Nightingale

Capítulo 27 – Carmen Lancaster

POV Alex

– Ela já foi?? – perguntou minha mão quando apareci sozinha na cozinha; ela já tinha trocado de roupa e colocado um vestido florido, soltinho e bem comprido.

– Mãe – falei abaixando a cabeça – Não acredito que você falou aquilo da Erika ser mais educada que meus amigos. Não acredito. A senhora geralmente não me faz passar vergonha assim sabia??

– Ai Alex – ela riu de mim enquanto eu me sentava no banco em frente ao balcão – Era justamente isso que eu queria fazer – disse ela ainda rindo.

– Nossa mãe, valeu mesmo hein – falei deitando a cabeça no mármore do balcão e ela parou de rir.

– Eu não esperava que ela fosse daquele jeito – comentou ela colocando um copo de suco na minha frente, nem me movi para pegar – Sabe, nada contra a Tiffy e os rapazes, mas ela é muito mais educada e calma. Sinceramente, acho até que posso dizer que prefiro ela à Tiffany. Que aquela loira não me ouça, mas Erika me parece mais bonita do que ela.

– Bonita, gostosa, inteligente, educada, com bom gosto, divertida, até posso dizer fofa porque conheço um lado dela assim – listei com um suspiro – Mas hétero – conclui com um tom mais triste do que esperava – Então não faz diferença a senhora ter gostado dela, não vai rolar nada.

– E desde quando uma garota se dizer hétero é empecilho pra você, Alex? – perguntou minha mão sentando do meu lado e colocando uma mão nas minhas costas.

– Desde que a garota é a Erika – falei triste – Ela não é uma garota que você encontra numa festa/boate/balada que se diz hétero, mas que com a conversa certa pode ser conquistada. Erika nunca seria encontrada em um lugar desses. Erika nunca cairia numa conversa boba. Erika nunca seria a garota de uma noite. Não dá pra conquistar uma hétero do tipo dela.

– Você não está Só interessada nela não é? – perguntou minha mãe com um tom calmo e compreensivo que ela não usava comigo a muito tempo – Ela não é como Tiffany e as outras pra você….Alex você está gostando dela de verdade não está?

Eu não precisei responder, o suspiro que saiu depois de ouvir ela dizendo isso foi resposta suficiente pra minha mãe me abraçar com carinho. Ela ficou assim comigo por vários minutos até eu soltar uma respiração profunda e me erguer. Peguei o suco e tomei um pouco, era de laranja.

– Se ela é diferente, conquiste ela de um jeito diferente – falou a voz da sabedoria chamada Senhora Lancaster.

– Mãe….não dá. Eu…..olha eu até tentaria antes, mas agora….Eu já estraguei tudo antes mesmo de ter a chance de começar – falei num tom cansado.

– O que aconteceu? – ela me perguntou sendo direta de um jeito que se pareceu mais com a Dra. Lancaster do que com minha mãe.

– Sem o lance de falar como a “Advogada”; seja só a minha mãe agora por favor – pedi olhando pra ela com um olhar irritado e vi ela mudar a expressão e suspirar.

– Me desculpe, mas…Ela é o motivo de você ter passado essa ultima semana parecendo um zumbi não é? – acabei concordando com um movimento de cabeça – O que houve?

– Foi no ultimo show….Teve a ultima musica e… – suspirei – Eu cantei a minha parte olhando diretamente pra onde eu sabia que ela estava…… Mãe eu podia olhar e achar ela na multidão sem esforço nenhum. Eu cantei e…só olhei pra ela. A Tiffany notou e…ela se irritou muito e…acho que notou que eu não estava só de brincadeira com a Erika. Quando o show acabou Erika e a Melissa, a namorada do Ted, vieram nos ver e…Não vou mentir: não pude esconder a minha animação. A Tiffy ficou puta, brigou com a Erika, gritou, puxou briga…e a Erika não fez nada. Mas…..eu senti que ela estava irritada de verdade mesmo fingindo estar calma. Então a doida da Tiffany acertou um tapa na Erika….um tapa daqueles de estralar, mãe! E daí eu parti pra cima da loira, mas foi a própria Erika que me segurou. Acho que ela ficou com raiva da Tiffany agindo como se fosse a dona de tudo e quis mostrar que a loira não mandava nem em mim e nem nela. A Erika me deu um selinho pra provocar a Tiffany, mãe.

– Ela o que??? – exclamou minha mãe naquela hora; ela tinha ficado quieta e aceitado normalmente a loira dar um tapa em Erika, mas ficou surpresa quando eu falei que a morena me deu um selinho, tive que rir disso – É sério mesmo Alex??? Ela realmente beijou você?????

– Era pra ser só um selinho, mãe. O tipo selinho inocente quase, porque ela não me beijou direto na  boca, pegou mais pro canto – falei sorrindo ao lembrar daquilo, mas logo fiquei séria de novo e suspirei – Eu tinha brincado com a Erika mais cedo….e dito que nunca a beijaria. Mas…..quando senti os lábios dela eu….perdi o controle. Simples assim; eu perdi o controle. Ela tava tão perto – falei encarando o nada a minha frente e lembrando da cena – Bem ali. Completamente nos meus braços. Eu não resisti.

– Não me lembro de você voltar com marca de tapa no rosto naquele dia – falou minha mãe rindo, provavelmente da minha cada de idiota – Ela acertou em outro lugar, foi?

– Ela me beijou de volta – falei num tom que dizia claramente que nem eu mesma acreditava naquilo.

– Talvez…. – minha mãe começou a dizer depois de vários minutos de silencio.

– Não há talvez – eu falei antes dela – Eu até pensei que havia, mas…. – coloquei a mão esquerda sobre o rosto e apoiei a cabeça nela – Foi o melhor e mais simples beijo da minha vida – falei com o inicio de um sorriso – Mas quando acabou ela saiu sem nem me olhar, e foi embora sem querer falar comigo. E depois me ignorou por uma semana. Eu cheguei a pensar nesse talvez mãe, mas depois de hoje….

– Hoje? O que houve hoje? – ela me perguntou colocando as mãos sobre meus ombros.

– Ela agiu como se aquilo não tivesse acontecido. E nas duas vezes que eu tentei levar o assunto para aquela noite ela claramente desviou pra longe e fingiu não ouvir nenhuma das minhas menções ao beijo. Aparentemente ela ficou essa semana toda ponderando se nossa amizade valia o bastante pra ela ignorar aquele único beijo – falei suspirando – Ao menos eu ainda sou uma amiga pra ela.

– Alex….não era só isso que a linguagem corporal de vocês dizia quando eu entrei naquele quarto – falou minha mãe me fazendo rir – É sério filha.

– Mãe, proximidade não é interesse – eu disse num tom cansado.

– Não, não é. Mas o jeito com que ela se afastou de você quando eu cheguei indica que, pra ela, aquela proximidade era mais do que deveria ser – minha mãe falou fazendo carinho nos meus cabelos – Se ela se afastou de você quando eu cheguei significa que, pra ela, aquela não era uma distância na qual alguém deveria ver vocês.

– Ela é tímida – falei como explicação.

– Ela é educada. Educação não é timidez – retrucou minha mãe – E uma pessoa tímida não me encararia como ela encarou. Ela olhou diretamente pra mim.

– Mãe, você não vai me convencer que eu tenho uma chance que sequer existe – falei me levantando e deixando o copo pela metade.

– Você mesma disse que ela é diferente – falou minha querida mãe antes que eu conseguisse sair da cozinha – E se for exatamente ela a pessoa certa pra você? Vai deixa-la cair nas mãos de outra pessoa só porque você não vê uma chance de tê-la?? Ela nunca te disse não, filha. Essa é a sua chance. Se ela é diferente, conquiste-a de um jeito diferente. Use coisas que você nunca usou com as outras. Fale, faça, demonstre tudo o que você não falava, fazia e demonstrava quando estava com as outras. Lute por ela.

– E se não funcionar? – perguntei num tom angustiado.

– Então você vai saber que ao menos fez tudo o que estava ao seu alcance – disse minha mãe num tom calmo.

Talvez ela tivesse razão. Talvez eu devesse mesmo pensar no que fazer pra conquistar a Erika. Mas essa, com toda a certeza do mundo, seria uma tarefa incrivelmente difícil.



Notas:



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