Parte IV

 

 

Aline tomou outro gole da garrafa de vinho. Parecia querer se afogar na bebida para não ter que assistir aquela cena que em tudo lhe deprimia. Era torturante! As pessoas a olhavam estupefatas, mas ela não estava nem aí. Que importava se estavam dentro de uma igreja? O padre também bebe vinho durante a missa!

O rapaz a seu lado, o padrinho da noiva e irmão de Jordana, tentou lhe tomar a garrafa e ela deu-lhe um pisão no pé que o deixou roxo de dor.

— É minha! Vai procurar outra pra você. — mostrou a língua como uma criança.

— Aline, para de beber! Estamos em uma igreja, no casamento da minha irmã! Porra! — ele falava baixo para não atrapalhar a cerimônia.

Infelizmente, para ele e Jordana, Aline respondia quase aos gritos.

— Eiiiiiiii… Num fala palavrão na igreja, porra!

O padre os fitou, zangado, Jordana e o noivo boquiabertos e o resto dos convidados curiosos ante a perspectiva do que aconteceria a seguir.

— Sua doida, me dá logo essa garrafa!

Jorge, o irmão de Jordana, avançou sobre Aline tentando, em vão, lhe tirar a garrafa das mãos. Aline, por sua vez, deu um passo para trás, esticou a perna diante de si e o rapaz desprevenido tropeçou nela e caiu de cara no chão arrancando uma gargalhada de todos os presentes, nem mesmo o padre deixou passar.

— Ô, cara chato! — Aline berrou para ele — Cê tá atrapalhando o casamento, pô! Faz silêncio aê! — soluçou e tomou outro gole de vinho.

Jordana ria alto, toda aquela confusão era muito divertida, mas Aline já estava quase às quedas de tão bêbada e resolveu se escorar no padre para não cair.

— Vai um vinhozinho aê, seu padre? Tá… irc… muito gostoso! Irc… Ah, toma um pouquinho, vai! Sei que o senhor adora, toma uma taça em toda missa, pinguço! — riu.

— Minha filha, você está atrapalhando o casamento da sua amiga. Que tipo de madrinha é você? Está caindo de bêbada.

Ela riu alto.

comemorando, seu padre! Temos de comemorar o casamento, pô!

— Comemoração se faz depois, filha.

— Ah, bom! — ela lhe dirigiu um olhar emburrado, emborcou a garrafa e bebeu todo o resto do vinho de uma só vez. — Pronto! Irc… Po… pode continuar o casório.

Todos reassumiram seus lugares e a cerimônia recomeçou, mas antes que o padre começasse a falar, Aline voltou a interrompê-la.

— Seu padre, já chegou no “fale agora ou se cale para sempre?”.

Ele a olhou sem paciência.

— Não!

! Quando chegar me fale.

— Certo, filha. — ele respirou fundo para manter-se calmo.

Ele abriu a boca para reiniciar seu discurso e novamente foi interrompido.

— Por favor, não se acanhe! Me fale, viu?

O noivo, já estressado com as interrupções, falou colérico:

— Cala a droga dessa boca!

Ela riu.

— Ui, estressadinho. Toma um chazinho de camomila, toma.

— Quando a Jordana disse que queria que você fosse a madrinha dela, eu fui contra, mas ela insistiu e veja só! Você não pára de atrapalhar o nosso casamento! Nunca gostei de você, sua sap…

— Diego, não fala assim com a minha amiga! — Jordana resolveu se manifestar pela primeira vez.

— E você ainda a defende?! Essa mulher sempre foi uma péssima influência pra você e…

— Putz! Que otário! — Aline o interrompeu — Parece até a minha mãe falando “uma péssima influência”! Eca! Manezão!

Jordana riu e metade dos convidados a acompanharam.

— Viu?! Ela é uma péssima influência! Veja só, você rindo porque ela me insultou! Que droga!

— Você mereceu. — Jordana respondeu simplesmente.

Aline se voltou para o padre tropegamente.

— Seu padre, pergunta logo aquele negócio do “fale agora ou se… se… irc… cale”.

— Filha, ainda não é a hora.

— Pergunta! — o noivo exigiu — Quero ver o que essa daí tem pra dizer!

O padre já cansado daquela confusão resolveu perguntar de uma vez, a coisa já tinha fugido ao seu controle mesmo.

— Alguém aqui tem algo a dizer que possa impedir a união desse casal? Que fale agora ou se cale para sempre.

Aline mal o deixou terminar de falar e foi logo levantando a mão.

— Eu! Eu! Eu!

— Sim, filha. Diga!

Aline calou-se, pôs a mão no queixo, se escorou em Jorge e ficou pensando. O noivo, nervoso, se irritou ainda mais.

— Fala logo, sua sapa de uma figa!

Ela o olhou meio vesga pelo álcool.

— Cara, como tu é chatoooooooo… Quer que eu fale assim, de supetão, na frente de todo mundo que você é corno?! Tudo bem! Cornoooooooooooooo… Como tua mulher há meses! Cornoooooooooooo…

Ele abriu a boca, bestificado. Jordana berrou:

— Aline! Isso é jeito de falar de mim?! Eu não sou comida!

— Mas é muito gostosa! — sorriu safada e foi vencida pela bebida desmaiando nos braços de Jorge em seguida.

 

 

Aline acordou em sua cama, do seu lado estava Jordana sentada em uma cadeira. Olhava-a fixamente com seus grandes olhos castanhos e brilhantes. Sua cabeça doía horrivelmente e não conseguia se lembrar de nada depois da terceira taça de vinho que tomara, antes de chegar à igreja. Era muito fraca para bebidas.

— Como foi que eu vim parar aqui e por que você vestida de noiva?

— Eu te trouxe, depois que você estragou meu casamento.

— Eu o quê? — sentou-se na cama.

— Você armou a maior confusão na igreja e disse que me “comia” havia meses.  O Diego me largou.

Aline levou a mão à boca pra esconder o sorrisinho de felicidade.

— Você acabou com a minha vida!

— Eu? doida?

— Você! Porra! Eu ia me casar!

— Ah, Jordana, eu num fiz nada de mais, pô. Veja bem, te poupei de um destino cruel ao lado daquele babaca e, também, o ajudei a não ir à falência, afinal, você ia torrar toda a grana do coitado. Ficariam de esmolas.

— Doida!

— Completamente!

— Insana!

— Inegável!

— Cretina!

— Verdade!

— Safada!

— Só quando quero!

— Loucaaaaaaa…!

— Só por você! — Aline finalmente confessou o que havia muito sentia.

Jordana continuou sem perceber o que ela havia lhe dito:

— Sua maluca, desvairada e… O quê? — parou de falar de repente — O que você disse?

Aline manteve-se calada, o mundo girando diante de seus olhos.

— Repete! — Jordana exigiu.

Aline emburrou-se.

— Eu não! Só falo as coisas uma vez! Se você ouviu ou não, problema seu!

— Não começa, Aline! Desembucha!

— Oxe, que culpa tenho se, além de lesa, você é surda?

— Palhaça!

— Realista! É diferente!

— Repete logo o que disse, sua bruxa!

— Nunca! Nunquinha!

— Isso não é justo!

— Pelo contrário, é justíssimo!

Aline voltou a deitar-se na cama dando as costas a Jordana.

— Agora sai e me deixa dormir, lesona!

Jordana saiu, mas voltou minutos depois com algemas!

Aline, ainda sonolenta por causa do vinho, só percebeu que havia sido algemada a cama quando já era tarde demais.

— Que é isso? Tá louca? Me solta!

— Não mesmo! Vamos ver se você não vai falar!

— Eu não vou falar porra nenhuma! — berrou.

— Veremos!

Jordana cortou uma a uma cada peça de roupa que Aline vestia, deixando-a completamente nua e indefesa. Protestos e gritos da outra foram completamente ignorados.

— Sua louca! Meu vestido novinho! Você vai me dar um novo!

— Vou nada! Então, não vai mesmo falar?

— Agora é que não vou mesmo! Meu vestido, tão lindo! Louca!

Jordana sorriu enigmaticamente e falou:

— Você nem imagina o quanto. Tem certeza de que não vai falar?

— Tenho! Não interessa o que você faça, sua lesa, eu não vou falar!

— Certo!

Aline preparou-para uma tortura cheia de prazeres, mas ao invés disso, Jordana ligou o aparelho de som e iniciou uma dança sensual na qual se despiu de cada uma das peças de roupa que lhe cobriam o corpo. O Vestido de noiva foi jogado ao chão tão sensualmente que Aline quase babou.

Jordana aproximou-se dela lentamente, subiu na cama e recomeçou sua dança tocando propositalmente Aline vez ou outra, deixando-a louca de desejo. Aproximou-se, sentando em seu ventre, mordiscou-lhe a orelha e perguntou novamente:

— Vai falar?

Aline engoliu em seco.

— Só falo se você soltar minhas mãos.

— Isso não parece justo.

— É perfeitamente justo.

Jordana a soltou e, no instante em que se viu livre, Aline grudou seus lábios aos dela e envolveu seu corpo com o seu, loucamente cheia de desejo e paixão. Jordana nem pensava em impedi-la.

Uma hora mais tarde…

— Line…

— Oi!

— Por que disse aquilo na igreja? Poderia ter ficado calada, eu teria me casado… — empolgou-se — Teria filhos lindos. Seriam três! Já tinha até escolhido os nomes: “Márcio, Juno e Júlio”!

Tava querendo montar um calendário quando pensou nesses nomes?

— Chata! Responde logo a pergunta!

— Não queria ser sua madrinha, não queria que você casasse com aquele idiota e o seu irmão é irritantemente estúpido e imbecil, não podia ter escolhido outro para padrinho, não?! Além disso, o vinho tava muito bom! — riu.

— Ai, como é implicante! Agora diz o que você falou mais cedo.

— Eu?

— Sim, você!

— Eu não disse nada de mais!

— Fala logo, chata!

— Não afim! Me obriga!

— Além de chata é safada! Aff!

— Safada e completamente apaixonada por você, bestona!

Jordana fixou o olhar no dela e sorriu.

— Eu também sou; por você.

Aline a olhou surpresa. Tanto tempo com medo de falar o que sentia, com medo de não ser correspondida e era justamente o contrário. Beijou-a e apertou mais o abraço. Jordana continuou a falar:

— Esperou eu quase me casar pra me falar isso? Poderia ter poupado muito tempo e muita confusão.

— Né! Mas é que, tipo assim, adoro as suas formas de interrogatório!

Risos.

 

FIM



Notas:

Bem… Chegamos ao fim desses interrogatórios insanos.
Espero que tenham gostado e rido um pouquinho também.

Beijos!




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