MENTIRAS

MENTIRAS

Wayná estava eufórica. Finalmente, depois de tanto esforço em estudos, tanto trabalho, aos 27 anos conseguira seu objetivo. Iria trabalhar junto ao governo do país. Iria se aproximar da tal princesa Svatia e poderia se vingar da morte do irmão.

O irmão Gorchi dissera que conhecera a nobre quando, querendo trabalhar no palácio, entrou para a segurança e fez parte dos guarda-costas da princesa. Tempos depois, teve um caso com uma nobre; e o conde Millo, que todos sabiam ser apaixonado por Svatia, mandou seus homens espancarem Gorchi para afastá-lo. Socorrido ao hospital por transeuntes, só teve a chance de falar para a irmã que seu amor por uma nobre provocara o ciúme do conde e por isso fora atacado. Faleceu em seguida. O acontecido fora há três anos.

Diziam que a princesa era belíssima, mas poucas pessoas a conheciam, pois não era de aparecer na mídia. Pelo menos o povo não a conhecia. Naquele dia, como seria a nomeação dos novos funcionários -que acontecia apenas quando havia necessidade de substituição – que passaram por todas as exigentes etapas do concurso e do curso, Wayná tinha certeza que finalmente conheceria a odiada princesa.

Vários convidados, a imprensa e familiares presentes, bem como a nova turma de funcionários aprovados se levantaram de imediato quando foi anunciada a entrada do rei no salão da solenidade. Sujeito alto, de ar calmo, cabelos grisalhos e uma barriguinha, assim é o rei. Já a rainha ao seu lado, tem o ar de majestade. O casal fazia-se acompanhar pelo príncipe real; a princesa não estava lá.

A ansiedade de Wayná deu lugar a certa dose de raiva e decepção. Deixou tudo correr no automático, sua motivação evaporara.

Uma semana depois, estando já trabalhando no palácio, Wayná, que não tivera tempo para jantar, vai até a cozinha para se alimentar. Escolhe na geladeira o que comer, aquece e se senta a uma das mesas para comer. Alguns minutos depois outra funcionária entra.

— Boa noite!

— Boa noite!

— Ah, desculpe, não sabia que estava aqui. Não jantou de novo? Terminou tarde a reunião?

— Que reunião? Não fui a nenhuma reunião!

— Não foi você – sorrindo, aponta para um, canto da cozinha -, perguntei a ela.

Olhando na direção apontada, Wayná vê alguém na penumbra que ela não havia percebido antes. A pessoa se levanta e se aproxima. É longilínea, linda, fala com voz profunda e mansa. Move as mãos longas com suavidade.

— Boa noite! Horários nessas reuniões são imprevisíveis, só se sabe o do começo. Não se desculpe, a cozinha é de todos.

— Já terminou de comer?

— Quase. Só vou ver se tem um doce ou fruta para sobremesa. Bom apetite para vocês.

A funcionária que havia entrado, virou-se para Wayná.

— Não a conheço, você é nova no palácio?

— Sim, da ultima turma, sou Wayná.

— Prazer, eu sou Fitza. Trabalho no sistema de segurança do palácio.

— Eu, por enquanto, estou na secretaria de educação; estou gostando.

A outra pessoa havia pego um pedaço de um doce, voltado à sua mesa apanhando tudo que usara, levou para a pia e começou a lavar.

– E ela, onde trabalha? – Wayná indaga.

— Ela é encarregada da secretaria social. – A funcionária responde, sorrindo.

— Ah, cuida das pessoas menos privilegiadas!

— Isso! Ela é muito boa no que faz.

— Tenho visto alguns resultados muito bons.

Conversaram mais um pouco e, após ambas alimentadas, seguiram seus caminhos. A outra já havia saído bem antes.

Três dias depois, o encarregado dos novos recrutas chama Wayná.

— Wayná, você teve treinamento de segurança, não é?

— Sim, senhor, eu tive.

— Então amanhã, às 09h00, você vai com um pequeno grupo a um evento onde a princesa Svatia estará.

— Devo colocar uniforme de gala?

— Não! Ela não gosta de seguranças nem de espalhafato, então pegue equipamento mínimo que não apareça e se vista normalmente. Seja sempre discreta perto dela. Se sair com o rei, a rainha, ou com o príncipe, será de acordo com os protocolos de segurança. Ficará evidente que estará lá para protege-los. Com a princesa é diferente, é a única forma que ela aceita estar acompanhada por seguranças. Tem que ser poucos e discretos. Pode ir.

— Com licença, senhor.

Saiu pensando que um dos motivos para a princesa não querer segurança seria para homens se aproximarem, se apaixonarem e serem mortos.

No dia seguinte, no horário marcado, estavam dentro de um veículo cinco pessoas, mais o condutor e, uma dessas pessoas era a da cozinha, a tal do social que lançou-lhe um breve sorriso. A mulher sentava-se ao lado do encarregado da segurança que perguntou a Wayná:

— Você é da última turma e ainda não definiu seu setor?

O veículo deslizou a alguns centímetros do solo à caminho do local do evento.

— Sou sim.

— Sou o encarregado de hoje, qualquer dúvida é só falar comigo.

— Obrigada. Quantos veículos e seguranças no local?

— Esta é uma boa pergunta para uma novata! Hoje só este veículo, e pode guardar os rostos de todos porque somos só nós.

— Só nós para segurança da princesa?

— A maioria da população nem sabe que ela vai estar lá. Poucas pessoas a conhecem e ela não gosta de segurança, acha que atrapalha o trabalho dela e gasta dinheiro à toa.

— Nossa! Não é perigoso a família real andar tão desprotegida?

— Não é a família, é só a princesa, com os demais é sempre com segurança completa. Os príncipes, ao contrário dos nobres que vivem cercados de seguranças, mas se pegarem uma arma não sabem de que lado se atira, são treinados desde pequenos em estratégia, lutas, armas, então é mais uma precaução.

— Posso perguntar, em que ela trabalha?

— Com a secretaria social, está sempre se esforçando para a melhoria do povo menos privilegiado.

— Ahhh! Então você a conhece bem – dirigindo a palavra à mulher ao lado do encarregado.

— Conheço sim, muito bem. Pode me chamar de Sil.

— E como ela é?

— Uma pessoa comum, reservada.

— Pessoa comum? Tá bom!

O encarregado determinou os postos de cada um no local do evento. Wayná, mais uma vez, não veria a princesa, ficaria do lado de fora da sala da convenção que acabara de saber, seria de agricultura e meio ambiente.

– O que ela faz em uma convenção deste tipo? – Wayná indaga. – Ela não trabalha com o social?

– Se você pensar um pouco mais a fundo, vai perceber que essas coisas estão interligadas. – Sil responde. – Para cuidar da agricultura precisamos cuidar do meio ambiente. Se fizermos isto teremos qualidade de vida melhor, alimentação melhor e mais quantitativa, e poderemos distribuir mais alimentos a todos indistintamente, sem acabar com o solo, com a poluição do ar. A ciência ajuda neste círculo.

Wayná se sentiu chateada, mas não pela resposta franca de Sil, foi mais pela impulsividade de ter perguntado sem pensar.

Sil entrou acompanhada pelo comandante. Wayná e o condutor ficaram vigiando corredores de acesso à sala de conferência. Os outros dois estariam em pontos estratégicos próximos à princesa e o exterior estava a cargo da vigilância local.

Wayná conversou com seu parceiro, perguntou sobre a princesa, mas só ouviu que ela era uma excelente pessoa e os tratava bem. Parecia que a segurança palaciana não falava nada sobre a família real, nem mesmo entre eles, ou talvez fosse por ela ser nova no trabalho e ainda não ter a confiança deles, mas gostaria de trabalhar com esta equipe que parecia ter uma respeitosa camaradagem no grupo. Pensando bem, nem sabia em qual função ficaria!

Gostaria de continuar na segurança, seria mais fácil com o tempo se aproximar da princesa e desbanca-la, mostrar quem realmente era a santinha do pau oco, aquela piranha! Ficava sempre com raiva quando se lembrava do irmão e vinha a vontade de estrangular o responsável.

Dois dias depois foi destacada para a equipe de segurança do rei. Se apresentou animada e ansiosa e teve um baque. Tudo completamente diferente. Todos com a farda do palácio, cada passo metodicamente planejado, vinte acompanhando o rei e nem fazia ideia da quantidade pelo caminho. Batedores, trânsito fechado e os guardas com disciplina rígida, pareciam robôs executando tarefas com eficiência. Enquanto a família real tinha mais de cem seguranças cada um, a princesa tinha vinte divididos em equipes.

Wayná percebeu que estava agindo da mesma forma que os demais e não gostou de trabalhar com eles. Perguntou se era sempre assim que agiam e a resposta que recebeu era que a família real tinha que ser protegida de todas as formas sempre, todos eles.

Não se atreveu a perguntar mais nada. Trabalhou uma vez com a segurança do príncipe e foi da mesma forma.

A guarda palaciana tinha seu uniforme e a segurança da família real tinha outro, com escudo nas mangas para distinguir quem era segurança de quem. Nunca Wayná pensou em ter tantos uniformes.

Por quatro meses foi enviada a outros setores e acabou por aprender diversos serviços que se fazia no palácio. Quando fazia cinco meses de sua aprovação e início dos trabalhos no palácio, o chefe a chamou.

— Entre, entre e sente-se. Só um minuto.

Sentou-se à mesa em frente do chefe e aguardou ele terminar a vídeo chamada.

— Acabei de falar com Yosh e ele disse que precisam de mais uma pessoa na segurança da princesa e que como já os conhece e tem a mesma idade dela solicitou você. – Interrompe a fala, observando intrigado. – Por que você sempre usa este punhal na cintura?

— Somos descendentes de caçadores, não caçamos mais, mas os pais nos dão um deste aos sete anos e aprendemos a usá-lo. Quem é Yosh?

— É o nome do chefe de segurança da princesa, aquele com quem você trabalhou. Bom, falei com todos dos setores que você já trabalhou e não há nenhuma reclamação. Seria bom se todos os novatos fossem como você, então é indicada para trabalhar com ela. Aceita?

— Não é uma ordem?

— Não! Colocamos os novatos em vários setores para ver onde são mais aptos, nem todos têm a preparação para segurança pessoal como você tem. Quando se destacam em algum setor oferecemos o cargo, não obrigamos ninguém a aceitar. Depois de seis meses de experiência tem o direito de escolher onde prefere trabalhar.

— Entendi. Eu gostaria de trabalhar com eles sim.

— Ótimo! Amanhã, apresente-se a Yosh.

Saiu da sala eufórica. Conseguira! Trabalharia próxima àquela descarada e poderia se vingar. No dia seguinte apresentou-se para o trabalho.

– O chefão deixou você vir para nós, então! – Fala Yoshi.

— Sim, senhor.

— Logo estará familiarizada com tudo por aqui. Vai começar na recepção. Soube que tem trabalhado em vários setores, então está apta a nos ajudar com coisas administrativas também. Esta é a secretária da princesa e, de vez em quando, te pedirá ajuda. Qualquer pessoa que quiser entrar sem estar agendada e a Sofi aqui não autorizar, você vai impedir e me chamar se necessário.

Tinham caminhado até o saguão de entrada onde havia algumas mesas e na maior, cheia de papéis, estava Sofi, a secretária que apontou uma mesa perto da dela.

— Aquela ali é a mesa dos seguranças. Pode ficar a vontade que qualquer coisa grito por você. É Wayná, não é?

— Isso. Obrigada!

Quinze minutos depois Sil chegou, acenou com a cabeça, um sorriso bonito no rosto e entrou na sala da princesa.

— Hei, Wayná, você já a conheceu?

— Sil? Trabalhei há uns meses na segurança da princesa e a conheci.

Sofi sorriu e voltou a trabalhar.

Pouco antes da hora do almoço, uma mulher linda entrou na sala como se fosse a dona do local.

— Olá Sofi, Svatia está?

— Desculpe, condessa, mas ela está ocupada e a senhora não tem hora marcada. Não pode entrar.

Ao dizer a ultima frase olhou enfaticamente para Wayná, ela entendeu e se colocou entre a tal condessa e a porta do gabinete da princesa.

— Você deve ser da segurança! Tem certeza que vai impedir uma condessa de entrar em algum lugar?

— Em algum lugar não, mas naquele gabinete sim.

A condessa gargalhou.

— Parece que vocês não têm conhecimento de protocolo. Eu sou uma nobre, uma condessa e você não pode encostar em mim!

— Desculpe, condessa! Mas aqui estou cumprindo ordens da princesa e se insistir em quebrar o protocolo palaciano, farei o que for preciso para impedi-la.

A condessa ficou roxa de raiva. Media Wayná de cima abaixo tentando ver se conseguiria tirá-la do caminho.

— Eu só vim convidá-la para almoçar!

— Poderia ter entrado em contato antes e agendado.

— Chame seu chefe.

— Por que eu o chamaria?

— Porque estou mandando, quero falar com ele!

— Não posso, ele está ocupado e também me deu ordens explícitas.

Parecia que a condessa teria um ataque a qualquer momento, só não se sabe se seria de raiva, coração ou sobre o pescoço de Wayná. Antes que ela se decidisse:

— Bom dia, condessa! Por favor, sabe que a princesa não vai recebe-la, nem hoje nem nunca, então pare de perturbar os funcionários.

— Yosh! – A mulher bufou. – Qual o problema dela ouvir o que tenho a dizer?

— Ela sabe que você quer tirar a multa por contratar pessoas para trabalharem para você e querer transformá-las em escravas. Ela sabe que você quer a posse das terras agrícolas e que os proprietários que trabalham junto com muitos agricultores não querem vender.

— São pessoas simplórias que não sabem tirar lucro das terras que possuem, quero construir um hotel lá, tem paisagens lindas.

Agora Yosh gargalhou.

— Tem belas paisagens porque eles preservam. Vai fazer um grande hotel, ocupando grande parte de terras cultiváveis para fazer coisas que agradam riquinhos que nada sabem sobre a realidade da vida e, vão comer o que? Porque, não sei se você sabe, terras cultiváveis produzem através de trabalho destes simplórios, alimentos. O que você come, eles produziram. Tenha uma boa tarde.

A condessa saiu querendo arrebentar tudo.

— Muito bem, Wayná, saiu-se bem com este furacão mimado e sem educação.

Wayná tinha certeza que a nobreza sempre conseguia o que queria, sem nenhum esforço e que a princesa seria a pior, mas de repente, algo estava estranho.

Sil saiu do gabinete da princesa.

— Não vão almoçar?

Foram todos para o refeitório.

Sofi – A condessa Thiana acabou de dar escândalo querendo falar com a princesa.

Sil – Que mulher mais sem noção! O marido deveria interna-la, ao invés de fazer tudo o que ela quer. O pai a mimou demais e o conde Millo acabou de estragar. Que casal insuportável!

– Ela é a esposa do conde Millo? – Wayná pergunta.

— É, sim.

Com uma mulher linda como aquela, como o conde foi se envolver com a princesa? Será que ela é mais bonita ainda? Wayná estava perplexa. Embora a condessa fosse linda, pensou, preferia Sil que era bela, inteligente e quando falava com alguém olhava francamente nos olhos, ouvia e observava.

Depois deste dia passaram a almoçar as três juntas, todos os dias de trabalho.

Naquela mesma tarde, cerca de duas horas depois de terem voltado do almoço, houve alvoroço quando a guarda imperial irrompeu salão adentro, postando-se estrategicamente, sem adentrar o gabinete da princesa.

Sofi e Wayná levantaram-se imediatamente.

– Majestade! – Sofi cumprimenta.

— Olá, Sofi, minha filha está no gabinete?

— Está, sim, ela não informou nenhuma saída. Mesmo quando sai de seus aposentos pela entrada do palácio ela me informa.

— Está bem, obrigado.

Um dos guardas abriu a porta e fez menção de entrar antes do rei, mas foi impedido por ele.

— Aguardem aqui, nunca entre no gabinete ou nos aposentos dela a não ser que ela solicite.

— Desculpe, Majestade! Já tinha sido informado, mas me esqueci que não é qualquer sala.

O rei deu dois tapinhas no ombro do rapaz e entrou.

— Sofi, o gabinete tem contato com os aposentos da princesa?

— Claro! Pensava que ela ficaria o dia todo ali? Às vezes, descansa um pouco quando tem algum evento fora do palácio. Nas raras vezes que não tem agenda, faz caminhadas, se exercita e nestas ocasiões usa esta entrada.

Wayná entendeu o porquê de, por mais cedo que chegasse para o trabalho, nunca ver a princesa chegar ou sair do gabinete. Ficou esperando que as pessoas saíssem do gabinete após a entrada do rei, mas ninguém saiu. Parecia que não era segredo o que o rei falaria, ou aqueles funcionários eram de total confiança.

— O rei vem sempre aqui?

— Sempre não, vem às vezes buscar conselhos em algumas situações que possam afetar o povo. Alguns nobres gostariam de mais poder e querem tomar tudo, possuir tudo, achando que o povo só deve obediência e servidão. Alguém deve ter pedido algo ao rei, e ele precisa do melhor meio de dizer não e sempre que isto acontece a princesa o ajuda.

— Ela é bem ligada ao povo, né?

— Quem a conhece desde pequena diz que sempre foi assim.

— Parece que você gosta muito dela.

— Todos que trabalham com ela passam a amá-la, eu não sou diferente. Aquelas oito pessoas que têm acesso direto ao gabinete que você tem visto, algumas são nobres decentes como o barão Mislov, aquele palhaço efeminado encantador, outras vieram do povo por capacidade própria. Todos têm a confiança dela.

— Algum deles é namorado dela?

— Imagine! Ela não tem ninguém no sentido romântico. Aliás, nem tem tempo pra isso!

Mas se envolve com quem está perto e nem dá importância” – pensou Wayná.

Depois de três horas o rei saiu.

No dia seguinte, resolveu pesquisar mais sobre a princesa e Sil, já que pensou ser através dela que se aproximaria. Com quem poderia saber mais? Sofi, claro!

— Bom dia, Sofi, tudo bem?

— Tudo ótimo.

— O dia está lindo, não é?

— É sim. Até estou pensando em ver se meu marido vai poder folgar por dois dias, pra gente passear juntos em algum lugar tranquilo.

— Seu marido? Não sabia que é casada!

— Yosh é meu marido! Você não sabia?

— Nossa, ele é sempre tão sério, mesmo perto de você!

— Ah, ele é responsável pela vida da princesa e, durante o trabalho, ele é uma das pessoas mais sérias que conheço.

— Que bom. Sil é solteira?

— É, sim. Já comentaram que queriam que se casasse, mas ela prefere trabalhar.

— Você não tem ciúmes por ele trabalhar tão próximo a Sil?

— Imagina! Eles são primos-irmãos. Ele é dois anos mais velho, mas foram criados praticamente juntos. Sempre foram muito próximos.

Deu um tempo nas perguntas como quem só está querendo saber de coisas para melhor executar seu trabalho.

— A princesa nunca se casou?

— Não. Ouvi dizer que ela se apaixonou uma vez e que a pessoa morreu, então ela se fechou para este tipo de sentimento e se dedicou a defender o povo.

— Sabe quem era a pessoa?

— Não. Yosh sabe, mas não fala.

— Entendo.

O melhor seria conversar com Sil mesmo; Sofi não sabia muito. Então, quando terminaram de almoçar naquele dia, ao ficar um momento sozinha com Sil, em um impulso resolveu convida-la para jantar.

— Sil, desculpe se eu estiver sendo inconveniente, mas você jantaria comigo?

— Alguma ocasião especial?

— Não! É que gostaria de estar bem preparada para trabalhar com a princesa, e você é quem mais sabe de tudo dela.

— Que pena! Pensei que seria por outro motivo.

— Bom, pra dizer a verdade gostaria de te conhecer melhor. Só pra conversar sobre trabalho poderia ser no trabalho, não é?

— É. Quando?

— O que?

— Quando seria o jantar?

Antes que perdesse a coragem, já estava difícil aguentar aqueles olhos límpidos encarando-a, disse a primeira coisa que lhe veio à cabeça.

— Que tal hoje mesmo?

— Já tem o local?

— Não, mas posso procurar!

— Não se preocupe, conheço um local acolhedor que a gente pode ir logo depois do expediente.

A tarde foi longa. Wayná estava entre eufórica e amedrontada. Eufórica pela oportunidade de poder saber mais sobre a princesa, de chegar mais perto de sua vingança. Com medo do que sentia por Sil e não querer magoá-la, queria… não! Não queria nada Wayná, para com isto, mantenha o foco.

Ao término do expediente:

— Oi. Posso te dar um tempo para um banho e te pego daqui uma hora, ou prefere ir daqui agora?

— Oi, Sil! Prefiro tomar um banho e trocar de roupa.

— Tá bom, até daqui a uma hora então.

E agora? Só se viam no palácio, em horário de trabalho e nem sabia onde iriam. O que vestir? Seria mais social, já que Sil estava sempre bem vestida, talvez pelo cargo, ou seria um local mais despojado? Optou pela segunda opção, afinal Sil era inteligente e sabia que ela Wayná, não era da nobreza, nem rica para frequentar lugares requintados.

Exatamente uma hora depois de terem conversado, Sil chegou dirigindo um veículo. Vestia-se com leveza e simplicidade, o que agradou enormemente Wayná. Não queria se sentir assim, mas sentia.

Sil levou-as a um local tranquilo, não muito distante da cidade. Parecia uma fazenda, mas em uma parte separada havia um restaurante e conjugado a ele um bar com muitas mesas, música e pista para dançar. Mais uma coisa que Wayná gostou.

A proprietária, com um abraço cumprimentou Sil que apresentou Wayná.

— Há quanto tempo não te vejo! Deu saudade dos nossos pratos? E veio, coisa mais que rara, acompanhada hoje!

— Esta é Wayná, uma amiga.

A proprietária levou-as a uma mesa, conversou mais um pouco e se afastou depois de deixar cardápios com elas. Enquanto escolhiam:

— A hora que quiser pode começar o interrogatório.

— Não pretendo interroga-la, só fazer algumas perguntas.

— Pode começar, não precisa ficar tímida.

— Tá bom. A princesa tem ou teve alguém na vida?

— Tem família, tem amigos.

— Você entendeu. – Wayná riu. – Quis dizer namorado, um amor…

— Ela teve um amor, sim. Foi aos dezessete anos, mas a pessoa faleceu por causa de idiotas mimados.

— Como assim?

Um suspiro profundo e tristonho.

— Sabe aquela condessa de outro dia? A mulher do conde Millo?

— Sei, o que ela tem a ver?

— Tanto ela quanto o conde se diziam apaixonados pela princesa. Conheciam-se desde a infância, embora não fossem muito amigos. Na realidade, queriam se envolver com a princesa para ficarem mais perto do trono, caso algo assim como um acidente com o príncipe seria bom para eles. A princesa não quis nada com nenhum deles, então descobriram que ela estava namorando alguém. Resolveram infernizar a pessoa. Inventaram mentiras, faziam brincadeiras estúpidas e uma dessas brincadeiras ocasionou o acidente que fez a pessoa se afogar no mar.

— Como aconteceu isso?

— Convidaram-na para um passeio marítimo, dizendo ser um modo de pedir desculpas, mas estando distante da costa, colocaram roupa de mergulho, pularam na água, tendo antes retirado um tampão que tinham colocado especialmente para a brincadeira. A lancha afundaria e a pessoa teria que nadar sem roupa adequada até o ancoradouro. Só que a pessoa não sabia nadar e eles tinham conhecimento do fato, apenas a abandonaram.

— Não foram punidos?

— Os pais deles são amigos pessoais da rainha. Disseram que fora uma brincadeira que deu errado, minimizaram a culpa; e a rainha, infelizmente se condoeu, ficou com pena.

— E a princesa?

Pediram o jantar.

— Se tiver uma chance coloca os dois na prisão. Já se foram onze anos e a mágoa contra a mãe não passou, só falam o essencial.

— Que horror! Este casal é terrível mesmo, mas se amaram a princesa, como estão juntos?

— Interesses econômicos. Só amam a si mesmo, a riqueza material e o pretenso poder, e fazem tudo para conseguirem cada vez mais.

— Não conheço o conde, ele é tão feio assim para a princesa não gostar dele? Ou o amor dela era um cara perfeito?

O jantar foi servido.

— O casal é horroroso por dentro, mesmo muito bonitos por fora. A princesa jamais se aproximaria de alguém tão mesquinho. Ela jamais se apaixonaria por um homem; se apaixonou por uma mulher doce, inteligente, maravilhosa, principalmente por dentro.

— Então ela nunca se envolveu com um homem?

— Não.

Wayná duvidou que Sil estivesse falando toda a verdade. Seu irmão fora vítima! Por que Sil estava mentindo? Será que sabiam que ela era irmã de Gorchi?

— Meu irmão trabalhou na segurança da princesa até três anos atrás.

— Seu irmão? Qual é o nome dele? Há uns seis anos que não se trocava ninguém. Há oito meses um guarda aposentou e você tomou o lugar dele.

— O nome do meu irmão era Gorchi.

— Era? Por que era?

— Ele faleceu.

— Sinto muito! Na segurança da princesa ele não trabalhou não, conheço todos os vinte. Posso tentar descobrir onde ele trabalhava, se você quiser.

Mais uma mentira! Mas como ela mente olhando profundamente nos meus olhos!?

— Por enquanto não, obrigada.

Fez-se silêncio de palavras, só havia o som dos talheres e mastigação.

— Como ele morreu?

— Espancamento.

— Que horror! Pegaram os culpados?

— Não.

Sil parou de comer. Ficou absorta em seus pensamentos.

Depois de cinco minutos:

— Sil, você está bem?

— Oi! Desculpe, me perdi nos pensamentos.

— Você está bem? – Wayná tornou a perguntar.

— Não, não estou. Cada porcaria que algumas pessoas fazem me tiram do eixo. Queria tanto ter o poder de impedir, se não conseguir impedir, poder ajudar as vítimas e punir os criminosos, principalmente quando são nobres!

Ouviam música vindo do outro estabelecimento.

— Se acalme, relaxa. A gente não tem este poder, infelizmente. Então se acabou de jantar, podemos dançar um pouco, antes de ir pra casa? Amanhã não tem expediente.

Foram, dançaram um pouco.

— Wayná, você não quer ir a um lugar mais calmo, mais privado?

Sabia que não devia, mas algo mais forte que a vingança a impeliu.

— Gostaria muito.

Sil levou-as a uma cabana em um bosque. Dentro era confortável, com tudo que a cidade tinha e, parecia ter muitas câmeras que mostravam tudo ao redor em circuito fechado.

Música ambiente, bebida suave, e o primeiro beijo, seguido do segundo após minutos de olhos nos olhos. E veio o deslizar de mãos, roupas retiradas com calma e carinho, o esquecimento do passado, do mundo lá fora. Foi uma noite de entrega recíproca, de enorme prazer compartilhado.

Wayná adormeceu e acordou com o som surdo produzido por Sil na tentativa de abafar o choro.

— Sil! Que foi? Que aconteceu?

— Desculpe, desculpe. Não devia ter deixado acontecer. Por favor, não conte a ninguém, não deixe que percebam.

Vergonha, foi a primeira palavra que surgiu na mente de Wayná. Deixou a raiva dominar.

— Não se preocupe, não vou contar pra ninguém que a importante nobre transou com alguém tão comum!

— O quê!? Não, não é nada disto!

— Por favor, como vou para casa?

Sil não disse mais nada. Levantou, se vestiu e esperou por Wayná. Assim que ambas estavam prontas, partiu.

Ao chegar em sua casa, Wayná só sentia raiva. Raiva dela por não ter seguido a razão e se deixado levar pela emoção. Raiva por ter adorado o tempo que passara com Sil. Raiva por, mesmo agora, querer abraçar Sil. Então gritou, procurou uma desculpa para transferir a raiva para Sil e só pensava que era assim que os nobres agiam. Teria sido assim com seu irmão também? Se jogou na cama e chorou como há muito não fazia.

O dia de folga acabou e chegou o novo dia de trabalho. Chegou cedo como sempre, foi para sua mesa e esperou para ver a reação de Sil, quando chegasse.

Ela chegou no horário, como sempre. Cumprimentou todos como sempre e o olhar que dirigiu a Wayná estava cheio de dor. Foi um tranco em Wayná, não era o que esperava acontecer.

Uma semana depois, ainda pela manhã, toca o comunicador na mesa de Wayná. Viu que era Yosh e atendeu rapidamente.

— Senhor!

— Wayná, dê duas batidas na porta do gabinete, não espere resposta, entre e vá direto até Sil e diga água abaixo. Depois faça o que ela mandar.

— Mas senhor, a princ…

— Vá agora, neste instante!

Finalmente ia ver a princesa em carne e osso!

Deu as duas batidas contidas na porta e entrou. Uma mesa retangular com quatro cadeiras de cada lado, uma delas desocupadas e, nenhuma nas cabeceiras!? Droga, a princesa não estava!

Todos olhavam para Wayná que se aproximou de Sil e transmitiu baixinho a frase que Yosh dissera.

– Pessoal, desculpe, vou ter que sair. – Sil fala. – Entrarei em contato assim que possível. Wayná venha comigo, devidamente armada.

Enquanto falava tinha se levantado, desligado o aparelho que registrava todas as decisões da reunião e já foi se encaminhando para a porta de saída. Todos se prepararam para também sair. Wayná observando achou que ela era bem mais ágil do que aparentava no dia a dia. Parecia habituada a tomar decisões rápidas, a dar ordens sem se alterar. Devia ser a eminência parda que fazia tudo e a princesa levava a fama. Além de sacana, vagabunda esta princesa!

Admirava e gostava de Sil até mais do que queria, mas aprenderia a odiá-la também, porque ela tinha conhecimento de tudo que acontecia com a princesa, tudo que ela fazia e não tentava mudar as consequências. Seria difícil porque, a cada dia, sentia mais necessidade de se aproximar de Sil.

Sil deu algumas ordens para Sofi e saíram. Fora, um veículo já as aguardava, Wayná sentou-se ao lado do condutor e Sil atrás dela.

Ao chegarem ao local, Yosh com mais quatro guardas estavam parados no caminho de um pessoal, evitando que explodissem algo. Havia muitas pessoas gritando, protestando e do lado oposto estava a condessa Thiana, aguardando que colocassem todos os explosivos.

Antes do veículo parar totalmente, Sil desceu com jeito de quem quer explodir tudo. Wayná desce em seguida, preocupada com a segurança de Sil que foi direto até onde estava Yosh. Conversaram um pouco e ela foi tentando se acalmar.

Poucos minutos depois chegou um grupamento do exército imperial. O coronel foi até Sil e Yosh e, após conversarem distribuiu os soldados que, além de impedirem a ação dos funcionários da condessa, passaram a recolher os explosivos. Só então Sil se dirigiu à condessa, gritando de onde estava.

— Então você chegou a este ponto?

— Já disse que quero aquelas terras e explodindo a represa faço com que todos saiam dela, daí eu as compro a preço baixíssimo.

— A represa não é sua, é do reino. Explodindo a represa você mataria centenas de pessoas!

— É só me dar as terras!

— Você comprou explosivos ilegalmente, está ameaçando destruir construção da Nação, e cometer centenas de homicídios.

— São vidas substituíveis!

Sil voltou-se para o coronel falando sem gritar mais.

— Coronel, todos ouviram e foi gravado o que foi dito aqui pela condessa?

— Foi sim, podemos prosseguir?

— Por favor!

O coronel voltou-se para seus soldados e gritou a ordem.

— Prendam-na. E tomem os depoimentos dos funcionários e testemunhas.

— É um absurdo! Vocês não podem me prender, sou uma condessa!

Thiana gritava e protestava enquanto o povo aplaudia e os soldados cumpriam as ordens.

Yosh se aproximou de Wayná.

— Cuide de Sil e não fique pensando que ela está feliz com o que aconteceu. Mantenha-se muito discreta, ela precisa de você. Mesmo dizendo que você não queria, eu verifiquei sobre teu irmão. Ele não passou nos exames para segurança do palácio, e como muitos dos que não conseguiram, foi trabalhar como guarda-costas da nobreza e milionários. Ele trabalhava para a condessa que acabou de ser presa.

Wayná queria muito acreditar no que Yosh dissera, assim como queria acreditar no que Sil tinha dito, mas por que ela se desculpara, depois de terem feito amor? Depois de uma noite mágica? E, por que seu irmão mentiria à respeito de para quem trabalhava?

Eram muitas perguntas e aquele não era o lugar nem o momento de obter respostas, melhor esperar aquela ocorrência terminar.

Seguindo a ordem dada por Sil à Sofi, havia um pessoal da imprensa que gravou a situação e os berros da condessa, principalmente a fala sobre a pouca importância que ela dava às vidas das pessoas.

A multidão aplaudiu quando a condessa foi presa e aos poucos foi se dispersando. Os policiais retiraram todos os explosivos, ouviram os envolvidos de ambos os lados, mostraram tudo à imprensa antes de saírem. Sil, Yosh e sua segurança não apareceram no ocorrido.

Wayná ficou surpresa com tudo o que aconteceu, não sabia o que sentia no momento, só se preocupava com a segurança de Sil.

Quando voltaram para o palácio, já havia uma enorme agitação por causa da notícia ventilada pelo país, com o vídeo mostrando a condessa sendo presa, bem como a repetição de suas frases e os explosivos expostos. Parecia que a condessa não tinha muitos fãs.

Sil avisou que podiam ir almoçar enquanto ela iria com Yosh ao Ministério da Justiça para encerrar a parte dos dois no caso.

Wayná e Sofi voltaram para seus postos depois de terem almoçado. Sil e Yosh só apareceram duas horas depois e entraram direto no gabinete da princesa.

Meia hora depois, uma rainha parecendo furacão entrou no recinto, abriu a porta antes que seus seguranças se posicionassem, entrou no gabinete e bateu a porta com força.

Yosh se curvou e tentou sair. Sil cumprimentou-a como manda a etiqueta.

— Você fica Yosh! Afinal está tão envolvido quanto Svatia.

— Sim, senhora.

Embora não desse para entender as palavras, era óbvio que a rainha gritava raivosa no gabinete.

— Svatia deve ter mandado você vigiar Thiana, só assim para você saber o que ela ia fazer e onde!

— Ela estava sendo vigiada sim, pelo que andou tentando fazer há três semanas, para se apropriar das terras produtivas da região, desalojando ilegal e imoralmente, as pessoas que produzem nossos alimentos. Antes era ignorada.

— Você sempre defendendo Svatia! Ela é uma condessa, filha de queridos amigos, não poderiam ter agido como fizeram e prendê-la frente a imprensa. Ainda mais a imprensa que foi! Apelaram para o lado mais sórdido do fato.

— Desculpe, Majestade, mas foi exatamente da forma que aconteceu! Ela disse aquelas coisas em altos e bons gritos.

— Não interessa! Vocês vão minimizar os fatos para que ela saia da prisão. Quando forem prestar o depoimento de vocês no Ministério, digam que a imprensa exagerou, que parte é montagem, qualquer coisa, mas que a tirem da prisão.

— A senhora quer que a gente minta?

— Por que não?

— Porque ela tinha intenção de matar centenas de pessoas, porque ela já matou antes e não foi punida por sua causa. É uma mimada riquinha e irresponsável que já passou da hora de aprender que o mundo, que as pessoas não são seus brinquedos!

— Não vai fazer o que estou mandando?

— Não, senhora, desculpe, mas não vou.

— E você?

– Nós já demos nossos depoimentos, Majestade. – Sil responde. – Já estão assinados, selados e em processo. Não há nada que se possa fazer agora.

Da mesma forma que entrou a rainha saiu, e seus seguranças correndo, tentando assumir a proteção dela.

Wayná, de sua mesa, ouviu um grito que tinha certeza ter sido de Sil. Sem pensar, correu, abriu a porta e entrou.

Sil estava abraçada com Yosh, chorando copiosamente. Ele fez sinal para que ela entrasse e fechasse a porta. Wayná não sabia o que fazer, doía-lhe o coração ver Sil daquele jeito. Yosh fez outro sinal para que ela se aproximasse, assim que ela chegou bem perto, ele com carinho e suavidade, fez com que Wayná tomasse seu lugar.

Ela abraçou Sil sem saber como agir, apenas a segurou firme querendo tirar toda dor daquela mulher. Yosh estava se comunicando com alguém.

Sil foi-se acalmando aos poucos. Quis afrouxar o abraço e foi difícil para Wayná permitir. Quando parou de chorar foi se sentar em uma poltrona, se enrolando segurando os joelhos. Yosh se aproximou, fez um carinho em sua cabeça e se voltou para Wayná.

— Fique com ela, não a deixe sozinha hoje. Vou buscar um carro, vocês vão sair como se fossem fazer algo, mas vão para sua casa. Amanhã, Sofi a pegará lá.

— Minha casa!?

— Exato. Por favor, cuide dela. Amanhã ela voltará a ficar sobre controle, mas agora não está nada bem. Sil, não se preocupe, já estou resolvendo tudo, pode relaxar.

Yosh trouxe o veículo e Sofi já tinha se encarregado de dispensar todos. Wayná assumiu a direção e levou Sil para casa. Nada foi dito no caminho, apenas olhares preocupados de uma entre o trânsito e a pessoa ao lado que parecia uma estátua. Não queria, tentou resistir, mas amava aquela mulher.

Chegando em casa, Wayná providenciou o jantar e chamou Sil para comer.

— Desculpe!

Wayná não entendeu o motivo do pedido de desculpas, aliás, não sabia o que tinha acontecido.

— Pelo que?

Sil olhava-a com tanta mágoa no olhar, com tanto carinho e um pedido que não dizia em palavras. No entanto, aquele pedido, embora tentasse resistir com todas suas forças era algo que Wayná também desejava e sucumbiu. Pela segunda vez, se amaram sabendo que amanhã se comportariam como duas conhecidas que trabalham no mesmo local. Se atracaram com quase desespero. Com certeza haveria marcas, hematomas ou algo colateral no dia seguinte.

Jantaram na madrugada.

Pela manhã, quando Sil se levantou, Wayná já havia se alimentado e estava pronta para ir para o trabalho.

— Sil, o que a princesa sabe sobre o que aconteceu?

— Não acredito que você ainda… Incrível como alguém tão inteligente, que passou com louvor na turma não veja algumas coisas tão óbvias, não é?

Antes que Wayná dissesse qualquer coisa bateram à porta; Sofi chegou para levar Sil.

— Bom dia. Trouxe roupas para você se trocar, antes de ir para o gabinete.

— Obrigada, vou me trocar. Com licença.

 – Coma antes de sair. – Pede Wayná. – Sofi, por favor, tranque a porta e leve a chave pra mim. Melhor eu chegar antes como de hábito, não é?

— É, sim, pode deixar que faço isto. Obrigada!

Sil estava de pé com as roupas nas mãos.

— Desculpe por te envolver na minha vida e… perdão por te amar e não ter te afastado.

E foi para o banheiro. Wayná ficou sem ação por alguns segundos.

— Melhor eu ir.

Foi para o trabalho com a cabeça martelando. O que é claro que eu não vejo? Quem pede perdão por amar?

Por mais doze dias a rotina continuou. Wayná acompanhava Sil em eventos, os almoços diários com as três juntas, embora Sil não fixasse o olhar em Wayná. Apenas por poucos segundo um olhar profundo e carinhoso, rapidamente desviado para que ninguém percebesse o significado.

Então chegou o feriado nacional, data da fundação do reino por um antepassado do atual rei. A família real, normalmente participava de algumas cerimônias durante a semana, menos a princesa e, depois passavam dois dias no palácio de verão. Como ficavam todos no mesmo lugar, a segurança era mais tranquila e metade do efetivo tinha dois dias de folga para visitar as famílias que não moravam na capital.

Wayná deixou o trabalho e foi direto para a casa dos pais. Chegaria ainda naquela noite, passaria dois dias inteiros com a família e saindo no início da noite, ainda poderia dormir algumas horas antes de assumir seu posto no começo do terceiro dia. Faria bem a ela aqueles dias longe do palácio, princesa e vingança já quase esquecida, mas não o amor que sentia por Sil.

A mãe ficou mais do que feliz por vê-la bem, estivera preocupada por causa do motivo de sua saída de casa.

Logo no almoço em família, olhando o desconforto do irmão mais velho, resolveu jogar a bomba.

— Crest, você sabe alguma coisa sobre Gorchi não ter passado no concurso para o palácio e ter mentido pra gente?

Todos ficaram perplexos e Crest vermelho como nunca.

— Bom, eu cansei de te pedir para esquecer esse negócio de vingança. Ele caiu de paixão por uma condessa para quem foi trabalhar e ela é casada!

— Então a princesa não teve nada a ver com o que aconteceu a ele?

— Não. Deve ter sido o marido da tal condessa, acho.

— Que bom que não fiz nenhuma besteira tentando atacar a princesa de alguma forma, não é?

— Você conheceu a princesa?

— Trabalho pra ela, mãe.

— E como ela é?

— Alguém que tenta cuidar do povo.

A mãe quis saber tudo sobre o palácio, o trabalho da filha, se ela estava feliz, sobre a princesa. Conversaram o dia todo.

— Pelo que você me contou, a Sil que você acompanha sempre pra todo lado é quem resolve tudo, parece ser ela a princesa, filha. E você gosta muito dela.

— É, ela trabalha bastante. Gosto mais do que devia, mãe.

À noite, deitada na cama esperando o sono leva-la, do nada se lembrou da frase de Sil.” Não acredito que você ainda… não vê o óbvio” e a de sua mãe sobre ela parecer ser a princesa.

— Caramba, Wayná, como você é burra!!!

Foi se lembrando de várias situações, de como ela dava ordens discretamente; de quando a rainha foi vê-la e de como ficou; da deferência de alguns funcionários mais antigos do palácio; da primeira vez que a viu na cozinha a forma respeitosa que Fitza, do sistema de segurança, a tratou… A raiva que sentia pela morte do irmão não a deixou ver a verdade?

E o pedido de perdão por amá-la… seria por que jamais ficariam juntas? Ou por causa dos inimigos da família real? Tantas perguntas surgiram e nenhuma resposta. Dormiu bem tarde.

A mãe só a acordou na hora do almoço. Depois passeou com a mãe, comprou-lhe alguns presentes, passou o dia agradando-a. ainda teve tempo de jantar com a família antes de voltar para a capital.

Agora que descobrira a verdade como a encararia, como trataria Sil?

No trabalho, assim que Sofi chegou.

— Bom dia, Wayná, aproveitou bem o ar do interior?

— Bastante. Papariquei minha mãe, foi muito bom. Ah, trouxe uma coisinha da minha terra pra você, sei que adora um docinho depois da refeição.

— Adoro mesmo, obrigada.

— Sofi, o nome da princesa é Sil Svatia?

— Finalmente descobriu! Que bom, mas, por favor, continue tratando-a como sempre, não comece com reverencia, a não ser diante da família real, certo?

— Certo. Bom você me avisar, não estava sabendo como me portar diante dela.

— Se ela quisesse algo diferente, não acha que teria já deixado claro quem ela é e como ser tratada?

— É, acho que tem razão.

E Sil entrou, cumprimentando a todos, o mesmo olhar carinhoso e saudoso para Wayná, e tudo o que ambas pensavam era “como senti tua falta.”

No almoço, apenas Sofi falava por todas, as demais sorriam e faziam pequenos comentários.

Ao voltarem para o gabinete havia pessoas esperando. Uma reunião previamente marcada com alguns representantes de cooperativas agrícolas.

Sil entrou em sua sala e pediu que Wayná a acompanhasse. Assim que a porta foi fechada, Sil segurou Wayná com pressa e beijou-a, deixando-a sem fôlego.

— Por favor, estão à sua espera!

— Eu sei, mas eu não conseguia mais esperar por isso. Agora pode pedir que entrem se não estiver faltando ninguém.

— Pois não, Alteza.

— Não me chame assim! A não ser se estivermos diante dos reis.

— Não gosta do título?

— Não é o título em si, mas da importância exagerada que dão e os desmandos que parte da nobreza acha que pode fazer.

— Entendi, pode deixar.

Mandou o pessoal entrar para a reunião. Assim que fechou a porta do gabinete, Yosh apareceu.

Após os cumprimentos:

— Comandante, por favor, não sei se posso perguntar, mas gostaria de saber como ficou o caso da condessa.

— Como você pode tomar conta de Sil, antes de vocês saírem entrei em contato com o rei. Ele disse que tinha tomado conhecimento pela imprensa, fez algumas perguntas que respondi e expliquei o que a rainha pretendia. Também disse que, se não quisesse perder a filha, deveria tomar uma atitude a respeito da situação.

— E ele tomou?

— Digamos que quando a rainha chegou ao Ministério da Justiça, o ministro já tinha recebido ordens para agir de acordo com as leis, e o príncipe estava lá para dar veracidade à ordem.

— Então a condessa vai mesmo ficar presa?

— Ah, vai! Por um bom tempo, foi flagrante e mostrado ao vivo, não tem como encobrir desta vez. O julgamento vai determinar o tempo de prisão. Você sabia que a princesa não foi com a família para o palácio de verão.

— Não foi? Não sabia, mas por que? Ficou por aqui sozinha?

— Ela nunca se deu bem com a mãe, desde pequena era difícil a convivência das duas, sempre foi a favorita do pai e do irmão, mas não da mãe. Depois do crime contra Luna, que a rainha chamava de professorinha pejorativamente, e que ninguém foi punido porque a rainha impediu, é só raiva entre as duas. Ela não participa de nada com a mãe, a não ser que não haja escapatória.

— A gente sempre pensa que a vida de princesa é ótima!

— Depende da princesa. Vamos ter um problemão.

— Por que?

— As montanhas ao norte dividem o reino de Paxar com o nosso. O rei deles, Vestros, sempre quis um trecho onde fica a nascente do nosso principal rio. Já tentou invadir e ocupar por diversas vezes. Agora convidou os nossos príncipes para conhecer o reino dele, mas nossos espiões adiantaram que há o interesse em casar o segundo filho dele com nossa princesa.

— Que absurdo! Nosso rei não aceitou o convite, não é?

— Convites reais são sempre aceitos! Parte da nobreza, com interesses comerciais, sempre insistem em guerra, ou invasão, ou algum tipo de relação para lucro. O conde Millo é o pior deles. Não consegue controlar a esposa que vive traindo, manda seus homens espancarem os amantes dela, mas só por orgulho e maldade, ao invés de se separarem. Só amam a si mesmo e o que pode dar lucros.

— É habitual isso?

— É, sim. Infelizmente, ninguém fala ou aponta os agressores, por medo, ou porque se envolveram com alguém casada por algum interesse. Nunca conseguimos pegá-los.

— Foi isso que aconteceu com meu irmão, então!

— Quando me falou, imaginei, mas cadê provas?

Depois de alguns minutos de silencio.

— Comandante, o senhor falou do problemão, já está decidido que os príncipes vão fazer a visita?

— Sim, mas o pior é que Sil não quer sua segurança pessoal. Disse que como a do irmão já é enorme, é suficiente. Não quer colocar em risco mais gente que o necessário.

— Não interessa o que ela quer, eu vou.

— Imaginei que diria isto! Nós vamos, só que disfarçados na comitiva e ela também. Eles não conhecem a princesa, só sabem que ela será uma das mulheres que lá estarão.

— Eu colocaria a nossa segurança na fronteira, caso a gente precise sair correndo, e com comunicação diferenciada.

— Você está se saindo muito bem na profissão, por isto estou te promovendo a chefe da equipe que estará na floresta próximo `a fronteira.

— O senhor já tinha esquematizado?

— Já sim, mas você foi a única que pensou o mesmo. Fique sempre junto a ela. Daqui a dois dias vamos partir para a armadilha. Não esqueça de esconder arma e colocar roupas comuns na mala.

— Que tal, por prevenção, deixar uma nave escondida próximo ao posto da nossa segurança para fuga rápida de toda a delegação?

— Ótimo! Vou providenciar agora mesmo.

Naquele dia, antes de ir embora Wayná decidiu esclarecer tudo com Sil. Entrou em sua sala, pediu desculpa e se abriu sobre o porque do empenho para entrar no serviço palaciano; sobre a suspeita de quem teria mandado matar o irmão; do amor que apesar da suspeita do crime e da luta para que não acontecesse se instalara. Estava com medo de ser repelida para sempre, mas queria deixar tudo claro para que não houvesse mal-entendido mais tarde.

Esclareceu que a sua “burrice” em não perceber ser ela a princesa, era porque não queria imaginar que aquela mulher por quem estava se apaixonando poderia ter matado seu irmão.

 — Eu entendo, não se preocupe. – Sil esclarece. – Quando soube do teu irmão que você achava que trabalhava comigo, desconfiei. Quis te mostrar quem e como sou, que jamais mataria ou mandaria matar alguém por nada. Eu pedi a Yosh que trouxesse você para cá quando precisamos de um membro na equipe, porque havia algo em você que me encantava. Mais um motivo para te pedir perdão, porque poderia ter evitado te trazer para esta bagunça emocional frustrante que é minha vida.

Dali saíram para casa de Wayná, uma em cada veículo, por caminhos diferentes. Nunca se sabe quando, ou o que alguém pode contar para a rainha. Mas enquanto a rainha de nada sabia, poderiam aproveitar, mesmo que em segredo, cada momento daquela noite, afinal poderia ser a última, sempre havia este risco.

Dois dias depois, pela manhã, Sil olhou-os parecendo que falaria algo, mas optou por suspirar e desistir.

Chegaram ao palácio de Vestros próximo à hora do almoço, sem novidade. Foram recebidos com as devidas pompas. O príncipe na frente da comitiva, com mais seguranças que as demais pessoas. Quatro secretários, um ministro de negócios, três diplomatas e a princesa no meio de membros auxiliares.

Uma bagagem exagerada para uma visita, mas era um príncipe, então levaram tudo para a ala destinada a receber visitantes, onde permaneceram auxiliares de Pryos para organizar tudo.  Sorte o “esperto” rei não ter dado ordens de verificação da bagagem.

— Príncipe Pryos! Que prazer finalmente conhece-lo. Onde está sua irmã?

Apontando displicentemente para a comitiva:

— Ali! Obrigado pelo convite e pela recepção.

— Por favor, sinta-se à vontade e vamos entrando. O almoço nos aguarda, ou se preferir descansar um pouco…

— Não, não há necessidade. Vamos ao almoço então e depois conversar sobre o porquê do convite.

Entraram conversando sobre a paisagem, sobre a arquitetura do palácio, até chegarem ao salão onde havia uma imensa mesa com várias pessoas conversando e servidores aguardando. Assim que entraram no salão todos se curvaram respeitosamente.

Como havia marcação de acordo com os cargos das pessoas, sentaram-se à mesa, com exceção de Svatia que acompanhou os “auxiliares” através das indicações dos serviçais até um salão menor ao lado. Yosh a acompanhou. O rei tentou convencer Pryos a dizer qual das mulheres era a princesa para que ela se sentasse com eles.

— Ela é muito tímida, não gosta de socializar.

E o assunto foi mudado.

Terminado o almoço o rei levou as autoridades para uma sala de reunião.

— Príncipe Pryos, estamos interessados em acabar com todo tipo de desentendimentos entre nossos reinos. Para tanto, gostaria de casar meu filho mais novo com sua irmã nos tornando uma só família. Este é o motivo do convite a vocês, até conversei com o conde Millo a respeito e ele achou ótima ideia.

— Fico honrado, mas minha irmã não é coisa descartável, não é objeto de negócios, majestade! Se quiser conversar sobre acordo de comércio, desde que cada um permaneça dentro de seus territórios, terei imenso prazer em ouvir.

O rei, embora tenha ficado com raiva, tentou disfarçar trazendo os demais para a conversa sobre comércio, enquanto fazia sinal a um dos homens presentes, que saiu de imediato. Logo depois, meia dúzia de guardas do palácio bateram à porta do quarto onde estavam Sil e Wayná – eram as únicas a permanecerem com um quarto -, dizendo que haviam sido chamadas para a sala de música em outro prédio.

Ao saírem do palácio, dois seguranças de Pryos se aproximaram e passaram a acompanha-los. De repente, os dois guardas da frente pararam e se viraram para elas.

— Quem é a princesa? É uma de vocês duas?

Ficaram caladas e o militar insistiu, mas não veio resposta alguma. Então ele e os outros quatro sacaram as armas e a reação foi imediata. Sil puxou o mais próximo batendo o canto da mão em seu pescoço com força e no impulso, como estava preparada a arma dele disparou atingindo o colega da frente, menos dois.

Wayná atirou seu punham na garganta de um e os seus seguranças atiraram nos outros três. Sil se dirigiu a eles.

— Protejam o príncipe e avisem ao comandante Yosh que estamos indo para a floresta. Tentaremos nos encontrar com eles antes d…

Sil viu algo que ninguém mais vira. Gritou e se atirou na frente de Wayná e o tiro acertou seu ombro esquerdo.

— NÃO! Por que você fez isso? Pode andar?

— Posso, vamos para a floresta.

A pessoa que atirara, de um ponto alto do palácio, já se dirigia ao rei para avisá-lo quem era a princesa e que não conseguira matá-la. Esta era a ordem caso não concordassem com o casamento. Voltou para a sala onde a reunião continuava com discussões sobre várias coisas, esperou o rei nota-lo e fazer gesto mandando que se aproximasse, e cochichou o ocorrido para seu chefe.

Um pouco antes, Pryos recebia o informe em seu minúsculo aparelho no ouvido. Olhou para seu ministro e deu um sinal enquanto o rei ouvia de seu assassino o que tinha ocorrido. O ministro começou a gemer de repente, como se estivesse passando muito mal. Todos se levantaram preocupados. Pryos segurou-o pelos braços como ajudando-o a ir para o quarto, mandando chamar seu médico.

Ao se aproximarem do quarto a segurança dele fechou o caminho. Yosh se aproximou.

– Está tudo pronto, Alteza.

— Ótimo! Todos para fora, e minha irmã, como está?

— Está com Wayná, na floresta. Vão tentar encontrar os nossos no local determinado. O problema é o ferimento que não sabemos a gravidade.

— Conseguiram colocar as câmeras pelo palácio?

— Sim, conseguimos. Enquanto estavam vigiando quem o acompanhava, os demais foram discretos e espalharam, bem escondidas, muitas câmeras pelo palácio quase inteiro.

Quando, durante a noite, a guarda de Vestros arrombou a porta que separava a ala dos hospedes e adentraram nos quartos, não havia ninguém. Só então perceberam que o excesso de bagagem, agora vazia pelo chão, não era por vaidade do príncipe, mas guardava seu plano de fuga. As janelas do quarto de Pryos tinham sido retiradas e embora bem altas, tinham uma espécie de escorregador em material inflável que permitiu a saída de todos. Provavelmente, tinham trazido armas também.

Logo que entraram um pouco na floresta, Wayná rasgou as mangas da camisa para tentar vedar o ferimento de Sil e usou o cinto para ajudar. O tiro acertara acima do seio esquerdo e ela perdia muito sangue. Não podia deixa-la sozinha para procurar ajuda ou abrigo por não saber se havia animais por ali, e os guardas logo estariam em seus calcanhares.

Tentou comunicação, mas o rei, pelo jeito tinha aparelho que barrava os sinais. Então a vida das duas dependia dela e ela faria tudo para que Sil sobrevivesse. Pela perda de sangue, quando Sil tremia de frio e não conseguia mais andar, colocou-a em suas costas e andou o mais rápido que conseguia. O desespero a impelia.

Descansaram um pouco e Sil insistia para ser deixada e que Wayná se salvasse se não conseguisse ajuda a tempo. Foi ignorada e prosseguiram tentando não perder a direção do acampamento. Quando a noite já se aproximava, ambas esgotadas, viram uma casa no meio a uma plantação ainda em crescimento.

— Wayná, por favor, tome cuidado, mas não prejudique os inocentes.

— Pode deixar.

Wayná estava mais do que preocupada com a quantidade de sangue perdida por seu amor. Não era alguém temente a algum deus, mas rezou para que se existisse um que cuidasse de Sil. Como amava aquela mulher e, como o ferimento a fez tomar ciência do tamanho de seu amor. Sabia que mataria e morreria por ela. Deixando Sil sentada no chão, cabelos encharcados de suor por causa da dor, recostada em uma árvore, sacou a arma e foi verificar.

Era uma casa típica de fazendas agrícolas familiares. Parecia que a família estava na casa, não vira ninguém nas redondezas. Entrou pelos fundos com cautela. Duas pessoas estavam de pé junto a pia e três sentadas à uma mesa, todas conversando. Assim que a viram a conversa cessou.

— Por favor, fiquem calmos. Só preciso de algum alimento, água e algo para ferimento de alguém.

— Vocês são as pessoas que o rei procura? São da equipe da princesa Svatia?

— Sim, mas não queremos prejudicar ninguém. Me deem o que pedi e nós vamos embora.

— Querida, ferva água. Dotize, vá avisar aquele pessoal que vimos ontem. Onde está a pessoa ferida?

— Não! Ninguém avisa nada, fiquem onde estão. Olhe, só precisamos…

— Temos família no seu reino, nosso rei é um déspota, toma tudo que produzimos, escondemos o que conseguimos para sobreviver. Temos intenção de atravessar a fronteira assim que pudermos. A família que temos lá deve muito à princesa Svatia. Vamos ajudar, vamos trazê-la para dentro, Alteza.

— Eu não… obrigada!

Percebeu que a confundiram com a princesa, melhor deixar assim, pensou. Foram até onde havia deixado Sil e a encontraram desmaiada. Trouxeram-na para a casa e a mulher já tinha material para ferimento preparado quando chegaram.

Colocaram Sil em uma das camas, a mulher limpou o ferimento, onde havia a entrada e saída, o projétil tinha atravessado saindo raspando a escápula. Colocou remédio feito de ervas, costurou e fez curativos.

— Parece acostumada a tratar ferido!

— Não temos acesso fácil a médicos, remédios e hospitais. São poucos os que auxiliam, a maioria é muito cara e o rei e sua corte só exige trabalho e jovens para aumentar seus exércitos que nem são bem tratados, então aprendemos a nos cuidar.

Agradeço imensamente a ajuda de vocês. Assim que ela melhorar vamos embora porque não queremos prejudica-los. Desculpe, não quis enganá-la, mas eu não sou a princesa, somos parte da segurança dela. Tínhamos um plano para protegê-la e parece que deu certo. Ela já deve ter fugido com o irmão e, esperamos que logo esteja em casa.

— Que bom que ela conseguiu, saber que o rei e seus filhos foram enganados já é ótimo! Descansem.

Wayná sequer se lembrou de fome, só ficou ali sentada em uma cadeira ao lado da cama, verificando febre e mentalmente implorando para Sil reagir. Também não sabia porque tinha contado aquela fantasia para a mulher. Só queria proteger a família e Sil.

Acabou cochilando durante a madrugada. Acordou sobressaltada quando ouviu barulho. Saltou com a arma já na mão. Bateram na porta.

— Senhora, está acordada?

Abriu a porta e viu o filho mais velho dos donos da casa Dotize, acompanhado por três seguranças do grupo do príncipe Pryos. Quase chorou de emoção. Respirou forte, profundamente aliviada.

— Que alegria em vê-los!

— Eles nos viram no ponto de encontro ontem de manhã, e hoje quase não acreditamos quando este corajoso rapaz nos disse que estavam aqui. Só quando as descreveu, a gente veio para leva-las o acampamento.

— Wayná!

— Sil! Oi, estamos aqui. Quando você tiver condições a gente parte.

— Já estou em condições, não quero que os guardas nos encontrem aqui e firam estas pessoas.

— Está bem. Trouxeram algo comestível? Ela tem que se alimentar.

— Sim, trouxemos. Temos que comunicar com o comandante e o príncipe, só conseguimos quando para transmitir suas baboseiras para a população, desligam o equipamento que impede transmissões.

— Tudo bem! Ela acabando de comer vamos embora daqui. Duvido que tenham deixado de nos procurar. Fiquem atentos à volta dos sinais.

— Vamos esperar lá fora, por favor, se apressem.

Ambas comeram um pouco e se despediram de seus salvadores.

— Por favor, não se arrisquem, se os guardas chegarem digam que apontei arma para vocês, pedi comida e remédio que vocês não tinham, e nós partimos e vocês não sabem pra onde. Limpem nossos rastros na casa.

— Pode deixar, sabemos como fazer, estamos acostumados com eles e em mentir.

Partiram ajudando revezadamente Sil a se locomover rápido.

Uma hora depois de terem partido, os guardas chegaram. A família fingiu se assustar.

— Que susto! Pensei que fosse aquela doida armada de novo. Queria comida e remédios.

— E vocês deram?

— Dar o que? Mal temos alimento para nós, e remédio nenhum!

— E o que ela fez?

— Foi embora por ali. Apontou para o lado que Wayná viera, o que era o oposto de por onde partira.

Os guardas desconfiados procuraram indícios.

— Aqui! Tem sangue na árvore.

Correram e viram sangue na árvore que Sil fora apoiada. Não tiveram dúvidas e continuaram por aquele caminho. Com certeza, logo perderiam “a pista” e teriam que informar que não conseguiram encontrar as fugitivas.

Sil, Wayná e seus acompanhantes chegaram ao acampamento encontrando Yosh e Pryos que vieram correndo, preocupados, encontra-los. Levaram Sil ao médico. De imediato recolheram tudo, colocaram na nave e quinze minutos depois da chegada delas, partiram para casa.

O conde Millo, que estava hospedado na casa de um dos nobres do rei Vestros apareceu no palácio, logo depois da descoberta da fuga.

— Vestros, como você deixou que eles fugissem de dentro da tua casa!? Era só seguir o plano e não haveria mais herdeiros com Pryos e Svatia mortos! Estaria tudo pronto para que eu sentasse no trono e estaríamos mais ricos que qualquer rei.

— Eu sei. Com o controle do comércio de todos os reinos, com muita terra conseguida ao longo dos anos, não teríamos opositores, nada nem ninguém nos seguraria, mas tudo vai por água abaixo se não matarmos os dois. Droga! Foram mais espertos do que pensei, mas as tropas vão acha-los e terei o prazer de vê-los derrotados a meus pés. O que vai dizer a seus associados?

— Só o marquês Mars e a senadora Horn sabem que tenho planos, mas não sabem quase são. Pensam que estou tentando convencer o rei sobre novo tipo de comércio e me apoiam, querem mudanças e novos horizontes, modernidade, nem imaginam que o que almejo é o trono, não me apoiaram e ainda me denunciariam. São uns tontos – riram — E, como sempre, com jeitinho, convenço a rainha sobre qualquer coisa. E você, como vai explicar a falha aos nobres?

— Você está louco? Só meu filho mais velho conhece tudo, os nobres morrem de medo de guerra, ou de uma luta, ou qualquer coisa que os tire do conforto, de seus mundinhos. Estão acostumados a pegarem seu quinhão, mas nem sabe de onde vem e nem se esforçam em saber, querem tudo de mão beijada. Vamos para o controle para ver se tem alguma novidade.

— Por que seu outro filho, o que casaria com Svatia não sabe?

— Ah, é um sonhador. Vive defendendo o povo, cria caso com tudo que quero fazer, acha que todos tem o direito de enriquecer, estudar, não só uma classe social, imagine a ingenuidade.

Ambos riram com vontade.

— O que você inventou para convencer a todos que precisamos capturar os príncipes do reino vizinho?

— Disse que os convidei para propor uma aliança, mas que depois de recusarem fugiram atacando meus guardas e teriam levado alguns valores do palácio, coisa que eu jamais teria imaginado que eram capazes de fazer.

— Você é pior do que pensei!

— Por isso somos sócios, meu caro, pensamos rápido e igual.

Não, não havia novidade sobre os fugitivos, pareciam ter evaporado no ar. E dos espiões não vinha nenhuma informação também. Então as buscas continuariam.

A nave comandada por Pryos chegou ao reino discretamente. As pessoas, aos poucos por vez, saiam e se dirigiam para suas casas, quase imperceptíveis em meio a multidão que parecia um vespeiro pelo horário próximo ao almoço. Pessoas buscando filhos na escola, gente saindo de escritórios para restaurantes, outros indo para casa após compras, enfim, ninguém prestaria atenção em mais algumas pessoas comuns andando pelas ruas.

Sil, acompanhada por Wayná e Yosh em mais um veículo no meio do trânsito, deslizaram para a casa de Yosh.

Pryos, em outro veículo também comum, sem nada que pudesse indica-lo como pertencente ao rei, com algumas pessoas foram para o palácio pelas portas dos fundos. Seriam mais alguns servidores palacianos chegando para o serviço.

O rei foi avisado que o príncipe voltara e com urgência foi ao seu encontro. Recebeu todos os informes com detalhes e quase teve um ataque quando soube que Svatia estava ferida, querendo vê-la imediatamente.

— Melhor não, pai. Temos que verificar quem são os espiões de Vestros. Svatia está sendo bem cuidada e fora de perigo. Vamos montar tudo para fazer uma limpeza geral e, de preferência, sem ter que entrar em guerra. Agora vamos vigiar o palácio de Vestros e tentar mais alguma coisa.

Foram para a central do departamento de segurança, onde um pequeno grupo previamente escolhido por Pryos viam e gravavam tudo que as câmeras escondidas espalhadas pelo castelo de Vestros mostrava.

— Algo interessante aconteceu?

— O senhor não vai acreditar em quem apareceu por lá, logo depois de descobrirem a fuga do nosso pessoal.

— Seria o conde MIlllo?

— Exatamente!

Viram a gravação da conversa de Millo e Vestros.

— A rainha vai ficar muito feliz com isso!

— Não, pai! Não vamos mostrar agora. Só depois de encontrarmos os espiões. A rainha não ficaria quieta. Millo deve voltar para casa, vamos deixa-lo confiante por enquanto.

— Não vou aguentar muito tempo. E Svatia?

— Ele nem vai saber que voltamos. Só peço cinco dias para o senhor, já está tudo em andamento para os espiões serem detidos, mas faltam alguns serem identificados, está perto de acontecer, nossa rede está armada há mais de ano e meio. Não são muitos, tenho certeza. Não conseguiram encontrar ninguém no meio do nosso povo, são gente de fora.

— Eu confio no trabalho de vocês, mas perguntei sobre tua irmã, não sobre espionagem. Quero vê-la.

— Não pode esperar uns dias, pai?

— Não! Concordo com tudo que você fizer, com prazos, em não falar nada pra ninguém, mas quero ver minha menina.

— Tá bom, pai, eu entendo. As pessoas não sabem que Yosh tinha nos acompanhado, então ele e a segurança sob seu comando podem agir normalmente. Ela está na casa dele, então ninguém vai estranhar em ver movimento por lá.

— Então, eu vou até lá.

— Espera a noite e terá desculpa de querer conversar com ele, já que seus filhos não estão em casa e você resolveu falar com seu amado sobrinho.

Por volta das 20h30min, o rei chegou à casa de Yosh, seguido por sua segurança, claro. Entraram com ele apenas seu comandante e um oficial que era Pryos disfarçado.

— Benvindo, Majestade! Por favor, entre.

— Yosh, meu rapaz, como meus filhos estão fora, preciso conversar com alguém de confiança sobre um assunto.

— É claro, senhor!

Assim que a porta foi fechada.

— Onde está Svatia?

— Estou aqui, pai.

Abraçou-a com carinho e cuidado.

       — Eu vou matar aquele Vestros!

— Calma, pai. Estou bem, tive ajuda de uma família de fazendeiros que, graças às suas ervas, não tive infecção. E Wayná, literalmente, me carregou nas costas pela floresta.

— Muito bem, mas vamos revidar tudo que fizeram, de um jeito ou de outro.

O segurança recebeu um aviso que uma visitante com o uniforme da guarda da princesa queria entrar. Pryos fez sinal afirmativo. Logo Wayná entrou, estranhando tanta segurança.

— O que aconteceu para ter ta… Majestade!?

— Olá. Já vi você em algum lugar.

— No escritório da princesa, senhor.

— Pai, esta é Wayná.

— A que te carregou pela floresta?

— Ela mesma. Não deveria estar lá, assim como Yosh, mas não fossem eles não estaríamos aqui vivos.

— Desculpe, não sabia que estaria aqui, Majestade, volto outra hora.

Pryos interveio.

— Não! Fique, Wayná, sei que Yosh confia plenamente em você e que o ajudou a planejar nossa fuga. Precisamos de toda ajuda para derrubar Millo e o rei Vestros. Trouxe a gravação que já conseguimos do palácio dele e convenci meu pai a nos dar cinco dias para terminarmos as investigações, prender todos os espiões e desbancar Millo. Esta é a parte mais difícil, as provas contra o conde.

— Entendi, senhor. Já conseguiram se infiltrar no castelo dele, algum acesso a seu escritório? Ou cofre? Gente, como ele deve ter tudo muito bem documentado para não se perder nos detalhes, bem como para se prevenir de alguma delação. Garantias por chantagens do mínimo favor prestado.

— Bem que Yosh disse que você pensa rápido! Tem toda razão, mas não conseguimos ainda. A segurança é enorme e violenta.

Sofi apareceu, cumprimentou-os e convidou-os a jantar.

Enquanto jantavam, muitas ideias e planos surgiram e foram descartados. Wayná resolveu mais um dilema dirigindo-se ao príncipe.

— Senhor, quando trabalhei um dia na sua segurança, ouvi algo sobre um certo setor especializado, treinado para entrar em qualquer lugar e abrir qualquer cofre.

Pryos sorriu.

— Um dia, e ouviu o que deveria ser segredo!? Não há dúvida que presta atenção a tudo, sempre atenta. De quem ouviu isso?

— Não me lembro, senhor, não conheço os componentes da sua guarda. Mas, existe?

— Claro que não!… Sim, existe.

— Caso o rei queira conversar com o conde, que deveria estar por aqui e não junto a Vestros, já que seus filhos não estão no reino, o que é de conhecimento geral, e ele precise de algum apoio, seria impedido de entrar no castelo, mesmo com o conde fora?

— NÃO!! Claro que não! Pai, acho que você vai fazer uma visita ao favorito da rainha amanhã a tarde.

— Vou ser a distração?

— Vai. Tomara aquele conde de merda não tenha ainda voltado, mas mesmo que esteja em casa, não vai impedi-lo de entrar. E menos empolgação, pai!

— A vida inteira só cuidei de estudos, administração, ouvindo conselhos. Ainda bem que tinha meus filhos para sair um pouco disso e, por tudo isso fiz com que aprendessem e treinassem tudo que seus professores pudessem ensinar. Queria uma vida diferentes para vocês antes de assumirem o trono. Amanhã vou fazer a coisa mais empolgante da minha vida!

Todos riram.

No dia seguinte bem cedo, ele não quis esperar mais, o rei apareceu de repente na frente da residência do conde Millo. A empolgação não o deixou dormir bem, então resolveu colocar logo em prática o plano. Os agentes de Pryos já estavam preparados aguardando sua chegada.

Ele saiu do veículo e a segurança do conde acorreu para recebe-lo. Cinco segundos de distração e seis agentes entraram e se esconderam desviando das câmeras, esperando a oportunidade de o rei chegar à central de vigilância.

— Majestade! O que o traz aqui tão cedo?

— Bom, como meus filhos estão fora e não consigo comunicação com eles, vim falar com Millo para ver se ele tem alguma ideia do que posso fazer.

Enquanto falava foi entrando tranquilamente, segurando a emoção, e os seguranças desesperados atrás.

— Onde está Millo? Ainda dormindo? Vão acordá-lo.

— Desculpe, Majestade, mas ele não está em casa.

— Não!? E onde ele está? Olha, câmeras até aqui dentro? Onde é a central de vocês? Vamos, quero ver.

Levaram o rei até a central, onde havia três guardas e todo o sistema.

– Que maravilha! Meu filho não me deixa mexer no sistema do palácio. Como este funciona? O que faz este botão?

Agindo como uma criança em quarto de brinquedo, para desespero dos funcionários do conde, o rei foi mexendo em tudo, apertando botões, virando as câmeras, mudando as telas e, como previsto, o sistema caiu por quinze minutos.

Neste ínterim, quatro agentes espalharam as câmeras-espiãs pelas área centrais e quartos do palácio em seis minutos, enquanto dois outros entraram no escritório, abriram o cofre, fotografaram vários documentos, colocaram uma peça minúscula em ponto estratégico da mesa, que de imediato começou a copiar tudo que havia nos computadores e junto com as fotos, enviados à central de Pryos.

Quando conseguiram tirar o rei de perto do sistema de vigilância, os agentes já estavam a caminho do palácio.

— Millo vai demorar?

— Não sabemos, Majestade!

— Então vou embora, tenho assuntos a resolver e terei que pensar sozinho em alguma solução.

O rei partiu com seus guarda-costas e os seguranças de Millo respiraram aliviados. Tudo estava no lugar.

O conde retornou naquela noite, mas como o pessoal da guarda já havia trocado de turno, só recebeu a noticia sobre a visita do rei no dia seguinte. Verificou seu escritório e, não percebendo nada de diferente, relaxou e dirigiu-se ao palácio para saber o porquê do rei tê-lo procurado.

Magnus não o deixou esperando muito e resolveu continuar em seu papel de bobo que precisava de ajuda.

— Millo, por onde andou? Estive ontem em sua casa e você não estava!

— Perdão, Majestade, se soubesse que me procuraria não teria me ausentado. Estive verificando as lavouras da família.

—  Não precisa pedir perdão! É que estou ficando preocupado com a falta de notícias de meus filhos no reino de Paxar. Você tem um bom comércio com eles, não tem?

— Tenho sim.

— Então, sendo assim, pensei que você teria algum meio de contato, alguma forma de saber o que está acontecendo por lá. Já são três dias sem comunicado algum!

Bateram na porta e o secretário do rei abriu anunciando a visita da rainha.

— Peça para ela entrar.

A rainha entrou com sua típica confiança excessiva e demonstrou alegria ao ver Millo.

— Millo, meu querido! Como você está?

— Estou bem, Majestade, mas agora fiquei preocupado.

— Por quê?

— Soube que estamos sem notícias dos príncipes há três dias já!

— Vim aqui pensando que ninguém se lembrou em me dar informações, mas é porque realmente não sabem de nada!? Meu Deus! Magnus, achei que estava me ignorando, precisamos enviar alguém até lá para obter notícias dos nossos filhos.

— Era sobre isso que conversava com Millo. Como ele tem boas relações comerciais com nossos vizinhos, perguntava se teria como ele se comunicar, para saber se consegue alguma informação.

— Garanto a Vossas Majestades que farei o impossível para conseguir.

— Agradecemos imensamente, Millo. Agora se me der licença, vou conversar com a rainha.

— Claro! Com licença, tenham um bom dia. Vou agora mesmo falar com meus associados, assim que souber qualquer coisa, informarei sem demora.

Saiu pensando em como o rei era idiota, como era fácil enganá-lo. Quem sabe a próxima notícia que traria seria sobre a morte de seus filhos. Não se conteve e acabou por rir alto no corredor vazio, mas vigiado e filmado.

— Ele é tão capaz, tão prestativo. Não sei porque Svatia não quis se casar com ele. Ele se divorciou de Thiana depois que ela foi presa, quem sabe quando nossos filhos voltarem Svatia aceite se casar. Seria muito bom para o reino.

— Para o reino ou para você? Esqueça este teu sonho, não há lugar para ele na vida das crianças. Meus filhos se casam com quem amem, com quem desejarem se casar e você pare de se meter neste assunto, não me esqueci da primeira vez, só não fico falando. Uma morte, toda dor de Svatia e a mágoa que jamais esquece contra você não basta?

— Está bem! Não se fala mais nisso. Já que não tem informações e você está de mau humor, vou me retirar.

Na tarde do mesmo dia, o rei chamou Yosh para caminhar, e antes de sair avisou que iria com ele até sua casa e que jantaria com o sobrinho. Dispensou a segurança para que ficasse de prontidão caso surgisse alguma novidade sobre seus filhos, e só dois guardas os acompanharam. Seu agente de confiança e amigo da juventude, seu comandante, e novamente seu filho disfarçado.

Yosh enviou uma mensagem para Wayná e quando chegaram à sua residência, ela já estava com Sil.

Depois dos cumprimentos:

— Filha, estava propenso a contar para sua mãe que vocês estão bem, mas depois da visita de Millo desisti. Ela também me visitou estando ele comigo.

— Por favor, não confie nela, principalmente quando envolver Millo e Thiana. Parece que eles é que são os filhos dela, não nós.

— Você a odeia, né, filha?

— Não odeio, desprezo. É a pessoa que me fez a maldade e mesquinharia que pode existir em alguém. Para ela e seus filhos postiços, tudo é válido para obter posição de poder e riqueza.

— Diz isto por causa do seu amor perdido?

— Não só isso, Wayná. Ela sempre exigiu demais, castigou demais, punia a mim e alguns funcionários pelo que Millo e Thiana faziam, ou inventavam sobre alguém. A pior besteira que fiz, foi contar a ela que me apaixonara por Luna. Ela não era nobre, embora fosse mil vezes melhor que os dois lixos e que a rainha. De imediato contou aos postiços e eles transformaram a vida de Luna em um inferno. Quando eu soube e ameacei defende-la, minha adorada mãe me enviou em uma viagem e ajudou os dois a matá-la. Depois os defendeu. Também não aceita a mulher de Pryos que é alguém formidável.

— Não sabia que o príncipe é casado!

— Ele não fica espalhando e Keish não gosta de badalação. Assim evita a rainha também.

— Querem saber o porquê desta fixação em Millo e Thianna? Ela chegou a comentar hoje, que quando vocês voltassem, Svatia poderia finalmente se casar com Millo já que ele se divorciou quando a mulher foi presa.

— Nem morta! É dos piores criminosos, tão decente que assim que a cúmplice foi presa, se divorciou. Deve ter carta na manga contra ela também para que ela não abra a boca.

— Eu sei, filha. Na realidade, eu e sua mãe não nos casamos por amor. Eu não pensava no trono, era jovem, não tinha ninguém e ela… ao contrário. Tudo que pensava era no trono mesmo amando uma pessoa que jamais poderia lhe dar o que queria. Então investiu em mim. Meus pais não admitiram que tivéssemos aquele tipo de relacionamento, afinal eu era o herdeiro e tinha que dar exemplo, e nos casamos.

— Quem ela amava, pai?

— Ah meu filho! Como você, sua irmã e Pryos eram inseparáveis quando crianças, ela também tinha sua turma. O pai de Thiana que sempre gostou de homens, mas queria ter filhos para que o pai deixasse a herança pra ele, e a mãe de Millo, o grande amor de sua mãe, e mesmo sendo correspondida em seus sentimentos, ela não tinha a posição social certa. Separou-se dela para ficar comigo. A pessoa era decente e acabou se casando com alguém apaixonado por ela e se afastou de vez, mas faleceu jovem. Quando aconteceu Millo com três anos, sua mãe resolveu assumir o filho dela, talvez como reparação por tê-la abandonado. Foi nessa época que descobri tudo. Bebeu demais e botou pra fora. Acho que nem se lembra de ter me contado.

— Ela só sabe magoar e ferir as pessoas! – Sil observa, triste.

Depois de alguns minutos de silêncio com todos digerindo a história.

— Por isto que você me pediu perdão aquele dia? – Wayná indaga. – Porque tua mãe pode interferir em tudo?

— Sim, foi por isto. Também não quis discutir ou explicar quando você entendeu errado, talvez porque continue sendo dolorido esse assunto.

— Falar do seu primeiro amor?

— Não! Essa, embora triste no final, é uma lembrança boa, doce, que me fez melhor ter sentido. Foi um amor adolescente que me preparou para um amor maduro, definitivo. O que dói, é ver a cada dia algo pior da mulher que me gerou sem nenhum amor.

Independente do local e dos presentes, Wayná, pela primeira vez se esqueceu dos protocolos e abraçou Sil com força e carinho. Ninguém disse nada até o rei interromper o silêncio, e só então Wayná desfez o abraço.

— Este é teu amor definitivo, filha? Wayná, além de excelente estrategista é minha nora?

— É, pai. Esta mulher é meu amor. Não disse nada até agora para evitar que a rainha saiba.

— Eu duvido que nossa mãe consiga atingir Wayná, ela não é alguém inocente como Luna, nem tão desprotegida.

Riram.

— Com certeza não é, Pryos, mas tenho medo de até onde a rainha pode chegar para atingir seus objetivos. Tomara que quando tudo acabar, ela perca os aliados e força, se mantenha quieta. Quero poder amar sem segredos.

— Vai conseguir, filha! Todos vamos poder respirar com tranquilidade logo, logo. Pryos, quando vamos acabar com tudo, três dias serão suficientes?

— Adiantamos o cronograma, pai. Onze espiões deles estão detidos, tudo com muita discrição e os nossos continuam vigiando Vestros. O esperto ainda nos procura em seu reino. Amanhã, às 19h00, todas as mídias estarão divulgando não só o vídeo do encontro dele com Millo na íntegra, mas várias falcatruas do conde para enriquecimento ilícito, bem como os nomes dos amantes de sua ex-esposa, que ele mandou agredir ou assassinar, incluindo teu irmão, Wayná. Sinto muito.

— Minha família finalmente conseguirá justiça!

— A tua e muitas outras, e você ajudou demais em tudo.

— Não sabia que teu irmão tinha sido assassinado, minha filha.

— Sei disso, Majestade! O conde e a mulher é que não têm nada de nobre!

— Fico contente que chegamos à reta final. E quanto a Vestros, o que pretende fazer, como o povo de lá vai saber de tudo?

— Conseguimos total acesso à rede de comunicação deles, nenhum aparelho vai conseguir embaralhar ou barrar a transmissão, pai. Vamos à forra, completamente.

Continuaram a conversar sobre as possíveis repercussões para a rainha e com a possível derrubada de Vestros, já que era um rei odiado.

Enquanto conversavam na casa de Yosh, policiais do Ministério da Justiça, seguindo ordens de Pryos, foram a um bar de má fama em um bairro afastado, a fim de prender um detestável grupo que fazia o trabalho sujo para o conde.

No dia seguinte, tudo estava amarrado para um final da história de Millo. Foi difícil segurar a ansiedade o dia todo. Às 19h00 em ponto, todos os sistemas de comunicações dos dois reinos foram interrompidas para um comunicado do reino de Esco. As populações estranharam, mas ficaram curiosas, então, provavelmente, não havia um adulto em ambos os reinos que não prestassem atenção ao que estaria prestes a ser transmitido.

A sala de imprensa estava lotada de jornalistas de todo o planeta Acqua.

Apareceu o escudo de Esco, logo em seguida o secretário das comunicações.

— Boa noite a todos. Infelizmente este comunicado não é alegre. Todos sabemos que nossos príncipes, Pryos e Svatia, foram convidados pelo rei Vestros a fazerem uma visita a seu reino. Eles aceitaram o convite e, após a recusa do pedido de casamento da princesa com um de seus filhos, foram atacados, perseguidos, ficamos sem comunicações e, talvez o rei Vestros continue procurando-os.

O secretário fez uma pausa dramática. Podia-se sentir a apreensão no ar. Vestros e o conde Millo mal respiravam, um por medo do que aconteceria, o outro, com a certeza de ter se dado muito bem. Rindo, o conde resolveu sair e ir até o palácio real para prestar solidariedade e “ajudar” em qualquer decisão a ser tomada.

Logo no início da transmissão, a rainha tentou falar com Millo. Quem a atendeu foi alguém do Ministério da Justiça que apenas informou que o conde estava sendo preso. Ela quis saber o porquê e o agente disse que estava sendo explicado na mídia e que ele apenas cumpria ordens sem saber dos detalhes.

A rainha foi obrigada a assistir quase sem respirar, toda a transmissão.

Os jornalistas dos outros reinos entrando em contato para que entrassem ao vivo, em segundos o planeta inteiro estava recebendo as imagens daquela sala.

— Depois de intensa e profunda investigação, chegou-se ao fundo de toda podridão e traição e, para esclarecer a todos, por favor, assistam a partir de agora o resultado.

Neste momento, Millo saia de seu castelo e se surpreendeu com os policiais que o detiveram de imediato. Sua famosa segurança nada pode fazer, havia armas demais apontadas para eles, não se atreveriam a um embate com o Ministério da Justiça.

E as informações vieram em ordem cronológica. Os assassinatos a mando de Millo, desde a adolescência; as anotações do então rapaz sobre os conselhos da rainha para se livrar de Luna, já que ela não fazia parte do mundo deles; as inconsequentes traições de Thiana; como conseguiram ilegalmente, através de medo imposto, grande parte de suas terras; novamente a tentativa da explosão da represa por Thiana, impedida pelo trabalho da princesa; a corrupção do conde e, finalmente as gravações do castelo de Vestros.

A rainha via tudo sem poder acreditar. Afinal ela sempre pode impedir as ações contra seus pupilos, como não soube de nada desta vez!?

Terminada a amostra das provas o secretário reapareceu.

— Antes de encerrar nossa transmissão, para responder as perguntas de todos, o responsável pela segurança da Nação, príncipe Pryos.

A rainha quase desmaiou. Seu filho estava bem, foi o responsável por descobrir tudo, mas nada foi dito a ela! Como puderam?

— Boa noite a todos. O que não podemos mostrar por não ter sido filmado, foi o ataque que sofremos nos aposentos que o rei Vestros havia nos destinado, bem como a violência contra minha irmã que foi inclusive, atingida por um disparo e, só sobreviveu devido o empenho de uma pessoa de sua segurança. Conseguiram chegar até nós em um determinado ponto da floresta e escapamos. A princesa está quase completamente restabelecida e já trabalhando. O conde Millo está detido por traição, além da corrupção e homicídios. Sua ex-esposa terá novas acusações por ter sido cúmplice em muitos crimes, com certeza aumentará seu tempo na prisão. Os espiões de Vestros, bem como a quadrilha de assassinos do casal de “nobres”, estão todos presos. Acredito que está bem explicado. Alguma pergunta?

Os jornalistas tinham muitas perguntas. Pryos respondeu por cerca de hora e meia e encerrou a coletiva. A última pergunta deixou a rainha furiosa, ou talvez a resposta. Ou não gostou da duas.

— Príncipe Pryos, o conde disse que convence fácil a rainha sobre qualquer coisa. Por que teria dito isso, sua Alteza concorda com as palavras dele?

— O conde e sua ex-mulher, sempre tiveram um relacionamento de mãe e filhos com livre acesso à rainha. Sempre conseguiram, ao contrário de seus verdadeiros filhos, tudo que queriam. A rainha chegou a impedir a aplicação da Leis quando cometeram alguns crimes. Mas, não acredito que ela chegaria à traição ao reino por ninguém.

Enquanto os repórteres gritavam mais perguntas, Pryos agradeceu e saiu. O secretário voltou e encerrou a transmissão, mas os da imprensa o assediaram pessoalmente, mesmo ele dizendo que sabia o mesmo que eles. Foi difícil convencê-los a sair e investigar por si o resto dos fatos.

Fora dali a mídia de todos os reinos estava frenética em busca de mais informações.

Com o encerramento da transmissão, a rainha resolveu ir até o rei e Pryos, querendo saber por que não fora avisada sobre tudo aquilo, afinal fora humilhada em cadeia nacional. Não sabia que o planeta inteiro vira.

Quando entrou, além do rei, estavam presentes os filhos, o sobrinho, alguns ministros e seguranças. Em alto e bom som:

— Como puderam me deixar de fora de tudo que estavam fazendo? E você, Pryos, não podia ter dado aquela resposta àquela jornalista! Ela nunca mais vai trabalhar na mídia deste reino!

— Eu disse alguma inverdade? E ela só perguntou pelas palavras que todos ouviram, ditas pelo seu amado “filhinho!”

— Que absurdo! Vocês são meus filhos. Svatia foi ferida e ninguém me contou nada!

— Talvez tenha sido para que nossos planos não chegassem aos ouvidos dos traidores.

— Está dizendo que eu trairia vocês em detrimento de Millo?

— Como já fez várias vezes no decorrer de nossas vidas, mãe!

— Svatia, minha filha, como pode dizer isto?

Com um sorriso sarcástico, Sil respondeu:.

— Impressionante! Ou sua Majestade tem a memória mais curta do mundo, ou não se importa com quem machuca. A mim você machucou mais do que qualquer outra pessoa, mas agora chega. Não vou mais me esconder para que você não possa ferir quem eu amo. Tenho poucos amigos que tive que deixar na sombra para que você não os usasse, não os magoasse, não os afastasse. Tenho vergonha de ser tua filha, nojo das coisas que já vi você fazer. Vou viver minha vida sem medo de amar e você nos atingir. Se você se atrever a fazer qualquer coisa contra Wayná, eu destruo você. Nunca mais, mãe, nunca mais.

Antes que a rainha dissesse algo, Sil pegou a mão de Wayná.

— Desculpe, pai, mas vamos sair agora, o que for decidido eu apoiarei. Boa noite a todos.

E saíram. A rainha se virou para Pryos.

— Está vendo como tua irmã me trata? Nenhum respeito ou consideração por quem a geriu e colocou no mundo.

— Talvez porque foi só o que você tenha feito! Como filhos você sempre tratou os dois criminosos que você mimou, protegeu, escondeu seus crimes até chegarem ao ponto atual sempre com sua conivência, a às vezes até cumplicidade.

— Eu sempre amei vocês dois! Sempre os considerei meus filhos e tentei fazê-los felizes.

— Não, mãe, você sempre fez de tudo para se fazer feliz. Fez de tudo para fazer aqueles dois felizes, não a nós. Não fosse a atenção e amor de nosso pai,  dos nossos cuidadores e professores, seríamos órfãos de pais vivos.

— Que absurdo! Sempre procurei o melhor para vocês.

— Nosso pai sempre procurou o melhor para nós. Você só se dá bem com quem quer os mesmos objetivos de poder que você, sem se importar em quem pisa. Você, desde sempre, só nos causou dores e mágoas.

— Que mágoa eu causei a você?

— A mim… De Svatia você nem pergunta, não é? Porque se lembra bem de algumas. Quanto a mim, você conhece minha mulher?

— Claro que conheço!

— Durante a minha vida pode-se contar as vezes que você me procurou, e era para mandar eu fazer ou não fazer algo, era para dar ordens. Ou para como eu deveria me portar com determinadas pessoas, ou quem eu devia namorar. Minha mulher você viu três vezes e em todas você a destratou e menosprezou, inclusive no dia do nosso casamento que foi uma destas vezes que você a viu. Você não a conhece, você apenas sabe de sua existência. Nem sabe que estamos grávidos.

— Como vou saber se não me contam nada?

— Se fizesse o mínimo papel de mãe saberia, mas não queremos que você se aproxime agora não. Nossos filhos terão pais e tios dignos. Até mais tarde, pai, espero que realmente faça o que conversamos.

— Qual é o novo segredo que ele espera que você faça?

— Saberá quando eu me decidir a forma correta em fazer. Agora, se me permite, tenho assuntos urgentes a tratar antes de poder descansar desse agitado dia.

A rainha saiu furiosa.

No dia seguinte, Sil e Wayná estavam na feira que era de artesanato na praça central, como pessoas comuns e livres. Era a primeira vez que se portavam como namoradas pela cidade, de mãos dadas, vendo o movimento, visitando o mercado lotado pela manhã.

— Segurança da princesa!

Wayná ouviu e sabia que conhecia aquela voz, mas sem se lembrar quem era. Virou-se para o ponto do som da voz.

— Dotize!? Que faz aqui, garoto?

— Estou com minha mãe fazendo uma visita e viemos dar um passeio.

A senhora se aproximou, iniciando uma reverência que foi impedida por Sil.

— Desculpem meu filho, senhoras. Alteza.

— Por favor, não me chame assim. Devo minha vida a você e sua família. Estão todos bem?

— Sim, estamos. Não nos deve nada, já fez muito por nossos familiares daqui.

— É minha obrigação. Como sabe que sou a princesa? Wayná disse que éramos da segurança!

— Na transmissão de ontem o príncipe falou que a princesa tinha sido ferida, então…

— Claro! Se decidirem vir para cá, por favor, é só me procurar que terei prazer em lhes dar um bom pedaço de terra para viverem.

— Vamos esperar o que vai acontecer no reino. Se não melhorar a gente sai, mas por enquanto é só uma visita mesmo. Lá é nosso lar, onde nossos filhos nasceram, onde cuidamos de nossa terra. Nem vou contar que conheço pessoalmente a princesa, não vão acreditar.

— Eu entendo. Mesmo se acontecer o melhor por lá, qualquer coisa que precisarem, a qualquer hora, me procure, tenho sim uma dívida eterna com você. Espera.

Apanhou no bolso seu aparelho comunicador, apontou para a senhora e seu filho registrando seus rostos, pediu os nomes completos e anotou que tinham livre avesso a seu gabinete. Foi transmitido a toda sua segurança.

— Pronto. Não se esqueça, a qualquer momento.

— Obrigada! Agora eu sei porque é tão amada pelo seu povo! A preocupação conosco, mesmo estando ferida e agora que simplesmente poderia nos ignorar… andando no meio das pessoas sem nenhuma pompa. Aliás, seu povo nem a conhece pessoalmente, mas a amam incondicionalmente. É um privilégio conhece-la, e à sua esposa. Vamos, filho, vamos deixa-las em paz.

— Isso não foi dito na transmissão, como sabe que é minha mulher?

— Ela a levou até nós. Vimos o desespero dela e a forma com que as duas se tratavam e se tratam aqui agora. Em momentos como aquele, muito poucas pessoas conseguem disfarçar as emoções.

Depois de alguns de silêncio não houve mais perguntas, apenas abraços de despedida.

Svatia ficou emocionada com as palavras daquela mulher e mais do que antes, torceu para que desse tudo certo no reino vizinho.

Em Paxar, no dia depois da divulgação dos fatos pelo príncipe de Esco, os nobres se reuniram e concordaram em destronar o rei. Convocaram uma reunião com o soberano para fazê-lo deixar o trono.

O filho mais velho de Vestros, seu cúmplice, percebeu a agitação da nobreza e da população, antes mesmo da decisão dos nobres. Na tentativa de se firmar e a ambição em sentar na cadeira do pai, tomou uma decisão horrível, se livrar do irmão mais novo!

Entrou na casa sorrateiramente, encontrou o rapaz sentado à mesa no escritório, verificando alguns papéis. Aproximou-se devagar e com cuidado, arma na mão. Queria atirar a queima-roupa para ter certeza de sucesso em seu intento.

Quando ergueu a arma, estando a dois passos do irmão pronto a atirar, sentiu algo estranho no peito, olhou para baixo e antes de descobrir o que acontecia, caiu morto. Em sua ânsia de poder e egoísmo, não olhou à sua volta, se o fizesse teria visto um coronel e o comandante dos exércitos bebericando algo, esperando o príncipe mais novo terminar a leitura do relatório que tinha em mãos.

Assim que um novo dia surgiu, os nobres entraram na sala do trono, onde Vestros aguardava-os para uma reunião solicitada por eles, cercado pelos seus seguranças. Tentava intimidar a nobreza pela demonstração de força, mas segundos após sua triunfal entrada, o comandante dos exércitos também entrou com soldados armados que se distribuíram por toda sala. Antes que o espantado rei dissesse alguma coisa, o comandante tomou a palavra.

— Diante de tudo que aconteceu, das suas atitudes, da sua conduta, tenho certeza que os nobres vieram destrona-lo.

— E você veio me defender, comandante?

— Não! Claro que não. O cúmplice, seu filho mais velho, para garantir seu acesso ao trono depois que você fosse retirado, ontem à noite tentou matar o irmão que o povo com certeza apoiaria.  Não fosse a presença de outras pessoas no local, que ele não viu, teria conseguido. O exército de Paxar é constituído por pessoas do povo, em sua maioria forçados. Portanto, a partir de agora o senhor sai e seu filho assume com o apoio do povo.

Acenou para seus soldados que ficaram atentos aos seguranças pessoais de Vestros.

— O senhor pode tentar me deter, o que eu duvido, porque sempre foi um covarde que se esconde atrás de seguranças e assassinos que atiram de longe. Já os prendemos ontem e, se o reino de Esco quiser quem atirou na princesa, entregaremos com prazer.

— Depois de tudo que fiz para consolidar meu poder não vou permitir que nada, nem ninguém fique no meu caminho. Matem todos!

Ao gritar tal ordem, imediatamente obedecida, o rei não percebeu que ficaria bem no centro do fogo cruzado. Foi abatido por sua ganância e megalomania na primeira saraivada.

Na mesma tarde, o jovem príncipe assumiu, aclamado pelo povo, já emitindo novas leis para o reino, solicitando novos acordos aos reinos vizinhos, principalmente com Esco.

No dia seguinte emissários especiais também foram enviados para reforçar os pedidos de acordos que já haviam chegado aos países fronteiriços.

Quatro dias depois da primeira transmissão, o rei Magnus resolveu fazer uma nova coletiva de imprensa, logo depois do almoço. Depois da última, ninguém queria deixar de ver qual seria a grande novidade, nem mesmo os demais reinos.

— Boa tarde a todos. Nosso rei tem um pronunciamento a fazer. Por favor, peço aos repórteres que esperem que ele termine de falar e não façam perguntas. Este é um pedido pessoal dele. Senhoras e senhores, o rei Magnus.

Todos se levantaram. O rei entrou e gesticulou para que se sentassem. Parecia um pouco abatido.

— Agradeço a presença de todos. Vou tentar ser breve, mas antes de dizer o motivo desta coletiva, quero informar que o rei Vestros está deposto e que seu filho mais novo, Apys, foi quem assumiu o trono. O rapaz parece estar disposto a fazer um bom reinado. A primeira coisa que fez na área da diplomacia e pelo seu povo, entre outras coisas foi pedir desculpas pelos atos do pai com a conivência do irmão mais velho. Solicitou-nos apoio para uma escola superior de qualidade para a população. Então, professores, cientistas, ou qualquer um que tenha uma profissão reconhecida, a escolaridade à altura, goste de ensinar e queira nos ajudar, por favor, nos procure. O conhecimento faz o povo progredir. Agradeço imensamente a toda ajuda que vier.

Magnus fez uma pequena pausa, tomou um pouco de água e continuou.

— Levei alguns dias para decidir que atitude tomar com o envolvimento da rainha em acobertar alguns crimes do conde e sua mulher, não o da traição, mas outros que todos viram. A Lei antiga sobre casamento real não mudou, e ela diz que em casos extremos, o rei pode assinar e concretizar a separação da rainha. Foi o que fiz. Hoje foi feito a dissolução do casamento e ela foi deposta, não é mais a rainha.

Foi um alvoroço. Todos ergueram as mãos e falavam tentando fazer perguntas ao rei.

— Por favor, senhores! Pedi a gentileza de não fazerem perguntas. Não é um assunto agradável para mim e ainda não terminei.

A contragosto os jornalistas se acalmaram.

— Gostei do que o príncipe, agora rei Apys do reino Paxar está fazendo. Cabeças novas, mudanças no reino, então decidi abdicar em favor de Pryos. Este é meu último mês como rei de Esco. Meus filhos são plenamente capacitados a governar como já demonstraram, já fazem muitas coisas, sempre se respeitaram e ao povo. Desejo um longo e feliz reinado em paz.

Fez um cumprimento com a cabeça e saiu. A sala explodiu em gritaria chamando o rei, estourando perguntas. O secretário de comunicações reapareceu.

— Senhores, por favor! Todos acabamos de tomar conhecimento das decisões do rei. Não há perguntas a serem feitas, tudo foi dito pelo próprio. Boa tarde.

Embora a coletiva tenha sido de alguns minutos, fora tão bombástica quanto a anterior com horas de transmissão. A rainha olhava fixamente a tela quando o rei falava da dissolução de seu casamento e que ela não tinha mais o tão sonhado posto que fizera de tudo para conseguir. Não acreditava no que tinha visto e ouvido, mas naquele momento o secretário do cerimonial entrou, acompanhado de policiais para conduzi-la até a casa da família dela.

O rei teve a gentileza de que acontecesse durante seu pronunciamento, a fim de que não fosse ainda mais constrangida. O que fazer senão acompanhar o secretário remoendo o ódio e tendo sentimento de vingança!

Os príncipes tentaram convencer o rei a permanecer no comando, mas ele foi irredutível, dizendo que agora poderia viver sua vida com tranquilidade e com quem ele amava e era correspondido. Diante disto, aceitaram.

Yosh assumiria o Ministério de Defesa do reino, sendo o responsável pela segurança de todo o reino no lugar de Pryos. Svatia preferia continuar seu trabalho e, claro, seria a primeira conselheira do rei. Embora Wayná preferisse trabalhar com a princesa, se tornaria o braço direito de Yosh.

Ultimo dia das mudanças, Sil, Yosh e Sofi saíram do local de trabalho com destino a um lugar que gostavam de almoçar, afinal seria a despedida da velha rotina e também uma comemoração de amizade. Wayná estava em vídeo chamada conversando com sua mãe e iria encontra-los assim que terminasse a conversa.

Logo depois de terem saído, Escta, a ex-rainha entrou. Ali era fácil entrar, afinal atendia solicitações do povo.

Quando Wayná desligou a tela e se levantou:

— É difícil encontrar você sozinha.

Instintivamente, Wayná ligou as câmeras que transmitiam para a central de segurança e gravava o que ocorria.

— A princesa não está, senhora!

— Eu sei, eu os vi saírem. Vim ver você.

— Eu!? Por que? Em que possa ajuda-la?

— Para me ajudar, você não deveria ter aparecido! Antes de você aparecer, eu tinha uma filha obediente, depois de te conhecer resolveu bancar a forte e me contestar. A culpa da minha queda é tua!

— Minha? Eu não tive nada com suas atitudes. Sua filha era infeliz, evitava a sua companhia o tempo todo, tentava fazer o certo e você tirava o valor do trabalho dela. As ações dela não tem nada a ver comigo, você que não percebia como ela agia antes de me conhecer porque não prestou atenção.

— Ora, sua… vou te ensinar a me respeitar.

Wayná tentou contê-la sem machucá-la, mas ela estava desvairada, era puro ódio e gritos.

— Pare! Eu não quero te machucar.

— Vou matar você, a salvadora, a intrometida. Não é uma guerreira? Pois eu vou acabar com você.

Wayná só pensava que aquela doida era mãe de Sil e que se a machucasse não seria perdoada, então apenas se defendia dos golpes e tentava se afastar de Escta.

No entanto, mesmo sem nenhuma técnica, a ex-rainha ia tentando acertá-la com muita raiva, apanhou um objeto em cima da mesa e o pegou. Era uma réplica em tamanho menor do punhal que Wayná perdera na garganta do guarda quando da fuga de Paxar, e Yosh deu-lhe de presente como agradecimento.

Wayná pensava em como pará-la sem matar, porque parecia que seria a única forma. O desespero começou a tomar conta, agir como sabia, como fora treinada e esperar ser perdoada? Tentar alcançar a saída e fugir? Escta estava neste caminho.

Na rua, Sil parou de repente. Yosh olhou imediatamente em volta, levando a mão à arma.

— Wayná! Preciso voltar.

Enquanto na recepção do escritório se desenrolava a luta, Sil disparava pelas ruas e Yosh, após pedir para Sofi esperar, correu atrás dela. Obviamente Sofi também veio.

— Está com medo de me ferir e ela não te perdoar? Eu não tenho este medo

Depois dessa frase, Escta saltou com o objeto na mão, em direção a Wayná. A tentativa de segurá-la não deu certo, sentiu a entrada no abdome e o sangue correr. Escta ria, puxou com força o objeto, se aprontando para nova desferida.

— Você é fraca, não tem coragem de me atingir por medo de receber o desprezo dela por isto, eu não tenho medo de te ferir, vai morrer por ter me desafiado.

Antes que pudesse atingir novamente a vítima que estava caída, foi arremessada com força brutal contra a parede.

— O que pensa que está fazendo? Vai atacar a rainha agora? Pode se arrepender amargamente desta atitude!

A raiva agora estava em outra pessoa.

— Você não é mais rainha e nunca foi mãe, posso garantir que me arrependo de não ter feito isso antes!

Avançou para a ex-rainha, levantou-a do chão e socou fazendo-a se debater de dor no estômago.

— Parece que a única forma de livrar o país de você é te matando. A única maneira d’eu viver livre, de poder amar e ser amada, de apenas ser, é te matando. Você feriu a única pessoa que não devia chegar perto, sua maldita.

Preparou o golpe, mas teve os braços seguros por Yosh.

— Pare, Sil, por favor.

Reagiu com fúria e Yosh caiu no momento em que o rei antigo e o atual entraram no ambiente, sem saber bem o que fariam. Tentaram segurá-la e ela se esquivou, procurando mais uma vez por Escta.

Segurou-a pelo pescoço:

— Não se preocupe que não vou me arrepender.

As palavras destilavam raiva, ódio mesmo. Parecia que nada nem ninguém a faria parar.

— Sil, por favor, me ajuda!

Parou.

— Não faça… jamais vai se perdoar… quando a raiva passar. Eu… preciso de aju…

Desmaiou.

Sil olhava para Wayná, o sangue pelo chão, a palidez da pele e tudo o mais desapareceu. Ali estava o foco de tudo que importava na sua vida. Correu até ela e a abraçou.

— Perdão, amor, perdão.

Os socorristas entraram. Quem atender primeiro? A que tinha sido a rainha? A outra pessoa sangrando? A família real estava ali, então foram para Escta primeiro.

— Não! Socorram ela antes. – Disse o rei apontando para Wayná.

Todos pensavam que finalmente a princesa Svatia estaria frente à mídia do planeta, já que seria a coroação de Pryos e a despedida de seu pai. Já se fazia aposta em como ela era, se bela como alguns diziam ou muita feia e por isso não aparecia?

Magnus iria fazer um anunciado sobre seu último ato como rei.

— Ontem à tarde, Escta, a ex-rainha, tentou matar alguém muito caro à princesa Svatia, em um acesso de raiva, querendo colocar a culpa de toda sua falta de conduta nela. Conseguiram impedir por pouco que acontecesse mais um assassinato horrível, por alguém que se julga superior aos demais e que as vidas alheias não importam. Chega! Hoje, quando meus filhos assumem o comando do reino, quero como meu último ato como rei, livrá-los de pelo menos uma dessas pessoas deploráveis para que possam viver em paz. E, acredito que fará bem ao povo também. Portanto, a ex-rainha Escta, foi julgada por juizado especial devido a posição que até pouco tempo ocupava e condenada. Está presa e responderá por todos os crimes do passado até ontem, são muitos e como não para de cometê-los, mesmo perdendo seu cargo, acabou. Quem sabe consiga refletir estando longe do poder. Mestre de cerimonia, continue.

No hospital, Sil esperava a mãe de Wayná que tinha mandado buscar, enquanto aguardava notícias dos médicos sobre a recuperação de seu amor. O motorista que fora ao interior para trazer a senhora, trouxe-a diretamente até Sil.

— Desculpe as circunstancias em conhece-la, senhora! Sou Sil.

— Ah imaginei assim que a vi! Wayná já me contou tanto a seu respeito que sinto que a conheço.

— Sério!? Ela não costuma me contar muito sobre a senhora, além do imenso amor que tem por vocês todos da família, principalmente a senhora.

— Aqui ela tem trabalho e quando está com você namora, imagina ficar falando desta velha aqui.

Sil foi obrigada a rir.

— Bom, estou esperando o médico vir dar notícia, ela veio direto para cá ontem a tarde, passou parte da noite em cirurgia e está sedada. A senhora deve estar cansada, viajou a noite toda. Não quer descansar e eu aviso quando souber de algo?

— Não, menina! Mães não dormem, mas comem. Onde posso almoçar, comer alguma coisa? Quero estar inteira na hora que ela acordar. Aposto que você também não se alimentou desde ontem.

— É mesmo! Nem almocei ontem! Ah, lá vem o médico.

— Bom dia. Pode ficar sossegada que correu tudo bem, ela vai se recuperar sem nenhuma sequela, mas devido a extensão da ferida, prefiro tirar a sedação depois das15h00.

— Doutor, esta é a mãe da paciente.

Conversaram rapidamente o de praxe em hospital.

— Então, Sil, você me paga um bom almoço e enquanto comemos nos conhecemos um pouco. Depois tomo um bom banho e fico esperando a minha menina acordar.

— Tem um hotel aqui em frente ao hospital, podemos ir até lá, pedir o que quiser para comer e enquanto preparam no restaurante deles a senhora pode tomar o banho que quer. Precisa de alguma roupa, qualquer coisa?

— Não, eu trouxe minha malinha. Vamos lá então.

Em minutos, Sil percebeu porque Wayná era apaixonada pela mãe. Adorou-a. Escolheram os pratos no restaurante do hotel, pediram meia hora para serem servidas. A princesa alugou um quarto e levou a sogra para se banhar.

— Ah, um banho faz milagre. Vamos comer, menina. E aí, vou conhecer teus pais?

— Meu pai terá prazer em conhece-la. Meu irmão também.

— E tua mãe?

— Este é um assunto que prefiro não falar por enquanto.

— Tá bom. Você ama mesmo minha filha?

— Mais que a mim, mais que tudo.

— Parece que da mesma forma que ela te ama!

— Seria bom se eu soubesse, só sei que ela me ama também, e pra mim é suficiente. Farei de tudo para que este amor perdure e que sejamos felizes.

— Pretendem ter filhos?

— Não sei, nunca falamos disso.

Sentaram, almoçaram, conversaram bastante sobre preferências em muitas coisas, sobre casa, viagens, visitas, onde passar os feriados, elogios sobre a refeição e, finalmente voltaram ao hospital.

Quando Wayná acordou, a primeira pessoa que viu foi sua mãe.

— Oi, mãezinha!

— Estou aqui, minha menina!

A mãe segurava sua mão olhando-a feliz por ela estar bem.

— Tá tudo bem em casa? E como você veio, alguém te avisou?

— Está sim. Sil me avisou e mandou me buscar.

— Cadê ela, mãe?

— Estou aqui amor! Você me perdoa?

— Pelo que… ah, não tenho o que perdoar, eu entendo. Como você está?

— Relaxando agora, nunca tive tanto medo na minha vida.

— Não ia te abandonar agora que está tudo bem.

Sorriram.

— Obrigada por trazer minha mãe, ela não é um doce?

— É sim!

— Mãe, Sil nunca teve uma mãe, então você poderia fazer as vezes? Pode cuidar dela enquanto fico no hospital?

— Mas é claro! Só espero que não coma demais porque não somos ricos.

— Pare, não me faça rir que dói.

— Eu sei que você é a princesa do povo menina, desde que minha filha descreveu você na primeira vez que voltou pra casa depois de te conhecer. Imagino que saiba porque ela não descobriu logo, não é? Mas ninguém se comporta como você sem ter autoridade para tal. Você não sabe, mas tem muitas mães pelo reino, que bateria na rainha se a encontrassem um dia, só para te defender. Estou feliz que minha filha tenha encontrado uma pessoa tão rara como você, Sil. Só não sei o que farei se um dia você for me visitar!

As três riram contentes. Tudo estava em seu lugar, mas a princesa, de novo, não apareceu para a festa lá fora. Podia haver festa maior em um simples quarto de hospital.

FIM



Notas:



O que achou deste história?

2 Respostas para MENTIRAS

  1. Olá! Tudo bem?

    Os seus textos, Autora, são sempre belos e bem escritos. Deixam nossos corações sempre quentinhos. Parabéns.
    É isso!

    Post Scriptum:

    “Quero, um dia, poder dizer às pessoas que nada foi em vão…, que o amor existe, que vale a pena se doar às amizades e às pessoas, que a vida é bela sim, e que eu sempre dei o melhor de mim… e que valeu a pena.”
    Mário de Miranda Quintana,
    Escritor.

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