Gringa Grudenta

 5. Gringa gata tatuada

NOTAS INICIAIS

AVISO DE SPOILER: esse capítulo contém spoilers do final de “The Last of Us: Left Behind”.

a arte da capa foi feita pela @byegayb (user no twitter e instagram), mostra a Crista e a Aglaia no momento do reencontro. 

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Devido à torção feia no tornozelo, Crista precisaria ficar as semanas seguintes ao jogo em recuperação. Até que ela aguenta não ter que participar das sessões de musculação, ou os treinos específicos chatos, ou não levar esporro diário da treinadora, mas é tão entediante não poder bater uma pelada de vez em quando… Só o que ela tem pra fazer é jogar videogame, estudar inglês, participar das sessões de reabilitação e assistir os jogos do time, algo que ela faz só pra se torturar com a inveja da garota chamada Wave que vem sendo colocada no seu lugar.

“E tudo por culpa daquela loira oxigenada do caralho”.

Os jornais esportivos no dia seguinte à vitória da Red Phoenix tinham como manchete uma imagem de Crista mostrando o dedo do meio para Aglaia, com dizeres que segundo Storm, destacavam a recém-nascida rivalidade entre as duas. “E ninguém tá falando nada dos meus dibre não?”, ela perguntara, e Storm traduzira o resto da reportagem para ela.

Os jornalistas haviam descrito sua atuação como “apagada, porém decisiva em momentos oportunos”, destacando sua participação nos dois gols da equipe e como foi capaz de dar trabalho até mesmo para Aglaia, ao menos quando conseguia a posse da bola. Crista continua sem gostar muito do que houve – esses caras ao menos sabem o inferno que foi aquela partida?! – mas pelo menos eles reconhecem sua importância no jogo.

– Ué, mano. Mas cadê as minha sapatão? – ela se pergunta frustrada ao finalizar The Last of Us, até Carmen lhe mostrar que há uma continuação, a DLC Left Behind. Quando começa o jogo, logo na cena de abertura, quando Riley finge ser uma zumbi mordendo o pescoço de Ellie, Crista já sorri animada – ain, no pescoço não, fico toda mole assim – ela brinca.

Já não bastam as horas seguidas que passara sentada no sofá nos últimos dias, ainda tem muitas outras por hoje, com o joystick em mãos.

O final do jogo é um tsunami de emoções para Crista.

– Poeticamente, vamos acabar enlouquecendo juntas – a personagem Riley diz, arrancando lágrimas dos olhos da brasileira, que nunca admitiria estar chorando.

– Ah mano, tomar no cu.

– Qual é a terceira opção? – pergunta Ellie.

– … desculpa – aos poucos, a música dramática de fundo se torna mais audível.

– Não, não, não, pode ir tomar no meio do seu cu.

– Vamos. Vamos sair daqui.

A música se torna mais intensa e a tela fica preta, entrando os créditos.

– Nananão, pó pará com essa merda! – ela se levanta com vontade de tacar o controle na tela da TV – ah não, mano! Porra, porque que é sempre as sapatão que se fode? Mano!

Crista deixa o controle cair sobre o sofá e já arranca o celular do bolso. Acessa o twitter rapidamente e logo começa uma série de tuítes irados.

gatinha preta

@gatinhapretaaaa

ANEM MANO, ALGUEM AQ JOGO LEFT BEHIND???? NOSSA MANO

gatinha preta

@gatinhapretaaaa

mano vai toma no cu

nossa vei

a ellie e a rilley se amava ta lgd

elas merecia mt mais q isso

gatinha preta

@gatinhapretaaaa

EU N LIGO PRA MIM A RILLEY TB É IMUNE AGR E VAI SI FUDE

gatinha preta

@gatinhapretaaaa

O PRIMEIRO JOGO EH UM UNIVERSO PARALELO

A ELLIE E A RILLEY TAO JUNTAS POR AI VIVINHAS DA SILVA E MATANDO ZUMBI

gatinha preta

@gatinhapretaaaa

ELA TAVA JUNTO A VIAGEM TODA COM O JOEL, FODASE

gatinha preta

@gatinhapretaaaa

VCS N PODEM ME CONVENCER DO CONTRARIO

gatinha preta

@gatinhapretaaaa

elas tinha 14 ANOS vei vai se fude

eu N to chorando vc q tá

gatinha preta

@gatinhapretaaaa

e ceis sabe oq eh pior

aq nem tem brigadeiro pra eu fica me entupindo ate a depressão me leva

a vida eh injusta

gatinha preta

@gatinhapretaaaa

enfim vo procurar receita de brigadeiro na internet xau

Ela finaliza seu último tuíte com vários emojis de choro e se deita no sofá com os braços cruzados e encarando o teto, ainda frustrada com o final do jogo e refletindo seriamente sobre a ideia dos brigadeiros. Desde o começo ela já se lembrava que, no primeiro jogo, Ellie citava Riley e falava sobre ela ter morrido, mas mesmo assim Crista não se conforma.

– Crista? Você tá bem? – ela ouve a voz de Flora vinda do corredor. Crista acena por cima do sofá, sem entender o que ela está dizendo e esperando que seja o suficiente para deixá-la em paz. Em vez disso, ouve passos vindo em sua direção e esconde o rosto com os braços – Crista?

– Eu tô legal. Me deixa sofrer.

Flora para ao lado do sofá encarando Crista.

– Crista? Aconteceu alguma coisa?

– Eu não tô chorando! Você que tá! – ela replica irritada, ainda sentindo o rosto úmido. Flora se senta no braço do sofá e começa a acariciar seus cabelos.

– Ei, shh… vai ficar tudo bem – Crista se senta e se afasta pra outra ponta do sofá, assustada com sua atitude repentina e do seu ponto de vista, sem sentido.

– É o quê?! Que que cê tá fazendo, ô maluca?! – Flora parece confusa. Ela tira o celular do bolso, digita alguma coisa e entrega para Crista.

“Eu pensei ter ouvido você chorando, você não parecia tão bem. Está tudo bem? Estou aqui se precisar conversar, você sabe”. Crista respira fundo, pega o próprio celular e recita enquanto digita.

– Mano, essa caralha desse jogo matou minhas sapatão! – ela mostra a tradução para Flora.

bro, that shit in this game killed my dummies.”

E lá estava de novo, aqueles tais manequins. “O que ela quer dizer com isso?”, se pergunta Flora, encucada. O resto da mensagem também é difícil de decifrar.

– Eu não entendi o que você disse – ela digita – você pode tentar me falar em inglês?

Crista parece entender a mensagem, mas fica olhando pra cara de Flora por quase um minuto sem saber o que falar.

– Dê guêime kill lésbiens – ela finalmente solta. Flora levanta as sobrancelhas, achando finalmente ter entendido. Para confirmar, ela digita no google tradutor e mostra a mensagem para Crista. “O jogo matou lésbicas? Foi isso que você disse?”, ao que Crista começa a acenar freneticamente – yes, kill lésbiens! Guêime moderfóquer!

– Você tá falando da Riley?

– Ráilei! Yes! Guêime kill Ráilei!

– Nossa, essa cena foi tão triste! – Flora diz, já começando a lacrimejar e abraçando Crista – eu entendo perfeitamente o que você está sentindo agora!

Crista não entende uma palavra que sai da boca de Flora, mas compreende a mensagem pela sua expressão e tom de voz e retribui o abraço.

– Pois é mano!!! Filhos da puta, tá ligado!

– Pobre Riley… Pobre Ellie… tinham tanto o que viver ainda, isso é tão triste… – choraminga Flora.

– É só aparecer umas sapatão foda que eles tem que matar, porque não deixam minhas mina ser feliz tá ligado?! Caralho mano!

E assim as duas ficam consolando uma à outra por vários minutos, sem ao menos entender o que a outra está falando.

Alguns dias depois, Crista começa um novo jogo: “Far Cry Primal”. Ela mexe no joystick com uma mão, um tanto cansada de ficar tanto tempo sentada, enquanto distraidamente massageia o pé sobre o sofá com a outra. Seu tornozelo já está bem melhor depois de duas semanas de descanso e reabilitação, mas ainda sente umas pontadas de dor quando anda. Pelo menos finalmente pôde tirar aquela bota ridícula.

É meio-dia e vinte, o que significa que Jaylene e Flora devem estar prestes a chegar. Crista esconde seu personagem num canto do mapa e dá pause, pegando seu celular no bolso pra checar as mensagens no whatsapp. Ainda não consegue acreditar que essas gringas de Alter não usam e nem sabem o que é o famoso zapzap. Como todos os dias desde que se machucou, sua mãe e irmãos mandam mensagens desejando forças no grupo da família. Uma garota torcedora do São José com quem Crista costumava ter um rolo mandara emojis de coração e fotos dos seus cachorros durante a manhã. Crista sorri com as fotos, mas como tem feito desde três meses antes de assinar seu contrato com a Red Phoenix, não responde. “Alguma hora essa mina vai ter que sacar que eu não tô mais afim”, ela pensa. Algumas amigas da época do ensino médio compartilham memes e vídeos de tiktok nos status.

A porta se abre e Flora e Jaylene entram conversando animadamente. Crista acena do sofá pra elas.

– Hi, how are you? – ela cumprimenta. Já consegue ter alguma noção de inglês básico com o curso intensivo que é viver cercada por gringas o tempo todo. Ah, e o professor Stergios, é claro.

– Ei, Crista! – cumprimenta Flora, que gentilmente coloca sua bolsa sobre a mesa enquanto Jaylene grita um “sup!” e corre pro quarto – estamos bem, e você?

Crista não consegue se lembrar como se diz “entediada”, então ela apenas grunhe ruidosamente olhando pro teto, esperando que a linguagem corporal passe a mensagem. Flora ri. Ela gesticula para Crista que a acompanhe até a cozinha.

– Quer me ajudar a preparar o almoço? – ela convida. Em português, Crista teria dito “é melhor do que morrer de tédio nesse sofá”, mas ela não tem a menor noção de como dizer isso em inglês, então apenas responde “yes“.

A brasileira se senta à mesa da cozinha picando tomate e cenoura enquanto Flora cuida do resto. A garota mais velha animadamente conta sobre seu dia na faculdade, mesmo sabendo que Crista não vai entender muita coisa, mas ela sabe que o contato com a língua é bom para ela praticar. Além disso, se sente bem cozinhando e conversando casualmente com alguém assim, faz com que se lembre de casa.

Flora está no último ano do curso de biologia botânica na Universidade de Calisto, enquanto Jaylene faz curso de mestrado em engenharia de produção. Faz Crista admirá-las e invejá-las. Ela mesma quando adolescente sonhava em se tornar médica ou advogada e dar orgulho para a sua família, mas se mal conseguia passar de ano no ensino médio, imagina entrar numa faculdade? Ou ainda, se MANTER numa faculdade? Imagine ficar 8 horas por dia trabalhando e depois ainda ficar mais 4 numa sala de aula, quando nunca foi bem-vinda numa? Não consegue imaginar o porre que seria sua vida hoje em dia se não tivesse dado a sorte de ter aquele olheiro no torneio do colégio.

Não demora muito para Carmen chegar, logo quando o almoço está praticamente pronto. O almoço é uma travessa de filé de frango grelhado com temperos e batatas, uma panela de legumes cozidos e salada de cenoura, alface e tomate, esta última preparada por Crista. O grupo almoça e, como de costume, Crista joga algumas partidas de Fifa contra Carmen depois do almoço. Ter ficado as últimas duas semanas com tanto tempo pra jogar fizera o desnível de habilidade entre as duas diminuir consideravelmente, com Crista começando a conseguir marcar alguns gols de vez em quando e até segurar o empate em algumas partidas. Terminado o desafio diário, Crista desliga o console e fica mexendo no celular até a hora de sair. Aquele seu velho celular de tela rachada finalmente fora substituído por um novo, há poucos dias.

No horário que Carmen tem suas sessões de academia no centro do clube é quando Crista faz as suas de reabilitação, por isso ambas saem juntas. Após a terapia, Carmen dá uma carona para Crista até a Universidade de Calisto, onde alunos e professores dos cursos de letras dão aulas para pré-vestibulandos ou cursos de inglês para imigrantes. Tem sido uma experiência até interessante, mesmo que Crista nunca tenha gostado de ficar parada numa sala de aula.

Seu professor é um aluno do quarto ano de literatura chamado Stergios, um homem de pele escura, mais de 1,80 de altura, barbicha e cabelos trançados. A uma hora de aula se passa rápido, com o professor passando uma lista de exercícios relacionados a conjugação verbal no final, a qual Crista já havia feito um pedaço nos últimos minutos antes da turma ser dispensada. Pretende repetir quando chegar em casa. Quanto mais cedo conseguir se virar sozinha neste país, melhor.

– Tchau, professor – ela se despede em inglês, sendo uma das últimas a sair. Stergios acena amigavelmente para ela e responde, cheio de sotaque:

– Tchau, Ágata Cristina!

Ele tem esse costume de aprender algumas palavras da língua nativa dos seus estudantes, algo que no começo a garota achou engraçado, mas com o tempo, passou a admirá-lo por isso. Mesmo que sejam só algumas frases soltas, ainda parece difícil saber tantas línguas diferentes.

Ela poderia voltar para casa, mas decide por não fazer isso. Está cansada do isolamento e ainda nem teve a chance de conhecer tanto quanto gostaria de Alter.

Crista quase se sente uma burguesa turistando num país estrangeiro. Ela caminha pelo campus da faculdade, apreciando a paisagem. Os edifícios dos diferentes centros são construídos em meio ao que parece um pequeno bosque, com árvores cercando o caminho cujo os pisos a lembram do calçadão de São José. Ela se lembra de como no final do seu primeiro mês como profissional ela foi às compras torrar todo o seu dinheiro em presentes para a mãe e os irmãos. Havia comprado um vestido chique, todo preto, de 200 reais para a mãe. Para Jefferson e Lucas, seus dois irmãos mais novos, levara um par de tênis da Nike para cada, gastando pelo menos mais 200 reais por par. E para sua irmãzinha Luana, a xodozinha da casa, comprara uma casinha da Barbie. Ela mesma nunca havia gostado de bonecas quando criança, sempre havia preferido brincar com os carrinhos dos irmãos, descer a ladeira do bairro de bicicleta ou jogar bola, mas Luana e ela não poderiam ter gostos mais diferentes. Com uma risadinha boba, ela se recorda de como havia esquecido de comprar um agrado pra si mesma.

Ela sente saudades deles. Especialmente de Caio.

Ela odeia se lembrar dele, mas faria de tudo para que ele estivesse ali agora. Gostaria de se esquecer que um dia ele existiu, mas odeia a ideia de esquecê-lo. Isso faz sentido?

Afastando os pensamentos, a brasileira avista um estabelecimento lotado no final do calçadão, que com certeza não é mais um centro acadêmico. Há várias mesas de plástico do lado de fora, todas ocupadas, similar aos bares que ela costumava ver no Brasil. Crista se aproxima, atraída pelo ambiente familiar, as comemorações, conversas altas, o cheiro agradável de fritura. Parece um bar, ou talvez uma lanchonete? Crista tateia o bolso da frente da bermuda, confirmando que não perdeu a carteira, e se aproxima do estabelecimento.

Todos ali parecem ter mais ou menos a sua faixa de idade. Estudantes, ela supõe. Numa mesa, vê um grupo brindando animadamente com copos de cerveja e uma porção de batatas fritas no centro da mesa. Noutra, várias garotas riem e conversam, suas mochilas jogadas aos seus pés e cadernos abertos sobre as mesas, como se estivessem misturando a hora da diversão com a hora de fazer os deveres de casa.

Uma mesa num canto chama a sua atenção. A maioria dos seus membros olham para o mesmo ponto no teto e conversam alto. Se aproximando um pouco mais, ela vê uma televisão transmitindo uma partida de futebol que parece prestes a começar.

Crista vê uma cadeira livre ao lado de um rapaz negro de barba rala que, para a sua surpresa, usa uma camisa rosa com lantejoulas brilahntes e calça jeans com rasgos na coxa. “Ih, esse aí é do vale!”, pensa a garota, indo até ele.

– Hi. Ahn… – ela tenta se lembrar como pedir permissão para sentar em inglês. O rapaz tem um sorriso tão aberto e amigável que a lembra de Carmen. Desistindo de se lembrar da frase correta, ela decide apenas apontar freneticamente para a cadeira e repetir várias vezes – me, sit? Me, sit?

– Claro, sem problemas! – ele assente com a cabeça animado e estende a mão pra ela – eu sou Jay Woods.

– Crista – ela aperta sua mão e torna os olhos para a televisão. Meu deus, por que inglês é uma língua tão complicada?

– Aw, que nome fofo! Posso te chamar de “Chris”? – Crista não tem certeza do que o rapaz está dizendo, então apenas o encara confusa.

– é… who play? – pergunta.

Ela espera ter conseguido transmitir a mensagem. A câmera nesse momento foca numa garota de pele escura e longos cabelos negros e lisos, que fazem Crista pensar numa indiana. Ela comprime os olhos, se lembrando de uma certa atleta que havia visto no Fifa.

– Aláti Sharks contra Agrio Reapers – Jay, percebendo que a garota não é alteriana, mantém o diálogo o mais simples possível. Ele oferece um sorriso gentil, tentando deixá-la confortável. Aponta para as garrafas de bebida no centro da mesa – quer beber?

Crista reconhece a palavra “drink”. Se sente orgulhosa por estar conseguindo manter alguma comunicação. Ela assente, dizendo “no álcool please“. Jay serve um copo de refrigerante para Crista e em seguida acena para o resto dos seus amigos, chamando a atenção deles.

– Ei, gente! Aqui, olhem pra cá. Essa aqui é a Chris.

– Olá, Chris!

– Oi, Chris!

– E aí, Chris! – vários deles a cumprimentam ao mesmo tempo.

– Hey, gatinha – uma pessoa magrela, de calça colada e maquiagem, que Crista não consegue identificar se é uma garota ou outro viado, é a última a falar.

– Chris, esses são meus amigos: Indigo, Polina e Chryssa.

Ela tem a impressão de que foi apresentada como “Cris” em vez de “Crista”. “Esse cara criou um apelido do meu apelido?”, ela acha graça.

– Hi – ela cumprimenta sorrindo de lado e torna a olhar para a tela. Ela se lembra de ter visto esses dois times na classificação da liga: as Aláti Shark, a equipe que veste uniforme azul-claro e azul-escuro, estavam em quinto lugar e as Agrio Reapers, de roupa toda vermelha-escarlate, em décimo.

– Voltei, gente! – Crista ouve uma voz às suas costas e desvia o olhar da TV por um segundo, identificando uma loira com uma enorme bandeja de batatas fritas como dona da voz. Volta a atenção ao jogo em seguida. “Espera aí”, ela pensa, e torna a olhar para trás – ei, Jay, quem é?

Ca-ra-lho. Crista não tem outras palavras. Nunca viu uma mina tão gata na sua vida. A recém-chegada é loira, tem os cabelos sedosos soltos na altura dos ombros e usa uma camisa leve de seda branca sem mangas, com enorme decote em V que deixa boa parte do seu peito à mostra, assim como uma tatuagem colorida de uma guerreira com espada montada num pégaso, calça jeans rasgada e tênis esportivo. As feições da mulher são suaves, harmoniosas, exibem uma expressão serena e amigável combinada com olhos azuis brilhantes. “Mina, não tô te entendendo, vem falar gringuense aqui no meu ouvido”, ela idealiza uma cantada que infelizmente não sabe como traduzir.

– Ah, essa é a Chris. Ela não fala inglês muito bem, então eu deixei ela ficar com a gente – diz Jay. A garota loira ri divertida e deposita a bandeja de comida no centro da mesa. O olhar das duas se conecta e elas permanecem ali, se encarando por vários segundos. Uma vozinha no fundo da mente de Crista diz que ela já viu essa mulher em algum lugar, mas a outra parte de sua mente diz que ela com certeza se lembraria de uma mulher tão linda.

– Não se preocupa, Jay. Já venho, vou arrumar uma cadeira pra mim – ela tranquiliza o amigo, volta pra dentro do estabelecimento e retorna em seguida com outra cadeira, que coloca no espaço apertado entre o amigo e a desconhecida. Ela estende a mão para ela – hey, Chris não é?

– Olá – ela demonstra um sorriso confiante e aperta a mão da loira. Crista tenta a todo custo traduzir alguma de suas cantadas em sua mente mas sem sucesso, então apenas fica ali, encarando a mulher dos seus sonhos igual uma tonta. “Que fofa, ela já tá vermelhinha”, observa Crista, suspirando pelo quanto isso seria fácil se ao menos pudesse falar inglês.

– Olá! Eu sou Aglaia.

“Aglaia”. Crista sente como se tivesse levado um tapa na cara.

– Aglaia? Royal Foxes Aglaia?! – a loira assente – puta que pariu, cê é a vadia que me quebrou!

– Crista?!

Crista e Aglaia se reencontram fora dos gramados.

Crista: “meu deus que guria gata, aposto que passa a noite no telhado”

Aglaia: “affff pegaram meu lugar e pq ela tá me olhando assim 😳



===========NOTAS FINAIS

Só pra esclarecer pq eu to com receio que alguém esteja interpretando errado: a Crista NÃO É uma pessoa burra e absolutamente NÃO É minha intenção retratar ela desse jeito. Ela é uma pessoa com baixa autoestima intelectual devido ao pouco acesso à educação que ela teve durante sua vida. Eu pretendo que haja algum crescimento dela em relação a isso, mas isso vai acontecer de forma bem gradual.

sobre as traduções do google tradutor: eu escrevi essa história já faz 1 ano e, quando eu escrevi ela, o google tradutor traduzia as frases da maneira mostrada na história. Eu fui conferir agora de novo algumas das frases e a tradução melhorou consideravelmente (por ex corrigiram “dummies” pra “dykes”), mas pelo fato da história começar no final de janeiro/começo de fevereiro de 2020, eu não vou alterar isso, já que naquela época o translate traduzia desse jeito e tbm pq esse erro absurdo é engraçado. 



Notas:



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