Eras

Capítulo 16 – O pântano.

Acordamos cedo e Melorne bateu em nossa porta.

— O desjejum será servido daqui a minutos. Meu pai pediu para acompanha-las.

— Nós teremos que sair em breve, Melorne. Como havíamos dito, faremos as orações no santuário…

— Eu acompanharei vocês, não se preocupem. Partiremos logo após o desjejum.

Agora a coisa tinha encrencado. Como despistaríamos um oráculo?

— Não acha que será melhor voltar para o exército, junto a seu irmão? – Arítes argumentou.

— Ele não precisará de mim, ao contrário de vocês. Lembrem-se, eu me comunico com as sacerdotisas e falei com a sacerdotisa-curandeira do lago como tínhamos combinado ontem. As filhas das “Senhoras da Natureza” já estão a caminho e, em breve, nos encontraremos com elas.

— Tô ficando muito irritada com essa palhaçada. Todo mundo diz para eu ficar calada e não contar as coisas que sei, mas todo mundo sabe de tudo e eu sou a última a saber!

Falei aborrecida, enquanto Arítes me olhava assustada com o que tinha dito; Melorne gargalhou.

— Eu realmente não sabia até ontem à noite, Tália, mas depois que as deixei, fui ao oráculo para falar com a sacerdotisa-curandeira. Depois de tudo que houve, tinha de saber se havia algo que pudesse fazer. Foi quando ela me contou que a “Senhora das Águas” entrou em contato com ela ontem, dizendo tudo que precisava ser feito. Vou acompanha-las a Tevé, pois consigo sentir energias mágicas, quando estão próximas. Foi assim que consegui livrar meu pai. Poderei ajudar na proteção de vocês, caso pessoas se aproximem. Bem, isso se tiver alguma magia envolvida.

— Mmm.

Foi a única coisa que pronunciei, antes de seguir até o salão onde seria servido o desjejum. Continuava aborrecida. Aliás, aborrecida com minha mãe também, pois ela exagerou na dose de me preservar.

Comemos, nos despedimos do rei Badir e seguimos para a base das rochosas de Kardoshara, onde entraríamos no pântano que circundavam as covas de Tevé.

Cavalgávamos há mais de duas horas e, provavelmente, em mais uma hora e meia chegaríamos. Kardoshara e o pântano eram mais próximos de Terbs que de Eras e não demoraríamos a encontrar Veras, Tuli e Miray.

Nunca tinha cavalgado tão distante do reino. As cadeias rochosas de Kardoshara e o pântano de Tevé, só eram meus conhecidos pelos mapas que estudava. Quando avistamos as rochosas, eu pensava que estávamos perto, porém me enganei feio.

— Arítes, quanto tempo até chegarmos?

— Talvez mais umas quatro horas se continuarmos nesse passo.

— Tudo isso? — Me espantei.

— Vamos ter que descansar um pouco os cavalos, “Protetora”. – Melorne chamou nossa atenção. – Pois quando sairmos das sombras da mata, não haverá mais nenhum lago, rio ou açude para eles beberem. Não teremos a proteção das árvores e apesar do inverno ainda não ter chegado, está próximo e o planalto já deve estar coberto por uma camada de neve.

— Tem razão. – Arítes se virou para ela. – Sabe qual o último local que poderemos parar, antes de entrarmos no planalto?

— Sim. Tem um pequeno lago antes da saída da floresta, nesta mesma direção.

— Então descansaremos lá. Teremos que encher os odres e levar a maior quantidade de água que pudermos.

— Certamente, Arítes, mas também teremos que comer algo. Não deveremos achar nada para comer ou local abrigado, onde possamos parar para fazer nem uma pequena refeição.

Emendei preocupada com o tanto de tempo que teríamos que cavalgar até chegar no pântano.

Paramos no pequeno lago e Arítes se prontificou para ir pescar. Enquanto isso, eu acendia uma pequena fogueira e às vezes, olhava para ela. Arítes estava compenetrada, reparando a água, com a lança em punho. Vez ou outra ela atirava a lança, e logo após retirava da água, sem nada pescar. Sorri diante da frustração que via em seu rosto, quando recolhia a lança sem nada na ponta. Terminei a minha tarefa e fui a seu encontro, levando meu arco.

— Está ruim, aí?

— Os peixes estão escassos. Poucos vem à superfície.

— A água já deve estar muito gelada. Não estão dispostos a passear.

Falei sorrindo, pois não queria que ela se amuasse muito comigo, por eu perceber sua dificuldade. Ela parou e viu que eu estava desculpando seu fracasso, ficando mais contrariada do que eu gostaria.

— Está bem, espertinha. Vai. – Apontou a água. — Pode mostrar sua habilidade com a flecha. Não me importo, contanto que eu coma bem.

Eu gargalhei.

— Para, Arítes. Eu pesquei com arco a minha vida toda. Você sabe disso. Sempre me viu pescando quando queria jantar algo, que não estava no cardápio do dia lá em Eras.

Ela parou com uma mão na cintura e a outra apoiada na lança. Estava engraçada com metade das pernas dentro da água. Tirei uma flecha da aljava nas minhas costas, coloquei no arco e comecei a olhar a água.

— Está vendo esse peixe? – Perguntei, mas não dei tempo para que ela respondesse. – Ele está na direção da pedra. Quando eu atirar minha flecha, vou mirar um pouco antes da direção que ele está tomando.

Atirei a flecha e peguei o pescado. Retirei a flecha da água, trazendo o peixe na ponta.

— Atirar um pouco antes?

— Ele vê a sombra da flecha, ou do objeto se aproximando e muda de direção. Aprendi com certo esforço. – sorri. — Depois de tanto tempo fazendo isso, tinha que aprender alguma coisa, não é mesmo?

Ela balançou a cabeça sorrindo, enquanto saíamos do lago.

— Você pesca com maestria e não consegue caçar. É demais, né, Tália!

— Peixes não me olham, mas os bichinhos, sim.

Ela gargalhou e não pude deixar de acompanhar seu riso.

****

— Pela “Divina Graça”! Está muito frio para o inverno não ter chegado!

Exclamei, diante de nosso trote na neve, ainda recente no planalto.

— O planalto de Kardoshara é sempre frio, mas nessa época começa a piorar. No inverno ninguém se atreve a andar por aqui. A neve fica espessa demais para os cavalos andarem e muitos morrem pelo caminho. A melhor forma de chegar as montanhas de Kardoshara no inverno é a pé, com tenda para acampamento e um jumento para carregar mantimentos. O tempo de travessia triplica. – Explicou Melorne.

— Vocês de Terbs andam muito por aqui? – Perguntei.

— Temos comércio com Kashir, depois das montanhas de Kardoshara, mas são muitos dias de viagem e só conseguimos comercializar coisas que não estragam facilmente. Nosso comercio só circula em torno de bebidas, tecidos, e outros insumos que não se decompõem. Comida, só com Eras e Kamar. Natust nunca esteve na nossa rota de comércio, pois sempre foram muito avessos a comercialização. Por isso, esse grande impasse quando fomos surpreendidos com as exigências de Eras para as negociações de alimentos.

— Não houveram impasses. – Falei. – Meu pai e o conselho fizeram muitas concessões, diante de supostas exigências de vocês. Os pergaminhos em que continham as exigências de acordo comercial chegavam selados com a marca real de Terbs na cera. Por isso, nunca desconfiamos.

Melorne balançou a cabeça em negação. Deu um sorriso amargurado.

— Pois digo o mesmo. Chegavam respostas negativas para meu pai com o selo real de Eras. Chegavam até algumas concessões, mas vinha sempre com alguma exigência que não conseguiríamos cumprir. Com isso, conseguiram armar direitinho para os dois reinos. E quanta ironia. Eu rezava para a Divina Graça e para a “Senhora do Metal”, que é a Senhora de meu clã, encontrar a Guardiã e voltar a fortalecer a minha fé, tão testada esses últimos tempos.

Eu gargalhei e as duas me olharam.

— Não imaginava que a “Guardiã” fosse tão ingênua e tão desprovida de conhecimentos, não é mesmo?

— Tália. Não é o conhecimento profundo da nossa história que é o valor de uma “Guardiã”. São os valores de vida que ela traz que são importantes para o julgamento de suas ações.

— Concordo com Melorne, Tália. Se você não tivesse respeito pela vida, de nada adiantaria ter conhecimento.

— Arítes, eu entendo o que falam, mas ajudaria muito eu conhecer algumas coisinhas, não acham?

As duas riram de mim.

— Tália, pode apostar que você é uma preciosidade. Deixa que, em breve, o conhecimento virá até você. – Falou Melorne.

Bem, sabe aquela sensação de você estar sendo conduzida? Era esse sentimento que eu tinha naquele momento, e com sinceridade, não saberia falar se era um sentimento bom ou ruim. Nunca gostei que mandassem em minha vida, mas estava dividida, pois ao mesmo tempo que tinha essa premissa em mim, sabia que eu estava caminhando para algo bom. Era estranho.

Avistamos a floresta que encobria o pântano, na base das rochosas. Cavalgamos em direção à ela, sem qualquer parada, e depois de um tempo, estávamos na entrada apeando dos cavalos e abraçando as filhas das “Senhoras dos Reinos”.

— Tália e Arítes, essa aqui é Tuli que vocês não conheceram.

— Vocês já se conheciam?

Melorne perguntou e eu falei com um sorriso triunfal.

— Sim.

Pela primeira vez, dava uma notícia que eu tinha conhecimento e ela não sabia. Tá. Podem dizer que sou orgulhosa.

— Conhecemos Tália e Arítes em Tir alguns dias atrás, Melorne. Tudo que elas sabem, não foi falado pela sacerdotisa-curandeira, mas era preciso que elas dissessem isso. Sua irmã, Catenas, está em Tir, zelando pela nossa segurança.

— Irmã?

Eu e Arítes falamos ao mesmo tempo, espantadas com a revelação. Melorne riu, mas quem conduziu a explicação foi Veras.

— Há muitos anos, o Rei Badir perdeu sua esposa no parto de sua única filha. Ela também não sobreviveu. Mesmo na sua dor, rendeu graças as “Senhoras da Natureza”, pois sua esposa tinha sido uma mulher de fibra e tinha feito a sua felicidade pelos anos que foram casados. Badotê sentiu sua dor e viu que em toda a sua vida, foi um homem bom e justo, para com sua família e seus súditos. Ela então, foi até o rei Badir e perguntou o que ele gostaria para amenizar sua dor. Ele disse que se sua filha tivesse sobrevivido, pelo menos teria uma menina para abençoar seu reino. Badotê então perguntou se ela consumasse um ato sexual com ele, e ela engravidasse, se ele acolheria a menina e a educaria para se tornar a sacerdotisa-oráculo do metal. Rei Badir disse que seria uma enorme honra. Melorne é nossa conhecida há muitos anos, pois sempre vem a Tir, quando Badotê está com saudades dela. – Veras sorriu.

— Uau! Agora perdi a linha. Vocês não cansam de fazer “historinha” para mim, não? Gente, quando penso que tenho uma novidade, vocês me destroem!

 Todo mundo ria, novamente, e eu só pensava que o objetivo fundamental de todos era caçoar de mim.

— Meninas, vamos que a hora avança. Podemos acampar em alguma caverna, mas acho que é melhor nos apressarmos, pois Natust, pelo que minha mãe falou, já está com seu exército em marcha há dois dias.

— Veras, vocês sabem se tem alguém de Serbes aí nas covas? – Arítes perguntou.

— Semana passada, Bridma conseguiu rastrear energia vinda daqui. Isso só ocorreria se alguém dotado de magia, ou que estivesse com algum feitiço de proteção, chegasse perto de onde a “Espada Macha” está escondida. Essa semana nada foi detectado.

— Então vamos.

— Vocês leram o pergaminho que leva a trilha da “Espada Macha”. Para que lado vamos?

— Temos que entrar primeiro, Miray. O pergaminho dava indícios, mas dentro das cercanias do pântano e nas covas.

Entramos e as árvores já perdiam as folhas pelo frio que se avizinhava. Havia um espaçamento entre as árvores e as trepadeiras caídas pelos galhos, que se estendiam quase ao chão, davam aquele ar lúgubre. Embora soubéssemos que esse tipo de vegetação é típico desses locais mais úmidos, a imagem me deixava apreensiva. Olhei ao longo do caminho, que se estendia entre algumas árvores, vasculhando o local no intuito de achar algum indício para o começo de nossa expedição. À nossa direita, vi um tronco retorcido, caído sobre uma pedra e coberto de limo. A figura que aquele tronco lembrava, era de uma mulher encolhida, abraçada às próprias pernas.

— Arítes. – Apontei. – A mulher assustada.

Arítes olhou a imagem e analisou.

— Tem razão.

— O quê? – Perguntou Tuli.

— No pergaminho, fala da mulher assustada marcando o início da caminhada. – Falei.

— Então, vamos. – Miray se adiantou.

Nós todas estávamos armadas até os dentes. Não queríamos surpresas ao longo do caminho. Chegamos ao tronco e vimos uma pequena trilha ao lado, cercado de plantas rasteiras. Apesar das grandes árvores não deixarem passar muita luz, essas plantas teimavam em nascer para dar alguma vida ao ambiente. Seguimos por mais ou menos uma hora. Ela tinha muitos caminhos que se ramificavam, mas esmeramos em não sair da trilha principal. Eu estava temerosa de não chegar a um abrigo antes de anoitecer. Se isso ocorresse, talvez fosse difícil suportarmos o frio que já castigava nossos corpos com o cair da tarde. Arítes parou.

— O que foi? – Perguntei.

— O que você vê?

Olhei ao redor. Pequenos locais alagadiços já acompanhavam há algum tempo as laterais da trilha, mas um grande pântano aparecia na trilha à frente.

— “Quando não puder pular a água e a luz não puder mais chegar ao chão, olhe para seu lado direito que a pequena passarela trará a luz”.

Falava observando a escuridão que as árvores que se fechavam à frente traziam ao pântano. Olhei para o lado, para tentar ver qualquer indício de uma trilha, onde pudéssemos passar.

— Ali. – Melorne apontou para uma abertura entre duas pedras.

Seguimos em fila indiana, Arítes na frente, eu logo a seguir e o resto das meninas atrás. Era um caminho estreito, ladeado com essas pequenas rochas e quando nos demos conta, não havia mais nada além do caminho e do pântano a nos rodear. Era como se as pedras se estendesse por cima de um enorme alagadiço. O dia estava perto do fim e, mais uma vez, me arrepiei com o frio, que se intensificava. Arítes parou.

— Agora acho que estamos perdidas…

Ela falou. Olhei por sobre seu ombro.

— Arítes, olha lá no fundo.

Ela estreitou os olhos e conseguiu divisar o que lhe mostrava.

— A entrada de uma cova. Mas como a gente chega lá com esse monte de água na nossa frente?

As meninas se amontoavam para tentar ver a passagem que terminava em um belo de um pântano, escuro e provavelmente, cheio de bichos estranhos embaixo daquela água.

— Não tinha nada no pergaminho que dissesse como passaríamos? – Veras perguntou.

— Depois da passarela que traria a luz? – Mmm… Nada que agora me dê segurança, embora a palavra fosse encorajadora. – Falei.

— Dizia apena, “Confie”, na outra frase. – Arítes completou.

Enquanto eu procurava em volta algo que pudesse mostrar “confiança” para mim, Arítes desembainhou a espada e testou a água para ver a profundidade. Qual não foi nossa surpresa, quando a espada não entrou na água mais que três centímetros. Ela era tão escura, que não vimos que o caminho de pedra continuava quase rente à superfície.  Relaxei. Chegaríamos num abrigo antes do anoitecer.

Atravessamos e entramos pela abertura da caverna. Ela se abriu em um grande salão. Olhamos para cima e vimos diversas estalactites formadas. Ao fundo, haviam cinco passagens. Agora a coisa ia começar a complicar. Todas pareciam iguais.

— Acho melhor fazermos uma fogueira, enquanto a gente ainda pode. Lá fora, em torno da caverna, tem bastante madeira, o difícil vai ser acender a primeira, pois acho que só encontraremos galhos muito úmidos.

— Tem razão, Tália. Hoje não conseguiremos mais avançar. Só estou com uma sensação muito estranha. Parece que meu corpo está leve, não sei…

— Eu também. – Confirmei.

— Ah! Desculpem, Badotê pediu para que trouxéssemos esses cintos que Catena e seu marido forjaram. Bridma advertiu que nossos corpos aqui dentro, estariam mais leves mesmo. Isso é para que não fiquemos desconfortáveis com a sensação.

Miray e Tuli retiraram das sacolas que traziam nas costas e deram para nós cintos que eram feitos de um metal desconhecido a mim.

— Vocês caminharam todo esse tempo com isso nas costas? Menina, vocês são fortes, einh?

As gargalhadas ecoaram pela caverna.

— Tália, você tem umas colocações ótimas. Eu já estava pedindo arrego com isso aqui em cima de mim. – Miray falou ainda rindo. – Eu trouxe só o meu e o seu e Tuli trouxe o dela e o de Arítes, mas é pesado mesmo.

— Vou lá fora pegar madeira. – Arítes falou.

— Eu te ajudo. – Me prontifiquei para ir junto.

— Bom, então vou arrumar as nossas coisas e preparar, em uma panela, um pouco de legumes com carne seca que trouxe. – Falou Melorne.

Levamos muito tempo para acender a fogueira, mas depois de acesa, colocamos os outros galhos próximos para que secassem e conseguíssemos alimenta-la o resto da noite. Conversamos sobre tudo que estava acontecendo e aos poucos, fui entendendo melhor a história de Tir, Tejor e da casta das Guardiãs. Entendi também, porque minha mãe não forçava para que eu e Arítes nos declarássemos. A verdade é que ninguém poderia realmente afirmar que nós éramos as verdadeiras predestinadas. Minha mãe tinha quase certeza, pelos sinais que foram se apresentando ao longo dos anos. Mas quem era ela para dizer que sim ou que não, além do fato dela ter certeza que nos amávamos?  A verdade é que, só quando fizemos amor pela primeira vez, emanamos um tal de “Teho”, que foi sentida pelo plano de Tir. O teho é uma energia proveniente da união dos corpos físico e espiritual de duas pessoas no ato de amor. Só almas predestinadas aos dois planos poderiam emaná-la em tal magnitude, como o nosso caso; a “Guardiã da Indulgência” e a “Protetora”. Por isso os elementais vieram a nós naquele dia. Foram atraídos pela energia de Teho.

— “Fifiu”! – Assobiei. – E eu que só queria entrar para o exército!

As gargalhadas voltaram ao ambiente.

— E você nem sabe, Tália. O maior problema é que se sentimos, talvez Serbes também tenha sentido. Ele manipula e monitora, o tempo todo, as energias com a sua magia para procurar a “Espada Macha”.

— Como assim vocês sentiram? Não eram só os elementais?

— Na verdade, sentimos uma energia em Tir, naquele dia. Era intensa, boa e carregada de amor. Nunca tínhamos sentido nada parecido. Foi quando minha mãe se concentrou para monitorar. E depois pesquisou em seus escritos. Mas pode deixar que foi só desta vez. – Veras falava, já rindo, de minha cara.

— Ei, não gostei disso.

— Eu acho que gosto, menos ainda, de saber que Serbes possa ter sentido. – Retrucou Arítes, taciturna.

— Pois eu não gostei de nenhum do dois. Essa é a nossa intimidade e de mais ninguém. Que negócio é esse de todo mundo ficar sentindo?

Eu estava zangada de verdade.

— Calma, Tália. Foi só nesse dia.

— Pelo menos isso! Imagina se todo mundo em Tir fica sentindo coisas toda vez que estou com a minha namorada. Vocês iam ter que dar um jeito nisso!

Elas continuavam rindo, mas para mim era sério. Sendo predestinada ou não, nada de se meterem no sexo entre eu e Arítes, oras. Fomos dormir. Deitei junto a Arítes e a abracei. Ela estava tensa.

— O que houve? – Perguntei baixinho.

— Nada. Só preocupações sem fundamento. – Ela me respondeu no mesmo tom.

— Fala. Que preocupações?

— Essa história de Serbes poder ter sentido a gente, aliado com a atividade de energia que captaram vindas daqui na outra semana. Acho que a gente tem que ficar atenta.

Ela levantou me desacomodando de seu peito.

— Vou ficar de guarda, Tália. Não tô gostando disso.

— Já estou de guarda, Arítes. No meio da noite, troco com Miray.

Tuli se pronunciou. Ela estava de pé na entrada da caverna.

— Vocês têm que descansar bem, pois são as únicas que podem nos conduzir até a espada.

Arítes assentiu com a cabeça e voltou a deitar. Recostei nela novamente e custei a dormir. Acho que Arítes também não dormiu logo. Sua respiração estava forte.



Notas:

Pessoal, colocarei aqui uma referência de alguns nomes nos quais me baseei. Na maioria fiz variações, mas a “Espada Macha”, não. Ela vem do nome de uma Deusa Celta específica.

Macha: Deusa da fertilidade e da guerra, filha de Ernmas, junto com as irmãs Badb e Morrighan, podia lançar feitiços sobre os campos de guerra. Após uma batalha os guerreiros cortavam as cabeças dos inimigos e ofereciam a Macha, sendo este costume chamado de a “Colheita de Macha”. É a Deusa dos equinos, que durante a gravidez foi forçada a uma corrida de cavalos. Quando chegou ao final, entrou em trabalho de parto e deu à luz a gêmeos. Antes de morrer, Macha colocou uma maldição sobre os homens da província para que em tempos de opressão e maior necessidade, eles sofreriam dores como as de um parto.
Referência:
http://www.templodeavalon.com/modules/mastop_publish/?tac=Deuses_Celtas




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