segundos para você responder…

– Não… da sua maneira de me fazer ficar à vontade… de me entender sem que eu precise te dizer nada… de respeitar meu silêncio… de me buscar… de me trazer de volta… de não me deixar ir quando não quero…

Me virei pra você surpreendida por palavras tão profundas…

– O dia em que você quiser realmente ir, você irá… eu vou saber… mas estamos, finalmente, juntas… o que nos une agora é muito maior… estamos completas como nunca fomos e isso assusta… eu sei… mas é só olhar para o que construímos… é só fazer valer o nosso sentimento mútuo para entendermos isso… para termos a ideia da grandiosidade que é nossas vidas juntas… agora com eles… com nossos filhos… com nossas amizades… com tudo que realizamos durante todo esse tempo… um filme? Não… uma saga… uma história de amor… que se fez do pequeno ao maior… tenho orgulho de ser sua amiga… tenho o maior prazer de ser sua amante… e te sigo com a maior convicção de minha vida: ser feliz… te fazer feliz…

Um beijo de amor selando, enfim, a nova fase da família Love.



Notas:



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