Gringa Grudenta

4. Após a queda

Aglaia não quer se levantar da cama.

Ontem fora um dia horrível. Não apenas cometera duas falhas que resultaram nos gols da Red Phoenix, quebrando a sequência de 10 jogos sem perder das Royal Foxes e de quebra sendo ultrapassadas pelas suas maiores rivais na disputa pelo título, ela ainda cometeu um erro pelo qual ela não sabe se vai conseguir se perdoar tão cedo: contundira uma jogadora adversária. Foi tão grotesco que ela nem se importa mais de ter tomado seu primeiro cartão amarelo na temporada.

Em cinco anos de carreira, isso nunca tinha acontecido. Claro, já tinha cometido faltas idiotas e tomado cartões, especialmente quando era mais nova e inexperiente, mas machucar alguém ao ponto da atleta adversária ter que ficar várias rodadas sem jogar? Essa é inédita.

Aquela garota brasileira parecia estar com tanta raiva. E o pior foi que quando ela recusou o tratamento médico, Aglaia quase conseguiu acreditar que ela estava bem e que havia se preocupado demais à toa, até vê-la mancando. De manhã, acordou com Lumia lhe enviando o link de uma notícia tirada diretamente do site oficial da Red Phoenix: Crista ficaria de duas a quatro semanas sem jogar, de acordo com o departamento médico da equipe. E o pior, era a sua estreia! Como ela pode fazer isso com uma jogadora adversária no dia da sua estreia?! O que ela deve estar pensando de Aglaia nesse momento?!

Aglaia sequer conseguira se levantar para ir para a faculdade.

Ela até consegue ouvir Daisy Forest lhe dando uma bronca nesse momento: “você sabe quantas pernas de atacantes eu já quebrei, desde que jogava lá no Agrio Reapers?! É o nosso trabalho! Você não tem culpa alguma, agora larga esse travesseiro e vamo pra academia”.

Aglaia ouve o smartphone apitar várias vezes durante a meia hora seguinte, até que finalmente cede e se levanta.

– Ugh, tá bom, eu tô indo! – ela pega o aparelho na estante ao lado da cama e o enfia no bolso enquanto vai até o banheiro lavar o rosto. Se troca, coloca o café pra esquentar e enquanto isso checa suas mensagens. A maioria delas são de Jay e Lumia conversando no grupo do Messenger, onde falam sem parar desde as 7 da manhã.

– Aglaia não veio pra aula hoje? – eles perguntaram em certo momento. A loira continua descendo a conversa até o final, lendo as mensagens, antes de digitar:

– Desculpa, gente. Não estava muito bem, perdi a hora.

– Deixa que eu te ajudo a achar – brinca Jay. Rindo, Aglaia fecha a conversa e vai checar suas outras redes sociais. Apaga as centenas de notificações do twitter, facebook e instagram sem conferir nenhuma, troca para a sua conta secreta do twitter onde mantém apenas amigos próximos, curte e retuíta algumas publicações, manda um “bom dia” no grupo do Messenger da faculdade, pede para que alguém a passe as anotações depois e torna a guardar seu celular no bolso.

Após tomar uma xícara de café e comer uma fruta, ela se dirige à sua sala de ginástica dando tapas no próprio rosto.

– Ânimo, Aglaia.

5 sessões de 25 flexões, 5 sessões de 25 abdominais, 5 sessões de 25 polichinelos, 5 sessões de 25 agachamentos, 20 intensos minutos na bicicleta ergométrica e 10 minutos de corrida leve na esteira depois, Aglaia se encontra debaixo de uma ducha gelada. Ela deixa seus cabelos se molharem, a água escorrer pelo corpo e, pouco a pouco, consegue permitir que seus músculos relaxem. Seus olhos se prendem na enorme tatuagem colorida que se estende da parte alta do seu peito, perto dos ombros, até a metade do abdômen.

É uma imagem de Alma Luce, The Warrior of Light, sobre sua fiel montaria, Kiki. São os protagonistas de uma série de quadrinhos infantis populares em Alter que Aglaia ama desde pequena. A imagem foi inspirada na capa de um dos livros, “Alma Luce contra o Império Orc do Oeste“. Ela gostava tanto dessa série que até hoje mantém e continua expandindo sua enorme coleção de produtos da série.

Ela sai do banho e vai direto ao CT das Royal Foxes. Uma vez por semana, tem sessões de terapia com a psicóloga do clube, dra. Miller. Não mora muito longe de lá, por isso vai caminhando. Prefere evitar carros tanto quanto pode. Na sessão, Aglaia desaba: despeja sobre a doutora seu sentimento esmagador de falha, a frustração com aquela derrota no jogo mais importante da temporada até então e, principalmente, a culpa por ter machucado gravemente outra jogadora.

Na humilde opinião de Aglaia, Dra. Miller não fala nada com nada e talvez seja meio doidinha, mas ela é uma senhorinha gentil, uma boa ouvinte, boa para desabafar. Aglaia sai da sessão se sentindo mais leve, mais preparada para refletir sobre aquele jogo.

Se lembra de como a garota havia ficado cada vez mais irritada com o passar da partida. De como ela falava palavras incompreensíveis na sua língua, mas que Aglaia conseguia compreender a mensagem pelo tom e expressão corporal. E como era horrivelmente difícil marcar aquela criatura. No começo, não parava de correr de um lado para o outro! Aglaia fez o que podia para segui-la, mas ela era rápida. Ao menos, ela acabou por desistir. E então, aquela facilidade sobrenatural para conduzir a bola… Aglaia suspira com alívio por não ter deixado ela livre mais vezes, senão não consegue imaginar o estrago que teria feito.

O resto da semana se segue de forma mais tranquila, apesar dos comentários nos jornais e canais esportivos superestimando a suposta nova rivalidade entre Aglaia e Crista. Ela nunca teve nenhum grande desentendimento com outras atletas antes e isso não vai acontecer agora: quando tiver a chance, pedirá desculpas pela entrada dura. Da próxima vez que se enfrentarem, será um jogo limpo.

Sete dias depois do jogo contra a Red Phoenix, as Royal Foxes enfrentam a Dytikó Eagles, então em oitavo lugar no campeonato porém em boa fase, no mesmo horário em que a Red Phoenix jogar contra as Tharpolis Warriors, em terceiro lugar, porém vários pontos atrás das Royal Foxes. Quando o jogo termina em 2 a 0 para as Royal Foxes, Aglaia e o resto da equipe logo correm para o vestiário para assistir o finalzinho do jogo entre a Red Phoenix e as Tharpolis Warriors, ao qual haviam ouvido que estava em 1 a 1, porém nos momentos finais Storm marca um gol de falta e dá a vitória heroica à Red Phoenix. Lamentos irrompem por todo o vestiário.

– Puta que pariu, que sacanagem!

– Tava tão perto!

– Vai ser difícil pegar elas agora…

As Tharpolis Warriors eram a chance de ouro que as Royal Foxes tinha para retomar o primeiro lugar. Se nem elas conseguiram parar a Red Phoenix, mesmo desfalcada da sua nova armadora, significa que a Red Phoenix mantém uma vantagem tanto em pontos quanto em adversárias menos complicadas até o final da temporada em relação à Royal Foxes. Elas saíram na frente. “Por pouco”, Aglaia se tranquiliza. “Muito pouco”. Apenas um ponto separa as duas equipes.

Na semana seguinte Aglaia treina mais pesado do que nunca, especialmente nos treinos físicos. Teriam um jogo na quarta-feira pela Taça de Alter e outro no sábado pela Superliga, dando apenas dois dias de descanso entre as duas partidas. Aglaia pretende jogar ambos os jogos a todo custo, mas ela sabe que Rebecca poupará quase todas titulares no jogo da Taça.

– Aglaia, Bonfire e Crystal, preparem-se para entrar – chama a treinadora, séria, aos 20 minutos do segundo tempo.

A partida é apenas as oitavas de final da Taça contra uma equipe da segunda divisão chamada Southern Pirates e, por isso, apenas a goleira e as duas zagueiras da equipe titular haviam sido escaladas. No entanto, as Pirates estão jogando bem melhor que o esperado e até aqui, levando uma vitória por 1 a 0 e 59% da posse de bola.

Lumia não gosta nem um pouco de não ser chamada, mas antes que possa fazer chilique Aglaia põe a mão sobre seu ombro e a tranquiliza com o olhar.

– Foco na Superliga – ela diz.

– Foco na Superliga – concorda a outra.

Bonfire é uma das meias-centrais titulares da equipe, enquanto Crystal é a centroavante titular. Aglaia rapidamente entende seu papel no jogo: as Pirates jogam muito baseado na sua armadora, a camisa 11 Lynx, uma garota jovem e talentosa. A função de Aglaia é suprimir a criatividade delas no meio-campo, criando assim mais liberdade para o resto das suas companheiras atacar.

A estratégia funciona: essa garota Lynx pode ser boa, mas não é nem de longe tão boa quanto Crista. Não corre nem dribla igual uma alucinada, nem se livra de situações que deveriam ser impossíveis. As laterais das Royal Foxes encontram mais espaço para apoiar o ataque e não demora muito para Crystal marcar um gol de cabeça, empatando o jogo em 1 a 1.

O resto da partida se passa com as Pirates numa retranca total e difícil de furar e a partida termina com um surpreendente empate, como um David forçando um Golias ao impasse. Talvez não tão surpreendente, considerando a equipe quase totalmente reserva das Foxes.

– Só precisamos vencer por 1 a 0 no jogo da volta para passar – observa Lumia, roendo as unhas no vestiário – e no próximo jogo, vamos com mais titulares, não vamos?

Poucos dias depois, as Foxes derrotam a Alba United por 2 a 0 na partida da liga, mas continuam em segundo lugar no campeonato devido à vitória da Red Phoenix na mesma rodada.

– Foi um belo jogo, filha – elogia sua mãe, Manali.

Já faziam algumas semanas que elas não se viam. Aglaia, tendo que conciliar sua vida como atleta profissional e universitária, raramente acha tempo na sua agenda e, a agenda lotada de sua mãe, parte do conselho das Royal Foxes e acumulando vários outros cargos honorários devido ao seu passado lendário no esporte, não ajuda nem um pouco. Mas não naquele sábado à noite.

Elas haviam combinado de passar um tempo juntas após a partida de mais cedo. Aglaia sorri, boba e orgulhosa, no banco do passageiro do carro da mãe.

– Obrigada.

Receber um elogio da sua mãe é sempre bom. É melhor ainda quando ela é a maior lenda do seu país no seu próprio ofício: Manali foi a líder do meio-campo da Seleção de Alter dos anos 80 e 90, que ficou conhecido como Quarteto Fantástico e foi a melhor equipe que a Seleção de Alter já teve.

– Então, o que você preparou hoje? – pergunta Aglaia, apoiando o cotovelo no banco e a mão na cabeça para encarar sua mãe. Fisicamente, elas não poderiam ser mais diferentes uma da outra: Aglaia tem a pele clara, cabelos loiros, olhos azuis, enquanto Manali tem a pele escura, olhos e cabelos castanhos. É internamente que se vê as semelhanças entre mãe e filha. Manali torna para Aglaia e copia seu sorriso.

– Que tal se nós fôssemos para a sua pizzaria preferida – ela aperta o nariz de Aglaia com o indicador, que grita “ei!” e a afasta com um tapa falso – e depois fôssemos pra sua casa – ela faz mais um boop no nariz da filha, que começa a rir enquanto diz “ai mãe, para com isso!” – e terminássemos de assistir uma daquelas suas séries que você JURA que não são infantis?

– Steven Universe não é infantil! – replica Aglaia, fingindo-se de revoltada.

– Claaaaaro que não – Manali ri, divertindo-se com a encenação de Aglaia.

– Quer dizer, não é SÓ infantil, pelo menos! Muitos adultos assistem! – Manali puxa Aglaia para um abraço de lado.

– Não se preocupe, filha. Apesar de você ainda ter os gostos de uma criança de 8 anos, eu ainda te amo, tá?

– Ai meu deus, mãe! – Aglaia fica vermelha de vergonha, mas ri e se diverte. Ela ama essa dinâmica entre as duas e, por mais que goste do seu estilo de vida independente atual, sente falta de quando era uma adolescente cheia de mimos na casa da mãe.

Manali liga o carro e conduz as duas até a Naples, uma pizzaria local do bairro onde Aglaia cresceu. Foi onde ela celebrou seu aniversário de 15 anos numa festinha reservada apenas com amigos mais próximos, Jay e Lumia. Foi onde comemorou sua volta à sua cidade-natal ao ser contratada pelas Royal Foxes, depois de anos longe do lugar que amava, e é onde comemorou o título da Superliga na sua temporada de estreia pelo seu time do coração, em 2017/18, na companhia apenas de sua mãe.

Os proprietários do pequeno estabelecimento são Betty e Hanna. Elas tinham seus 20 e poucos anos e tinham acabado de terminar a faculdade de gastronomia quando abriram a pizzaria, na época em que Aglaia ainda era criança. Hoje em dia, elas têm perto dos 40 anos.

Quando o sino da porta de entrada toca, Hanna, parada perto do balcão, é a primeira a cruzar olhares com as duas recém-chegadas. A mulher vem toda alegre cumprimentar Aglaia e Manali, fala sobre ter assistido o jogo agora há pouco. Logo Betty aparece atrás do balcão para cumprimentá-la, sorridente, elogiando sua vitória. Alguns dos clientes da pizzaria parecem olhar em sua direção. Aglaia reconhece a camisa laranja das Royal Foxes numa garotinha pequena, loira, sentada com a família numa mesa e encarando com o pescoço torcido feito uma coruja, boca meio aberta e olhos arregalados.

Já se passaram cinco anos desde que Aglaia se tornou uma atleta profissional. A vida inteira ela esteve sob a sombra de sua mãe, a lendária Manali, capitã da lendária seleção de Alter dos anos 80 e 90. Filha de uma estrela do futebol feminino e ela mesma uma estrela já há alguns anos, ainda sente um quê de constrangimento a cada vez que tem que lidar com esses olhares.

– Que tal meia calabresa acebolada, meia marguerita, mãe?

– Claro – Manali aceita. Hanna anota o pedido o leva para a cozinha. Aglaia dá uma espiada na direção da garotinha, ainda a encarando como se num transe.

Aglaia desencosta do balcão e caminha na direção da garotinha, que parece se assustar e volta a atenção ao seu prato. Seus pais soltam risadinhas. Aglaia se agacha ao lado da garota, ficando com os olhos pouco abaixo dos dela.

– Hey. Tudo bem? – cumprimenta Aglaia com um sorriso amistoso. A garotinha, visivelmente nervosa, olha para ela e assente freneticamente – como você se chama?

Ela não responde.

– Vamos filha, qual o seu nome? – a mãe da garotinha murmura para ela, do outro lado da mesa. A menina olha para o chão.

– Jen – sua voz sai tão baixa que Aglaia quase não a ouve.

– Olá, Jen. Eu sou Aglaia – ela oferece a mão para a menina, que timidamente a sacode. Aglaia sorri mais abertamente para a garota, que parece ganhar um pouco de confiança.

– Ti-tira uma foto comigo? – ela gagueja.

– Claro!

As duas posam para a câmera, que é o celular na mão da mãe de Gem. Aglaia, de pé, segura Gem pelos ombros, que fica também de pé à sua frente, apontando para o escudo das Royal Foxes desenhado na camisa, um sorriso bobo no rosto. A mãe da criança bate a foto, sorrindo de orelha a orelha. Em seguida, Aglaia troca algumas palavras rápidas com a família e volta à sua mãe, que a encara com aprovação.

– Lembra de quando eu era a estrela e você ficava querendo me proteger dos fãs? – ela pergunta, arrancando risadas da filha.

As duas vão se sentar numa mesa num canto reservado, longe da porta, onde conversam animadamente. Aglaia volta e meia faz perguntas para a mãe sobre teorias dela para o que vai acontecer a seguir em Steven Universe. Durante o jantar, dois garotos adolescentes também vêm pedir uma foto, dessa vez não apenas com Aglaia, mas com Manali também. Pareciam bem mais confiantes do que Jen, que já havia ido embora com a sua família a essa altura.

Após o jantar as duas se dirigem ao apartamento de Aglaia, onde mãe e filha passam boa parte da noite deitadas na cama de Aglaia, assistindo episódio atrás de episódio da terceira temporada de Steven Universe na SmarTV da loira. Já é quase meia-noite quando elas desligam a TV e ficam conversando até dormir.

Segunda-feira. O dia da volta à correria semanal. Aglaia acorda, toma café da manhã rapidamente e, mais uma vez evitando o carro, usa sua bicicleta para ir para a faculdade, onde ela encontra Lumia e Jay. Os amigos conversam rapidamente nos minutos antes da aula começar, combinando de se encontrar na lanchonete do campus no final do dia, para assistirem ao jogo de sua amiga Mira e passarem um tempo juntos. Já está bem em cima da hora quando Jay sai correndo na direção do centro de seu curso, enquanto Lumia e Aglaia se dirigem ao centro de educação física.

Após o final da aula, Aglaia tem um almoço leve e vai direto para o treino, mais uma vez recusando o convite de carona de Lumia e usando sua fiel bicicleta. Após o final do treino, volta para a faculdade.

Jay, junto de alguns outros amigos, já a estão esperando na mesa perto da televisão. Aglaia vai direto até eles, cumprimentando cada um com um abraço, sorrindo abertamente aos seus amigos, cansada e faminta pelo dia longo.

– Ué? Cadê a Lumia e o Stergios? – pergunta Aglaia.

– Stergios tem aulas pra dar agora, lembra? – diz Polina.

– Ah, é! – Aglaia se senta ao lado de Jay – e como está sendo pra ele?

– Ótimo! – dessa vez é Chryssa quem responde – ele realmente leva jeito.

Stergios, o irmão mais velho de Chryssa e Polina, é um veterano do curso de literatura inglesa. Como é tradição dos cursos de letras da Universidade de Calisto, aquele ano, como todos os outros, cursos de línguas foram abertos para ajudar estrangeiros a se integrarem na sociedade alteriana, ou para ensinar novas línguas aos próprios alterianos, servindo como um estágio aos alunos em reta final do curso. Stergios havia passado no teste para ser o professor do curso de inglês para iniciantes logo após as férias de natal e ano novo.

– E a Lumia vai se atrasar – avisa Jay – parece que ela teve que ir ajudar a mãe com alguma coisa.

– Ah, que pena. Espero que não demore muito.

– Ai, eu também inventaria desculpas para fugir de ter que assistir futebol com vocês – brinca Indigo Eliah, arrancando risadinhas dos outros – que coisa de hétero!

– E sapatão – Aglaia, Chryssa e Polina falam ao mesmo tempo, e riem pela sincronia.

A abertura do jogo começa não muito depois: Aláti Sharks contra os Agrio Reapers, antigo time de Daisy Forest.

– Ei, gente. Querem que eu busque algo pra gente comer? – oferece-se Aglaia, dando pela falta de petiscos na mesa.

– Batatinhas? – sugere Jay.

– Batatinhas! – todos concordam. Sorrindo, Aglaia se levanta e vai para o balcão fazer o pedido. Tem que enfrentar uma longa fila. Parece até que todos os alunos da universidade resolveram vir para a lanchonete ao mesmo tempo! Após o pedido, fica esperando a sua entrega ao lado do balcão. Ainda tem algum tempinho até o começo do jogo, então não tem problema.

Quando volta, para sua surpresa, encontra alguém na sua cadeira. Uma garota de costas para ela, longos e densos cabelos castanhos cacheados escapando por baixo de um boné virado para trás, camiseta branca e bermuda bege.

– Voltei, gente! – ela anuncia, chamando a atenção dos outros – ei, Jay, quem é?

Ela indica a menina do boné, que se vira para ela. Pele escura, rosto fino, lábios grossos que harmonizam incrivelmente bem com as suas maçãs altas, nariz levemente largo, sobrancelhas grossas e olhos castanhos arredondados, brilhantes, intensos, que parecem carregar uma grande interrogação ao vê-la. Aglaia leva um pequeno susto, se lembrando da brasileira que havia machucado. Não, não é possível. Seria coincidência demais, não?

– Ah, essa é a Chris. Ela não fala inglês muito bem, então eu deixei ela ficar com a gente – explica Jay. Aglaia solta uma risadinha, tentando relaxar com aquele olhar incrivelmente intenso da garota desconhecida sobre si e deposita a bandeja de batatas fritas no centro da mesa.

– Não se preocupa, Jay. Já venho, vou arrumar uma cadeira pra mim – ela volta logo em seguida com uma cadeira da pilha de cadeiras reservas que ficam próximas do balcão e a aperta entre Jay e a recém-chegada – hey. Chris, não é?

– Olá – a garota sorri de lado, adquirindo uma expressão que Aglaia não consegue evitar de ler como maliciosa. Alguma coisa naquilo faz Aglaia sentir seu rosto aquecer e, quando percebe, a garota está lhe estendendo a mão. Aglaia a aperta e faz um esforço para parecer animada e inabalada.

– Olá! Eu sou Aglaia.

A expressão da garota muda subitamente de um sorriso malicioso para uma expressão de quem acabou de levar um tapa.

– Aglaia?! Royal Foxes, Aglaia?! – e ela completa com alguma frase em outra língua que Aglaia não faz a menor ideia do que significa.

– Crista?! – ela sabia. Sabia que ninguém mais poderia ter um cabelo único como aquele.



====NOTAS FINAIS

Vocabulário >

deixar livre: deixar uma atleta adversária sem marcação.

Superliga: o nome da liga nacional de Etéria.

retranca: quando o time assume uma postura extremamente defensiva, mantendo quase todas as suas jogadoras na defesa.

jogo de volta: alguns campeonatos (como a Copa que elas jogaram nesse capítulo) funcionam num sistema de 2 jogos, onde o placar dos 2 jogos é somado para definir uma vencedora, portanto perder em um dos jogos não significa necessariamente uma derrota, caso vença o outro por um placar maior do que perdeu (exemplo: perde o primeiro jogo por 1 a 0 e vence o segundo por 2 a 0, o placar final é 2 a 1). Mais detalhes no jornal.

===

Gosta do que eu escrevo? Considere conhecer meus livros na Amazon ou apoiar essa autora proletária independente que publica histórias de graça:

Meus livros na Amazon > https://www.amazon.com.br/kindle-dbs/entity/author/B08NHR3CZS?ref_=dbs_p_ebk_r00_abau_000000

Pix > briasribeiro@gmail.com

Meu Padrim > https://www.padrim.com.br/briasribeiro



Notas:



O que achou deste história?

Deixe uma resposta

© 2015- 2021 Copyright Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução total ou parcial do trabalho sem a expressa autorização do autor.