Nightingale

Capítulo 72 – A segunda luta do campeonato

– Você está bem? – perguntou Erika enquanto sentava num banco de madeira do vestiário e Alex se aproximava da morena com uma expressão séria.

– Sim, tudo bem – respondeu a guitarrista parando em pé no meio das pernas da lutadora que abraçou a namorada pela cintura – Só preocupada, essa mulher é maior que você Erika, isso é meio novo pra mim…Geralmente vejo você lutar com oponentes menores.

– Ela só tem dois quilos a mais que eu meu amor – falou a morena sorrindo – E ela é dois centímetros mais baixa.

– Mas ela parece enorme!! – disse Alex séria e fazendo um bico que a morena desfez com um beijo.

– Ela é enorme, mas eu luto com o Frederick. Esqueceu foi? – falou a morena sorrindo enquanto deslisava bem devagar as mãos pela cintura da guitarrista.

– O Frederick nem é tão bom – resmungou Alex fazendo os dedos deslizarem pelos cabelos negros da namorada.

– Vai ficar tudo bem, Alex – afirmou a maior puxando a guitarrista para mais perto – É só a minha segunda luta e eu não vou perder ela.

– Sei que não vai – disse Alex rindo e segurando o rosto da morena antes de beijá-la.

– Ok, ok. Já chega – falou Michael entrando logo depois e dando de cara com a cena delas se beijando – Erika você entra em dois minutos. Sua patrocinadora já está nas arquibancadas com o resto do pessoal.

– Obrigada por avisar Michael – disse Erika calmamente enquanto Alex rolava os olhos pela interrupção.

 

POV Erika

Minha oponente de hoje era uma mulher de 28 anos, a mais experiente na competição. Seu nome era Paola German; tinha cabelos pretos e olhos da mesma cor. Ela lutava em outras ligas pouco conhecidas a muito tempo, desde os 19. Não conseguia entrar no UFC porque nunca conseguia se encaixar nas categorias de peso. Ela sempre estava mais pesada do que o limite e não conseguia diminuir mais. No entanto, era muito conhecida pela força e pelo fato de nunca ter perdido lutando contra mulheres. Eu teria de ser a primeira e eu seria.

Alex saiu do vestiário depois de outro beijo, bem seja dita a verdade eu já não me incomodava muito se outras pessoas nos veriam assim. Michael veio terminar de checar meu equipamento enquanto eu me concentrava. Minha oponente não gostava de lutar no chão, isso era fato, mas ela não ligava se isso acontecesse. Ela parecia ser mais forte do que eu, mas isso seria algo a ser testado. Tudo o que Michael tinha me pedido pra fazer era tomar cuidado com os cruzados de direita dela, ele mesmo não tinha ideia de como me orientar contra essa oponente. Parecia até que ele não estava confiante.

Eu não disse nada, não era da minha natureza pedir apoio ou confiança, mas eu tinha que acreditar em mim mesma e eu tinha treinado o bastante pra isso. Meu treinador colocou meu agasalho sobre meus ombros e eu puxei o capuz. Naquele dia mais do que nunca eu quis olhar para a arquibancada e procurar minha guitarrista, Vê-la sempre me acalmava ainda mais, só que eu não iria quebrar a promessa.

Como sempre eu estava no corner azul e entrei depois, minha oponente já estava lá com um sorriso convencido. Me olhou como se eu não fosse nada quando cheguei perto do octógono. Apesar de mais alta eu era mais leve e para ela isso deveria significar que eu era mais fraca e isso me irritou, mas eu mantive a minha expressão apática de sempre. Entrei no octógono, fui pro meu canto e respirei fundo fechando os olhos, meus ouvidos captaram o som da voz de Alex conversando com alguém em algum lugar atrás de mim. Quando abri meus olhos de novo o arbitro estava indo para o centro e nos chamando.

Ele fez o mesmo discurso de sempre e Paola apenas parecia entediada por ter de me enfrentar. Aquela mulher estava começando a me irritar. Quando o arbitro nos mandou de volta aos corners ela suspirou e balançou a cabeça como se eu não fosse nada mais do que apenas um incômodo. Essa foi a gota d’agua pra mim, era a primeira vez que alguém me irritava tanto desse jeito.

Quando o arbitro deu inicio à luta nós nos aproximamos calmamente uma da outra, era um começo normal de uma luta onde as oponentes avaliavam uma a outra. Nós duas estávamos com as guardas altas e olhares atentos. Ela soltou alguns golpes fracos pra me testar e eu mal me movi pra desviar, mas aquilo serviu para eu calcular o alcance dos braços dela, era menor que o meu. Eu tentei me concentrar, mas ela continuava com aquela expressão de tédio como se estivesse brincando apenas.

Me movi um tempo, era como se eu estivesse apenas testando ela mesmo, como eu teria feito em qualquer outra luta. E ela estava esperando meus primeiros golpes pra testar meu alcance também, mas eu estava furiosa apesar da minha expressão não demonstrar isso. Uma hora ela bufou irritada, cansada de esperar, e deu um passo na minha direção. Era o que eu queria. No instante em que ela chegou no meu alcance eu soltei um soco com toda a força que eu tinha. Foi tão rápido que ela não teve tempo de erguer a guada o bastante para evitar que minha mão direita acertasse em cheio o nariz e a boca dela provocando um corte no lábio superior.

Ela cambaleou para trás erguendo mais a guarda e eu a alcancei soltando vários e vários socos na cabeça, abdômen e costelas dela. Tudo tão rápido que ela acabou acertando as costas na grade. Paola então usou a grade para se impulsionar na minha direção e evitar meus golpes mais fortes ficando muito perto, mas quando ela veio pra cima de mim tentando segurar meus braços eu dei um pequeno passo para o lado e ergui o joelho com força na barriga dela jogando-a de volta para a grade. Foi só ai que ela conseguiu se distanciar de mim e ficamos longe uma da outra.

Ela estava longe demais para nos alcançarmos, um pouco de sangue escorria do lábio dela e do nariz também. Não estava quebrado, eu não tinha sentido ele se partir, mas deveria estar muito dolorido e estava inchando com certeza. Ela me olhou com raiva e eu devolvi com um olhar muito parecido. Ela era a primeira pessoa que me tirava do sério de verdade com aquele jeito irritante, mas, aparentemente, eu também era a primeira surpreendê-la daquele jeito.

– Eu vou acabar com você – ela sussurrou, mas eu pude entender pelo movimento da boca dela.

Não respondi, eu não precisava. Só abri a mão direita e fiz um sinal pra que ela viesse e ela veio,  com muita raiva eu devo dizer. Começamos a trocar golpes, uma acertando a guarda da outra, enquanto girávamos. Ela estava com muita raiva e eu também, a diferença era que eu sabia me controlar. Os golpes dela vinham de qualquer jeito, mas ela era realmente muito forte e rápida o que me forçava a tomar cuidado e me impedia de começar outra sequencia. Acertavamos golpes alternados, alguns encaixavam. Minhas costelas já estavam doendo muito, mas eu conseguia evitar que ela acertasse sobre o lado das costelas que eu tinha quebrado antes. Só que eu não era a única com dores, um ponto do lado esquerdo das costelas dela estava vermelho e eu continuava a bater naquele lugar.

Um chute dela acertou a parte interna da minha coxa esquerda e eu me desequilibrei um pouco, isso permitiu que ela me acertasse um soco no rosto que cortou minha sobrancelha direita fazendo sangue escorrer pelo meu rosto. Foi nesse instante que o sino do fim do primeiro round tocou e o arbitro entrou na frente dela impedindo-a de avançar mais sobre mim. Mas eu mesma quase fui pra cima dela de novo, só que me controlei por causa do sino e voltei pro corner azul.

Michael entrou correndo e logo estava na minha frente, comigo sentada, tentando estancar o sangramento da minha sobrancelha. Minha expressão estava séria e concentrada, talvez por isso ele tenha apenas ficado calado tentando parar o sangue que continuava escorrendo enquanto eu bebia um pouco de água. À minha frente eu podia ver a minha oponente com uma cara de raiva, mas eu tentei me contorlar. Durante todo o primeiro round eu tinha ouvido a voz da Alex me incentivando e gritando pra eu não deixar a outra me acertar, agora ela estava quieta, provavelmente preocupada se Michael conseguiria ou não parar o sangramento. Mas ele conseguiu, em cima da hora, mas conseguiu.

Quando me levantei já estava mais calma apesar da minha expressão continuar séria e não inexpressiva como era o meu normal. O arbitro iniciou o round e ela veio direto pra cima de mim com um olhar de raiva, mas eu consegui evitar os golpes dela por alguns instantes. No entanto, logo ela estava conseguindo manter uma distancia mais curta.

Paola acertava diversos chutes baixos nas minhas pernas, provavelmente por já terem dito pra ela que eu chutava muito bem. Aquilo estava mesmo machucando e provavelmente prejudicando meus chutes. Mas fora isso nós duas continuávamos com socos apenas.

O round estava quase no fim quando Paola conseguiu me prender contra uma das grades, foi só aí que ela conseguiu me acertar bons golpes. Um deles entrou bem nas minhas costelas me fazendo sentir muita dor. Eu pude ouvir Alex gritando pra que eu saísse de lá, pra que eu batesse na outra, pra que eu fosse forte e eu sabia que tinha só mais alguns segundos de luta pra isso. Acertei cotoveladas na cabeça dela e então consegui encaixar uma joelhada que a afastou um pouco. Foi quando eu agarrei ela pelos antebraços e nos virei jogando ela de costas contra a grade.

Mas logo depois passei o braço direito por baixo do braço esquerdo dela e, mantendo o braço dela firme na minha mão eu girei jogando-a no chão e me deixando cair por cima dela. Pela queda Paola teve que me soltar para poder evitar se machucar muito, mas mesmo assim a queda ainda conseguiu tirar todo o ar que ela tinha nos pulmões. Foi quando eu aproveitei e passei o braço pelo pescoço dela prendendo também o braço que eu continuava segurando.

Travei meus braços e apertei com toda a força que eu tinha. Ela tentou acertar socos na minha cabeça com a outra mão, mas eu apenas abaixei a minha cabeça virando o rosto evitando que ela me alcançasse direito e apertei com mais força. Eu deveria ter pouco mais de dois ou três segundos, talvez menos, quando ela começou a ficar realmente sem ar. Eu comecei a achar que ela conseguiria aguentar até o fim do round. Até que a mão dela parou no meu braço e ela fez o sinal de desistência. Eu mal notei, mas logo depois o arbitro estava sobre nós duas me separando dela e me empurrando para o lado. Só quando eu sai do octógono depois de ter vencido que me contaram que ela desistiu faltando apenas dois segundos para a luta acabar.



Notas:



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