POV Melissa
Por sorte eu não teria aulas nessa manhã, então fui para a academia ficar com Erika. Ela parecia ansiosa mesmo sem falar nada e, conhecendo-a, eu sabia que por enquanto o melhor era não conversar; até porque ela não parecia estar interessada em falar comigo. Não parava de olhar para o celular; provavelmente esperando noticias da Alex. Eu havia conversado um pouco com a guitarrista ontem e ela tinha me contado que de manhã seria difícil para ela falar com a Erika já que estaria no ensaio. Havia sido a própria Alex que tinha me pedido pra vir ficar com Erika na academia pra acalmar um pouco a lutadora. Agora, vendo o estado de Erika, eu entendia o porque.
Erika treinou um pouco durante a manhã, e conversou com Michael perto da hora do almoço. Me ofereci pra ir com ela almoçar em algum lugar e acabamos por comer coisas leves, ela não deveria exagerar. Depois voltamos pra academia e Erika continuava impaciente. Ela não podia treinar pesado pra poupar energia e estar descansada e isso a deixava irritada.
Perto das 3 horas da tarde ela foi arrumar as coisas pra levar; equipamento, suplementos e outras coisas que seriam necessárias. Eu fui com ela pro pequeno apartamento dos fundos ajudar a organizar tudo pra que ela não esquecesse nada. Foi nessa hora que Alex deu notícias de que iria pro lugar da tal luta chegando lá perto das 18h. Elas conversaram um pouco mais por mensagens o que fez com que eu me sentisse um pouco ignorada, mas depois Erika mesmo me disse o que elas estavam conversando. Mas isso só porque ela tinha que me falar disso também.
Iriamos chegar lá antes das 18h e Erika iria direto pra um dos vestiários se preparar. Dessa forma, ela provavelmente não estaria lá pra receber e orientar Alex quando ela chegasse, o que eu me comprometi a fazer. Mas não era só isso que Erika tinha a dizer pra mim. Ela me avisou, assim como avisou Alex, pra que não esperássemos que ela nos procurasse na plateia; porque ela não o faria. Ela não disse o porquê, apenas contou que tinha jurado pra si mesma que nunca olharia pra plateia antes ou durante uma luta.
Eu não entendi o motivo disso, geralmente quem vai lutar sempre tem alguém assistindo pra torcer e isso costuma ajudar os lutadores na hora. Mas eu não questionei Erika, ela deveria ter algum motivo pra isso. Parecia um tipo de promessa ou superstição; eu não tinha nada que intervir ou perguntar. Fui com ela pro vestiário enquanto Michael acertava algumas coisas com o outro treinador; aparentemente eles iriam gravar a luta delas.
Pelo que eu sabia a adversária da Erika era uma tal de Julia; que tinha 5 lutas na carreira, três submissões e um nocaute. O treinador dela achava que com mais algumas boas lutas ela teria chances de ter alguém do UFC vindo vê-la lutar. E, pelo que Michael nos contou, só aceitou que ela lutasse com Erika, uma completa desconhecida, porque devia um favor pro Michael. Bem, só digo que espero que essa tal Julia seja muito boa ou vai sofrer nas mãos da Erika.
Quando ela foi se trocar eu resolvi deixa-la sozinha, ela precisava se concentrar e logo Michael iria entrar lá pra dar instruções e tudo o mais que fosse preciso. Sai para a área da academia onde ficava o octógono e vi cadeiras e bancos espalhados em volta. Um lado já estava ocupado pelos integrantes da academia local e o outro lado começava a se encher com o pessoal da nossa academia que tinha vindo assistir.
Vi Kat e os rapazes logo no banco mais perto do corner azul que seria da Erika e caminhei para aquele lugar. Antes mesmo de chegar no meio do caminho meu telefone toca; mensagem da Alex. Aparentemente ela estava do lado de fora sem saber bem se podia ou não entrar. Fui até lá encontra-la.
Assim como todos da academia eu usava o casaco do agasalho que Michael havia mandado fazer para nós, era cinza com três linhas azul marinho na lateral esquerda passando do ombro até a barra; do lado direito estava o emblema da M-Fighters. Eu também tinha escolhido um jeans skininng preto com um tênis de corrida azul escuro com detalhes em vermelho.
Quando sai não foi difícil achar Alex, ela parecia bem deslocada com aquele jeans justo e rasgado, o addidas marrom desbotado e velho e a regata verde claro por baixo da jaqueta jeans larga. Dava pra ver a maquiagem leve que ela tinha colocado; um pouco de lápis e rímel só pra destacar os olhos dela. Eu podia dizer que ela estava bem simples até, mas arrumada demais pro lugar onde estava indo.
– Hey, Mel – disse ela chegando perto de mim com um sorriso nervoso.
– O que foi?? Muita gente maior que você por perto?? – pergunto fazendo piada dela que rola os olhos, mas ri junto comigo – Espero que você tenha desejado sorte pra Erika antes de chegar aqui – falo mudando de assunto e ficando mais séria – Há essa hora ela já deve estar com o celular desligado.
– A Erika não precisa de sorte. Ela tem treino – respondeu Alex entrando comigo na academia – Mas sim; desejei boa sorte pra ela antes de sair do ensaio pra vir aqui. Ela tá muito nervosa?? – me pergunta Alex com uma expressão preocupada.
– Um pouco sim – respondo vendo-a fazer uma expressão ainda mais preocupada – Mas acho que vai ficar bem, quando o Michael entrar lá pra dar as instruções pra ela sei que a garota vai se concentrar e esquecer o resto do mundo.
Alex concordou com a cabeça, mas não falou nada até que chegamos onde Katerine, Henry e Frederick estavam sentados guardando nossos lugares. Ela os cumprimentou e se sentou entre mim e Henry, estávamos bem em frente ao corner azul onde Erika iria ficar e tínhamos uma visão ótima do lugar.
Não demorou muito para a área do vestiário que ficava do outro lado do octógono apresentar alguma movimentação. Provavelmente era o treinador da tal Julia entrando, o que significava que o Michael deveria estar indo falar com a Erika também.
– Certo, vamos atualizar a guitarrista sobre o que vai acontecer – eu falei tirando sarro de Alex – Kat, dá a ficha completa da oponente da nossa querida Erika.
– Julia Houfman, 25 anos, cinco lutas na carreira profissional, cinco vitórias, três submissões e um nocaute – começou a citar Katerine – Especialista em imobilizações e luta no chão. Golpe mais forte são os socos com a direita. Pesa 61Kg com 171cm de altura.
– É loira, cabelos curtos olhos azuis e tem uma bunda de dar inveja – falou Henry como se completasse o relatório de Katerine, mas logo depois ele e Frederick começaram a rir.
– Babacas, os dois – falei rolando os olhos – Ficha completa era a ficha de lutadora seus panacas. Por isso vocês dois não arrumam ninguém – falei ainda irritada com a brincadeira ridícula.
– Certo certo – falou Alex que tinha acabado por rir dos dois idiotas também – E a Erika? Eu nunca perguntei sobre ela como lutadora….
– Erika Anderson, 24 anos, 180 cm, 61Kg. Especialista em chutes frontais e técnicas em pé. Nenhuma luta profissional, sem outros registros oficiais – disse Katerine outra vez – E se vocês dois disserem alguma coisa dela eu juro que conto pra Erika pra que vocês apanhem bastante da próxima vez que treinarem com ela – completou Kat se inclinando pra frente e virando o rosto para encarar os dois idiotas com um sorriso; meio óbvio que eles não disseram nada, o que fez Alex rir também.
– Correção – falei rindo junto – A Erika está com 60,5Kg hoje. Mas acho que ala não vai dar conta de manter esse peso por muito tempo. E olha lá a tal Julia – falei ficando séria ao encarar a garota chegando perto do octógono.
Havia um árbitro registrado pra arbitrar a luta e alguns treinadores conhecidos pra servirem de juízes e dar as pontuações. Julia entrou com um short de MMA preto e colado e um top também preto e sem nenhum emblema; ela parecia confortável e segura do que estava fazendo. Usava luvas vermelhas e o cabelo loiro não era tão curto e estava preso em uma trança bem apertada. Alex encarou ela com os olhos bem abertos e atentos.
– Sério – ela disse depois de alguns instantes – Porque é que eu demorei tanto pra me interessar por UFC feminino??? – ela perguntou olhando pra mim – As lutadoras são incrivelmente gostosas!!
– Concordo plenamente – falou Henry rindo com Frederick e Alex; eu e Kat só rolamos os olhos.
– Vocês três são idiotas – comentou Katerine tão indignada quanto eu.
