— E aí? Como foi?

Jordana mandou um sorriso curioso para Aline. Estava esparramada no sofá, entretida entre ler uma revista de fofocas e ver um filme bobo sobre um cachorro babão na TV.

Um suspiro forte escapou de Aline, enquanto fechava a porta. Ela ignorou a amiga, jogou a bolsa sobre uma poltrona e se dirigiu para o quarto. Caiu na cama com novo exalar. Jordana veio logo atrás e fez o mesmo.

— Foi tão ruim assim? — Quis saber.

— Horrível! — Bufou.

— Horrível como?

— H-o-r-r-í-v-e-l!

— Que bom que você sabe soletrar. — Jordana fez um muxoxo. — Agora, defina esse “horrível”.

Um biquinho se formou nos lábios de Aline, que devolveu o olhar da amiga já sentindo a costumeira irritação que ela lhe inspirava sempre que iniciava aquele tipo de interrogatório invasivo e descabido.

— Você não conhece o significado da palavra, não? Perdeu a aula de ditado no jardim de infância, foi?

— Lá vem você com as grosserias! Quero saber os detalhes. — Sorriu de lado, cutucando o ombro de Aline. — Quanto mais sórdidos, melhor!

A amiga fez uma careta.

— Nem insista, não vou contar.

— Rhá! Duvido. Desembucha logo!

— Não seja chata. Me deixa em paz. — Empurrou ela para fora da cama, mas Jordana jogou-se sobre o colchão de novo.

— Conta! — Pediu.

— Não!

— Conta, vai! — Insistiu.

— Da última vez que ficamos nesse “vai, não vai” acabamos transando. É melhor parar. — Aline bufou, olhando-a como se pudesse fazê-la desaparecer com um toque de mágica. Para seu azar, não podia.

Um sorrisinho sacana se formou na boca de Jordana.

— Hum, não seria má idéia… — Passou a mão nos cabelos, despreocupada.

— Do que está falando?

Jordana sentou na cama, olhando-a com malícia.

— Até que não seria uma má idéia a gente transar. — Explicou.

— Está doida? — Aline sentou também.

— Não, é que viciei nessa tua boca! Ai, ai. — Fez carinha de safada e depois mostrou a língua para ela, tal qual uma criança sapeca.

— Como é que é?! — Aline perguntou, acreditando que tinha entendido errado, mas Jordana desconversou:

— Nada, não. Agora me conta de uma vez como foi o encontro.

— Já disse que foi horrível. — Ficou de pé.

Começou a andar pelo quarto. Retirou sapatos e brincos. Desfez o penteado, desgostosa. Jordana prestava atenção aos movimentos, enquanto insistia:

— Quero saber a razão de ter sido tão ruim assim.

— Nossa, como você é chata! — Parou no meio do cômodo com as mãos na cintura. — Larga do meu pé!

— Chata é você! Esse teu humor do cão é falta de sexo. Certeza!

— Ei!

— Ei, nada. Para de me enrolar e conta logo o que houve dessa vez.

Aline revirou os olhos, mas decidiu atender o pedido e contou:

— Ela tinha chulé. — Abriu os braços e deu de ombros.

— Como é que é?!

— Ela tinha chulé. — Repetiu. — Detesto chulé. Eca!

Jordana pulou para fora da cama, pôs as mãos na cintura e ainda com uma expressão de incredulidade, disse:

— Está me zoando?!

— Não. — Respondeu com seriedade.

— Como não?! Essa é a quinta garota, este mês, que você dá um fora.

— Ora, que culpa tenho eu se elas não se cuidam?! — Encolheu os ombros, com ar inocente.

— Se elas não se cuidam?! Está doida? Você encontrou defeitos em todas elas. A loira bonitona que você levou para boate tinha mau-hálito…

— Tinha mesmo, passei um aperreio quando ela me beijou. Nossa! Só de lembrar fico enjoada. — Fez cara de nojo.

— E a francesinha que você conheceu no shopping? — Jordana continuou.

— Tinha os polegares muito grandes.

— Isso lá é motivo para você dar o fora num mulherão daqueles?

— Claro que é! Não gosto de polegares grandes. — Defendeu-se.

— E aquela moreninha de sorriso meigo que você conheceu na saída do cinema?

— Era fanha.

— Fanha? A mulher falava perfeitamente, eu vi. Estava lá contigo quando a conheceu.

— Disfarce! — Aline declarou. — Quando a gente começou a trocar carícias, ela começou com um: “Ainnnnnnn… Uinnnnnnnn…” e um monte de “nnnnnnn”.

— Você é maluca! De onde que isso é defeito?

— Ah, qual é, Jordana?! Ouvir um gemido ou dois aumenta o tesão, mas imagine-se no maior amasso com uma carinha e ele começa a miar igual um gato desafinado no telhado. Eu pensei que a criatura estava tendo um treco! — Estalou os lábios. — Sem falar que ela me levou para a casa dela, sem me avisar que morava com os pais. Imagina a minha “alegria” quando o pai dela invadiu o quarto usando cueca samba-canção bem na hora em que eu estava com a cara enfiada no meio das pernas dela.

A gargalhada de Jordana foi inevitável e Aline teve de aguentar as caras e bocas que a amiga fazia. Foi exatamente por isso que não lhe contou essa história antes.

— Putz! Eu não consigo parar de imaginar a cena. — Jordana enxugou uma lágrima em meio ao riso e Aline acabou se juntando a ela. Verdade fosse dita, apesar do susto e da confusão que se seguiu, era mesmo uma história engraçada.

Depois de mais um minuto de risadas insanas, Jordana se recompôs.

— Está bom, não vou mais discutir sobre isso. — Passou a mão no queixo para evitar nova crise de riso e perguntou: — E aquela loirinha do clube?

— Comia de boca aberta.

— Certo, isso não é nada educado, mas você poderia dar um toque nela como quem não queria nada.

— Fala sério! Passei o jantar inteiro olhando para uma pobre vaca morta rolando de um lado para outro na boca dela. E o pior era que, toda vez que ela falava com a boca cheia, alguns pedaços da pobrezinha da vaca voavam direto na minha cara. Naquela noite me tornei vegetariana!

— Eca! Só de imaginar… — Fez uma expressão de nojo.

— Pois é, pobrezinha da vaca.

— Ainda assim, você não podia ter dispensado a menina de hoje.

— Como não?

— Ah! Tudo o que você tinha a fazer era dar para ela um talco anticéptico para os pés no dia dos namorados. Pronto, problema resolvido!

— Misericórdia! Com essa habilidade para escolher presentes para o dia dos namorados, consigo compreender perfeitamente o motivo de você ainda estar solteira.

— Não começa! — Jordana fez um biquinho. — O assunto aqui é você e seus ataques de frescurite aguda.

Aline cruzou os braços.

— Que posso fazer se sou exigente?

— Sei. — Sentou o queixo na mão. — Então, Dona Exigente, o que você espera de uma mulher para que ela possa conquistar esse teu coração fresco?

Aline saiu do quarto, dizendo:

— Não é da tua conta.

Ela foi em direção a cozinha e Jordana a seguiu de perto.

— Ôxe, para disso! Sou tua amiga e tenho de saber, assim posso te ajudar a encontrar a mulher perfeita.

— Ha-ha, não mesmo! Com a sua incrível capacidade de raciocínio e observação eu acabaria namorando uma cabra.

— Hum… Cabras são bonitinhas…

— Não começa! Estou sem saco para besteirol.

— Deixa de ser chata, fala logo. — Pousou as mãos nos ombros dela e a chacoalhou.

— Não.

— Fala!

— Deixa de me amolar! Vai encher o saco de uma cabra cega!

— Falaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa…

— Nãooooooooo…

— Fale ou te obrigo a falar!

— Tente!

Sem aviso, Jordana atirou Aline ao chão e sentou sobre o ventre dela, prendendo suas mãos acima da cabeça.

— Vai falar não?

— Não mesmo — respondeu Aline, um pouco grogue pela queda e pelo susto.

— Se não falar por bem, vai ter de falar por mal.

— Me obrigue.

Jordana aproximou seu rosto do dela, que prendeu a respiração quando ela roçou os lábios nos seus.

— E agora?!

Aline soltou o ar dos pulmões, gaguejou:

— Não fa-falo. Nem sob t-tor-tortura.

— Hum, veremos… — Jordana sorriu com malícia e voltou a encostar seus lábios nos dela. Dessa vez, aprofundou o beijo e quando se afastou Aline disse com um sorrisinho safado nos lábios:

— Isso é tudo que pode fazer? Vai ter que se esforçar muito mais.

— Vamos ver!

E esse foi o início de uma noite cheia de prazeres e gemidos, toques e carícias, sorrisos e beijos.

Algum tempo depois, ainda deitadas no chão da cozinha, Aline disse:

— Jordana.

— Oi.

— Você tem que parar com essa mania de tentar me obrigar a falar, tu sabe que sou jogo duro!

FIM


Essas meninas não têm jeito… Hehe…

Logo estarão de volta. Até lá, quero deixar um beijão para vocês e agradecer os comentários e companhia.

Táttah



Notas:



O que achou deste história?

3 Respostas para Episódio 2

Deixe uma resposta

© 2015- 2019 Copyright Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução total ou parcial do trabalho sem a expressa autorização do autor.