Dois meses se passaram e, apesar de não estabelecerem nenhuma definição para a relação que tinham, Emma e Catherine continuavam juntas. Nicole sofria sempre que tinha que ver as demonstrações de carinho e os olhares que elas lançavam uma a outra quando Cathe aparecia na livraria. Elas não estavam realmente namorando, mas tinham um relacionamento estável e se respeitavam, Catherine era completamente fiel e a loira parecia feliz. O que ninguém sabia era que a única pessoa a realmente estar conquistando a confiança total de Emma era Nicole.

Certo dia, era um sábado, elas saíram juntas da livraria. Nicole havia se oferecido para ajudar Emma a retirar uma velha prateleira para montar a nova que havia comprado a alguns dias. Claro que ela só o fizera por saber que a loira precisaria de ajuda já que Cathe estava em constantes ensaios com a banda, onde agora era a segunda guitarrista oficial. Nic evitava sempre estar onde as duas estavam juntas, ficava tão desconfortável que por vezes Anton tinha que lhe dizer para disfarçar, então passou a evitar essas situações. A desculpa de que tinha que começar a estudar para entrar na universidade foram muito usadas nas noites em que insistiam para que ela acompanhasse a todos em algum show ou festa.

Era 20 horas da noite quando elas chegaram no apartamento de Emma. Sabendo que terminariam aquilo tarde a loira já havia convidado Nicole a dormir ali. Ela ainda não havia aceitado, mas prometeu responder quando terminassem. Durante a desmontagem da prateleira Emma se sentiu aliviada por Nicole estivesse ali. O móvel era incrivelmente mais pesado do que ela poderia imaginar e os parafusos estavam enferrujados e travados na madeira sendo difíceis de se retirar. A loira sabia que ela e Cathe nunca teriam conseguido retirar a prateleira com a mesma segurança que Nicole o fez e ficou incrivelmente aliviada de ter a amiga ali a ajudando porque Nic conseguiu lidar com todos os parafusos.

Mesmo sendo a mais baixa de todas ela conseguia ser a mais forte. Isso porque seu pai era muito rígido com seu físico. Sendo ex militar e trabalhando como vigia ele acabava tendo acesso a diversos cursos e sabia muita coisa. Sempre fez questão de que Nicole praticasse muitos esportes e ela realmente o fez durante a escola. Depois manteve uma rotina de exercícios junto com o pai que também lhe dava aulas de defesa pessoal. Isso a fazia ser bem mais forte que Emma e Catherine juntas e só não mais forte do que Anton porque o rapaz frequentava a academia.

O relógio marcava quase 23 horas quando elas terminaram. Cathe já havia enviado uma mensagem a Emma dizendo que tinha ido para casa e Nicole resolveu ir no dia seguinte. Estavam as duas deitadas no tapete da sala, uma ao lado da outra, encarando o trabalho recém terminado. Não falavam nada até a loira comentar sobre se lembrar da última vez que havia montado e organizado uma prateleira. Quando Nicole perguntou quando havia sido ela disse que foi quando tinha 14 anos e ela e a mãe decidiram montar a prateleira nova do quarto dela sozinhas.

Nicole se sentou rapidamente porque sabia que, as vezes, a amiga falava sobre a mãe, mas logo depois ficava quieta e tentava ficar sozinha. Mas daquela vez Emma não ignorou o seu passado e perguntou se Nicole aceitava ouvir a história toda sobre a vida dela. Depois de dizer que a loira não precisava contar, mas que ela estaria sempre ali para ouvir, Emma começou sua narrativa.

Aos 7 anos seus pais se separaram, seu pai já tinha outra mulher que estava esperando um bebê. Sua mãe a criou até os 15 anos quando acabou morrendo num trágico acidente de carro quando um motorista irresponsável bateu de frente ao carro dela numa rodovia quando ela voltava de uma viajem de negócios a uma cidade vizinha. Emma teve que se mudar para a casa do pai e ele assumiu o controle de um fundo de investimentos que era herança da mãe dela. Havia apenas uma única coisa na qual ele não poderia mexer que era uma poupança no nome de Emma que só poderia ser movimentada por ela quando completasse 18 anos.

Seu pai preferia seu meio-irmão mais novo e ela acabava um tanto excluída dentro de casa. Até que fez 16 anos e o pai descobriu que ela era bissexual, depois disso a indiferença virou raiva e nojo. Ela era maltratada, humilhada e desprezada dentro de casa e passou a contar os dias para quando completasse 18 anos e pudesse ter acesso à sua poupança. Descobriu que o pai desviava dinheiro dos investimentos em seu nome. Mesmo podendo pagar uma escola melhor ele a manteve matriculada na pior escola pública possível. Andava de ônibus e tinha que se virar sozinha com almoço e qualquer outra coisa.

Quando completou 18 ela saiu de casa e contratou um advogado com o dinheiro da poupança. Por um ano houveram disputas entre ela e o pai. A primeira decisão foi favorável a ela e o pai teria que devolver o controle dos investimentos a ela, mesmo que ainda não tivesse 21 anos. Depois ela entrou em outra batalha judicial para que o pai fosse obrigado a devolver toda a quantia que deveria ter sido destinada a ela. Nisso se foi mais um ano de batalhas que seu pai voltou a perder. Depois disso ela decidiu que não queria nem sequer correr o risco de encontrar o pai novamente. Dessa forma ela se mudou logo antes de completar seus 21 anos e foi parar ali.

Quando terminou sua história Emma já não controlava as lágrimas. Para ela era incrivelmente difícil se recordar daquele período difícil e isso lhe trazia muita dor. Ela já tinha se sentado, mas não estava mais olhando para Nicole, por isso não percebeu a movimentação da menor. Quando notou estava sendo trazida para próximo da mais nova. Nicole se recostou contra o sofá, ainda sentada no chão, e puxou Emma até a loira estar sentada entre suas pernas. Antes que ela entendesse o que a menor estava fazendo os braços de Nicole já estavam em volta dela apertando-a e trazendo para a loira uma sensação de proteção e tranquilidade que Emma não esperava.

Por vários minutos ela continuou com seus braços em volta da loira, suas mãos acariciavam tranquilamente os cabelos e as costas de Emma que, aos poucos, foi acalmando seu choro. Quando os soluços pararam e ela já tinha voltado a respirar normalmente Emma afastou seu rosto do pescoço de Nicole para olhar nos olhos castanhos dela. Antes que ela conseguisse dizer algo Nicole afastou os fios dourados de seu rosto e limpou delicadamente suas lágrimas.

– Obrigada – sussurrou Emma admirando a expressão tranquila da mais nova – Obrigada por me ouvir e por estar aqui. Nunca disse nada disso a ninguém – ela comentou evitando olhar os olhos castanhos – Nunca notei o quanto precisava externar essas coisas.

– Eu sempre vou ouvir você – Nicole disse terminando de limpar o rosto de Emma – Sempre pode contar comigo, Emma. Eu sempre vou estar aqui do seu lado por você. Para tudo o que você precisar vai me ter por perto.

Emma deu seu primeiro sorriso desde que contou sua história e, nessa hora, Nicole sorriu também puxando a amiga de volta para seus braços. Mas antes de Emma voltar a se aconchegar nos braços protetores da menor Nicole pousou um suave beijo na testa da loira antes de puxá-la para seu corpo. Emma acabou se aconchegando ao peito de Nicole e se deixou descansar por estar se sentindo protegida. As lembranças já não a incomodavam mais e, pela primeira vez, ela se sentia confortável após pensar nelas.

Dali em diante a cumplicidade e a proximidade entre elas aumentou muito. Emma confiava em Nicole mais do que em qualquer outra pessoa e as duas estavam o tempo todo juntas, exceto quando Emma estava com Catherine. Nesses momentos Nicole se afastava o máximo que podia e tentava sempre não estar perto o bastante para cair na tentação de olhar a interação das outras duas. Anton ainda lhe dizia para tentar algo com Emma, mas ela já havia se convencido de que Emma só via nela uma grande amiga.

Certo dia elas estavam caminhando na direção da casa de Nicole. Naquele dia ambas haviam sido liberadas mais cedo por conta de um feriado. Emma havia se ofereceu para ir ajudar quando Nicole contou que iria chegar em casa e separar alguns livros que mandaria para a doação ou que iria vender. Nicole aceitou a ajuda já que tinha muitos livros e seu pai estaria trabalhando naquela noite e não poderia ajuda-la.

Elas acabavam de sair de perto do shopping quando uma moto se aproximou. Ambas pararam e olharam para a moto que estacionava na calçada logo a frente delas. Era Catherine que sorriu para as duas e esperou Emma se aproximar. Nicole a cumprimentou e seguiu caminhando lentamente para não ter que encara-las. Emma se recostou na lateral do corpo de Cathe tendo sua cintura abraçada e as duas sorriam uma para a outra enquanto combinavam de se encontrar no apartamento da loira mais tarde. Emma logo se despediu dizendo que iria ajudar Nic com alguns livros. Catherine foi embora e as duas voltaram a caminhar, mas Nicole acabou ficando mais calada.

Quando chegaram as coisas foram voltando aos poucos ao normal. Nicole se desculpou pela bagunça e Emma não se incomodou porque não estava nada realmente bagunçado. Pelo menos não até que elas entraram no quarto da garota. Haviam livros espalhados por absolutamente todos os lugares. Várias pilhas ao lado da cama e muitos deles ainda organizados em algumas prateleiras e sobre uma mesa no canto próximo a janela.

Elas começaram trazendo duas caixas que estavam embaixo da mesa para o meio do quarto. Depois os livros eram trazidos em pilhas e elas liam os títulos uma para a outra e conversavam sobre eles para Nicole decidisse o que seria feito do exemplar. Emma ria toda vez que a mais nova reclamava que gostava muito de um livro para se desfazer dele, porque a loira percebeu que ela falava isso de praticamente todos os livros que tinha. Elas ficaram ali por algumas horas até que a caixa de doações estava cheia.

– Ah Eu não aguento mais – falou Nicole se levantando e deitando em sua cama, ela já havia tirado seus tênis a muito tempo – Acho que não consigo vender meus livros – ela comentou rindo e fechando os olhos com os braços abertos.

Uma de suas mãos ficou pendurada para fora da cama, a outra estava apoiada na parede. Emma riu e organizou a última pilha de livros que estava no chão. Fechou as duas caixas e se levantou. Tirou suas sapatilhas e sentou na cama ao lado do quadril de Nicole que deixou o braço que estava na parede cair sobre seu rosto.

– Sabe que tem que arrumar essa bagunça não sabe? – perguntou a loira num tom divertido, ela acabou tendo que rir pois os lábios da mais nova formaram um bico em desagrado – Ao menos tem que guardar o resto dos livros, Nic.

– Faço isso amanhã cedo – reclamou ela com o braço sobre seus olhos que estavam fechados.

Emma olhou em volta e sorriu, estava cansada também. Retirou suas sapatilhas e resolveu se deitar também. Deitou do lado direito da amiga, virada para a mais nova, com a cabeça sobre o ombro de Nicole e pousou sua mão direita logo abaixo de seu rosto. Sentiu a amiga ficar tensa por um segundo e pensou que fosse apenas devido ao susto por ela ter deitado sem avisar. Emma estava de olhos fechados, mas sentiu a amiga virar o rosto na sua direção e sorriu.

– Você é um ótimo travesseiro – disse ela para Nicole e sentiu o corpo da menor balançar enquanto ela ria de sua afirmação.

– E você é uma grande folgada – retrucou Nicole colocando seu braço direito, que antes estava pendurado fora da cama, sobre os ombros da loira – Mas, como gosto muito de você, te deixo me usar de travesseiro – ela brincou olhando para o rosto tranquilo da loira.

Ambas sempre eram muito carinhosas uma com a outra, mas eram raras as vezes em que Nicole podia ficar admirando Emma tão de perto. Por esse motivo ela não se conteve e ficou olhando para o rosto da amiga tentando controlar os suspiros que queriam sair por sua boca. Em certo momento ela soltou um desses suspiros e deu um beijo no topo da cabeça da loira. Nicole pretendia encarar o teto para não ficar pensando muito na proximidade da amiga, mas antes que ela desviasse o olhar Emma ergueu o rosto e elas acabaram se encarando.

Seus rostos estavam bem próximos e elas acabaram se perdendo no olhar uma da outra. Emma sempre achou que os olhos de Nicole eram como chocolate derretido. Dizia que a mais nova tinha um olhar que fazia as pessoas se sentirem aquecidas e confortáveis. Naquele momento foi isso que Emma sentiu. Ela sentia seu corpo confortável e aquecido e o braço de Nicole sobre seus ombros lhe dava a sensação de estar protegida. Talvez por serem tão boas aquelas sensações ela não tenha se afastado.

Por vários segundos as duas se encararam sustentando os olhares. Até que Nicole tentou desviar seus olhos dos azuis acinzentados, mas ao fazê-lo acabou pousando seu olhar nos lábios da loira. Sem conseguir se conter ela se perdeu naquela visão dos lábios de Emma tão próximos, mas se controlou o bastante para se manter no lugar. Mas isso era o máximo que seu auto controle conseguia operar. Entretanto a loira também passava por sérios problemas em controlar a si própria, pois seu olhar acabou caindo sobre os lábios da menor também.

De repente todo o sentimento que Emma tentou camuflar a preencheu sem restrições e ela não conseguiu suprimir as próprias vontades. Ergueu um pouco mais o rosto e fechou os olhos ao sentir seus lábios se pressionarem contra os lábios de Nicole. Era um contato casto e nenhuma das duas fez nenhum movimento que pudesse alterar isso. Seus lábios apenas se tocavam enquanto seus olhos permaneciam fechados. Esse contato durou alguns segundos até que, quando suas bocas começaram a se mover, as duas se afastaram assustadas.



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