Nightingale

Capítulo 31 – Planos para um dia complicado

POV Erika

Sai do banheiro com uma regata azul clara larga, uma das que eu costumava usar para dormir, por cima de um dos meus tops mais confortáveis que era preto. Coloquei também um short cinza que chegava até um pouco mais da metade da coxa, que era um dos mais compridos que eu tinha pra dormir. Como já era quase fim de tarde eu decidi que poderia ficar apenas em casa sem fazer nada. Quando sai com a toalha na cabeça Alex estava toda esparramada na minha cama, encarando o teto e parecendo pensativa.

Ela me encarou quando me viu sair, eu pude sentir o olhar dela no meu corpo e isso me deixou desconfortável como sempre. Para disfarçar eu fui para o guarda roupas pegar um creme que eu usava no cabelo as vezes, era um tipo de creme pra pentear que a Beth me mandava junto com os sabonetes as vezes.

– Nunca perguntei de onde você tira essas coisas – comentou a guitarrista – Os sabonetes e esses cremes que te vejo usar de vez em quando, eles não tem rótulos de marcas nem nada. De onde você tira isso??? Cê não me parece o tipo que sai por ai procurando onde comprar essas coisas.

– E não sou mesmo – respondi dando uma risada quando a ouvir rir da própria observação – A Beth tem uma loja, ela produz quase todos os produtos de beleza que usa e que vende. Os sabonetes ela manda porque sabe que eu gosto do cheiro de lavanda, mas que não vou me preocupar em achar algo assim por aqui. As vezes ela manda esses cremes ou shampoos ou outras coisas que ela tá começando a desenvolver pra eu testar.

– Hmmm – ela comentou parecendo ter aceitado a resposta, quando me virei ela ainda estava na mesma posição, mas agora encarando o teto de novo.

Com uma mão terminei de secar o cabelo depois soltei a toalha pendurada na porta do guarda-roupas. Espalhei o creme, que tinha cheiro de eucalipto, nas mãos e passei no cabelo deixando os fios bagunçados. Então guardei tudo e peguei a toalha levando ela até o varal que eu tinha perto da janela. Estendi ela ali e dei a volta na cama, colocando os all-stars da Alex um do lado do outro quando passei por eles. Então sentei no colchão do lado direito, que era sempre o lado que ficava pra mim quando Alex aparecia por aqui. Notei a mochila dela um pouco mais cheia do que o comum e entendi que ela iria passar a noite por aqui.

– Como vai a coisa da moto? – perguntei me sentando de pernas cruzadas e alcançando o controle da televisão; ela tinha comentado comigo a umas semanas que estava tentando convencer o cara a fazer um preço melhor pra ela.

– Aaahh – ela fez numa voz triste – O desgraçado tá me enrolando – reclamou fazendo um bico de criança manhosa – Diz que tem outro cara interessado e que ele está disposto a pagar o que ele tá pedindo, mas esse tal cara tá interessado e disposto a quase um mês e nada. Ou seja, ou o cara tá enrolando ele ou ele é que tá me enrolando com essa história. Eu aposto na segunda opção.

– É, também acho que deve ser a segunda – falo rindo do jeito emburrado dela, mas aquilo me fez ter uma ideia – Hey, acho que posso ajudar você – eu comento me deitando do lado dela, mas mais pra cima com a cabeça mais nos meus travesseiros; Alex olha pra cima com uma expressão curiosa e em expectativa – Porque não fazemos assim, você vai lá e começa a conversar com o cara. Daí um dos seus amigos aparece depois, como se fosse mesmo um cara interessado, mas depois de olhar a moto e ouvir o preço ele diz algo como “não vale tudo isso” ou “ninguém vai pagar isso ai”. Dai oferece uma quantia menor do que a que você tá querendo pagar.

– A ideia seria perfeita, se eu já não tivesse levado todo mundo lá pra me ajudar a convencer o cara antes – ela falou fazendo um bico enorme abaixando a cabeça como se não acreditasse que tinha feito essa mancada.

Tive que rir e ela me bateu com um travesseiro ficando indignada com isso.

– Vai, não fica assim – falei ainda rindo baixo – Posso ir lá com você – digo parando de rir e pensando.

– Mas você tá treinando – ela falou – Não pode ir comigo assim, perderia uma tarde inteira de treino.

– Eu não vou treinar amanhã – falei com um suspiro e encarei o teto, sinto o olhar dela em mim – Amanhã é….É o dia da morte do Phill. Eu….sempre passo esse dia longe de treinos e essas coisas. Geralmente só fico o dia todo em casa encarando o teto – falei e suspirei fechando os olhos – É meu jeito de….Eu não posso ir visitar o túmulo dele sabe…..então faço isso.

– Acho que fiz muito bem em vir dormir aqui hoje então – ela falou se sentando e olhando pra mim com um sorriso triste, eu forcei um pequeno sorriso e ela rolou os olhos; então senti a mão dela segurar a minha – Posso passar o dia com você amanhã?? Assim você não fica sozinha esse ano – ela perguntou com um tom sério – Podemos ver a coisa da minha moto outro dia, depois da sua luta.

– Amanhã a tarde – eu falei decidida – Sabe….meu irmão amava carros e motos quase tanto quanto amava cavalos. Acho que ele gostaria que eu ajudasse alguém a resgatar uma raridade do mundo automobilístico – falei brincando com o assunto; mas era um fato pra mim que eu realmente queria que ela ficasse comigo amanhã.

Era a primeira vez em anos que eu realmente não queria ficar sozinha nesse dia.

 

POV Narradora

Depois daquela conversa as duas foram assistir filmes. Alex tinha vindo com várias opções e elas ficaram algumas horas entretidas em um filme de corridas. Perto das 8h da noite Alex foi tomar um banho e Erika resolveu fazer algo para as duas comerem. A lutadora resolveu por fazer alguns sanduíches com queijo e peito de peru, porque seria algo mais leve e ela não podia comer qualquer coisa, então seria com pão integral, alface e tomate que era o que ela tinha em casa. Ela arrumou tudo e começou a montar vários desses sanduíches.

Enquanto isso Alex tomou seu banho e vestiu uma calça de pijama amarela e uma regata justa de um verde claro, o cabelo estava preso em um coque quando ela saiu do quarto para ver o que Erika fazia. A morena estava de frente para a pia, um saco de pão integral aberto do lado esquerdo e, pelo que Alex via, vários sanduiches prontos em um prato do lado direito dela.

A cena era tão tranquila que Alex não conseguiu não se imaginar chegando por trás da morena e a abraçando pela cintura como se fossem namoradas morando juntas. Na verdade por vezes a menor imaginava essas cenas de casal envolvendo ela e a lutadora por causa da intimidade que as duas tinham. Isso fez Alex repensar na tal aposta e em se deveria ou não fazer aquilo. Se Jimmy estivesse certo ela teria que cantar aquela musica, coisa que ela não gostaria de fazer. No entanto, se ele estivesse mesmo certo…cantar aquela musica seria mais do que apenas se declarar para Erika.

 

~Flashback on~

– Vamos Alex – falou Ted rindo depois de Jimmy ir embora – Você mesma disse que pra conquistar ela tinha que fazer tudo diferente do comum pra você. Quantas vezes cê cantou uma musica pra uma garota???? Porque eu sei que isso nunca aconteceu, assim como acho que você nunca sequer pensou em fazer isso por alguém. Agora….olha, ele nem sugeriu que você cantasse algo que você escreveu, é só um cover, bem menos intimo pra você.

– Mas isso diz tudo, Ted – falou a guitarrista olhando a letra – Cada coisa que….Cantar isso pra ela é admitir diretamente que eu a amo. Se ela não me amar de volta….Eu posso perde-la pra sempre.

– Mas, se ela te amar e só não estiver certa de que Você está mesmo apaixonada, o que é bem possível visto a sua fama de conquistadora…. – ele deixou a frase no ar.

– Se for isso….essa seria a forma perfeita de mostrar que eu a amo – sussurrou a guitarrista completando o amigo.

~Flashback off~

 

– Hey, o que tá fazendo?? – perguntou a menor se aproximando, ela tinha acabado de decidir que faria o que Jimmy havia dito pra fazer.

– Sanduiches saudáveis – comentou Erika rindo sem se virar – To terminando os últimos, vamos ver outro filme ou jogar algo?? O que você prefere fazer??

– Filme – respondeu a menor – Vou lá arrumar outro dos que eu trouxe, é um policial. Bem legal.

– Ótimo – respondeu Erika continuando a montar os sanduiches.

Alex sorriu sem a maior ver e voltou para o quarto, colocou o filme e deixou pronto para começar. Então ela se virou e encarou a cama/colchão. Ela respirou fundo e se deitou quase que no meio do colchão se encostando contra a parede com dois dos 4 travesseiros que Erika tinha. Não demorou muito e a maior voltou com dois pratos cheios de comida e uma garrafa de suco de laranja.

Erika nem pareceu notar que Alex tinha deitado muito mais perto de onde ela geralmente ficava, a morena apenas estendeu os pratos para a menor e se deitou do lado dela logo depois. O fato dos braços ficarem tão próximos que quase se tocavam foi, aparentemente, ignorado. As duas começaram a comer e dividiram o suco da garrafa. Perto da metade do filme a comida acabou e Alex se deitou mais confortavelmente para assistir.

A guitarrista já tinha visto o filme, mas Erika não e a morena parecia realmente curiosa e interessada no que acontecia na tela da TV. Enquanto isso Alex, hora ou outra, desviava o olhar para ela. O filme estava no final e a guitarrista estava realmente pegando no sono, não era apenas fingimento, ela estava cada vez mais cansada e seus olhos se fecharam antes do filme acabar.

– Não acredito que o culpado era ele – comentou Erika quando o filme acabou, mas o silencio ao seu lado a fez virar o rosto.

Alex estava de olhos fechados, o rosto muito perto de onde a morena estava. Uma expressão calma, fios de cabelo, alguns azuis, caindo sobre o rosto. A morena encarou a cena com um olhar calmo. Alex estava meio de lado, as pernas enroladas no cobertor. O corpo praticamente ocupando todo o meio da cama e abraçando um travesseiro. A respiração regular fez Erika acreditar que a menor estava mesmo dormindo. Não que ela não estivesse; em algum lugar de sua mente entre o a consciência e o sono Alex sabia o que estava acontecendo e conseguia raciocinar sobre isso, mas no momento era apenas isso.

Acreditando que a guitarrista estava dormindo Erika se deitou melhor chegando um pouco mais perto da menor. Com a mão direita ela afastou os fios que estavam sobre o rosto de Alex, colocando-os para trás da orelha da garota. Um pequeno sorriso calmo surgiu nos lábios da morena enquanto ela olhava o rosto de Alex. Inconscientemente Erika tocou de leve a lateral do rosto da guitarrista.

Era um toque gentil enquanto ainda encarava o rosto adormecido da menor. Então Erika passou o polegar de leve pela bochecha de Alex antes de suspirar. A morena levou a mão pela lateral do rosto de Alex até os cabelos macios da menor, então se inclinou na direção da guitarrista. Os lábios de Erika tocaram a testa de Alex, um beijo calmo e lento que durou vários segundos. Depois disso Erika ainda ficou encarando de perto o rosto da menor, sua respiração batia no rosto de Alex o que ajudou a menor a perceber a proximidade.

– Bons sonhos guitarrista – sussurrou Erika com uma voz baixa e carinhosa antes de acariciar novamente o rosto de Alex e deixar um segundo beijo entre as sobrancelhas da menor.

O ultimo pensamento consciente de Alex foi: “Jim acertou, não foi só um beijo de amigo carinhoso…..talvez…só talvez….ela esteja sim gostando de mim”. Depois disso a menor realmente apagou completamente se deixando levar por sonhos felizes dos quais ela não se lembraria, mas aquela talvez fosse a melhor noite de sono de Alex em anos.



Notas:



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