Nightingale

Capítulo 11 – Amolecendo

POV Erika

Alex foi quem insistiu para que pegássemos o número uma da outra. Por mim isso era desnecessário, mas ela insistiu porque, como ela mesma disse, queria saber mais sobre luta depois de me ver lutar. Confesso que eu não achei que ela fosse mesmo ligar, mas bastou chegar perto do meio-dia e meu telefone começou a tocar com o numero dela aparecendo na tela. Particularmente eu não quis acreditar, mas, talvez por causa da surpresa, acabei interrompendo meu almoço solitário para atende-la. Dizer que conversamos a tarde toda é pouco, falamos por todo o tempo em que levei para almoçar, depois conversamos por mensagens no WhatsApp durante o resto da tarde até que fui dormir.

Eu não conseguia entender o repentino interesse dela em mim e no que eu tinha a dizer, mas continuei respondendo e mantive a conversa apesar de tudo. Conversamos todos os dias desde que ela me pediu desculpas, eram tantos assuntos que eu mal registrava sobre o que estávamos falando antes de mudarmos o foco. Era estranho ter alguém com quem conversar, eu não tive isso por muito tempo. Era estranho também como, apesar das diferenças gritantes entre nós duas, ainda conseguíamos ter coisas em comum.

Pela primeira vez em anos eu cheguei a pensar que tinha algo perto de uma amiga, o que pra mim era inédito. O estranho foi que Alex começou a se aproximar mesmo e eu não impedi isso; só que parecia que ao deixa-la se aproximar outros começaram a tentar também. Melissa era a que mais tentava, talvez por ter visto que Alex, com muita insistência, começou a conseguir fazer isso. Mas eu ainda continuava na defensiva com todos eles, até mesmo com Alex.

Três dias antes da minha luta Alex me avisou que teriam um show, que seria na noite seguinte a que eu iria lutar. Uma semana atrás eu estaria pensando em desculpas para não poder ir, mas me surpreendi ao me dar conta de que estava torcendo para conseguir ir vê-la tocar. Por causa dessa notícia Alex e a banda começaram uma rotina de ensaios por longas horas por dia. Era um tempo em que ela não falava comigo por estar tocando ou conversando com os companheiros sobre as musicas ou os ensaios. Me peguei sentindo falta do celular vibrando enquanto eu treinava. Eu estava me acostumando a ter ela por perto.

Faltando dois dias para a luta o lugar e o horário foram decididos. Seria na academia da adversária por eles terem um octógono tamanho padrão das lutas do UFC. Estava tudo programado para começar as 18:30h. Só seriam permitidos lá dentro os integrantes das academias e os amigos das lutadoras. Decidi que deixaria Melissa, Katerine, Henry e Frederick virem comigo para poderem assistir. Alex só faltou jurar que estaria lá quando eu chegasse e que iria ver toda a luta.

Conforme o dia se aproximava eu ficava cada vez mais ansiosa; era preocupante o fato de todo o meu futuro como lutadora poder estar ligado diretamente ao meu desempenho nessa única e primeira luta da minha carreira inteira.

Não, eu nunca havia enfrentado alguém de outra academia antes. Não, eu nunca cheguei perto de um octógono de verdade antes. E sim, eu estava morrendo de desespero e preocupação ao pensar nisso. Os únicos momentos em que me distraia eram aqueles em que Alex conversava comigo sobre coisas aleatórias, mas Alex estava numa situação complicada com sua banda; algo haver com as musicas que eles andavam ensaiando e preparando para tocar.

– Você parece distraída – disse a voz de Melissa me fazendo voltar a realidade depois de vários segundos encarando o nada com uma garrafa de água na mão.

– Nervosismo. Tenho direito de estar nervosa. Vou lutar amanhã – respondi sem olhar para ela e bebi um gole da água, já estava ficando morna, mas eu precisava me hidratar então iria servir.

– Soube que você e Alex andam conversando bastante – comentou Melissa se sentando ao meu lado no banco.

A aula dela estava atrasada porque Michael estava resolvendo coisas sobre a minha luta. E eu estava numa pausa dos exercícios da musculação.

– Um pouco, mas ela tem estado ocupada com assuntos da banda que eu não sei o que é – falei e menti, eu sabia que era coisas sobre musicas novas (apesar de não saber se eram novas composições ou novas opções para tocarem nos shows); mas eu ainda estava confusa com a minha repentina aproximação com a guitarrista e preferia manter isso apenas para mim.

– Erika – ela chamou meu nome fazendo-me virar o rosto para ela – Eu…olha eu realmente quero ser sua amiga, tá? Não tem que ficar na defensiva comigo – pensei que talvez Alex pudesse ter dito algo a Melissa sobre ter conversado comigo sobre aquilo, mas notei que ela apenas tinha notado meu tom evasivo; decidi não responder e continuar encarando-a – Olha…sei que acabei falando demais pra Alex antes, que contei coisas que não deveria contar, mas….poxa. Foi em parte por causa disso que vocês duas acabaram amigas não foi?

– Foi – tive que concordar; talvez…era bem provável…..não, era claro que Melissa tinha um papel importante no fato de Alex e eu termos começado a conversar – Me dá uma ajuda aqui – pedi me levantando.

Deitei na esteira do equipamento onde estava a barra com os pesos que eu havia colocado. Melissa me seguiu e entendeu o que deveria fazer sem que eu falasse nada. Segurei a barra e comecei a fazer a sequencia com ela me ajudando a manter o equilíbrio da barra com os pesos. Quando acabei ela me ajudou a recolocar a barra no suporte e eu deixei os braços caírem em cima da minha barriga.

– Consegui chegar no peso que queria – falei pra ela num tom até baixo e notei ela me encarando surpresa; o que não era a toa já que eu nunca iniciava uma conversa – Mas acho que é mesmo meu limite, não tem mesmo como baixar mais do que 60,5Kg.

– Tinham que criar uma categoria feminina de peso leve ou peso pena. Talvez as duas – comentou Melissa pensativa – Tem muitas mulheres mais pesadas hoje em dia….digo…Tem gente alta que nem você que poderia ter mais liberdade de manter um peso maior sem correr o risco de passar o limite de todas as categorias.

– É, eu concordo – falei dando de ombros – Mas as lutas femininas ainda não tem tanta popularidade assim, além de que são poucas lutadoras pra se montar tantas categorias. E sua aula vai começar – completei vendo Michael indo pro tatame.

– Ah – ela exclamou desanimada – Bem…vejo você no final do treino, vai lutar com alguém hoje? – me pergunta antes de começar a se afastar.

– Frederick de novo – falo me preparando pra voltar a musculação – Vai pra sua aula vai. Conversamos quando eu terminar com Frederick outra vez – falei sem um tom animado, mas Melissa notou a brincadeira mesmo assim e riu enquanto se afastava.

Talvez não fosse assim tão ruim deixa-los se aproximarem. Talvez o jeito bobo e a falta de tamanho de Alex estivessem fazendo com que eu amolecesse demais.



Notas:



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