Nightingale

– O que acha da ideia?? – quis saber a guitarrista com um sorriso animado.

Ela e Erika estavam deitadas na cama da menor. Erika tinha acabado de voltar da consulta com o mesmo médico de antes e ele a havia liberado do uso do colete protetor, motivo pelo qual ela e Alex estavam agarradas na cama como não tinham podido fazer nas ultimas três semanas e meia. Erika ainda estava proibida de fazer qualquer tipo de treino porque isso poderia prejudicar a reorganização óssea, como havia explicado seu médico, então ela ainda ficaria mais 30 dias sem poder treinar.

Foi falando sobre isso que as duas voltaram do hospital e Alex teve uma ideia do que fazer com o tempo livre que ambas teriam, já que Anton teve que prorrogar a viagem e a banda só voltaria aos ensaios e shows daqui 20 dias. A guitarrista tinha sugerido que ela e Erika fosse para Oregon ficar com Elizabeth por alguns tempo para ajudar a futura mamãe.

– Acho que eu tenho muita sorte mesmo de ter encontrado, sem nem procurar, uma pessoa tão incrível pra ter do meu lado – respondeu a morena com um olhar de admiração que fez Alex sorrir sem graça – A ideia é perfeita, e eu tenho certeza de que Beth vai adorar também. E você é a melhor namorada do mundo por ter pensado nisso – completou Erika rindo por causa da expressão incomum de constrangimento que Alex fez.

– Isso tem mesmo. Eu sou um exemplar único – falou a menor girando as duas devagar até estar por cima da morena que riu da frase dela.

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– Vocês duas o que???? – gritou Beth quando Erika contou que ela e Alex estavam para embarcar num avião para Oregon.

– Estamos indo passar uns dias ai com você – repetiu a morena rindo – Não se preocupe em nos buscar, eu vou alugar um carro no aeroporto mesmo. Nem pense em pegar a estrada pra vir nos buscar.

– Erika eu…eu nem sei o que dizer, porque só me contaram isso agora??? – perguntou Elizabeth num tom emocionado.

– Porque iriamos fazer uma surpresa, na verdade nem iriamos dizer que estamos indo, mas eu pensei melhor e achei que o susto seria grande demais para os seus hormônios em guerra – falou a morena rindo o que fez a outra bufar irritada – De toda forma, o nosso voo está para sair, então até logo mais.

– Tchau, Erika e boa viagem pra vocês duas – disse Elizabeth desligando sem esperar resposta por ter ficado irritada.

– Céus – riu a morena – Acho que teremos uma grande confusão até conseguirmos nos acostumar com as súbitas mudanças de humor da Beth.

– Tá tão ruim assim, é? – perguntou Alex rindo enquanto checava o painel com os voos que estavam chegando e saindo procurando o delas.

– Ela ficou toda surpresa e animada quando contei, no segundo seguinte já estava brava por eu não ter avisado antes – contou a morena rindo.

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O carro alugado dirigido por Erika parou em frente à entrada da loja de produtos naturais de Elizabeth. Como já passava das 18h da tarde a loja já se encontrava fechada. As duas então desceram, pegaram suas malas, trancaram o carro e entraram pelo pequeno portão lateral que dava acesso direto à escada que levava ao segundo andar do pequeno prédio. Mal elas chegaram no topo da escada e a porta se abriu revelando uma Elizabeth vestindo um moletom azul velho e com uma expressão emocionada que pulou em cima das duas quase as derrubando escada abaixo.

Só depois de vários minutos foi que elas conseguiram acalmar Beth e então as três puderam sentar e conversar. Primeiro Erika contou que ficariam de 20 a 22 dias com Beth o que fez a outra pular em cima da morena gritando de felicidade. Só depois de rir muito foi que Elizabeth contou que em 16 dias teria uma consulta onde faria o primeiro ultrassom. Pela data da implantação do embrião Beth estava com 70 ou 72 dias de gestação e, por precaução, eles começariam o acompanhamento por meio da ultrassonografia o mais rápido possível.

– Mas chega de falar de mim, me contem como estão as coisas com vocês duas – disse Beth se levantando e indo rapidamente na cozinha para pegar alguma coisa para elas comerem – Me digam mais sobre como está indo o namoro – falou ela rindo enquanto pegava algo na geladeira.

– Não é um assunto para se discutir – falou Erika rolando os olhos e ficando levemente corada.

– As mil maravilhas – respondeu Alex passando um braço em volta da cintura da morena – O namoro está indo as mil maravilhas.

– Vocês são duas bobas – riu Beth trazendo um prato com biscoitos cobertos de chocolate e se sentando ao lado de Erika que ficou no meio do sofá de três lugares – E o patrocínio, Erika? É bom?

– É ótimo, quando eu puder voltar a treinar ele vai cobrir todos os meus custos e ainda vai sobrar quase 20% pra que eu use pra mim mesma – respondeu a morena sorrindo animada pela mudança do assunto para algo em que ela ficasse confortável.

– Então agora você finalmente vai começar a cuidar de si mesma – falou Beth fazendo uma expressão séria – Porque, sério Erika, você passou os últimos anos simplesmente esquecendo de você mesma. Tem que comprar coisas pra você. Roupas novas, sapatos novos, essas coisas.

– Sim, Beth, ela vai fazer isso sim – falou Alex séria – Pode deixar que eu vou fazer ela prestar mais atenção nela mesma.

– Mudando o assunto – disse Erika suspirando, mas ela não afastou a mão da menor que a segurou pela cintura – E a gravidez? Como você está? Está se cuidando?? Já resolveu contar pra alguém??

– Estou me cuidando sim, não tem que se preocupar com isso. E não, ainda não contei nada a ninguém, mas vou ter que contar – falou Beth suspirando e encarando a televisão que mostrava um programa qualquer num volume muito baixo.

– Tem que contra pra minha mãe – falou Erika num tom sério e Beth fez uma expressão emburrada – Você sabe que tem. Ela é a avó dessa criança, é uma parte do Phill e ela sempre amou o meu irmão. Tenho certeza de que vai ajudar muito você quando sua barriga começar a crescer, quando você precisar de ajuda pra várias coisas.

– Ela vai querer controlar quantas vezes no dia eu respiro, Erika! – choramingou Elizabeth fazendo uma expressão emburrada e cruzando os braços.

– Eu sei que vai, mas ela tem o direito de saber – insistiu a morena.

Beth suspirou e olhou para as duas que estavam meio viradas para ela. Alex ainda com um braço em volta da morena e segurando a namorada perto de seu corpo. Elizabeth então soltou um suspiro longo e deu um pequeno sorriso colocando as pernas sobre o sofá e se deitando sobre a maior que abraçou a amiga.

– Judith não merece a filha que tem – falou ela rindo um pouco – Ela realmente não te merece Erika.

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Nos dias seguintes Erika e Alex ficaram o tempo todo com Beth. As duas ajudaram na loja, seja organizando as coisas ou carregando caixas de produtos. Erika ainda não podia carregar peso, então Alex ficou como a encarregada de fazer essa parte, mas a morena ainda ajudava quando era algo pesado demais, apesar dos protestos de Elizabeth e Alex. Elas também fizeram entregas, Erika dirigindo por conhecer a cidade e Alex descendo e entregando as encomendas. Mas no geral o movimento da loja era pequeno, mesmo nos dias em que haviam entregas a serem feitas.

Beth tinha poucos clientes fixos que sempre vinham até a loja, alguns deles se lembravam de Erika. Ficou bem claro logo nos primeiros dias que Louis tinha espalhado muito bem os rumores ruins sobre a ultima herdeira dos Anderson. Algumas pessoas olhavam Erika de um jeito desconfiado, outras com certo desprezo. Elizabeth e Alex ficavam com raiva a cada vez que isso acontecia, mas Erika não ligava nem um pouco. No entanto, depois da primeira semana as conversas que Beth tinha com as clientes mais próximas e a forma com que Erika agia na loja e fora dela começou a fazer as pessoas mudarem a forma de olhá-la.

Beth acabou sabendo que os boatos que Louis espalhou não eram apenas sobre a opção da morena. Aparentemente ele também havia dito muita coisa referente à ela ter se tornado uma pessoa desprezível, irresponsável, sem caráter e outras coisas piores. Mas a Erika que todos viam trabalhando com Elizabeth na loja era completamente diferente do que Louis havia espalhado. Ela era quase que exatamente a mesma de antes, só que agora mais sorridente, animada e receptiva a conversas.

Não demorou muito para Judith Anderson descobrir a presença de Erika na cidade, no entanto, o fato da morena estar com Elizabeth fez com que ela ignorasse completamente a presença da filha. Em 12 dias a presença das duas ficou algo comum para todos que frequentavam a loja de Elizabeth, e o clima lá dentro era algo tão bom que diversas pessoas às vezes paravam lá por longos minutos numa conversa que sempre envolvia todas as três.

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Era noite de sábado e Beth tinha ido deitar mais cedo. Erika e Alex ficaram assistindo algum filme na televisão, mas perto das 23:30h ambas se cansaram da história e resolveram ir deitar. Alex passou antes no banheiro enquanto que Erika foi direto para o quarto. A morena ergueu as cobertas colocando-as mais para o meio da cama, depois se sentou, tirou a camisa e se deitou. Logo depois Alex chegou e resolveu que dormiria só com a boxer feminina e a camisa larga que estava usando.

Era automático para elas se aproximarem uma da outra e foi o que fizeram assim que estavam as duas sob o edredom. Alex abraçou a morena pela cintura e colocou o rosto no pescoço da mesma fechando os olhos e inspirando o cheiro de lavanda. Erika desligou o abajur e abraçou a menor de volta, mas ficou encarando o teto porque não estava com sono realmente. Depois de alguns minutos daquele jeito Alex respira fundo e se ergue para olhar o rosto da morena que a encara confusa.

– Tá tudo bem? – pergunta a guitarrista erguendo uma sobrancelha.

– Claro – diz Erika com um pequeno sorriso – Só estou sem sono.

Alex encara o rosto da lutadora e, sem perceber, para o olhar sobre a boca da mesma por vários segundos o que faz Erika soltar um riso baixo.

– Desculpa – ri a guitarrista voltando a encarar a morena – Quer que eu traga um leite quente ou leia algo pra você? Talvez algo do tipo te ajude a dormir – diz ela tentando não voltar a encarar os lábios de Erika.

– Tudo bem com você? – pergunta a maior sorrindo e colocando uma mão no rosto da guitarrista que solta um suspiro e fecha os olhos.

– Desculpa – diz ela de novo apoiando o queixo sobre o peito da lutadora e suspirando ainda de olhos fechados – É que eu meio que to confusa comigo mesma.

– Me conta – pediu a morena fazendo carinho nos cabelos castanhos cheios de mechas azuis de Alex.

– Não quero te deixar com vergonha – brincou a guitarrista rindo um pouco, mas parando quando a morena respirou fundo – Não é nada, é só……abstinência – riu Alex virando o rosto e deitando abraçada sobre a morena.

– Alex? – chamou a maior achando que tinha entendido ao que ela se referia – Você….é……você está com….

– Tá tudo bem – falou a menor rindo um pouco e voltando a olhar para Erika – Eu não quero manter algo a base desse tipo de coisa. Eu não preciso de toda a pegação que eram meus relacionamentos antes de você Erika. Dormir assim com você todas as noites e acordar do seu lado toda manhã é o bastante.

– Não é não – falou a morena sorrindo por causa do jeito de Alex se segurar por causa dela – Você tá um pouco arrependida de termos vindo pra cá não tá? – perguntou ela e Alex só virou o rosto – Está se segurando por que sabe que eu não faria esse tipo de coisa na casa dos outros. Admita logo que sente falta disso.

– Você não sente – disse a menor suspirando e escondendo o rosto na curva do pescoço da morena – Então eu vou aprender a não sentir também.

– Quem foi que disse que eu não sinto? – murmurou Erika suspirando e falando baixinho enquanto olhava para o lado.

– Hein? – se surpreendeu Alex, ela se apoiou sobre as mãos e ficou com o rosto acima do de Erika encarando a morena com olhos arregalados e a boca semiaberta.

– Nada, não – falou Erika corando um pouco e segurando a menor pela cintura – Vem, vamos dormir logo.

– Nem pensar – sussurrou Alex se mantendo no lugar e virando o rosto da morena para que ela a encarasse – Agora você vai ter que se explicar, senhorita Anderson.

– Explicar o que, Alex?

– Você sente falta de dormir comigo no outro sentido que essa afirmação tem? – perguntou a menor com um meio sorriso.

– Sim – admitiu Erika olhando para baixo e desviando o olhar de Alex.

Aquela afirmativa foi o bastante para a guitarrista decidir parar de se segurar e beijar a morena com vontade. Sem nem mesmo pensar sobre isso Erika já estava correspondendo ao beijo com a mesma intensidade que Alex. As duas não passavam de beijos e abraços desde a luta de Erika, primeiro porque nas quatro semanas seguintes à luta a morena não poderia fazer esforço nenhum, e aquilo poderia com toda certeza ser incluído na categoria de esforço físico. E depois elas simplesmente decidiram visitar Beth e nenhuma das duas sequer tentou levar a situação mais a frente. Alex ficou na dela por saber que a morena gostava de ser discreta e Erika não conseguia fazer nada por pura timidez.

Só que a guitarrista pensava que a morena não sentia falta daquilo, até pelo fato de Erika ser nova nesse tipo de coisa. Saber que até a lutadora sentia falta dessa parte do relacionamento delas fez uma vontade renovada crescer em Alex. Por isso foi impossível para ela controlar as mãos que começaram a deslizar por toda a pele que podia alcançar enquanto ainda mantinha um beijo apaixonado e cheio de desejo. Mas uma hora elas tiveram de respirar e Alex passou a beijar o pescoço da morena enquanto as duas recuperavam um pouco de fôlego. Enquanto isso as mãos da guitarrista começaram a apertar a cintura e o quadril de Erika.

– Alex – sussurrou a morena – Para…não podemos fazer isso aqui. A Beth pode ouvir.

– É só você não gemer muito alto – sussurrou a menor no ouvido da lutadora de um jeito rouco enquanto escorregava as unhas curtas pelas laterais do corpo de Erika erguendo o top.

– Alex – falou a morena num suspiro surpreso e com um tom repreendedor.

– Grrr. Tá – grunhiu a menor mantendo o rosto no pescoço da morena e parando de mover as mãos – Eu parei, já parei…….caramba viu – ela resmungou baixinho e então suspirou se erguendo – Preciso de outro banho, um bem frio dessa vez.

– Alex? – chamou a morena com um tom receoso e triste quando a menor saiu de cima dela indo para o outro lado da cama.

– Tá tudo bem – disse a menor com um pequeno sorriso – Não tem problema, minha morena – ela disse vendo a expressão culpada de Erika e voltando a engatinhar sobre a cama até poder dar um selinho na namorada – Não tem problema. Quando você achar que é a hora certa ou o lugar certo ou o que mais for preciso estar certo a gente faz isso de novo. Eu sei esperar.

Elas se encararam por alguns segundos, Alex com um pequeno sorriso e Erika com uma expressão séria. O rosto da menor estava corado e os lábios dela ainda úmidos por causa do beijo. A regata que ela usava estava um pouco erguida e enrolada mostrando parte da cintura. A parte sensata da mente de Erika dizia que não era certo transar com Alex na casa de Beth com a amiga podendo ouvi-las. No entanto, o lado prático dela não via reais problemas naquilo.

Beth e Phill sempre foram o tipo de casal sem preconceitos e, nas poucas vezes em que ela ficou com os dois nessa mesma casa, dormindo nessa mesma cama, não foi apenas uma vez que a morena se lembrava de ter acordado ouvindo barulhos estranhos. Fora isso, Beth já havia comentado com ela que, mesmo ela, achava que esse jeito respeitoso que Erika tinha as vezes era exagerado demais. Foi com essas coisas na cabeça que a morena decidiu que se entenderia com a amiga depois.

Surpreendendo a guitarrista que já se preparava para se afastar, a morena se inclinou beijando o canto da boca da menor. Mas antes de Alex achar que seria só aquilo a morena a puxou pela frente da regata até que a guitarrista estivesse novamente sobre ela e beijou-a de verdade mantendo os braços em volta de Alex.

– Não faz isso comigo, assim já é maldade – murmurou a menor separando os lábios das duas e encostando a testa na testa da morena.

– Não e maldade se eu não parar – murmurou de volta Erika com uma expressão envergonhada, mas decidida antes de colocar as mãos por dentro da regata de Alex puxando o tecido para cima.