Nightingale

O ‘camarim’ nada mais era do que uma sala com alguns sofás que ficava em um corredor que ficava perto de uma saída e ao lado do palco. Lá dentro a banda inteira estava rindo e conversando sobre a apresentação enquanto bebiam algumas coisas. Quando as duas entraram, com Melissa arrastando Erika pelo pulso, todos pararam o que estavam fazendo para olhar a porta, menos um deles. A guitarrista que estava animadamente pulando sobre um dos sofás no ritmo de uma musica que tovaca ao fundo vindo da segunda atração da noite enquanto ria de algo continuou a pular como se nada estivesse acontecendo.

– Mel!! – exclamou o baterista da banda indo na direção das duas – Você veio mesmo – ele falou abraçando Melissa que já tinha largado Erika.

A mais alta apenas encostou-se à porta e ficou quieta ali enquanto a colega abraçava e beijava o “quase” namorado. Enquanto olhava para dentro da sala os olhos azuis de Erika encontraram um tom castanho esverdeado que prendeu o olhar dela. Era a guitarrista, que continuava a pular sobre o sofá, mas a uma altura bem menor, finalmente notando a presença das duas.

– Ted, essa é uma colega minha, Erika – disse Melissa fazendo a mais alta voltar seu olhar para a garota e o rapaz.

– Hey – cumprimentou Erika erguendo uma mão e depois cruzando os braços.

– Então essa é a tal Melissa – falou a guitarrista pulando do sofá ao chão, Erika sabia que ela era baixa, mas não achou que fosse tanto.

– Oh, nossa. Deixa eu apresentar todo mundo direito – falou o rapaz meio atrapalhado – Gente, essa é a Melissa. Mel, esses são Jimmy – ele apontou para o pianista que sorriu amigavelmente – Anton – o baixista acenou com um sorriso também – Tiffany – ele se virou na direção da loira que sorriu também – E essa aqui é a Alex.

– Oi – disse a guitarrista sorrindo animadamente – O Ted tinha mesmo razão, você é muito bonita.

– Obrigada – respondeu Melissa rindo – Eu e Erika vimos o show inteiro, vocês foram incríveis, não é Erika?

– É, são muito bons – respondeu a mais alta sem expressão alguma enquanto continuava de braços cruzados.

– Nossa que animação – falou Alex chegando perto da maior – Cadê a empolgação, os elogios, e o resto todo hein? – ela perguntou brincando.

– Vocês são bons – falou Erika encarando a garota de olhos castanhos esverdeados – Isso já não foi elogio?

– Alex, qual é, deixa a garota – falou a loira puxando de leve a parte de trás da camisa xadrez.

– Eu não fiz nada Tiffy – falou a menor sorrindo – É só que eu meio que achei que essa garota aqui esta um pouco apática demais e resolvi agitar um pouco as coisas.

– Garota, você tem problemas – falou Erika rolando os olhos – Melissa eu espero você no carro.

– Mas..Mel eu achei que você fosse vir com a gente – falou Ted com uma expressão surpresa nos olhos castanhos fixos em Melissa.

– Ted, acho que você tem concorrência – brincou Alex rindo.

– Agora pegou pesado – sussurrou a loira olhando para o lado no mesmo instante em que Melissa fez uma cara estranha e Erika encarou Alex com uma sobrancelha erguida e uma expressão irritada.

– Você é muito abusada não é?? – perguntou Erika se aproximando de Alex com uma expressão séria e um tanto irritada; a menor manteve o sorriso de lado encarando a expressão da outra – Você nem me conhece. Acha que é inteligente brincar com uma pessoa que você não conhece??

– Vai fazer o que? – perguntou Alex mudando a expressão para uma entediada – Você também não me conhece. E qual é! Olha só pra você com essa cara de mau. Odeio essas pessoas que vem ver algo do qual não gostam só pra falar mal depois. Se não queria assistir a gente, que ficasse em casa. Agora vir aqui e ficar tratando o que a gente fez como se não fossemos nada. Isso eu não vou aceitar. Então brincar com você se torna ainda mais proveitoso pra mim.

– Você é arrogante demais pro seu tamanho sabia? – disse Erika soltando uma falso riso – Acha que eu vim aqui falar mal da sua brincadeira de tocar musica? Ora por favor. Eu tenho mais o que fazer além de me intrometer na vida dos outros.

– Brincadeira?? Você é que esta provocando agora e depois a arrogante sou eu??? – falou Alex ficando com uma expressão irritada – Olha aqui senhorita “Eu sou malvada”. Vai se ferrar! Acha que põem medo em mim?? Pois não funciona comigo! Acha que essa sua vidinha medíocre fazendo merda nenhuma que te agrada vai te levar a algum lugar? Não vai! Ao menos eu estou lutando por algo que eu quero. Enquanto você e o resto fica choramingando pelos cantos correndo de volta pra mamãe e pro papai na primeira merda que dá errado.

– Eu não sou obrigada a ouvir essas suas besteiras – murmurou Erika tentando se controlar o que a fazia respirar de um jeito mais profundo e pesado – Eu não sou mesmo obrigada a isso. Melissa eu saio 5 minutos depois de entrar no meu carro, quem não chegar fica sem carona.

Enquanto dizia isso Erika ficou encarando Alex de perto e, assim que terminou de falar, se virou e começou a sair da sala. Só que a menor respondeu alto antes que ela conseguisse chegar a porta:

– Isso ai, foge da briga! Sabia que essa cara feia era só fachada – o pianista Jimmy segurou o braço de Alex dizendo para ela calar a boca, mas a garota continuou mesmo assim – Foge da briga mesmo, vai correr pra mamãe.

Alex estava claramente descontrolada de raiva quando disse aquilo. Erika travou a um passo da porta assim que a menor terminou de falar. A morena respirou fundo ainda de costas para todas antes de se virar. Sua expressão era séria, mas não parecia brava nem irritada, o que a deixou um pouco mais assustadora já que os olhos azuis brilhavam num tom escuro, mesmo na sala mais iluminada. Calmamente ela voltou os passos que havia dado anteriormente se aproximando mais de Alex que ainda era segurada pelo amigo. Quando parou elas estavam a menos de um palmo de distancia uma da outra o que fazia Alex ter que erguer a cabeça e Erika ter de abaixar a sua para continuarem se encarando.

– Eu não sei o que você pode achar que sabe sobre as pessoas – falou Erika num tom calmo, tão calmo que pela primeira vez Alex ficou assustada com o tamanho da garota – Mas eu não sou o tipo que foge de uma briga.

– Mas era exatamente o que você estava fazendo – retrucou a menor com a voz firme, mesmo tendo ficado abalada pelo olhar da outra.

– Não – continuou Erika no mesmo tom calmo – Eu não estava fugindo de briga nenhuma, porque nunca houve uma briga aqui. Isso porque eu não considero a possibilidade de surrar alguém como uma briga. Agora eu vou passar por aquela porta e voltar pra minha casa de onde eu não deveria ter saído. E você, fique com suas opiniões estúpidas sobre as pessoas.

Quando passou pela porta Erika a bateu com força fazendo um barulho enorme; só então todos na sala voltaram a respirar. Melissa engoliu em seco e praticamente caiu sentada no sofá.

– Você não deveria ter dito isso Alex – ela sussurrou e então repetiu alto o bastante – Você não podia ter dito isso.

– O que eu fiz? Não se pode nem mais dizer a verdade na cara dos outros agora?? – reclamou Alex, mas ela também tinha se assustado com a cena anterior.

– Quando eu disse que ela é uma colega, eu não me referia a uma das minhas colegas da universidade – disse Mel suspirando pesado – A Erika treina na mesma academia que eu. Eu faço as aulas de defesa pessoal lá e ela é a ajudante do treinador, então a gente meio que treina junto. Só que a Erika é lutadora mesmo. Alex, ela luta de verdade.

– Tá. E dai? – disse Alex dando de ombros – Eu ia levar uma surra, se brigasse com ela mesmo, mas aposto que eu bateria também.

– Alex, você não podia ter falado a frase “vai correr pra mamãe” – especificou Melissa suspirando – A Erika vai me matar depois dessa. Você não tem noção.

– Peraí, qual é o grande problema aqui? A mãe dela morreu ou o que? – disse Alex já ficando irritada – Ela insultou o meu trabalho chamando ele de brincadeira, queria que eu tivesse ficado quieta???

– Ela veio aqui por causa de uma aposta com uma amiga minha, ela só veio porque ia dar carona pra gente na volta. A Erika sequer conhecia a banda, mas gostou do som. Só que ela não é do tipo que elogia. E você tinha que pisar na ferida – falou Melissa se levantando – Ela mora sozinha porque os pais a expulsaram de casa Alex. E agora ela vai querer me matar por ter forçado ela a vir aqui pra conhecer vocês.

– Uou…..expulsaram ela porque? – perguntou Alex ficando surpresa com a notícia – Quero dizer….eu não devia mesmo….mas é que….bem…eu me exaltei, poxa….E ela provocou também – disse a guitarrista meio sem jeito – Porque a expulsaram?

– Porque ela quis lutar – respondeu Melissa calmamente encarando Alex e vendo que a garota tinha ficado arrependida.

Mel conhecia a história da banda, tinha acompanhado a carreira deles desde o começo, antes mesmo de conhecer Ted pessoalmente e começar a gostar do baterista. Por isso ela sabia que Alex tinha tido problemas com os pais por ter largado os estudos para se dedicar à musica. Só que depois de alguns meses os pais de Alex resolveram apoiar a filha naquela decisão e passaram a ajudar quando ela deixava que o fizessem. Saber que havia dito o que disse pra alguém que, mesmo que quisesse, não poderia voltar para a casa dos pais pedindo ajuda deixou a guitarrista muito mal. Isso porque ela sabia o que era ficar sem apoio e não era nada legal. Mas o que tinha sido dito já estava dito e não tinha volta.