Gringa Grudenta

7. O casamento do meu irmão

Fiquei meio emotiva escrevendo esse capítulo.

Avisos de gatilho: violência policial, racismo, luto



São onze da noite e Crista se encontra sentada na cama, recostada à parede enquanto conversa com a mãe pelo whatsapp, o lençol cobrindo todo o seu corpo da cabeça aos pés e deixando somente o rosto e as mãos de fora, como um conjunto de capa e capuz. Na cama do outro lado do quarto, Jaylene, como sempre, mexe em seu notebook. “Às vezes eu me pergunto se ela nasceu grudada com esse treco”, pensa Crista, a espiando por cima do seu celular novo.

Ela ajeita os fones e dá play no último áudio de sua mãe.

– Filha, não precisava disso… a gente tá conseguindo se virar sem você, nós prometemos viu? Jê conseguiu um trabalho de empacotador no mercadinho do Tião. Guarda seu dinheiro procê, ouviu?

Crista havia enviado uma mensagem mais cedo avisando à mãe que depositara parte do seu salário para ela e, desde que chegara do trabalho, há poucos minutos, vinha tentando convencer Crista a não fazer mais isso e insistindo em devolver o dinheiro. Revirando os olhos, a garota digita.

Crista

poh parah

tah doida? esses mané me pagam mt mais q eu consigo gasta

eu to de boa

cata o dinheiro e volta de uber do trabalho agr

chega de conduçao lotada pra sinhora mae

Mamãe está gravando um áudio…

– Você é um amor, pitica… mas você tem sua própria vida, não fica se preocupando com a gente, mesmo que seja difícil a gente sempre deu um jeito, não foi?

Crista

oh veia teimosa para de teima k7

ce cuido de mim por 18 anos

agr eu tenho dinheiro

entao vou cuidar de vcs ue

Enquanto sua mãe grava um novo áudio, Crista aproveita para checar seu twitter. Já fazia algum tempo, desde a sua época no São José, que amigas e companheiras insistiam que ela criasse um perfil oficial, com seu nome e foto, para lidar com o público e atrair mais fãs, mas ela nunca gostou da ideia. Sempre preferiu manter só seu perfil pessoal sem nome e com foto de gatinho preto, completamente anônima e com poucos seguidores, usar o perfil só pra se distrair seguindo várias páginas de bichinhos, séries, times ou atletas que gosta. Assiste um vídeo de um filhotinho de gato escalando a perna do dono, outro de dois gatinhos filhotes brincando numa cama e logo chega a notificação da mensagem de sua mãe.

– Eu entendo como você se sente, minha filha… eu teria feito o mesmo. Obrigada.

Pelo tempo que ela levara para gravar a mensagem, Crista havia imaginado que seria algo bem mais longo do que isso.

Crista

issae

oh faz seguinte

procura umas escola de ingleis pros pirralho

sepah uma escola particular tb

de burra na família jah basta eu

e tb ve uns plano de saude pra sinhora mae

eu vo paga

A mensagem de voz seguinte é gravada rapidamente.

– Ai, Ágata Cristina, você é impossível – ela ri, imaginando a cara de desprezo que sua mãe deve estar fazendo agora. Antes que Crista comece a digitar, outra mensagem de voz é enviada – e para de se chamar de burra, eu odeio quando você faz isso!

Crista

ue

qria eu num ser burra neh

mae ta tarde aq oh

tenho q dormi

senao fico desabituada pros horario dos treino

Mamãe

Durma bem pitica <3

Crista

ce tbm

flw

Crista deixa o celular na mesinha-de-cabeceira ao lado da cama e se deita pra dormir, mas a luminosidade do notebook de Jaylene ainda a incomoda.

– Hey! Jaylene! – ela chama. A garota tira os olhos do computador por um momento – i want to sleep!

– Oh, desculpe! Não vou demorar…

[…]

Nesta noite, Crista sonha com o rosto que mais sente falta no mundo, também o rosto que ela mais deseja esquecer.

– Caio…

O ambiente é estranhamente claro. É como se estivesse enxergando as coisas por trás de algum desses filtros ridiculamente brilhantes do instagram.

E ali está ele, Caio Rodrigo Oliveira, exatamente do jeito que Crista se lembrava: uns quinze centímetros maior, ombros largos, cabeça raspada, o mesmo tom de pele, olhos castanhos profundos exatamente como os dela. Ele se apoia numa janela observando o horizonte. Crista sente que estão num prédio, mas ao se aproximar não vê nada através da janela. Há apenas um longo, infinito vácuo branco. Ela toca em seu ombro.

– E aí, mano – ela chama. Alguma coisa lhe diz que já se passaram anos desde a última vez que se falaram, mas a razão foge à memória. Incomodada, Crista empurra esses pensamentos para o fundo de sua mente. Como sempre, ele a recebe com um sorriso aberto de dentes brancos contrastando com a pele escura e responde, naquela sua voz grave e rouca:

– E aí, maninha.

Eles permanecem o que parecem horas jogando conversa fora. Crista conta sobre como comprou um videogame e jogou um jogo incrível chamado The Last of Us. Conta o final de The Last of Us Left Behind, onde Riley e Ellie ambas descobriram ser imunes, levando aos acontecimentos do jogo anterior em que Joel e Tess guiam as duas até um laboratório dos Farfláis para desenvolverem uma cura e, juntas, salvaram o mundo. Caio comenta sobre partes do jogo, fazendo aquelas piadas internas idiotas e causando risadas em Crista quando a garota menos espera. Ele também conta sobre sua vida desde que saiu de São José: como conseguira arrumar um emprego, assim como sua namorada, e como ambos estão vivendo uma vida confortável num apartamento no centro de São Paulo. Ele convida Crista para visitá-lo quando a temporada acabar. Diz que tem assistido a todos os seus jogos.

– Eu já te contei que vamos nos casar? – ele conta.

– É O QUÊ?! – Crista grita, botando as duas mãos na cabeça – como assim você vai se casar?! E ia deixar pra me contar quando, seu filho de uma rapariga?! – Caio ri com a reação da irmã.

– Eu estou contando agora! Pedi ela em casamento na semana passada – ele responde e, enquanto sua irmã mais nova o cobre de socos no ombro, o rapaz levanta as mãos num gesto defensivo e tenta se esquivar, entre risadas e grunhidos de dor.

– Cê é um filho da puta! Uma semana sem falar nada, puta que pariu! – ela tenta dar um soco final no irmão, que dessa vez a segura pelos punhos e não deixa, em seguida usa sua força física superior para prender seus pulsos. Crista tenta se desvencilhar, ainda cobrindo o irmão mais velho de xingos, o qual ri desvairadamente da sua reação. Finalmente, ele solta a irmã quando ela parece se acalmar. A mais nova prossegue – já marcaram o dia do casamento? Se precisarem de qualquer ajuda, eu ajudo ouviu?

– Não precisa se preocupar, maninha. Nós conseguimos nos virar bem, guardei dinheiro o suficiente para isso. Até comprei uma aliança de ouro de verdade para ela – Caio conta, orgulhoso.

– Ihhh alá, muleque tá ostentando! – brinca Crista.

Alguma coisa no fundo da mente de Crista pede desesperadamente para que ela o abrace. É um sentimento horrível, como um incêndio que a devora por dentro. Engolindo em seco, ela tenta resistir ao instinto, mas é forte demais. Acaba cedendo e pula sobre ele, envolvendo-o em seus braços com toda a sua força. Fecha os olhos com força, tentando impedir as lágrimas de saírem. Por que está chorando, afinal? Uma única frase retumba em sua mente, feito um sino gigantesco: “eu sinto tanto a sua falta”…

E no instante seguinte, ela vê um teto cinzento com uma fraca luz matinal que vem do lado de fora.

Caio não está mais aqui.

Já faz quatro anos.

Nunca houve emprego bom em São Paulo. Nunca houve aliança de ouro nem pedido de casamento. O que houve foi um funeral, uma nota num jornal online onde ignorantes o chamavam de bandido, diziam “conhecer esse tipo”, diziam que “se estava correndo, coisa boa não estava fazendo”, que “se a polícia atirou, é por que ele deu motivos”.

É desesperador. Ela se sente de volta no dia em que recebeu aquela ligação. Sua mãe e o pai de Luana estavam no trabalho e ela em casa, cuidando da caçula. Caio havia sido baleado pelas costas pela polícia por não parar de correr ao darem a ordem. Era um cara atlético, sempre ia andar de bicicleta ou jogar futebol com Crista desde que haviam nascido, mantinha uma rotina de corridas matinais diárias desde que se mudara para São Paulo com a sua namorada, sob a promessa de que na cidade das oportunidades, eles teriam mais chances de encontrar um emprego, juntar um bom dinheiro e construir sua vida. Falavam até em mandar seus filhos para a faculdade quando eles chegassem, algo que eles dificilmente teriam a chance de fazer.

“Ele não parou de correr quando ordenado”. Crista bem se lembra como ele sempre corria com fones de ouvido ao som de algum pagode ou grupo de rap local e, mesmo que não fosse o caso, a primeira reação de um policial, um covarde fardado daqueles, ao ver uma ordem sua não ser obedecida é assassinar alguém a sangue frio? Os jornais nunca revelaram a identidade do seu algoz, mas não tiveram problema algum de expor seu irmão a todos os racistas e burgueses brancos safados que quisessem julgá-lo para justificar seus heróis pseudomilicos. O coração de Crista dói só de imaginar a confusão e o terror que ele deve ter sentido quando subitamente percebeu que estava sangrando igual um cão sem motivo nenhum, quando percebeu uma dor sem explicação. Ela se culpa por nem ao menos ser capaz de explicar o que ele deve ter sentido. Por sequer ter tido direito a uma morte pacífica e sem dor.

A garota enterra a cara no travesseiro, abafando um horrível grito de raiva, o choro, a dor, a impotência, o luto. Tudo o que ela queria era cinco minutos num quarto fechado com o gambé filho da puta que fez aquilo ao seu irmão mais velho. Queria amarrar aquele ser humano nojento numa cadeira e submetê-lo a todas as piores torturas que o lado mais perturbado da sua mente fosse capaz de imaginar. Queria ver esse porco de farda desejar nunca ter nascido. Queria matá-lo com suas próprias mãos.

Queria Caio de volta.

– Crista? Você está bem? – ela ouve aquela voz esganiçada de Jaylene vindo da porta.

– Leave me alone – pede a brasileira. Jaylene encolhe os ombros e torna a sair do quarto.

Ela volta para a cozinha, onde Carmen e Flora tomam café da manhã – com Flora sentada no colo de Carmen, vale a pena frisar.

– O que foi? Ela se machucou? – pergunta Carmen.

– Não sei, ela só pediu para ficar sozinha – diz Jaylene, cenho franzido. Ela torna a se sentar no seu lugar e continua a montar seu sanduíche. Enquanto isso, Flora tenta enfiar um garfo com um pedaço de maçã picada na boca da namorada.

– Vamos, amor. Tem que comer fruta também!

– Amor, você sabe que eu não gosto de maçã… – replica Carmen – deixa só hoje, é fim de semana…

Jaylene acha graça na interação. Fica com os olhos fixos no casal nesse vai-e-vem até que Flora convence a namorada a comer só um pedaço e que ela comeria o resto. Finalmente, ao Carmen terminar de mastigar, elas voltam ao assunto inicial.

– Eu vou tentar falar com ela depois – diz Carmen – a treinadora Moon tá colocando ela na reserva pro próximo jogo por causa da contusão, mas ela acha que já está totalmente recuperada. Crista tava bem frustrada no treino ontem, deve ser por isso.

A porta do quarto de Crista e Jaylene se abre e a brasileira se arrasta pra fora, sua juba selvagem completamente bagunçada e a cara amassada. Ela evita olhar para as suas colegas de apartamento e caminha até a geladeira, em silêncio.

– Bom dia! – cumprimentam Carmen e Flora ao mesmo tempo.

– Bom dia – Jaylene, um pouco atrasada.

– Olá… – Crista responde baixinho. Carmen nota que os olhos da garota parecem vermelhos e seu rosto, um tanto úmido. Crista pega uma garrafa de suco, alguns potes na geladeira e vai preparar um sanduíche na pia, de costas para as outras. Funga algumas vezes e esfrega o rosto na manga da camisa, tentando sutilmente secar o que ainda resta das lágrimas.

Quando ela termina de fazer seu sanduíche, decide comer na pia mesmo. Não quer que as outras vejam como está agora.

O silêncio no ambiente é mortal.

Crista termina de comer e vai se sentar no sofá da sala com o celular no colo.

– Então… o que vocês têm para fazer hoje? – pergunta Carmen, tentando ignorar o clima estranho. Ela sabe muito bem o que cada uma das garotas presentes tem para fazer.

– Eu vou encontrar Lázár na biblioteca mais tarde, estamos quase terminando um projeto do mestrado – diz Jaylene.

– E eu vou passar o resto do dia com o amor da minha vida – responde Flora, dando um beijo no rosto de Carmen, que fica levemente corada, ri e devolve o beijo.

– Hey, Crista! – chama Carmen. A garota levanta os olhos do celular e a encara – o que você tem para fazer hoje?!

A brasileira reflete por alguns momentos sobre o que a outra está dizendo, tentando decifrar a mensagem. Ela acha que entendeu o que Carmen disse, mas não tem certeza absoluta. Ela dá de ombros e balança a cabeça.

– Nada – responde seca. Não é sua intenção soar seca, mas é inevitável. Carmen se retrai na cadeira, como se a secura fosse pessoal contra ela.

– Acho que ela não está afim de companhia – Flora tenta tranquilizá-la.

– Não, tudo bem.

[…]

Já é pouco mais de meio-dia.

Crista passara boa parte da manhã conversando com Jefferson, seu irmão mais novo. Com ela fora, ele se torna o novo irmão mais velho da casa. Contou sobre seu sonho, sua recuperação, perguntou se ainda estava frequentando as batalhas de rap.

mana

a mae falou q ce vai paga escola de ingles pra nois

ta certo issae

Crista

e plano de saude e escola particular tb

eu soh vou me aposentar qdo vcs 3 forem dotor ta ouvino?

mana eh mt caro

n precisa n

o lucas ta começano a estuda pra dj ta lgd, mlk leva jeito

eu to com emprego novo

a gnt consegue se vira com q tem mana

Crista

a cala boca

mano eu fui ve minha conta no dia q recebi meu primeiro salario

vei

dava 4 mil da moeda daq

deolar alteriano o nome

dolar teclado burroo

da quase 15 mil real

como q eu vo gastar td isso mano

n tem condiçao

KRL

15 MIL REAU

POHAAAA

Crista

intao mano

eu n sei se a mae vai realmente ir atras das parada saca

ent se ela n for vc e o lucas vao

se quiserem compro ateh casa nova no centrao proceis

ta bom

mana vo ajudar a baxinha no dever da escola aq

fica na paz ae flw

Crista

flw maninho

n esquece oviu? eh pra procura escola particular, escola de ingles e plano de saude pa veia

se for mt longe pode pega uber q eu mando dinheiro proceis dps

kkkkkkkkkkkkkkkkk ta ostentano msm essa minha mana

ta bom

Crista

ostenta vai ta ceis 3 daq uns ano

ostentano diploma da USP na frente de td mundo e tacando aqueles chapeuzin ridiculo pra cima

fodase o sistema

e pau no cu do bozossauro

kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk ta

flw

Crista guarda o celular no bolso e se levanta, esticando os braços, costas e pernas. Ela pensa em sair de casa para dar uma volta depois do almoço. Pensa no dia de amanhã, quando pegarão um ônibus para a cidade de Granpolis para a partida contra a Granpolis United. Espera que ao menos a treinadora Moon tenha a decência de colocá-la pra jogar no segundo tempo.

Flora e Carmen saem do quarto ao mesmo tempo, de mãos dadas, ambas sorrindo bobamente, levemente suadas e descabeladas. “Ihhhh alá tavam se comendo”, pensa Crista com um sorrisinho malicioso. Elas se dirigem à cozinha e começam a preparar o almoço. Crista se junta a elas na cozinha.

– Espero que cêis tenha lavado as mão – cutuca Crista num tom alto e irônico, exibindo as próprias mãos e chamando a atenção das duas – wash hands! Wash hands!

– Oh, não se preocupe Crista. Eu sempre lavo as mãos antes de cozinhar! – Flora a tranquiliza, mas Crista não entende nada da segunda frase e decide se satisfazer com o “don’t worry Crista“.

As três estão lavando a louça após o almoço quando o interfone toca. Carmen vai atender e volta com um sorrisinho malandro para a cozinha.

– O que foi, amor?

– Nada, não – ela vira os olhos para a outra – hey Crista, tem alguém subindo. Você pode atender a porta?

Crista fica olhando pra cara de Carmen sem realmente entender o que ela falou.

– A porta – repete Carmen – atender, a, porta.

– Ah tá – Crista termina de secar e guardar um prato e no instante seguinte ouve batidas – JÁ VAI! – ela grita num volume exagerado por cima do ombro, sobressaltando Carmen e Flora.

– Meu deus, que susto… – murmura Carmen, botando a mão sobre o coração, enquanto Crista joga o pano de prato sobre os ombros e vai com seu andar gingado até a porta.

Ela poderia esperar absolutamente qualquer coisa no mundo, menos o que vê quando a abre. E o que ela vê é aquela mesma loira do bar da faculdade de outro dia, usando camisa social branca, colete preto, calça social preta, sapatos marrons brilhando de tão polidos, carregando um buquê de flores brancas numa mão e uma bandeja de plástico com um bolo redondo com furo na outra. O queixo de Crista cai e ela fica ali, completamente estupefata, encarando abobada a loira que sorri de um jeito constrangido.

– Maquiporréessa.

– Ahn… bem, como eu começo? – Aglaia segura um bilhetinho na mesma mão do buquê de flores, e começa a ler com o pior sotaque que Crista já ouviu em sua vida – Ágata Cristina, eu sei que começamos com o pé errado. Eu te machuquei física e emocionalmente devido à minha irresponsabilidade e baguncei sua primeira partida em Alter. Vou entender se você ainda achar que é difícil me perdoar, mas gostaria de mostrar que lamento minhas ações de qualquer maneira. Eu juro que terei mais cuidado na próxima vez que jogarmos.

Aglaia havia escrito aquele texto no google tradutor e esperava ao máximo que ele não tivesse bagunçado sua mensagem toda.

– Como que cê sabe onde eu moro? – pergunta Crista saindo do estupor e começando a gesticular e andar de um lado pro outro freneticamente, completamente confusa com a situação – viado, que que cê tá falando? Cê já pediu desculpas porra, eu já aceitei! – quando ela se torna para Aglaia, vê em seu rosto que ela não entendeu nada – it’s okay! I am okay! How you know my home?!

– Oh, a Carmen me disse – e acena por cima do ombro de Crista com um sorriso amigável. Crista olha por cima do ombro e vê Carmen e Flora acenando de volta.

Crista se lembra de ter visto ambas na seleção de Alter no Fifa. “É claro que elas tinham que se conhecer”, pensa, revirando os olhos. Quando torna a olhar para Aglaia, ela está estendendo o buquê de flores na sua direção, quase as enfiando na sua cara, o qual Crista agora percebe possuir um envelope com um fechamento todo chique junto. Ela pula para trás, tentando escapar das flores.

– It’s okay! – repete ansiosamente, já sentindo os olhos e garganta começando a coçar. Um pouco de pólen deve ter voado na sua cara – I am okay! Tira essas flor daqui, caraio!

– Eu só… – Aglaia começa a ir atrás da brasileira, “invadindo” o apartamento, mas é interrompida por um espirro de Crista.

Aglaia estaca onde está, surpresa. Tem sua corrente de pensamentos interrompida por um ataque de tosse da brasileira, que tenta se afastar da alteriana correndo para a cozinha.

– Eu acho que ela é alérgica! – Carmen avisa alarmada, fazendo Aglaia dar um gritinho agudo e jogar o buquê para fora do apartamento sem pensar. Ela deixa o bolo, que tem escrito “I’m sorry” em chantilly na cobertura, em cima da mesa e corre atrás de Crista.

– Meu deus, me desculpa, eu não sabia! – ela encontra Crista se apoiando na pia e tentando tampar o nariz e a boca para segurar a tosse e acalmar a respiração e faz menção de ir apoiá-la, mas a brasileira se vira desesperada na sua direção.

– NÃO! – ela grita, assustando Aglaia – tá cheio de pólen nas tua roupa, fica aí!

Os olhos da brasileira estão vermelhos e lacrimejando e sua expressão é de desespero. Ela odeia, odeia, odeia que vejam suas vulnerabilidades.

– Me desculpe – pede Aglaia novamente, dando um passo para trás. “Que ideia mais idiota”, a loira pensa. “Por que eu fui fazer isso? Agora ela me odeia ainda mais!”, pensa.

– Só… só me dá um segundo – Crista diz, tentando recuperar o controle da sua respiração. Esconde o rosto com as mãos e respira fundo, apenas para deixar escapar mais uma tosse ruidosa. Ela alcança um copo no secador, enche de água da torneira e toma de um gole só, gesticulando para que Aglaia se afaste – caraio mina, cê se esfregou num girassol?! Sé loco!

– Eu… eu vou embora – diz Aglaia, dando dois passos para trás e logo se virando para a saída, assustada com a situação que acabara de causar.

– Ué? Por que ela vazou? – pergunta Crista, tornando-se para Carmen e Flora – why she leave?

– Huh. Eu vou falar com ela, Cris – diz Carmen, saindo do apartamento e correndo atrás de Aglaia. Enquanto isso, Flora vai socorrer Crista na cozinha.



Notas:



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