TRÊS ANOS DEPOIS.

Essa era uma das viagens mais longas que você já havia feito. Uma dor fininha em meu peito denunciava o extremo da saudade. Tão difícil acordar sem teu pescoço para mordiscar, sem teu peso sobre mim. Era como se eu estivesse oca, incrivelmente vazia. Fazia vinte dias e ainda faltavam mais dois para que eu pudesse sentir tua pele na minha, receber teu beijo, fazermos bagunça na cama com os gêmeos e nossos filhos gatos. Ri quando lembrei tua reação depois de se divertir pra caramba. Ficava fula dizendo que era a última vez que fazia isso, me dando aquele olhar matador. Saudade… Agora entendo porque é uma palavra que existe só quando se sente. Falamos no skype até tarde. Dissemos tudo o que a falta nos permitiu dizer. Comecei a dar detalhes de como meu corpo sentia vontade e de como era difícil contornar a excitação. Teu rosto começou a ficar estranhamente rubro e me pediu para parar antes que fizesse algo que achava extremamente embaraçoso: sexo virtual. Atendi ao seu apelo, falamos mais algumas bobagens e encerramos a conversa com um “eu te amo” mútuo.

Depois que você se despediu, ainda fiquei olhando para o monitor relembrando sua imagem. Quase que ouvindo sua voz me dizendo da saudade. Teus olhos, um brilho incomum. Minha vontade de você aumentando como se pudesse ser maior do que já era. Ouvi o choro de Giovanna e fui ver o que acontecia. Ela estava sentada segurando o ursinho que você trouxe para ela do Canadá, esfregando o olhinho. Gian nem se mexia, até ressonava, lembrando você novamente.

— Vem cá, vidinha. — coloquei-a no colo, ela me agarrou e o choro voltou com vontade.

— Sonhei que mami Cris não conseguia mais voltar pra casa!

Senti o corpinho tremer. — Shhh… Isso não é verdade, filha. Foi só um sonho mau. — beijei-lhe a testinha.

— Quero falar com ela. — o pedido fora feito daquela maneira que só você e ela sabem fazer.

Suspirei olhando para o relógio que ficava na parede do quarto. Era tarde, se ligasse e te acordasse no meio do sono levaria um sonoro “ligue amanhã” e ouviria o click do fone me dizendo para não insistir. Disquei o número e, antes de apertar a tecla de início, pedi a Giovanna que falasse assim que você atendesse. Senti-me uma covarde, mas seria melhor você ser acordada por sua filha e se conter no momento, mesmo sabendo que eu ouviria depois.

— Mami! — Giovanna gritou quando ouviu sua voz sonolenta. — Mami, volta logo! Tive um pesadelo… Que você não voltava pra casa… — o muxoxo e a voz embargada pelo choro.

Ouvi tua voz nitidamente pedir a ela que se acalmasse que você a amava muito e que já estava voltando com vários presentes, e nossa filha sorriu de alegria, mas o que você disse depois me deu arrepios.

— Deixa eu falar com a mamãe Endless, certo? Vá dormir com os anjinhos.

Depois de despedidas com beijinhos Giovanna me deu o celular e deitou aninhando o urso nos braços.

— Muito espertinha. Achou que se livraria de meu mau humor quando sou acordada no meio da noite? — eu me segurava para não gargalhar.

— Nem por um segundo. Acho que nem conseguiria dormir sem isto. — não segurei mais e explodi numa risada.

— Está se divertindo, não é? Aguarde-me, Senhora Love. — e você desligou sem mais nenhuma palavra.

****

— Por que temos que ir pra casa da Tia Marina? Queremos ver a mami.

Giovanna já protestava enquanto eu terminava de arrumá-la quando Gian soltou uma.

— Porque hoje é dia de irmos ao sítio ver os animais, esqueceu? — que menino esperto o nosso.  — E mamãe Endless já explicou que mami Cris chega tardão e nem vamos poder vê-la porque estaremos dormindo e amanhã elas vão nos encontrar lá, não é mamãe? — segurei-o nos braços e o apertei forte.

— É claro que sim, garotão… — olhei Giovanna de soslaio, parecia pensativa. — Então, madame? — a conhecida buzina a tirou do devaneio. — Sua tia está esperando, vamos? — ergui a mão para que ela segurasse e saímos sem mais protestos.

Ansiedade… Esta era a palavra para me decifrar durante todo o dia. Não me esqueci de nenhum detalhe, tudo para te satisfazer, nos satisfazer. Dez e meia. Depois de preparar tudo só faltava esperar. Pus uma música suave e deitei um pouco no sofá. Ouvi as chaves na porta e senti a primeira taquicardia da noite. Teu cheiro veio primeiro, os passos vinham em minha direção e pararam. O ruído da mala solta no chão foi de propósito, mas continuei com os olhos fechados. Os passos se aproximaram junto com o perfume inconfundível. Senti teu peso ao sentar no sofá e teus braços próximos a minha cabeça. O calor de teu hálito atingindo em cheio minhas narinas. Não suportei e sorri antes que nossas bocas se encontrassem de maneira quase selvagem. Nos soltamos quase sem ar, tua respiração arfante.

— Deus, como eu precisava disso… — te ouvi dizer antes de nos beijarmos mais uma vez. Tuas mãos se infiltrarem sob minha camisa numa urgência visceral.

— Espera, vida. — segurei seus movimentos com delicadeza, beijando teus dedos com carinho. — Sente… — coloquei sua mão para que percebesse as batidas de meu coração. Encarei teus olhos com toda minha emoção. — Como da primeira vez. É assim que me sinto quando você me toca… Sempre. Preparei uma surpresa… — me ergui te trazendo junto.

Já no quarto,  despi você das roupas bem devagar, apreciando cada parte que se mostrava, me segurando para não te comer inteira ali mesmo, mas precisava desta demora. Precisava desta comoção de te redescobrir mais uma vez. A banheira esperava para um banho merecido. Uma taça de champanhe te aguardava na beirada, velas aromáticas. Você aconchegou-se na água querendo me trazer junto, mas evitei, te dando um beijo suave nos lábios. — Te aguardo na sala de jantar. Não tenha pressa… — vi teus olhos se fechando de prazer antes de sair.

Nossa comida preferida, champanhe no gelo, teu corpo em minhas costas num abraço carinhoso. — Te amo… — sussurrei ao sentir tuas mãos em meu ventre numa carícia gostosa.

— E eu cada vez mais. Não sabe o quanto esperei por esta tua dedicação, esta delicadeza, esta paixão. Este jeito de me adivinhar, de me dar prazer sem nem me tocar de verdade…

Nos beijamos de novo, desta vez com mais calma. Durante o jantar íamos contando novidades, conversando sobre os gêmeos, nos entendendo como casal.

— Um brinde. — ergui meu copo com água Perrier e toquei tua taça. Você fez o comentário.

— Água? Achei que hoje você se permitiria…

Coloquei minha mão sobre a sua te olhando profundamente.

— A única bebida capaz de me embriagar é a que vem de tua boca. Não necessito outra.

— Tem certeza?

Então a segunda taquicardia da noite aconteceu quando te vi levantar e vir até mim. Tuas mãos seguraram as minhas.

— Vem… Tenho fome…

E as batidas do coração saíam à revelia, sem ritmo, desengonçadas, mas fortes. Fomos andando devagar até o quarto onde a penumbra era perfeita. Da varanda vinha o murmúrio do mar, acalentado pela luz intensa da lua cheia que penetrava sem ser convidada. Minha boca alcançou teu pescoço enquanto tuas mãos me despiam. Aproveitei e te livrei do roupão que cobria todo o tesouro que me havia sido ofertado por Deus. De todas as carícias já intentadas não sobraram sequer um suspiro. Nos demos tudo, nos entregamos tudo e, como o milagre da vida, renascemos de nós selando a felicidade real.

Manhã. A cadência de tua respiração afetando o palpitar em meu peito por te saber viva e grudada a mim como uma segunda pele. No teu rosto os sinais do cansaço. Os lábios deixavam escapar entre eles teu ar quente, vital. Quis respirar dele e o fiz. Quis me deixar aspirar para dentro de você. Me perder e me misturar. Essa ideia me causou quase uma dor e, não resistindo mais, percorri o caminho mágico com meu nariz que ia do canto de sua boca até o pescoço, e permiti o contato ardoroso de minha língua ali, lugar meu, meu segredo… Meu desejo, meu limite entre o tudo e o mais que tudo. E fui esmagada por teus braços e pernas, e teu sexo quente se fez molhado, pincelando minha coxa num sobe e desce vagaroso e sutil. Agora eu já não respirava mais. De teu pescoço, minha língua aventurou-se na busca de teu seio. Ouço o primeiro gemido. A pele suada era o adesivo perfeito. Os pingos de suor escorriam e encontravam meu paladar acostumado a teu gosto. As minhas mãos apalparam a maciez de tuas nádegas e eu as pressionava, ajudando em nossa dança visceral. Te adivinhando, pronunciei as primeiras palavras…

— Vem, minha vida… Solta pra mim, me dá tudo…

Teus sons eram puros e arrebentavam em meus ouvidos como borrascas, devastando tudo o que fosse real. Estávamos chegando. Os sinais eram cada vez mais fortes. E aconteceu de você abrir as portas misteriosas dos seus olhos diante da eminência do gozo poderoso prestes a nos levar para onde sempre queremos ir e voltar como as ondas. Vi dentro deles o espanto da entrega, quando teu líquido jorrou abundante. Depois de segundos em que pensei termos nos ausentado da vida, você me pergunta assustada.

— O que aconteceu? — tua voz fraca me incentivou a te abraçar e beijar com ternura. Você continuou com a interrogação escrita no rosto. — Nunca foi assim tão forte…

Te beijei de novo e de novo. — Foi uma recompensa então. — sorri e você me abraçou mais, acordando novamente o meu desejo, quando o telefone fixo começou a tocar.

Você me soltou aborrecida e atendeu irritada.

— Filha? – a vozinha de criança te deixou sem graça. — Sim, meu amor, vou sim. Giovanna?!! — entendi que ela já reclamava da nossa demora em chegar lá. — Você precisa ter paciência, minha filha!

Te olhei de banda e soltei.

— Olha só quem fala!  — recebi um tapa imediato no braço que atiçou meu fogo, me fazendo avançar para você, te enchendo de beijos maliciosos por todo seu corpo.

— Quer parar?! — depois do seu grito teve que se retratar com Giovanna. — Não, meu amor, não foi com você. Mamãe tem que desligar, tá certo?… Gian? Filho… O quê?! Pônei?! O Biel ganhou um pônei. — você disse já deixando transparecer um pouco de exaspero. — Sei, meu querido, mas você ainda não pode… Giancarlo, quer me ouvir?! Não quero você montando nele, entendeu?! Falamos sobre isso quando eu chegar aí. Gian? Gian?…Oi, Marina… — agora seu olhar já revirava demonstrando a impaciência. — Sim, cheguei bem, obrigada. Chego aí no fim da tarde. Sei… O pônei… Não, eu não quero que ele monte, está bem? Obrigada mais uma vez. Até mais. — após desligar você se jogou sobre mim. — Onde estávamos?

Depois de outras experiências prazerosas acabamos adormecendo. Levantei ainda sonolenta e fui realizar os rituais matinais. Quando saí do banho você não estava mais na cama. Senti que algo estava te preocupando desde o telefonema dos gêmeos, e foi no quarto deles que fui te encontrar, sentada na cama de nosso menino segurando a foto dele.

— Ele vai ficar bem. — você se assustou e disfarçou as lágrimas secando-as rapidamente.

Me aproximei e te abracei forte.

— Ele quase não nos pede nada tão diferente de nossa filha que insiste e argumenta até não aguentar mais. — sua voz ficou chorosa ao dizer estas palavras.

— Ele sabe que, se você negou, tem bons motivos. É assim que ele é. — beijei teus cabelos. — Agora, já pro banho, mocinha. Vou preparar algo para comermos antes da viagem.



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