Nightingale

Capítulo 102 – Epílogo

POV Erika

Um dia, depois de horas quase intermináveis de treinos, eu já estava para desistir de tudo e apenas ir deitar na minha cama e ficar ali na minha rotina completamente pacata, mas fui convencida a ir ver um show de uma banda que estava começando. No dia anterior, um dia ruim onde eu havia acordado de um pesadelo péssimo com a minha mãe sobre a forma como ela me desprezou antes de eu ir embora. Aquela noite eu me estressei mais do que já estava e o dia seguinte foi ainda mais estressante pra mim do que o anterior. Mas valeu a pena.

Naquela noite eu conheci a pessoa que iria me trazer os melhores dias da minha vida. Conheci a mulher que eu chamaria de minha pro resto dos meus dias. Naquela noite eu conheci a guitarrista mais linda, cara de pau, convencida e talentosa que existe nesse mundo. O que eu achei que fosse ser só ódio, virou aceitação e depois uma amizade enorme. Quase um ano depois estávamos começando a namorar.

Alex Lancaster esteve ao meu lado nos meus piores e melhores momentos desde o instante em que a conheci. Eu demorei para aceitar que a amava. Isso porque eu não queria ariscar me envolver com alguém e me decepcionar. Eu já havia sido decepcionada por pessoas que deveriam cuidar de mim e não estava bem com a ideia de passar por algo assim de novo. Mas Alex insistiu, ficou por perto, mostrou pra mim o quanto se importava sendo minha amiga. A verdade: eu me apaixonei por ela no instante em que aquela baixinha com mexas azuis nos cabelos bateu de frente comigo.

Claro, no dia em que a conheci não podia esperar que, três anos depois, ela estaria me pedindo em casamento num jantar romântico (que não acabou de forma tão romântica assim, mas que não deixou de ser incrivelmente prazeroso, em todos os sentidos possíveis). Hoje nós temos uma casa na Califórnia, numa cidade em volta de Los Angeles. Eu sou uma atleta do UFC e fui a primeira campeã da nova categoria feminina, a de pesos penas que vai até 65,8kg. Alex e a Horizons assinaram com uma gravadora que tem a sede em Los Angeles e por isso decidimos nos mudar. Michael continua com a sua academia, agora ainda mais renomada do que antes. Ele desistiu de ser meu técnico logo depois da minha segunda luta no UFC.

Lembro dele me dizendo o porque não seria mais meu técnico. “Não dá pra treinar você, mulher! Nunca faz o que falo pra fazer. Sempre decide sozinha os próprios treinos, nunca me ouve nas táticas. Mesmo assim você não perde!!”. Foi o que ele disse entre o riso e a irritação. Depois disso eu não tive mais um técnico e mesmo assim continuei a vencer.

Angeline conseguiu fazer sua marca se tornar um dos patrocinadores oficiais do UFC um ano depois de eu assinar contrato com eles. Ela continua me patrocinando e eu sou o contrato mais caro que eles tem, mas correspondo a altura todas as expectativas que colocam em mim. Katerine realmente se formou seis meses depois de Alex me pedir em casamento e começou a trabalhar com a ruiva, numa posição relativamente baixa. A loira não precisou de seis meses dentro da empesa para se mostrar mais inteligente que muitos e subir de cargo sem Ange precisar mover um dedo.

Melissa e Ted se casaram três meses antes de eu e Alex. Ela largou a faculdade porque não se identificava mais com o curso e largou tudo de vez, mas em compensação começou a me acompanhar ainda mais nas lutas, estando sempre comigo e lidando com quem eu não teria paciência para conversar. Por esse motivo, quando assinei com o UFC e eles me disseram que iriam me providenciar um técnico e um agente para relações públicas eu recusei o técnico e o agente dizendo que já tinha alguém que cuidava da minha imagem. Dei o nome completo, contato de email e telefone de Melissa e disse que para o que precisassem de mim era só ligar para ela que ela resolveria.

Depois de me xingar por horas por receber um telefonema do nada de um cara de uma revista de esportes querendo me entrevistar e ela não saber o que responder Mel acabou rindo comigo e me agradecendo. Hoje ela trabalha para mim e quem paga o salário dela é o UFC. Ela cuida de tudo e eu fico livre para treinar. Nem preciso comentar que ela esta muito feliz resolvendo toda a minha vida por telefone enquanto cuida dos gêmeos que ela e Ted tiveram logo depois de dois anos de casamento.

Eu juntei dinheiro nesse tempo todo, Alex também, e acabamos por nos tornarmos relativamente ricas. Compramos uma propriedade grande na cidade onde moramos, onde já havia uma casa enorme, com um grande gramado na parte de trás, piscina, área de churrasqueira, uma pequena quadra de areia e até uma mini academia. Uma casa ótima com vários quartos para acomodarmos todos os nossos amigos que adoravam nos visitar, mesmo morando em outro estado.

Logo que nos mudamos Arthur completou 5 anos e nós o colocamos numa escola em Los Angeles. Eu o levava toda manhã de carro e o buscava toda tarde. Apesar da nossa condição financeira nós nunca aparentamos ter muito fora a casa. Eu usava um carro popular, apesar de novo. Nem nossas roupas eram das marcas mais caras. Viviamos bem e era isso o que importava.

Eu comprei um galpão numa área mais afastada do centro de Los Angeles e, nos dois anos seguintes, investi muito ali até transformá-lo na minha própria academia com musculação e uma área enorme inteira dedicada aos treinos às artes marciais mistas. Inaugurei a academia dois meses depois de defender pela primeira vez o cinturão da nova categoria feminina do UFC e vencer.

Alex e a banda se saiam cada vez melhor no universo musical e, depois de dois anos e meio melhorando e produzindo o novo albúm do nada depois de Tiffany abandoná-los para ir cantar em outra banda que estava no auge, eles lançaram o primeiro albúm ao novo estilo de Alex como vocalista. Não precisou de um mês para a banda de Tiffany cair para o terceiro lugar nas rádios sendo passada por duas das novas musicas de Alex.

Depois da primeira turnê internacional nos notamos que não gostávamos de toda aquela exposição gratuita de nós mesmas. Mas nos irritamos mesmo foi com os boatos cada vez mais insistentes sobre a vida do Arthur. Ele iria fazer 6 anos quando nós fomos diretamente a mídia declarar o resumo da história dele conosco. E, depois disso, avisar que qualquer outra matéria, por qualquer meio de informação que fosse, que saísse fazendo especulações ou falando sobre algo mais do que declaramos seria imediatamente retirada do ar e seu autor enfrentaria longas e duras horas num tribunal.

Duvidaram de nós, mas depois de processarmos dois colunistas, um repórter, um paparazzi e duas revistas conceituadas eles nos deixaram em paz e Arthur passou a ser um assunto proibido na mídia. Não preciso dizer que os melhores advogados do mundo fornecidos por Angeline fizeram as contas bancárias, minha e de Alex, engordar muito depois desses processos por meio de pagamento de indenizações.

Mesmo assim Alex e eu fazíamos cada vez mais sucesso e decidimos que Arthur não precisava de toda essa atenção durante seu crescimento. Passamos a ser cuidadosas, as escolas que ele frequentava eram orientadas desde o momento em que nós o matriculávamos a não questionar sobre nós e a não expor a figura do meu sobrinho a atenção desnecessária por nossa culpa. Ainda tivemos alguns problemas, mas quando ele fez 10 anos e duas escolas responderem processos na justiça as coisas começaram a funcionar.

Não é segredo para ninguém que Alex e eu somos casadas e criamos um sobrinho meu, mas o nome dele e as fotos dele nunca aparecem. Eles sabem onde moramos, mas não é uma atenção tão constante quando Alex não está em casa. E ficou ainda menor quando ela comprou um apartamento em Los Angeles e, nas voltas das viagens, ia para lá antes de escapar pelos fundos enganando os repórteres e vir para casa.

Minha mãe não aceita Alex e eu ainda, mas passou a respeitar e, depois de ouvir uma declaração inocente e chateada de Arthur, passou a não mais tentar fazer ele se incomodar conosco. Meu lindo sobrinho tinha quase 5 anos e, num final de semana quando fomos deixar ele com minha mãe na fazenda, ela nos olhou e disse que era inaceitável criarmos uma criança. Arthur olhou para ela fazendo uma cara séria que era a coisa mais fofa do mundo, cruzou os braços e disse com aquela voz infantil, mas irritada:

“Vovó não diz isso. Minhas mães cuidam muito bem de mim!”

Alex e eu nos olhamos assustadas e minha mãe ficou sem saber como reagir à forma séria e direta com que ele respondeu. Ela ficou ainda mais sem reação quando ele pegou a mochilinha azul dele e colocou nas costas caminhando a passos pequenos, mas decididos para fora da casa dizendo que estava chateado e que não queria ficar com a avó aquele fim de semana.

Eu falei com ele, tentei explicar que Alex e eu não éramos mães dele, que eramos tias. Eu sempre garanti que Arthur conhecesse a memória de Elizabeth e de Phillip. A noite mostrava fotos dos dois e contava histórias deles. Sempre dizia “Essa é sua mamãe e esse o seu papai”. Ouvir ele chamar Alex e eu de mães nos assustou. Quando falei com ele aqueles olhinhos azuis como os meus me encararam de um jeito sério quando ele respondeu com as seguintes palavras:

– Eu sei qui minha mamãe di vedadi morreu e meu papai tamém – ele falou sério com um olhar meio tristinho – Mas a Jude dissi qui não importa quem é nossa mãe ou pai di verdadi, o qui importa é quem cuida da genti – Jude era a moça que ajudava a professora da creche onde Arthur ficava algumas vezes quando Alex e eu não podíamos ficar o dia todo com ele – Tia Erika e Tia Alex cuidam di mim. Me dão comida quando to com fome, me dão remédio quando to doente, me levam pra escola, me colocam pa durmir. Jude dissi qui quem cuida da genti assim é mamãe e papai tamém, mesmo qui não di verdadi. Então tia Erika e tia Alex são minhas mamães tamém.

Nós convesamos muito com ele na segunda seguinte quando o buscamos depois dos três dias com Dona Judith. Nem eu nem Alex sabíamos como lidar com aquilo dele nos chamar de mães. Por algumas semanas tentamos convencê-lo de que não deveria nos chamar assim, mas não adiantou. Ele ainda ficou uns quatro meses misturando os nomes, as vezes nos chamava de tias, as vezes de mães, mas quanto mais crescia mais ele insistia em que éramos mães dele e não houve conversa que o fizesse mudar de ideia.

Com o tempo ele foi crescendo e ganhando um pouco da altura que Phill e eu sempre tivemos, mas os cabelos ficavam sempre no mesmo tom castanho escuro de Beth. E nós vivemos nossas vidas juntos. Com todas as dificuldades que uma vida pode ter. Alex e eu brigávamos as vezes por conta da nossa falta de tempo para nós, mas sempre nos resolvíamos rápido (outra vantagem da casa era o isolamento acústico que Alex mandou colocar no nosso quarto quando decidiu que iria compor ali também e não queria que ninguém ouvisse suas musicas incompletas, apesar de eu ter certeza de que esse não era o único motivo para ela querer isso). Mesmo com todas as combinações de coisas complicadas, mesmo com todas as dificuldades de se estar casada e criar uma criança, ainda acho que nos saímos muito bem.

Nós somos felizes a nossa forma louca e bagunçada.

Nós nos amamos.

Quem tem amor consegue se sobrepor às adversidades da vida e permanecer.

Uma noite eu conheci uma guitarrista que, apesar de toda a pose e jeito de ser, era tão solitária e quebrada pela vida quanto eu. A diferença era que essa guitarrista se aceitava como era e soube que não queria ficar sozinha.

Eu demorei, mas deixei ela entrar na minha vida e no meu coração.

Hoje ela é a dona dos meus sonhos, suspiros, sorrisos e alegrias. Ela cuida de mim e eu cuido dela e juntas cuidamos da coisa mais linda do mundo que se chama Arthur.

Então, posso dizer por experiência própria que não é se afastando que nós paramos de nos machucar. O que faz parar de doer é deixar a pessoa certa se aproximar.

Quando a pessoa certa está com você, todas os machucados se curam e todas as cicatrizes, apesar de não desaparecerem, deixam de ter importância.

Então, se você um dia achar alguém que te faça sentir tudo de um jeito mais intenso, preste atenção nessa pessoa. Ela pode acabar sendo aquela que vai te fazer feliz de verdade.

 

N/A: E esse foi o último capítulo. Dá até uma tristeza, mas vem também a felicidade de saber que consegui contar a trajetória de todas essas pessoas incríveis. Espero que tenham gostado. 

Existe uma segunda temporada que se chama Who Are You, mas Erika e Alex não são as protagonistas apesar de aparecerem sempre e terem grande importância. Essa segunda temporada conta a trajetória do Arthur durante o final da adolescência. Não está completa ainda, mas pretendo trazê-la ao Lesword a partir da semana que vem. 

Muito obrigada por todos os comentários. Espero que tenham gostado de acompanhar esse romance de Erika e Alex.

Bjs e até a próxima

;]



Notas:



O que achou deste história?

6 Respostas para Capítulo 102 – Epílogo

  1. Boa noite!
    Muito legal o andamento da história! E nunca havia me apegado uma personagem antes, mas agora posso dizer que há uma personagem de quem gosto muito, torço e chego até a vê-la como uma pessoa real. Essa é a Erica. Meus parabéns autora!

    • Muito obrigada pelas suas palavras =]
      Eu não costume me apegar a personagens também, exceto as minhas hehe, então te entendo, realmente gostaria de vê-las como pessoas reais.

      Muito obrigada pelo comentário ;]

  2. I’m soft!!!!!! Sensível aqui, sofro com despedidas, ainda mais de histórias tão lindas e personagens tão cativantes!!!
    Me apaixonei pela Erika e Alex e pela sua maneira de conduzir essa história e seu amor!!!
    Parabéns, excelente trabalho!!! Owwn!!

    • Muito obrigada pelas suas palavras. Fico muito feliz que Erika e Alex tenham conquistado seu coração.
      Muito obrigada e até uma próxima
      ;]

  3. Olá =]

    Então, expliquei porque não disponibilizei Who You Are na resposta ao seu comentário em Argentum.
    Eu não desisti da continuação. Estou com um terrível bloqueio para um dos capítulos, mas a continuação existe e apenas não está no Lesword.

    Se você me acompanha apenas por aqui e quiser a continuação por aqui eu atualizo sem problemas. Apenas não sei se se enquadra na proposta do site.
    Mas eu faço a vontade das minhas leitoras.
    ;]

  4. Oi…
    Amei a historia dessa familia, gostaria de continuar com as aventuras de Arthur mas procurei aqui no LesWord e não encontrei, você desistiu???

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