Aline entrou em casa com expressão cansada. Suspirou com força, atirou as sandálias em um canto de parede e jogou-se no sofá. Havia acabado de ter um dos piores encontros da sua vida.
— Que foi? — Perguntou Jordana, sua amiga, com a qual dividia o apartamento havia algumas semanas.
Aline mexeu-se de modo a ficar em uma posição mais confortável no sofá um pouco duro.
— Desisto! — Disse desanimada.
— Desiste?!
— Sim. Só… desisto.
— E está desistindo de que, exatamente? — Jordana quis saber, afastando a vista da revista sobre o colo.
— Ah! De tudo.
— E esse “tudo” se aplica ao que, precisamente?
Aline considerou atirar uma almofada nela, pois começava a se irritar com o interrogatório. Contudo, respondeu:
— Estou desistindo das mulheres.
As sobrancelhas de Jordana formaram um arco na testa.
— Que tem as mulheres para você desistir delas? — Insistiu, confusa.
— Não aguento mais me dar mal com elas! — Aline declarou, estreitando os olhos.
— Como assim se dar mal? Você tem um monte de amigas e todas te adoram.
Aline enrugou a testa, enquanto tentava descobrir se Jordana estava brincando com ela.
— Você sabe que não estou falando de amigas. — Afirmou.
Entretanto, Jordana pareceu ficar ainda mais perdida na conversa.
— Então, fala de quem? Da sua mãe?
— Não!
— Das suas irmãs?
— Não!
— Avó?
— Não!
— Tias? Primas? Quem?!
— Jordana, de que planeta você veio?!
— Não precisa se estressar! Estou apenas tentando descobrir qual o seu problema e te ajudar!
Aline berrou:
— Você é mesmo burra ou se faz? Porque se você se faz de burra, está quase merecendo um Oscar!
— Não estou entendendo… Por que a irritação?
— Aff! Fui amiga de um alien durante anos e nem percebi! — Aline revirou os olhos.
— Para de me ofender, Aline, e diga logo do que se trata! Qual o seu problema com as mulheres, hein?
— Você é mesmo de outro planeta! Só pode ser. Ninguém é tão desligado nas coisas e pessoas a sua volta assim.
Verdade fosse dita, ela nunca disse a Jordana que gostava disso em vez daquilo e nunca apresentou alguma de suas namoradas a ela. Contudo, não era preciso muito esforço para perceber seus gostos pelo mesmo sexo e conhecendo o jeito desligado da amiga, sempre achou que ela não se importava ou preferia não falar.
Estalou a língua e ergueu-se, quase de um pulo. Falou alto:
— Jordana, eu sou LÉSBICA!
Jordana abriu a boca, arregalou os olhos, baixou a cabeça e começou a brincar com os botões de sua saia. De vez em quando, fazia uma pequena careta e franzia a testa enquanto assimilava a “novidade”.
— Do tipo “sapatão”? — Perguntou.
— E existe outro tipo? — Voltou para o sofá e cruzou os braços zangada. — Por favor, não responda. Tenho medo de ouvir a resposta.
Jordana lançou um olhar indignado para ela, depois perguntou baixinho:
— Você é lésbica, mesmo? — Ela avaliava a amiga de cima a baixo. Fazia uma expressão estranha, como se estivesse no supermercado, tentando decidir qual sabor de sorvete iria comprar. Aline estava quase certa de que seria sorvete de morango.
— Uhum. — Resmungou em resposta.
— Sério?
Aline espremeu uma almofada entre as mãos.
— Já disse que sim! — Respondeu ainda mais zangada e se assustou com o grito da amiga:
— Uhuuuuuuuuuuuuu…
— Que é isso?! Tá doida?
Rindo, Jordana explicou:
— Ah, é que eu sempre quis ter uma amiga lésbica!
— Está de brincadeira com a minha cara? — Atirou a almofada nela.
A amiga se inclinou para o lado e a almofada acertou um abacaxi de cerâmica, com o rostinho de um emoji de aplicativo de mensagens, que adornava o aparador atrás do sofá. Ele balançou algumas vezes, exibindo um sorriso duvidoso, mas não caiu. Aline lamentou o fato.
— Estou não. Sempre quis saber de um monte de coisas que as lésbicas fazem! — Jordana garantiu com uma risadinha devassa.
— Hein?! — Aline não conseguia acreditar que ela estivesse falando sério.
— Me conte tudo.
— Tudo o quê?
— Não me esconda nada.
— Do que você tá falando?!
— Vamos começar com algo simples. — Jordana declarou, empolgada. — Como é beijar uma mulher? Como é o gosto do beijo? Tem diferença em relação ao de um homem? Quando você namora, quem é o homem da relação? Existe homem na relação entre duas mulheres?
Inspirou fundo, fazendo uma pausa.
— Ai, isso é tão emocionante!
— Como assim emocionante? — Aline disse, assustada.
Estava quase certa de que aquilo se tratava de um sonho. Era isso ou acreditar que Jordana tinha fumado orégano; o que, pelo histórico de trapalhadas da amiga, era bem possível de acontecer.
Jordana continuou:
— Como é o sexo? Dizem que é bom. É verdade? Como é que vocês fazem? Pergunto porque vocês têm uma coisa faltando, né? E como é que faz…
— Paraaaaa…!
— Ué, que foi?
— Você engoliu uma metralhadora? Tomou água de chocalho, por acaso?!
— Ah, pôxa! Eu quero saber! — Fez um beicinho.
— Mas, eu não quero contar. Vai procurar na internet, se está tão curiosa!
— Você sabe que não gosto de pornografia! É sempre melhor ouvir as experiências das amigas!
— Não sou uma enciclopédia de lesbianismo para héteros alienadas. Pode esquecer. — Declarou, resoluta.
— Chata! — Jordana reclamou, fazendo beicinho.
— Lesa!
— Malvada!
— Matraca!
— Vai, me contaaaaaaaaaa…!
— Não vou contar nada! Já disse.
— Se não contar por bem, vou te obrigar! — Jordana decidiu mudar de estratégia.
— Como se fosse possível! — Aline desdenhou. — Não conto e ponto!
Jordana semicerrou os olhos, dizendo:
— Agora é questão de honra! Vou te obrigar a me contar!
Divertida com a raiva da amiga, Aline provocou, curiosa:
— E como vai fazer isso, lesona?
— Tenho meus meios!
— Pago para ver! — Desafiou, já imaginando que iria assistir alguma ação ridícula e atrapalhada da amiga. Contudo, Jordana parecia muito séria.
— Se eu fosse você, não diria isso. — Ficou de pé e retirou a saia.
Caminhou em direção ao sofá onde ela estava sentada.
— Posso ser bastante convincente.
Enquanto se aproximava, a expressão na face dela mudou completamente. Desabotoou a blusa e jogou no chão em um movimento provocante. Parou diante dela.
— Acha que tirar a roupa vai me convencer? Já te vi pelada antes.
— Desse jeito, você nunca viu! — Jordana sorriu, retirando a calcinha devagar e sem afastar os olhos dela. Rodou a peça no dedo indicador e soltou no colo da amiga. — Posso não ser a mulher mais esperta do mundo, mas sei quando alguém gosta do meu corpo e isso você nunca escondeu.
Aline mordiscou o lábio, não havia como negar. Afinal, sempre deixou claro para Jordana que ela era “gostosa”.
— Er… Não vou falar. — Engoliu em seco pelo movimento sexy que ela fez a seguir, ao pegar uma de suas mãos, beijar e sugar um dos dedos, passando a língua devagar nele.
— Tem certeza?
— U-uhum… — Arregalou os olhos, quando ela tirou o sutiã. Começou a ficar difícil respirar com tanta fartura à vista.
— Vai continuar se negando a contar? — Jordana retirou a saia e, com um movimento ligeiro, sentou em seu colo.
— S-sim! — Gaguejou, mas já nem sabia o que dizia.
Um beijo.
Vários beijos.
Mãos que alisavam, tocavam, apertavam, percorriam, descobriam caminhos… Aquilo na boca, a boca naquilo…
Gemidos.
Prazer.
Pernas enroscadas, abraço apertado, respiração ofegante.
— Jordana. — Aline chamou, após tomar um fôlego.
— Hum?
— Não precisava ir tão longe, sabe? Se você tivesse insistido um pouquinho mais, eu contava.
— Eu sei, mas eu queria te obrigar a falar! E como você fala bem, amiga! Muiiiiiiiiiiiiiiiiiito bem!
***FIM***
Olá, amores!
Passando os olhos em meus textos “engavetados”, encontrei esta série de textos curtos sobre as amigas “faladeiras” Aline e Jordana que publiquei no ABCles e Nyah há alguns anos. A loucura das protagonistas continua a mesma, mas dei uma revisada no texto e reescrevi algumas partes.
Espero que gostem e que riam. Afinal, esse é o objetivo desse conto.
Então, leu, gostou, comentou. Visse?!
Beijão!
Cara, morro de rir cada x q leio esse conto…
No final das contas Aline NÃO FALOU… e Jordana
Não se importou com isso.
k k k
Que texto gostoso! Adorei sua escrita Tattah ^^” Eita que imaginei essa Jordana e já queria uma amiga faladeira assim kkkk xD
kkkkkkkk…
Maybe,
Você não está sozinha, algumas moças andaram me confessando o mesmo desejo. kkkk… Bem, estou feliz em saber que gostou e espero reencontrá-la nos próximos episódios.
Beijos!
Kkkkkk… Rindo demais dessas duas! Delícia de texto sussa, apropriado pra um domingo à noite, depois desse feriadão! Esperando os próximos capítulos. Bjs
Oi, Naty!
Este é um texto bem velhinho, mas que bom que ainda é capaz de arrancar alguns risos.
Nos vemos nos próximos!
Xêro!
Eitaaaa, Jordana é safadinha! Gostei!
Vamos ter mais?!
Bjãoo
kkk… Que bom, Preguicella!
Sim, teremos mais. É uma série de contos curtos sobre essas duas e estou revisando todos.
Logo, logo teremos mais.
Beijos!