Gringa Grudenta

9. Olhos oblíquos de cigana dissimulada

Após o jogo contra a Granpolis United no dia anterior, Carmen e algumas das jogadoras haviam ido comemorar a bela vitória – e o primeiro gol de Crista – num karaokê. Embora Crista tenha ficado meio decepcionada de não encontrar nada dos Racionais, Mc Ludmilla, os MPBs e pagodes que ouvia com Caio e muito menos algum dos seus proibidão no sistema do estabelecimento, fora uma noite bastante divertida. Carmen a fez cantar um dueto de algum pop gringo com ela, e a total falta de noção de Crista de que raio de música era aquela ou como deveria cantar aquela letra em gringuês fez com que a nota das duas fosse lá pra baixo, mas havia sido divertido de qualquer forma. Na metade da música, elas desistiram de tentar cantar direito e começaram a fazer palhaçadas, arrancando risadas de suas companheiras e, após isso, começaram uma disputa de quem conseguia tirar a nota mais baixa.

Já eram quase duas da madrugada quando as garotas voltaram ao hotel e oito da manhã quando o ônibus da Red Phoenix de volta para a capital saía no dia seguinte. O cansaço do jogo e da noite ainda se fazem bem presentes no corpo de Crista quando ela se senta em sua poltrona, ao lado de Kyveli, e a inclina o máximo que pode para continuar dormindo.

– Good night – ela murmura para a companheira – wake me up insideCalisto.

Ela se lembra de um trecho da música de Evanescence que falava sobre acordar a cantora. Sua intenção é pedir que Kyveli a acorde quando chegarem, mas em vez disso ela deixa a ponta com cara de confusa. Crista põe os fones de ouvido e dorme quase imediatamente.

A garota sente que não dorme nem uma hora quando é acordada por alguém cutucando seu ombro. E ela está certa, Granpolis não fica nem a cem quilômetros de Calisto.

– Hmm… qual é, me deixa dormir Jaylene… – ela resmunga. Kyveli a cutuca com mais força. Crista abre os olhos e se lembra onde está – ah tá. Foi mal aí, mana.

Crista pega sua mochila debaixo da cadeira e desce do ônibus atrás de Kyveli. Não vê Carmen do lado de fora, então espera. Observar o ambiente traz uma certa sensação de solidão e deslocamento. Ela vê Storm ir toda sorridente até o carro onde aquela mulher que identificara como sua esposa a espera com um sorriso igualmente exagerado e ambas vão embora, juntas. Outras jogadoras também são recebidas por pessoas que Crista supõe que sejam familiares, esposas, maridos, amigos. Aquelas que não têm ninguém, dirigem-se aos seus próprios carros, vão embora sozinhas, independentes. É o caso de sua capitã, Brigitta, e da treinadora Moon.

Kyveli, sendo recebida por um garoto loiro e baixinho e uma mulher de pele mais escura que a dela, é quem mais chama a atenção de Crista – pelo fato de ela trocar selinhos com ambos. Ela observa, confusa, enquanto os três entram num carro, o garoto loiro que até então Crista tinha jurado não ter mais de 15 anos no volante, e deixam o local como todas as outras.

Depois de alguns minutos tentando entender o que viu, Crista chega a uma conclusão: “teoria da branca de neve, por que só ter um se eu posso ter sete?”, canta mentalmente e ri baixinho.

Seu coração aperta. Ela sente falta de voltar para uma casa onde ao menos é capaz de se comunicar decentemente com as pessoas, do sorriso amoroso de sua mãe e de sua irmãzinha, da admiração de seus irmãos. Por mais que não sinta falta de nenhuma das suas ex, sente falta de ter alguém que a ame assim, da ideia de ter um relacionamento assim. Sente falta de suas colegas do São José com quem conseguia se entrosar facilmente, dos seus amigos da comunidade. Não que Carmen e Flora não sejam gentis, mas… simplesmente não é a mesma coisa. Ela sente quase como se fosse uma “café-com-leite” por aqui. Como se as pessoas só fossem gentis com ela e apenas a poupassem do mundo real, dos adultos, por ela ser uma estrangeira. Por não falar inglês. Por ser dependente, como uma criança.

– Hey, Cris – Carmen é a última a sair do ônibus. Ela agarra Crista pela cabeça e a puxa para um meio-abraço – já falei que aquele seu gol foi incrível, não falei?

– Incredible. Yes, I’m incredible – concorda Crista, arrancando risadinhas de Carmen. As duas vão até o carro da centroavante e logo estão em casa, que parece vazia ao chegarem – want to play videogame? – a brasileira convida. Carmen sorri como quem se desculpa por algo.

– Oh, na verdade… eu tenho compromisso daqui a pouco, uma sessão de autógrafos numa das lojas do clube.

Crista não entende bem o que é dito, mas a julgar pela expressão da colega, sabe que está sendo rejeitada. Ela gesticula um “não se preocupe” e vai se sentar no sofá com o celular. “Faz tanto tempo que eu não saio com alguém”, pensa, reparando em como mal deu atenção à sua vida social desde que chegou em Alter: entre os treinos muito mais puxados da Red Phoenix do que o que estava habituada, a terapia de reabilitação, as aulas de inglês e o mero fato de ainda estar tentando se adaptar a um país estrangeiro têm a feito negligenciar essa parte de si.

Crista decide baixar o tinder. E mais importante, decide que nunca vai contar pra ninguém que um dia tomou essa decisão. Mas numa cidade tão grande quanto Calisto, deve ter algumas garotas com quem ela conseguiria se comunicar, certo?

Ela seleciona algumas das suas melhores fotos e decide tentar escrever sua bio, mesmo que em inglês, como forma de praticar.

Ágata Cristina Oliveira, 19 anos
Trabalha em Red Phoenix Athletics
Mora em Calisto City

hi my name is Crista, I am profissional football player from brazil
my english is bad sorry
i play to the red phoenix
lesbian
i dont drink alcool

i like racionais and sabotage

Ela olha por cima do ombro às vezes para ver se Carmen não saiu do quarto e está espiando sua tela. Não acha que seja do feitio de Carmen ficar espiando os outros, mas já está envergonhada o suficiente de ter baixado tinder e não quer que ninguém descubra sobre isso. A maioria das garotas tem suas bios escritas em inglês – isso as que ao menos têm algo escrito na bio – forçando Crista a gastar seus conhecimentos na língua, até que por fim ela desiste e passa a arrastar pra direita ou esquerda baseado apenas na aparência das garotas. Ela para num rosto conhecido de cabelos rosas, rindo baixinho.

– E aí, Luminosa – por curiosidade, decide ler a bio da garota.

Lumia Castella, 22 anos
A 6 quilômetros de você
Trabalha em Royal Foxes
Estuda em Calisto University
Mora em Calisto City

1,56, I might be small but my heart is big Ù.Ú
Horny shorty >.>
pls for the love of the goddess dont ask me “why am i here”, everyone knows the answer ( ._.)
Professional soccer player 😮
Calisto University P.E. student >:3
Proud bisexual <3
#GOROYALFOXES \O/
Send me cat and doggo pics pls :3
If u gimme food I’m instantly in love with u :p
Antifascist – lefty pseudo commie – feminist
TRANS PEOPLE ARE FUCKING VALID!

Surpreendendo a si mesma, Crista consegue entender praticamente tudo. Algo sobre ter um coração grande, jogadora profissional de futebol, alguma coisa de universidade e bissexual, “vai Royal Foxes”, alguma coisa de gatos, alguma coisa de comida e amor, antifascista, feminista, “pessoas trans são válidas”. Crista reflete por longos momentos se deve dar like na garota. Ela não faz realmente o seu tipo, mas poderia ser alguém legal para conversar. Algumas coisas em comum já têm pelo menos: antifascistas, jogadoras de futebol, “pessoas trans são válidas”. “Tá, beleza”, ela acaba cedendo a si mesma e arrasta para a direita uma foto de Luminosa de biquíni sensualizando para a câmera junto de um cara que Crista reconhece como Jay, ambos ao lado de uma piscina, com Luminosa segurando uma latinha de cerveja numa das mãos e usando óculos escuros.

Crista continua passando alguns perfis, quase todos em inglês, arrastando uns para a direita e outros para esquerda sem que nenhum realmente se destaque, até que uma garota chama sua atenção.

Melina Santángel, 18 anos
A 2 quilômetros de você
Trabalha em The Grasshopper
Mora em Calisto City

¡Hola!
Chica Mexicana livin’ da dream in Calisto! Or trying…

E a foto de uma garota de pele castanho-claro, similar ao tom de pele de Crista, longos cabelos castanhos e sedosos, corpo magro, um sorriso de canto de boca malicioso combinado a… como era aquela frase que sua professora de português sempre repetia sobre aquele livro que ela deveria ter lido no terceiro ano, mas não leu? “Olhos oblíquos de cigana dissimulada”. Ela nunca conseguiu entender o que isso queria dizer, mas se tivesse que descrever o olhar dessa garota de uma forma, seria assim, por mais que não faça ideia do que a palavra “oblíquo” significa ou o que sejam “olhos de cigana”. Ela veste saia branca leve, camisa decotada com mangas bufantes, salto alto negro e tem um dos braços cobertos por tatuagens que fazem Crista pensar em cobras desenhadas num estilo tribal.

“Ela fala espanhol”, pensa Crista, excitada com a ideia de poder se comunicar mais facilmente com alguém e indo dar uma olhada nas outras fotos. “E é gata e estilosa pra caralho”. Ela não tem dúvidas e desliza para a direita. No momento seguinte ela ouve Carmen saindo do quarto. Ela vem com um sorrisinho todo animado para a colega brasileira.

– Ei, eu falei com a minha empresária sobre, você quer vir comigo?! – Crista apenas encara a outra, sem ter a menor ideia do que foi dito. Repara em suas roupas: não veste sua jaqueta de treino e bermuda casuais, em vez disso tem o rosto todo maquiado e usa camisa regata que expõe o quão largos seus ombros realmente são, saia negra bem simples e sandálias – a sessão de autógrafos, Crista! Você, quer, vir, comigo?

– Onde?

– É uma… loja oficial da Red Phoenix, no Royal Mall Center – ela explica – é um centro comercial, Crista!

– Um “mal”? Quê? – a expressão de Crista é cada vez mais confusa – não é “mal” de vilão de desenho não né?

– Loja – Carmen mantém o linguajar mais simples possível para ver se a outra entende – loja de futebol. Sessão de autógrafos. Você, quer, vir?

– Orogréf séchom? – a brasileira estranha – que que é orogréf? What is orogréf?

Por fim, Crista acaba aceitando acompanhar a outra, por mais que não saiba exatamente o que está acontecendo. Carmen ainda tenta fazer a amiga usar alguma coisa mais bonita, mas procurando no meio das roupas da outra, encontra pouca variação: uma coleção interminável de moletons, jaquetas, bermudas, bonés, toucas, regatas, camisas do Corinthians e do São José e, para finalizar, o único par de calçados além dos tênis esportivos que usa agora são chinelos havaianas azuis com a bandeirinha do Brasil. Carmen tenta convencê-la a experimentar um vestido de Flora para ver se serviria, mas Crista se recusa terminantemente. Por fim, Carmen desiste e permite que Crista use suas roupas casuais: regata larga e branca, touca e bermuda cinzas, seu tênis esportivo de sempre.

– Ah, você vai adorar isso, Cris! – Carmen dirige o carro feliz da vida, enquanto Crista distraidamente observa a paisagem pela janela.

– Aham. Okay.

As duas chegam ao que Crista reconhece como um shopping. Ela segue Carmen pelos corredores do estabelecimento, curiosa com onde estão indo. Por fim, chegam a uma loja no segundo andar onde uma pequena multidão se aglomera. Crista reconhece o escudo da Red Phoenix no letreiro da loja e várias pessoas no meio da aglomeração usando as camisas vermelhas do time.

– Oloco – a brasileira deixa escapar, enquanto passa com Carmen pela multidão que, ao perceber sua presença, começam a enchê-la de perguntas, gritinhos agudos de fãs desesperados, flashes de fotos. Crista passeia os olhos admirada pela multidão e logo começa a escutar seu próprio nome ser berrado também. Não entende muito do que dizem além disso e duvida que entenderia se estivessem falando português, mas não pode evitar um sorrisinho metido e um sentimento de “sou foda pra caralho”, ainda que com um leve nervoso no fundo do peito. Após conseguirem atravessar a multidão, Crista e Carmen adentram uma loja.

O estabelecimento tem as paredes externas pintadas em vinho e branco e as internas são vermelhas, vinho e branco, com um enorme escudo do time nas paredes do fundo, cabides com diversas camisas da equipe por todos os lados, bolas de futebol, bandeiras, luvas de goleiro, entre outros produtos esportivos personalizados nas cores e símbolos do clube. Na parede à esquerda, Crista nota uma enorme pintura de Storm, Carmen e Kyveli, com Storm no primeiro plano, pisando numa bola, olhar no horizonte e pose heroica, Carmen e Kyveli logo atrás dela, como se a estivessem seguindo. O cenário é uma enorme torcida num estádio, cheia de bandeirões no vermelho-vinho-e-branco da equipe e detalhes brilhantes. Na parede oposta, Crista se surpreende com o que vê: parece uma versão 20 anos mais nova da treinadora Moon, usando uma versão levemente diferente da camisa que possuem hoje, um número 7 estampado no shorts, olhando para o lado com uma expressão calma e estoica. Crista nunca havia pensado nisso, mas faz sentido que a treinadora Moon seja uma ex-jogadora. E aparentemente, uma ex-jogadora importante o suficiente para ganhar uma pintura própria e solitária nas paredes da loja. Um tanto embasbacada, ela cutuca o ombro de Carmen e aponta para a pintura.

– Oh, hm. Você não sabia, não é? – comenta Carmen, sinalizando para que Crista a siga. As duas vão até uma pequena mesa com duas confortáveis poltronas preparadas e sentam-se uma ao lado da outra. Carmen pesquisa algo em seu celular e então mostra para Crista uma foto da treinadora usando uma versão antiga do uniforme da seleção Alteriana: camisa branca com detalhes amarelos, shorts vermelhos, meias amarelas com detalhes vermelhos – ela é uma lenda do futebol por aqui. Foi parte do Quarteto Fantástico de Alter que ganhou tudo nos anos 90.

Crista não entende muito do que é dito. O fato de ter uma multidão barulhenta do lado de fora e um cara de terno parado à frente da mesma, falando alguma coisa num microfone, dificultam ainda mais a sua capacidade de compreensão e concentração. A brasileira encara a companheira alteriana com os olhos vazios por vários segundos, e finalmente diz:

– I don’t understand nothing – Carmen dá um sorrisinho para a amiga e bagunça sua touca.

– Eu explico em casa, Cris.

Apesar de terminar o dia com as mãos doendo de tanto escrever, é divertido. Crista nunca havia participado de uma sessão de autógrafos antes e, embora não entenda metade do que os fãs dizem, sente-se orgulhosa de si mesma. Vê vários torcedores usando a camisa com o número 23 e o seu nome nas costas, algumas até na versão secundária da camisa do time, que é branca em vez de vermelha e ela mesma nunca usou num jogo oficial. Uma garota de uns 15 anos a desafiara para um campeonato de embaixadinhas – algo que ela demorou para compreender, mas do qual foi incrivelmente divertido participar, já que ela pôde se exibir com toda a sua técnica e ganhar aplausos até mesmo do homem de terno com cara de chato que organizava o evento – e vários fãs pediram por fotos com ela e Carmen.

Ela se sente admirada, satisfeita, reconhecida. Jogou apenas dois jogos oficiais pela Red Phoenix e já possui essa legião de torcedores a apoiando. Se lembra de quando costumavam ser apenas seus colegas da escola, seus amigos da comunidade. Se pergunta se eles estão orgulhosos, vendo onde ela está chegando quando tudo que ela mesma esperava para a própria vida era trabalhar como faxineira por 50 anos e ganhar um salário mínimo de aposentadoria.

Ao final do evento, quando o último fã finalmente vai embora, Crista se levanta e se alonga, aliviada por finalmente ter acabado, morrendo de cansaço e doida para se mexer um pouco. Pelo canto dos olhos, ela vê Carmen no caixa gesticulando para ela.

– Ei, Crista! Vem cá! – Crista obedece e quando está quase alcançando a amiga, é recebida por uma camisa sendo jogada de surpresa na sua cara.

– Quéqueisso, que falta de educação – Crista reclama em tom de brincadeira, tirando a camisa da cara e passando seus olhos por ela. É uma camisa vermelha da Red Phoenix, bastante padrão – huh. E aí?

– Olha atrás – Carmen gesticula para que ela vire a camisa. Crista demora um pouco para entender o gesto. Do outro lado, ela encontra seu nome escrito em caixa alta com o seu número 23.

– Porra mano, muito daora – elogia ela, cheia de orgulho, passando a dobrar a camisa cuidadosamente para torná-la ao balcão. Carmen pega a camisa e devolve nos braços da amiga.

– É um presente, boba. É sua agora.

– Cê tá me dando? You are dando me? Pera, to me? Como que fala “dando” nessa caralha?

– Você por acaso não saberia como falar “presente” em português, saberia? – Carmen pergunta ao homem do caixa, rindo. O homem nega com a cabeça e a garota decide apelar para a sua velha estratégia de usar o google tradutor.

– Então you really are dando to me – conclui Crista, com um sorriso metido e pendurando sua camisa nova no ombro, ao checar a tradução no celular da companheira de clube.

No caminho de volta para casa, Crista checa seu tinder. Várias das garotas haviam retribuído seu like durante essas horas em que esteve ocupada, mas a maioria delas não enviou mensagem. Não vê Lumia na lista. Vê a tal da garota mexicana, no entanto. Crista não hesita em mandar mensagem. Por um lapso, começa escrevendo em português, então apaga e troca para espanhol. Ou melhor, portunhol.

Ágata Cristina

hola chica hermosa

cuemo estás

Para a surpresa de Crista, uma resposta começa a ser digitada quase imediatamente.

Melina

Muy bien, gracias!

Y tu, como estas mi hermosita?

Ágata Cristina

estoy bien

yo no falo espanhol

Melina

You mean hablo?

Want to speak English?

Ágata Cristina

english bad too

espanhol mas facil

no se preocupas puedemos falar asi mesmo

Melina

Jajajajajaja

You’re cute

Estoy trabajando ahora

Quieres una bebida?

Soy una barman en el Grasshopper

Oh espera, no bebes alcohol ¿verdad?

Ágata Cristina

no se preocupas

yo puedo beber refrigerante

Melina

¿Refrigerante?

Crista checa onde fica esse tal de “Grasshopper” e realmente não é longe de casa.

– Hey, Carmen – chama Crista, mostrando a tela do celular com o endereço do local.

– Ah! Você quer ir lá? Podemos ir!

– Valeu.

– Mas e aí, que ideia é essa do nada? Achei que você não bebia!

Crista não tem a menor ideia do que foi dito, então apenas encara Carmen longamente. Ao perceber, Carmen suspira e sorri, achando graça no comportamento da amiga.

– Por que, você quer, ir lá?

– Want? Querer? – se pergunta Crista – o porquê de eu querer ir pra lá? Huh… – Crista abre o perfil do tinder de Melina e mostra para Carmen.

– Ooooh! – Carmen parece um tanto surpresa, mas assente em aprovação – ela é bonita. Então, é um encontro, é? – provoca Carmen.

– “Date”? Huh… 2 de março, como fala isso em inglês…? – ela se pergunta, já digitando no google tradutor e colocando para Carmen ouvir. A platinada encara a brasileira surpresa e começa a rir. Crista não entende a razão.

Ágata Cristina

mi amiga estais me levando para el bar

Melina

C’ya there hottie ;*

“Mano… quê?”, Crista se pergunta, confusa com a última mensagem da garota. Simplesmente não consegue imaginar o que “c’ya” pode querer dizer, ou ainda o que ela quis dizer com “hottie”. A única coisa que vem à sua mente ao pensar na palavra são os dogões que comia na lanchonete na frente da escola, na época do ensino médio. Já “c’ya”, não tem teoria alguma.

Carmen deixa Crista na frente do estabelecimento, um bar muito maior e mais chique do que Crista imaginara. Não se parece nem um pouco com o boteco da sua comunidade natal, e sim com algo saído de um filme de Hollywood, aquelas coisas que só são reais na cabeça dos gringos. “Talvez realmente seja real para os gringos”, Crista pensa, assombrada.

A fachada é consideravelmente grande, com paredes pintadas em verde e castanho, como se simulassem madeira. Uma placa de madeira escura similar a essas de tavernas de filmes de fantasia pende logo acima da porta, com um desenho estilizado de um gafanhoto ao lado do nome do local, pintado em tinta clara, e há uma vidraça de cada lado da grande porta de madeira, deixando o interior elegante de mesas e cadeiras de madeira escura, lustres, tapeçarias e quadros de aparência cara todo à mostra. Crista suspira, um tanto insegura de entrar num lugar chique desses, e junta coragem para empurrar aquele portal digno de mansão.

O local se encontra relativamente vazio, com alguns funcionários vestidos em camisas sociais brancas com coletes e calças negras e sapatos polidos, uns poucos clientes espalhados pelas mesas do local, boa parte deles vestidos em roupas que faz Crista associá-los a um bando de burguesinhos ou playboys. Pelo canto dos olhos, Crista localiza um lance de escadas que leva a um segundo andar.

Um dos funcionários vem até ela, falando aquela língua que ela não entende. Ele sorri gentilmente, espera que ela respondesse algo.

– Ai véi, que dor de cabeça – resmunga Crista, exasperada por dentro pelo excesso de língua gringa no ouvido o dia todo – Melina? Where Melina?

Sem perder o sorriso, homem faz sinal para que ela o siga, atravessa todo o salão e entra numa parte dos fundos um pouco mais privada, com paredes vermelhas e mesas e cadeiras numa madeira ainda mais escuras que da sala anterior, apenas uma mesa ocupada por dois homens de meia-idade de terno conversando baixinho e bebendo algo de uma garrafa chique que Crista supõe ser uma daquelas bebidas que valem mais que o salário inteiro da sua mãe. O funcionário que guiara Crista aponta na direção de um balcão onde duas bartenders conversam, uma branca, loira e alta, e a outra, Crista logo reconhece como Melina, usando aquele mesmo uniforme de camisa branca e colete que as outras, com uma gravatinha borboleta vermelha que cai incrivelmente bem nela.

– Valeu aí, chapa. Thanks – ela agradece e caminha até o balcão, exibindo seu melhor sorriso de sapatão pronta pro combate. As duas bartenders param o que estão fazendo e lançam olhares para Crista que a fazem pensar nessas líderes de torcida de filme, sendo ela a estrela do time da escola ou algo assim. A loira cochicha algo no ouvido de Melina, que ri baixinho e tenta tampar a boca, para depois empurrar a garota enquanto grita um “oh my God shut up!”, deixando Crista orgulhosa por entender exatamente o que foi dito. Melina se aproxima do balcão ao mesmo tempo que a brasileira se senta num dos banquinhos. Quem assiste a cena poderia muito bem acreditar que se trata apenas de uma bartender indo atender uma nova cliente.

– Bem-vinda ao The Grasshopper – Melina a cumprimenta num espanhol sensual e passa a língua lentamente pelos lábios, como se estivesse prestes a comer algo apetitoso. Crista gosta da provocação. Apoia um dos braços na bancada e finge analisar o cardápio na parede atrás dela – gostaria de beber algo?

– Essa boca aí sabe só pra falar gringuês? Ou sabe fazer algo mais? – flerta Crista, arrancando risadinhas da outra.

– E que você queria ver minha boca fazendo? – a mulher pergunta cheia de malícia, apoiando-se no balcão e aproximando um pouco mais o rosto do de Crista. Nesse ponto, ela duvida que um espectador ainda acredite se tratar meramente de um atendimento comum e, calmamente, passeia seus olhos pelos arredores. Os dois caras de meia-idade não dão a menor atenção à sua interação, então ela torna a encarar Melina e oferece um sorrisinho malicioso.

– Cê num tá trabalhando agora, não? – provoca, fazendo a outra rir e jogar o corpo pra trás – vamo lá, me sirva. Traz um guaraná e uma coxinha.

– Fazer o quê?

– Um guaraná e uma coxinha, fia. Anda, é pra hoje.

– Um o quê?! – ela continua sem entender.

A bartender loira esconde o riso atrás das duas.

– Ah não, mano. Que sacanagem. Vai dizer que aqui na gringolândia também não tem nem coxinha nem guaraná? – Melina dá um sorrisinho amarelo – que que cêis come em bar aqui na gringa, então?

– Vou propor algo – começa Melina, tornando àquele sorriso de líder de torcida – eu te faço um drinque, não-alcoólico, e você me conta um pouco sobre você. Que tal?

– Claro – Crista devolve aquele olhar de interesse malicioso dela com um sorrisinho de canto de boca.



====NOTAS FINAIS

“- Um “mal”? Quê?” – “mall” significa shopping e se pronuncia “mól”.

Para quem não sabe, “encontro” em inglês é “date”, por isso a Crista achou que a Carmen estava perguntando a “data”, mas “date” também pode significar “data”, por isso a Carmen sacou na hora qual era a confusão da Crista e riu.

C’ya hottie = See ya hottie = See you, hottie = See you there, hottie = te vejo lá, gata / até já, gata / até mais, gata

a real é q eu normalmente traduziria “hottie” como “gostosa” maaaaaaaaaas… HADBASDDAS

E sem migué, eu literalmente fui atrás de alguém que falasse espanhol como idioma nativo no discord pra me ajudar a escrever os diálogos da Melina.

traduzindo a bio da Lumia:

1,56, posso ser pequena mas meu coração é grande Ù.Úbaixinha safada >.>pfvr pelo amor de deus não me pergunte “o q eu estou fazendo aq”, td mundo sabe a resposta ( ._.)jogadora de futebol profissional :oestudante de educação física Calisto University >:3Bissexual orgulhosaa <3#VAI ROYAL FOXES\O/me manda foto de gatinho e cachorrinho pfvr :3se vc me der comida eu me apaixono instantaneamente :pantifascista – esquerdalha pseudocomunista – feminista

PESSOAS TRANS SÃO VÁLIDAS PORRA!

bio da Melina:

Olá!

Garota mexicana vivendo o sonho em Bright Moon! Ou tentando…

a bio da Crista tá num inglês meio quebrado, mas o que ela quis dizer foi:

olá, meu nome é Crista, sou uma jogadora profissional de futebol do Brasilmeu inglês é ruim, desculpeeu jogo pela Red Phoenixlésbicaeu não bebo álcool

gosto de racionais e sabotage

apesar de ser meio quebrado o inglês, essa bio é perfeitamente compreensível para um falante nativo de inglês.

PS: a frase “correta” se eu não me engano seria “olhos de cigana oblíqua e dissimulada”, mas eu usei uma versão alternativa porque:

1) a princípio eu me lembrei da frase dessa forma;

2) depois de pesquisar como era a frase exata, decidi que faria sentido a Cristase lembrar dessa forma ligeiramente errada, ainda mais que ela nem leu o livro realmente, só ouviu a professora falando sobre nas aulas



Notas:

====NOTAS FINAIS

“- Um “mal”? Quê?” – “mall” significa shopping e se pronuncia “mól”.

Para quem não sabe, “encontro” em inglês é “date”, por isso a Crista achou que a Carmen estava perguntando a “data”, mas “date” também pode significar “data”, por isso a Carmen sacou na hora qual era a confusão da Crista e riu.

C’ya hottie = See ya hottie = See you, hottie = See you there, hottie = te vejo lá, gata / até já, gata / até mais, gata

a real é q eu normalmente traduziria “hottie” como “gostosa” maaaaaaaaaas… HADBASDDAS

E sem migué, eu literalmente fui atrás de alguém que falasse espanhol como idioma nativo no discord pra me ajudar a escrever os diálogos da Melina.

traduzindo a bio da Lumia:

1,56, posso ser pequena mas meu coração é grande Ù.Úbaixinha safada >.>pfvr pelo amor de deus não me pergunte “o q eu estou fazendo aq”, td mundo sabe a resposta ( ._.)jogadora de futebol profissional :oestudante de educação física Calisto University >:3Bissexual orgulhosaa <3#VAI ROYAL FOXES\O/me manda foto de gatinho e cachorrinho pfvr :3se vc me der comida eu me apaixono instantaneamente :pantifascista – esquerdalha pseudocomunista – feminista

PESSOAS TRANS SÃO VÁLIDAS PORRA!

bio da Melina:

Olá!

Garota mexicana vivendo o sonho em Bright Moon! Ou tentando…

a bio da Crista tá num inglês meio quebrado, mas o que ela quis dizer foi:

olá, meu nome é Crista, sou uma jogadora profissional de futebol do Brasilmeu inglês é ruim, desculpeeu jogo pela Red Phoenixlésbicaeu não bebo álcool

gosto de racionais e sabotage

apesar de ser meio quebrado o inglês, essa bio é perfeitamente compreensível para um falante nativo de inglês.

PS: a frase “correta” se eu não me engano seria “olhos de cigana oblíqua e dissimulada”, mas eu usei uma versão alternativa porque:

1) a princípio eu me lembrei da frase dessa forma;

2) depois de pesquisar como era a frase exata, decidi que faria sentido a Cristase lembrar dessa forma ligeiramente errada, ainda mais que ela nem leu o livro realmente, só ouviu a professora falando sobre nas aulas




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