Nightingale

Capítulo 42 – Visitas

– Eu tenho que terminar a nossa comida – falou a menor com o rosto ainda no pescoço da morena que só suspirou com aquela informação, o que fez Alex rir e encarar os olhos azuis de Erika – Eu não vou dizer que te entendo, porque eu claramente não entendo……ao menos não a grande e maior parte do que está te acontecendo – falou a guitarrista com uma mão acariciando o rosto da morena – Mas você se assumir e aprender a entender o que a gente tem pode esperar no momento.

– Eu não tenho problema em entender a gente – falou a maior suspirando de um jeito cansado – Eu estar apaixonada por outra mulher não é complicação nenhuma pra mim. A complicação é o fato de eu “estar apaixonada” – falou ela com um sorriso – Isso é inédito pra mim.

– E como vamos encarar isso? – perguntou a menor erguendo uma sobrancelha.

-Comigo te colocando na minha vida de verdade – murmurou a morena – Nós não compramos as passagens de volta ainda….Você se importa de ficarmos até amanhã a tarde pelo menos??

– Não, sem problemas – concordou a menor e Erika deu um pequeno sorriso ainda com os braços sobre os ombros da outra – Agora eu tenho mesmo que ir terminar a comida – riu Alex beijando a outra rapidamente e se afastando – Macarrão com queijo, a única coisa que sei fazer de verdade numa cozinha, mas sem comentários sobre isso – ela brincou voltando pra perto do fogão.

– Não falo nada então – riu Erika – Vou arrumar aos pratos.

Em minutos Alex terminou de preparar e serviu dois pratos. Elas se sentaram uma ao lado da outra na bancada e comeram calmamente. Depois da conversa de antes tudo pareceu achar um lugar e elas estavam bem com isso. Erika não quis dormir então Alex a puxou para a sala onde as duas se sentaram, depois de alguns minutos a menor estava com os pés sobre a mesa de centro e a morena deitada com a cabeça sobre as coxas da guitarrista que estava com o controle na mão sempre procurando algo melhor para assistirem. Foi assim que Elizabeth as encontrou quando chegou em casa perto das 18h.

Erika encarou a amiga sem se levantar enquanto ela entrava deixando a bolsa na bancada da cozinha junto com as chaves do carro e das portas.

– Você foi fazer a ultima tentativa, não foi? – perguntou a morena enquanto a outra ainda estava de costas para as duas.

– Eu fui falar com alguns fornecedores Erika – respondeu a outra sem se virar.

– Você é uma péssima mentirosa – continuou a morena e Alex olhava de uma a outra sem entender absolutamente nada.

– Ai Erika – suspirou a outra e então Beth caminhou pra sala, passou por cima as pernas de Alex e, erguendo as pernas da morena se sentou do outro lado do pequeno sofá de 3 lugares – Sim, eu fui. Os médicos disseram que as chances são menores do que mínimas….que é quase impossível funcionar.

– Alguém pode me explicar, porque eu não to entendendo nada dessa conversa – pediu a menor olhando de uma pra outra.

– Quando meu irmão ficou sabendo da notícia de que tinha um tumor na cabeça ele foi internado. Era um câncer muito agressivo. Entre a internação e ele morrer passaram-se quase 25 dias – começou Erika encarando Beth – Um dia eu vim aqui pra ir com a Beth pro hospital e….eu encontrei ela aqui….e….

– E eu estava chorando sentada no chão da cozinha – completou Elizabeth vendo que Erika tinha ficado desconfortável com as lembranças – Eu disse pra Erika…chorando desesperadamente….que não ia suportar perder o Phill. Eu o amava e ainda amo. Eu disse que não queria perder o pai dos meus filhos…..que eu não iria querer outro homem depois dele….essas coisas.

– Foi quando eu tive a ideia – murmurou Erika suspirando – Inseminação artificial não é mais algo incomum….dei a ideia pra eles…. porque talvez funcionasse….

– O Phillip e eu tínhamos alguma reserva guardada….nós juntamos isso e encontramos uma clínica e…. Eu e ele não podíamos tentar pelo método tradicional. Os médicos também tinham dito que o tratamento tão agressivo as chances dele poder ter filhos se sobrevivesse eram baixas. Então resolvemos congelar o sêmen dele pra que…..quando tudo se acalmasse eu tentasse engravidar. Eu…no começo eu achei a ideia ruim, eu não queria perder ele, criar uma criança sem ele….mas quando ele morreu eu vi que era a minha única e ultima chance de ter um pedaço dele aqui de novo. Quando a Erika foi embora eu decidi começar as tentativas – ela falou encarando a televisão que mostrava a previsão do tempo em algum canal – A clínica disse que…..com o material guardado do Phill eu poderia ter até 10 chances….Só que durante os exames eu descobri um problema hormonal em mim…não era nada sério, mas com o tratamento para as inseminações isso iria se agravar o que poderia me deixar infértil depois de algumas tentativas…..Mas eu decidi tentar assim mesmo então comecei o tratamento hormonal pra aumentar as chances…..

– Nossa – murmurou Alex olhando de uma pra outra – Quem mais sabe disso?? – ela perguntou curiosa.

– Você – falou Erika olhando pra cima na direção do rosto da menor – Além de nós duas agora só você.

– Eu tinha muita vontade de contar – falou Beth com um sorriso triste – Mas as tentativas começaram a dar errado…..eu perdia uma atrás da outra….dai desisti de contar pra alguém.

– Por causa do tratamento com os hormônios ela tem que dar um intervalo de pelo menos três meses até começar tudo de novo…. – comentou Erika olhando pra amiga com uma expressão triste – Você não pode perder as esperanças ainda Beth. Ainda tem uma chance…..e….pra dar certo só precisa disso.

Alex olhou para as duas se encarando e notou a amizade e cumplicidade que havia entre elas, além da tristeza e desesperança por conta de ser a ultima chance que Elizabeth tinha de ter um filho do homem que amava. Então a menor simplesmente sorri e se levanta fazendo Erika ter que sentar no sofá.

– Chega pra lá – falou ela indo pra outra ponta do sofá e fazendo Erika e Beth mudarem de lugar, a garota senta do outro lado de Elizabeth e pega a mão de Erika colocando-a sobre a barriga da outra – Oi coisinha que eu não sei como chamar que tá dentro da Elizabeth – fala a guitarrista num tom mais infantil se inclinando na direção da barriga da outra e colocando sua mão junto com a da morena – Você tá ai que eu sei…ao menos ainda…porque você pode escolher ir embora…e não vai haver problema nenhum se quiser isso. O mundo aqui não é lá grandes coisas mesmo – continuou a guitarrista descendo do sofá e sentando no chão pra ficar com o rosto na altura da barriga de Elizabeth – Mas sabe – ela comentou com um sorriso, continuava com uma mão na barriga de Beth e Erika também não tinha puxado a dela – Tem uma pessoa aqui…que quer muito cuidar de você – ela fala olhando pra cima e rindo – Tá que você vai acabar tendo que cuidar dela também, porque eu sei que ela vai precisar mais de você do que você dela. Mas ela é uma pessoa incrível, mesmo eu conhecendo-a há menos de 24h – falou a menor fazendo as outras duas rirem, Erika desceu do sofá se sentou no chão se debruçando no móvel para continuar com a mão na barriga de Elizabeth – Ela quer muito poder ouvir você chamando ela de mamãe e mesmo que você não tenha um papai, porque o seu infelizmente já deixou a gente, vai ter uma tia incrível – falou Alex olhando pra Erika com um sorriso antes de continuar – Então…ela vai te ensinar muita coisa e vai contar do seu pai e…se tudo correr como eu espero, vou poder ser uma tia pra você também e te ensinar muitas coisas.

– Você vai ter uma tia normal e outra maluca – falou Erika sorrindo sem olhar para a menor que ergueu uma sobrancelha – E eu vou ter que controlar essa criatura que, se você vier pra cá, em pouco tempo vai ser menor que você também.

– Hey! Calúnia isso – resmungou Alex com tentando fazer uma expressão irritada.

– E eu vou ter que impedir ela de te ensinar certas coisas antes da hora – continuou Erika ignorando a menor – E a sua vida vai ser estranha e louca, mas posso garantir que muito divertida também.

– E é por essas coisas que a gente acabou de falar que você tem que vir pra cá – falou Alex voltando ao mesmo tom de antes – Pra conhecer a gente de verdade.

– Vocês duas são tão idiotas – falou Elizabeth e, quando as duas olharam pra cima, viram-na chorando em silencio – Duas grandes e fofas idiotas – ela emendou com voz de choro e Alex e Erika voltaram para o sofá abraçando-a e rindo.

——xxx——

– Quanto tempo até você saber se deu certo ou não??? – perguntou Alex curiosa.

Depois do ataque de choro e riso de Beth as duas trouxeram comida para ela e, enquanto Elizabeth comia sentada no chão, Erika voltou a se esticar no sofá, dessa vez com Alex a abraçando por trás.

– Uma semana e eu vou na clínica fazer um exame de sangue, o resultado sai em dois dias – falou ela limpando o canto da boca com um guardanapo – Duas semanas depois eu refaço o exame e……bem…eles disseram que vão repetir o exame de sangue até a quarta semana dessa vez……..

– Em resumo: a certeza é em dois meses – falou Erika suspirando e olhando o relógio da televisão – Acho que devemos ir dormir Alex, eu quero levar você comigo num lugar amanhã…e queria ir bem cedo…..

– Claro – concordou a menor sem nem se importar em pra onde seria – Beth a gente deixou tudo limpo, então tem só essas coisas que você tá usando agora pra lavar e…

– Alex – cortou-a Elizabeth – Vai dormir – ela disse rindo e a menor deu de ombros – E obrigada…..às duas.

——xxx——

– Sabe, você é a pessoa mais incrível que eu conheço – falou Erika quando, depois de se trocar e deitar, ficou encarando Alex arrumar as roupas que ela tinha bagunçado pra achar um short pra dormir.

– É, desarrumar uma mala inteira só pra achar uma peça é uma coisa da qual poucas pessoas são capazes – falou ela fingindo se gabar e rindo logo depois.

– Sua besta – falou Erika vendo a menor subir na cama e entrar em baixo do cobertor – Estou falando do você fez lá na sala.

– Ah….aquilo – murmurou Alex com um meio sorriso indo se deitar com a cabeça sobre as pernas da morena que ainda estava sentada, Erika automaticamente segurou o cabelo da guitarrista arrumando-o e tirando-o do rosto da menor – As vezes eu tenho ideias doidas que funcionam incrivelmente bem – falou ela sorrindo e abraçando a cintura de Erika como se fosse um travesseiro.

A maior riu enquanto passava seus dedos entre os fios castanhos e as mechas azuis, logo depois ela se deitou também, virando de costas para a guitarrista que a abraçou por trás.

——xxx——

– Alex – sussurrava a lutadora enquanto ficava com o rosto colado ao pescoço da guitarrista que só soltou um resmungo e virou enfiando o rosto no travesseiro – Alex – chamou Erika num tom mais insistente.

Vendo que a menor não iria se mexer Erika se deita sobre ela, usando os cotovelos para não apoiar todo o peso na menor, e começar a distribuir selinhos na nuca da guitarrista.

– Ai cara, faz isso não – pediu ela se encolhendo toda arrepiada e suspirando o que fez Erika rir um pouco.

– Levanta vai – disse a maior se erguendo e Alex virou o rosto para encarar o olhar da morena – Vai tomar um banho que eu te espero na cozinha.

– Não ganho beijo de bom dia? – perguntou a guitarrista num tom esperançoso.

– Já ganhou – falou Erika dando de ombros e saindo do quarto.

——xxx——

– Você é malvada pra acordar os outros – reclamou Alex chegando na cozinha.

Erika estava sentada perto do balcão de mármore e riu da guitarrista. A menor se sentou do lado da morena e a empurrou de leve com o ombro fazendo Erika virar o rosto na direção dela. Nessa hora Alex se esticou dando um beijo rápido na lutadora.

– Ah meu deus – reclamou Elizabeth rolando os olhos enquanto se virava para cuidar das panquecas que estava fazendo.

– Ah, Beth – Alex fez bico – Não me diga que você é daquelas pessoas que não pode ver casais do mesmo sexo se beijando.

– Eu tenho problemas com “CASAIS” – Beth frisou a palavra – Se beijando na minha frente – ela completa rindo – Heteros ou Homos; tanto faz. Vocês poderiam não fazer esse tipo de demonstração de carinho envolvendo saliva na minha frente, certo?

– Certo – riu Erika bebendo um pouco do seu café e Alex só riu concordando com a cabeça.

——xxx——

Eram quase 7h da manhã quando as três chegaram no cemitério. Erika ficou imediatamente tensa e triste o que fez Alex entrelaçar os dedos das mãos das duas, isso fez a morena tomar coragem e pedir para Beth esperar do lado de fora. Erika então guiou Alex até o mesmo túmulo no qual tinha parado após o enterro do pai. O túmulo de Phillip. A morena se sentou na grama sem se importar em sujar o jeans preto e Alex fez o mesmo sentando ao lado dela, as duas continuavam de mãos dadas.

– Oi Phill….desculpe ter demorado tanto tempo pra voltar aqui – começou Erika num tom baixo – Mas eu acho que você sabe bem os meus motivos não é? – ela pergunta soltando um pequeno riso – Bom eu….eu vim aqui hoje porque…eu queria te apresentar alguém. Essa é Alex, ela é guitarrista e tem sua própria banda.

– Oi – falou a menor com um meio sorriso – E essa sou eu, não achei que eu te conheceria tão cedo sabe. Infelizmente os motivos não são tão bons, mas olha….você pode ficar tranquilo porque…eu pretendo assumir o cargo e cuidar bem da Erika.

– Idiota – resmungou a morena sorrindo – Ela é uma boba idiota, mas…é uma pessoa incrível, mano. Incrível mesmo. E eu gosto dela de um jeito que é inédito pra mim.

– Devo dizer que eu sinto o mesmo – falou Alex como se estivesse se explicando – E as minhas intenções são as melhores possíveis.

– Você é muito idiota – falou Erika sorrindo e Alex sorriu de volta – Ok, Phill. Eu prometo não demorar tanto tempo da próxima vez. Tchau mano, te amo – disse ela se levantando e Alex fez o mesmo.

– Alex eu….eu quero ver meu pai agora – falou a maior com um olhar triste de novo e a guitarrista apenas respirou fundo e, segurando a mão da morena, caminhou com ela até o outro túmulo.

Erika se ajoelhou ao lado da terra, perto da lápide onde também havia uma foto, agora de um senhor com a barba meio branca, os cabelos e a barba eram pretos, apesar dos fios brancos já estarem tomando conta, era a mesma cor dos cabelos de Erika. Os olhos também tinham o mesmo tom azul escuro e profundo. A morena apenas encarou a foto e respirou fundo.

– Eu acho que você não aprovaria, pai – sussurrou Erika num tom muito baixo – Você não aprovaria muitas coisas na minha vida atual, mas…..isso eu acho que…nunca sequer conseguiria entender….Ou talvez entendesse – fala ela com um pequeno sorriso – O senhor sempre me surpreendeu com sua compreensão das coisas. Eu sei que estaria orgulhoso do que eu fiz…de onde estou chegando como lutadora. Você sempre gostou de esportes mesmo…. Eu só….queria ter tido a chance de contar pra você sobre ela com o senhor aqui…..pra eu saber a sua reação. Se aceitaria…se me odiaria ainda mais….se chegou a me odiar um dia. A mamãe nunca vai aceitar….ela nunca vai entender que eu não posso ser como ela….E eu não me importo mais pai. Mas….eu juro pro senhor, se um dia ela quiser me aceitar…se um dia ela…..mudar de ideia e…me aceitar do jeito que eu sou, eu juro pra você pai, que eu vou com todo o prazer do mundo esquecer todas as coisas ruins que ela disse e fez pra mim. Mas….enquanto isso não acontece…eu só queria que você soubesse que eu não estou mais sozinha – ela termina olhando pra Alex que tinha ficado em pé dessa vez – Tchau pai. Volto outro dia pra ver você e o Phill.

Erika então se levanta e Alex entrelaça os dedos das duas outra vez antes de começarem a caminhar para a saída do cemitério.


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