— Você vai o quê?! — perguntou Aline, surpresa. Ela tinha os olhos arregalados e a boca contorcida de uma forma engraçada, enquanto Jordana fazia uma dancinha desengonçada pela sala.

A amiga tinha acabado de entrar no apartamento que dividiam com sua costumeira agitação infantil, jogou a bolsa que trazia em um canto de parede e soltou a notícia bomba.

— É isso mesmo. É isso mesmo! — Jordana deu um gritinho.

Estava tão eufórica que mal conseguia falar. 

— Eu vou casar! Eu vou casar! Eu vou casarrrrrrr… — rebolou um passo de funk, que de tão esquisito Aline pensou que ela estivesse tendo uma convulsão e chegou a deixar o conforto do sofá para ampará-la. — Isso não é incrível?!

Jordana se jogou nos braços dela, que respondeu ao se afastar:

— Incrível é uma palavra bastante adequada para a situação. — Observou. 

— Que foi, mulher? Não está feliz por mim? — perguntou de repente, sentando ao seu lado no sofá.

Aline mostrou um sorriso amarelo.

— Estou apenas me perguntando quem, em sã consciência, iria querer casar com você. O Davi estava bêbado quando fez a proposta? Ele bateu com a cabeça recentemente?

— Ihhhh, lá vem você de novo. Mas não adianta, porque não vai estragar a minha felicidade — Jordana declarou, ainda mais sorridente.

— Não se trata disso, — defendeu-se Aline, muito séria — estou apenas constatando o óbvio. Vamos analisar a situação com cuidado. Por exemplo, quando vocês casarem, quem vai cuidar da comida? Espero que o Davi seja um bom piloto de fogão, pois você não sabe fritar nem ovo.

Revirando os olhos, Jordana respondeu:

— Ele também não é muito fã de cozinha… — Admitiu. Depois, abriu um sorriso despreocupado e disse: — Ah, compramos comida pronta!

— Vai custar uma fortuna. Além disso, tem que requentar e você é um perigo perto do fogão ou microondas. Lembra da última vez em que tentou esquentar um pouco de água para fazer NESCAFÉ? 

— Ah, foi só daquela vez — fez um beicinho. — Não quer dizer que vai acontecer de novo.

— Não vai acontecer?! — Aline sorriu, descrente. — Até hoje estou procurando o fundo da panela, ele simplesmente evaporou. Isso, sem falar que você quase pôs fogo no prédio. Tenho medo de comprar uma cafeteira elétrica e deixá-la perto de você.

— Foi só um pequeno acidente. Pode acontecer com qualquer um — argumentou com um biquinho chateado.

— Verdade… O problema é que esses pequenos acidentes costumam acontecer muito com você. — Recordou suave, para em seguida retornar ao ataque:. — E quem vai lavar a roupa?! 

Aline cruzou os braços, afetada. Soprou alguns fios de cabelo, que lhe caíam sobre o rosto e fez uma careta, antes de prosseguir sem dar chance de Jordana responder.

— Pois, se for você, acho bom o Davi começar a curtir uma moda “arco-íris”, já que você tem mania de lavar as roupas sem separar por cores. Na última vez em que se deu ao trabalho de lavar as nossas roupas, meu short preferido se tornou amarelo com manchas rosas, e olha que ele era azul, originalmente. — Divertida, ela emendou: — E quem irá passar?

— Tenho até medo de lhe responder que serei eu — bufou a amiga.

— É… Péssima idéia. Ainda morro de vergonha toda vez que lembro que saí de casa crente que estava usando minha calça nova e inteira. Recordo bem de olhar para as pessoas e as ver rindo sem saber o motivo. Somente quando senti um frescor diferente no bumbum é que percebi que estava faltando um pedaço dela.

Jordana fez uma pequena careta e riu sem graça.

— Um pequeno acidente — falou.

— Que você, convenientemente, esqueceu de me contar — Aline acusou-a.

A amiga ergueu as mãos em um gesto que pedia calma.

— Depois de conviver com o seu péssimo humor durante a TPM, entenderia o motivo de ter ficado calada e esperado para contar sobre isso depois.

— Minha TPM não está em foco aqui — Aline cortou o assunto. — E quando vocês tiverem filhos? Já pensou nisso?

— O que é que tem? 

— Vamos ser sinceras, Jô. Você acha que tem jeito para ser mãe?

— Claro! Por que você acha que não?

— Porque tenho certeza de que a sua irmã discorda veementemente disso.

Emburrada, Jordana reclamou:

— Pôxa, você só procura os meus erros! Vou ser uma boa mãe, uma excelente mãe, a melhor mãe do mundo! 

— Claro que vai. Basta não dar milk-shake com vodka para seus filhos! 

— Eita, que você hoje acordou do lado do “contra”! Sabe muito bem que o lance do milk-shake não foi culpa minha. O pestinha do meu sobrinho guloso tomou o dele todo e resolveu roubar o meu milk-shake batizado, enquanto eu estava distraída no celular.

— Só está confirmando que você é um perigo para as crianças. Se distrair perto delas é como fazer um convite para uma catástrofe.

Jordana deixou um gemidinho irritado escapar, então declarou:

— Contrataremos uma secretária do lar. Ela irá cozinhar, lavar, passar e também será babá dos nossos filhos. Pronto, problema resolvido! E para de me jogar na cara, que não sei fazer nada direito.

Aline desviou da almofada que ela lhe atirou e ficou de pé com um dar de ombros. Afastou-se em direção ao corredor que levava ao seu quarto com um sorrisinho safado.

— Na verdade, tem uma coisinha que você sabe fazer como ninguém — declarou, interrompendo a tentativa de Jordana de fazer mais um lançamento de almofada.

— É mesmo? O que é? 

— Você não precisa se preocupar com isso. Deixa para lá! — respondeu despreocupada.

— Caramba! Que mania chata de nunca me contar nada. Fica fazendo suspense. Detesto isso.

— Eu sei. Por isso é tão divertido te deixar curiosa. 

— Cretina! — Jordana, finalmente, atirou a almofada nela.

— Bobona!

— Conta logo. 

— Não estou a fim de falar. Vou descansar um pouco, afinal, hoje é sábado.

— Chata! — Jordana berrou quando ela desapareceu no corredor.

Por algum tempo, ela ficou emburrada, depois decidiu que a obrigaria a falar e sabia o jeito certo de fazer isso.

Algum tempo depois, Aline acordou com Jordana por cima dela, exibindo uma tesoura e um sorriso medonho, que beirava a loucura. Assustada, ela tentou se afastar e notou que suas mãos e pés estavam atados à cama.

— Mas que droga é essa? Enlouqueceu? — Perguntou.

Jordana soltou um risinho malicioso enquanto brincava com a tesoura.

— Que droga é essa?! Me solta!

— Com prazer, depois que você falar. 

— Falar o que, louca? — perguntou, já esquecida da conversa na sala. 

— Você sabe bem. — Jordana inclinou-se um pouco, um brilho medonho no olhar. Aline mirou a tesoura, cada vez mais assustada, então recebeu um beijo leve no pescoço e respirou aliviada ao compreender que aquela era mais uma das brincadeiras safadas da amiga. — Fala o que eu quero saber. 

Aline tremeu ante o contato do metal da tesoura na sua pele, o corpo esquentando rapidamente. Sorriu de lado e entrou no jogo.

— De jeito nenhum.

— Posso ser bem convincente, sabe? Tudo o que tem a fazer é falar o que quero saber. 

— Vai ter que se esforçar bastante! — derramou provocação no sorriso.

— Então, vamos começar — Jordana respondeu no mesmo tom.

Ela beijou a amiga, acariciou e tocou. Cortou suas roupas, peça por peça, se deliciando com os protestos dela. A cada carícia, perguntava o que desejava saber, porém, Aline fazia jogo duro, desmanchando-se em gemidos cada vez mais altos. Quando cortou a última peça de roupa dela, Jordana já não se importava mais com o motivo que gerou a “brincadeira” e libertou Aline, que não se fez de rogada e a atacou com gula. 

Lá pelas altas horas da madrugada, corpos entrelaçados em momento de descanso, Jordana pergunta:

— Aline.

— Hum? 

— Você não vai mesmo me contar no que eu sou boa?

Aline a olhou com um sorriso safado.

— E você ainda pergunta?! 

Risos. 



FIM.

 


Ainda estou com problemas no meu noteboook, amores. Então, como não posso dar um capítulo de “O Castelo do Abismo” para vocês, pensei que poderia dar ao menos um sorriso.

Esse 3º episódio de “Fale ou Te Obrigo a Falar” estava revisado há um tempo, mas acabei esquecendo de postar. Para quem gosta dessas duas amigas loucas, existe um 4º e último episódio. Espero poder revisar e postar em breve.

Beijos!



Notas:



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