Meia hora depois já estávamos no carro. Coloquei uma manta grossa em suas pernas.

— Pra quê isso? — a pergunta foi feita enquanto eu reclinava sua poltrona e te cobria até o pescoço.

— Pra você descansar mais um pouco. Sabe que me preocupo.

Beijei teus lábios com carinho, fixei meus olhos nos teus e repeti a frase que mais preciso falar quando estamos juntas: “Te amo”. Voltei a te beijar, mas dessa vez com mais intensidade. Partimos. No caminho recebi algumas ligações do boss. Estranhei ele me ligar pessoalmente já que estava afastado dos negócios há muito tempo. Resolvi não atender pra não atrapalhar seu sono, ligaria da chácara.

Mal estacionamos e já ouvíamos os gritos de Giovanna que, simplesmente, te atacou com perguntas e exigências, e reclamações e muitos beijos. Era nossa garota.

— Onde está seu irmão? — tua pergunta demonstrava preocupação.

— Está com Sílvia e Biel cuidando do pônei. Não se preocupe, ele não montou.

Marina respondia ao nos abraçar.

Vi você seguindo para os estábulos com pressa, então aproveitei para falar com o boss. Depois de quinze minutos da minha conversa com ele, minha cabeça fervia com pensamentos mil. Fui te procurar para contar a novidade, mas tive que parar embasbacada com o que via a minha frente: você montada num alazão negro, cavalo de Sílvia, com nosso menino na frente seguro por teu braço. Os risos de vocês eram idênticos. O brilho dos olhos, o formato dos dentes. Naquele momento entendi seu jeito de amar nosso filho. Minha garganta doía tentando conter o choro de emoção porque um sorriso imperioso tomava conta de mim. Nosso menino me viu e acenou gritando que estava montando. Vi quando você desmontou e veio em minha direção abraçada a ele.

— Será um excelente cavaleiro. — me beijou de leve envolvendo minha cintura com seus braços.

— Se puxar a você, com certeza. Precisamos conversar. — sussurrei em seu ouvido e entramos.

Jantamos todos juntos. Sílvia contava de como Biel tinha jeito com animais e estava animada com um futuro “sócio”. Ajeitamos nossos bebês para o sono. Marina e Sílvia se despediram e foram para a cama também. Peguei uma garrafa de seu vinho preferido, duas taças, roupões e toalhas, e levei tudo para a piscina coberta que ficava ao lado da casa principal. Acomodei tudo à beira da água. Me aproximei de você e, sem nenhuma palavra, comecei a te despir. Meu olhar pouco desviava do seu, tentando encontrar a maneira certa de te dizer o que fora a conversa com o boss.

Fui te puxando pra dentro d’água depois de tirar minha própria roupa. Nossos corpos se grudaram atraídos pela força do desejo que já nos consumia. De repente precisava falar.

— Sabe qual meu maior sonho?

— Escrever um livro? — você respondeu rápida me fazendo sorrir e beijar a ponta de seu nariz.

— Este é apenas a consequência de um sonho maior: ter tempo para cuidar de você e de nossos filhotes. — você me encarou com olhos de quem quer a resposta imediata. — O boss me fez uma proposta de trabalho hoje à tarde. Quer que eu passe um ano em Djerba comandando um projeto de desenvolvimento turístico na ilha. O orçamento é da ordem de 10 bi e eu levaria 5 milhões de euros pelo serviço. — você se afastou incrédula.

— É muito dinheiro.

Te trouxe de volta pro meu abraço.

— Garantiria o futuro de nossos filhos e eu poderia parar de trabalhar viajando. Quem sabe, investir num negócio só nosso que você tocaria, mas, como deixar vocês por um ano? Eu… Eu…

Já não conseguia falar direito. O fato de ficar longe estava me assustando demais. Sua mão acariciou meu rosto e seus lábios cobriram os meus por alguns segundos.

— Vamos estar com você de todas as maneiras que forem possíveis. A net e a aviação vão estar do nosso lado. Vamos te ver sempre que possível e não vai ser pra sempre. O tempo vai nos ajudar passando bem rapidinho, você vai ver.

Nos abraçamos cúmplices.

— Tem mais um detalhe… — olhei diretamente nos seus olhos. — Eu não irei sozinha. Glória irá comigo. — a sua reação foi a esperada.

— Por que ela?! — perguntou enquanto enchia a taça de vinho e sorvia de um gole só.

Fui devagar até te envolver por trás, acariciando seu ventre e te sugando o pescoço. O estremecimento de teu corpo me encorajou a continuar.

— Não fui eu quem escolheu, mas, no lugar do boss, não teria outra opção.

Você se virou pra mim com olhos desafiadores.

— Tenho certeza disso!

— Ela é muito boa no que faz, vida. Com ela do meu lado posso voltar pra casa mais cedo. — e teu olhar passou do irônico para o receoso.

— Ela vai tentar te seduzir.

Segurei seu rosto com as duas mãos e respondi convicta:

— Sim, vai, mas nada que ela “tente” fazer conseguirá superar o que causa teu olhar no meu, tua mão em meu corpo, teu cheiro me invadindo, me tomando por inteira. Olha pra mim. O que vê em meus olhos? — peguei sua mão e coloquei no peito onde batia desesperado o meu coração. — E aqui? — nos abraçamos com carinho. — Eu sou sua, nunca fui de ninguém, só sua. Desde o primeiro “olá” pelo e-mail, desde a primeira palavra pelo telefone, desde o primeiro olhar. — senti teu corpo relaxar no meu e suas dúvidas vieram.

— Ela é tão… tão…

— Sacana? Egoísta? Rancorosa? — enquanto eu ia pronunciando estas palavras você apertava mais o abraço. Afastei-me um pouco pra te olhar e dizer. — Cris, se você me disser que essa situação vai te causar algum desconforto, se você acredita que eu possa sucumbir aos atentados daquela doida, eu desisto de ir.

Você tapou minha boca com a mão, foi retirando devagar e, num ímpeto, me tomou os lábios com sofreguidão, marcando meu corpo com as mãos ávidas.

— Agora vou te mostrar porque você é minha, só minha… — e o incêndio nos consumiu durante boa parte da noite.

QUINZE DIAS DEPOIS

Ali, em nosso quarto, fiquei observando teu corpo nu. Eu já estava de saída e esta era a visão que ficaria cravada em minha mente. O quadro que me daria forças para encarar todos os dias de solidão.

Combinamos de não haver despedidas. Fizemos amor como loucas à noite passada. Te cobri com o edredom e, ao fazê-lo, recebi teu abraço gostoso que retribui com um beijo longo em teu pescoço.

— Hasta la vista, mi corazón…– te disse com o peito comprimido.

— Hasta la vista, cariño… — tua voz de sono como sempre amei.

VOCÊ…

A noite antes de você partir havia sido intensa. Meu corpo ainda absorvia a força e o carinho dos toques, a sagacidade das inúmeras danças e gostos. Despertei imediatamente após teus braços me abandonarem na cama, mas fingi que dormia. Sei que não queria despedidas. Combinamos. Fiquei deitada ouvindo cada ruído feito por você, até o momento em que ficou me observando e se aproximou para me cobrir, então não resisti mais e te abracei, já carente de tua presença. Teus lábios em meu pescoço me deram força para enfrentar nossa batalha e dissemos palavras de amor. Deixei que você fosse por amor de nossa vida juntas, mas meu coração se contorcia de saudades. Eu não havia dito, mas você não seria a única a sofrer com esta separação.

Depois de algum tempo, me levantei para ver os gêmeos e a sensação de vazio foi quase que anulada. Lá estavam dois pedaços lindos de você. Bertha já havia chegado, dava pra sentir o cheiro bom que vinha da cozinha. Teria que acordá-los, uma tarefa que era sua. Dava-lhes banho, vestia-os, acompanhava-os no desjejum e, antes de levá-los para a escola, vinha me mimar com um carinho que dificilmente deixava de acontecer. Lágrimas vieram rápidas e me perguntei surpresa, o que estava acontecendo comigo. Nem percebi Giovanna perguntar por você, ainda sonolenta.

— Tem que acordar o Gian ou ele vai se atrasar… Mamãe Endless acorda ele primeiro.

Tentei algumas vezes sem sucesso.

— Mami, tem que por ele no colo, tirar o pijama e massagear as costas dele.– ela mais uma vez me dando a dica.

Giovanna já tomava o banho.

— É dia de lavar o cabelo, mocinha?

Ela gritou do banheiro que a aula de futebol era hoje e não adiantava lavar antes da escola. Uma senhorita cheia de responsabilidades. Gian já pegava seu material e separava a farda, metódico, organizado. Giovanna apareceu já quase vestida, pegou a escova de cabelo e me entregou.

— Dia de futebol tem trança.

Sentou no meu colo me dando as costas e esperou. Momentos que você vivia todos os dias e que eu estava adorando viver pela primeira vez. Estavam prontos e seguiram para a cozinha. Bertha aguardava com o desjejum pronto. Voltei pro quarto para me arrumar ou eles se atrasariam e eu também. Qual não foi minha surpresa encontrar uma caneca com leite queimado e canela, fumegante. Um bilhete acompanhava o presente…

“Toma todo porque sei que está atrasada (rsrsrsrs!!), espero que Bertha tenha acertado o ponto. Bom dia, minha vida! Aposto como adorou acordar nossos bebês. Eles são muito responsáveis. Te dou um beijo gostoso agora e desejo que o dia seja interessante. Não sei se Giovanna lhe informou, mas ela tem futebol hoje. O material já está arrumado em cima da cômoda deles. Te amo.”

Meu coração estava em festa.

“P.S.:  Tem uma surpresinha pra você na gaveta do criado mudo do lado que você dorme. Espero que goste. Bjs.”

Depressa, retirei a caixinha de veludo azul e uma rosa de mesma cor amarrada a outro bilhete. Abri-a e uma corrente de ouro saiu de lá. Um pingente com as letras “E” e “L” entrelaçadas. No bilhete…

“Gostaria de estar aí para colocá-lo pessoalmente. Usa sempre, porque vou passar a eternidade com o meu. Te amo, nunca esquece.

Sua Endless Love.”

DIAS… MESES… O TEMPO PASSANDO… E A SAUDADE…

Mais de dois meses e ainda não conseguíamos tempo para nosso primeiro encontro. No trabalho tentava me concentrar e era o que me ajudava a não pensar na sua falta. No meio desses devaneios, o sinal de mensagem em meu celular me assustou. Era você. Meu sorriso estava de volta.

— “Bom dia, minha linda esposa, como está o céu aí? Espero que esteja azul. Pode conferir pra mim?”

Guiada por suas palavras, fui até a janela e ergui a cabeça para te informar e o que vi foi sem precedentes. Escrito com fumaça, o seu recado: “Te amo! E.L.”

— Sua louca! — murmurei baixinho.

Mais um sinal de mensagem.

— ”Louca por você, sempre!”

E gargalhei como havia tempo não fazia, deixando o pessoal do escritório sem entender com exceção de Lídia que já se acostumara com suas maluquices.

O celular tocou e atendi prontamente.

— Oi…

Meu coração veio a boca ao ouvir sua voz.

— Que ideia mais maluca.

— É culpa sua, você me inspira a fazer essas coisas. Vou estar no skype mais cedo para ver nossos filhos e, depois, quero uma sessão a sós… Quero fazer amor…

Eu sorri envergonhada. Isso mesmo: envergonhada.

— Sabe o que acho de fazer isso pela net.

— Por favor, vida, faz isso por mim. Se ficar muito ridículo a gente dá uma boa gargalhada e se despede, certo?

Dei uma pausa de alguns segundos antes de concordar.

— Está bem, sua louca. — ouvi o risinho vitorioso do outro lado.

— Só por você, meu amor. Um beijo e até mais tarde.

— Beijo, te amo. — achei que não tinha ouvido, pois demorou a responder.

— Eu sei. — um sussurro meio sufocado veio como resposta e desligamos emocionadas.

As crianças se divertiam com você. Mostrou para elas uns brinquedos que comprou. De repente percebi o ambiente escuro em que você estava. Perguntei e me disse que estava fora do quarto para ter mais privacidade para mais tarde e senti a malícia na voz. Me arrepiei inteira. Você se despediu das crianças e me pediu para me preparar. Desconectou dizendo que em meia hora retornava. Suspirei, já prevendo como seria difícil te atender nesse pedido. Sexta-feira, noite clara de lua. Gostávamos assim. Romântico. Muitas vezes passeávamos pela praia antes de… Só de pensar me sentia quente. Depois de um banho demorado, vesti a camisola que você me deu antes de viajar. Lembrei-me da última noite. Posicionei o notebook no meio da cama e conectei. Você já aguardava.

— Deus! Valeu cada minuto de espera. Você está linda… Minha esposa linda…

Só estas palavras já me encheram de um tesão descontrolado. Vi em seus olhos um furacão prestes a me devastar inteira.

— Eu te quero tanto…

Ao dizer estas palavras, sua imagem sumiu da tela.

— Que houve, Endless? — perguntei, já mexendo na webcam.

— Não sei, acho que minha câmera pifou. Droga! Só tem uma maneira de poder te ver…

Me levantei da cama irritada quando a porta do quarto se abriu e você entrou me matando de susto e de prazer.

–… ao vivo e a cores.

Corremos para os braços uma da outra.

— Achou mesmo que me contentaria em te amar a distância? Estava mesmo disposta?

Eu disse que sim bem baixinho, escondendo meu rosto em seu ombro para que não visse a vermelhidão que o constrangimento me causava.

— Eu nunca faria você passar por isso, vida. Sei o quanto preza sua intimidade. É uma das infinitas coisas em você que eu admiro. Amor com você, só assim, olho no olho… Corpo no corpo. Mas é bom saber que você transporia essa barreira por mim. Prova de amor. Acho que abusei, não foi?

— Mais do que imagina, mas amo quando me faz sentir emoções fortes. Amo esse seu jeito de me dar essas surpresas. Como conseguiu?

Você se separou de mim, acariciou meu rosto com carinho. Seus dedos tremiam. Vi uma lágrima rolar e a impedi de seguir o rumo até seu queixo.

— Me matei de trabalhar e adiantei o projeto em um mês. Fui premiada com esse fim de semana só para nós. — você levou minhas mãos à boca, beijou-as com cuidado e apertou-as contra seu seio. — Então, minha doce ama, estou aqui. Diga-me o que quer de sua aia e ela satisfará cada desejo.

Sorri o mais safado que pude e respondi já te puxando para a cama.

— Vai ter que adivinhar cada um, linda.

E você adivinhou todos. Nunca estive tão feliz em estar estupidamente exausta. Quando te olhei pensei que estivesse dormindo, a viagem e tudo o mais que você inventou durante o dia poderia ter te derrubado, mas não, me olhava com tanto sentimento que me fez aninhar-me mais em seus braços.

— Cansada? — perguntei por perguntar.

— De você, nunca, mas confesso que adoraria um banho. Vem comigo?

Não recusaria esse pedido por nada, afinal o queria tanto quanto você. Nos demos massagens. Ficamos quietas por minutos infindáveis na banheira de água quente e aromática. Trocamos as roupas de cama, colocamos pijamas confortáveis e nos preparamos para o desejado descanso, quando…

— Mamãe Endless?!!



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