Nightingale

Capítulo 99 – Mais uma luta de Erika Anderson

– Eu sei que a senhora não gosta – falou Erika com Arthur no colo andando de um lado para o outro com o garoto enquanto Alex segurava o celular no viva voz.

Não gosto? Por Deus Erika!!!! – falou Judith do outro lado da linha se exaltando – Um ringue não é lugar para se levar um bebê de dez meses!!!! – gritou ela completamente irritada.

– É a minha vida – falou Erika num tom ainda calmo – E o Arthur é parte da minha vida agora. Entendo que ele também faça parte da sua vida, mas é comigo que ele mora, sou eu quem realmente cuido dele. Eu sou a responsável, mãe. E Elizabeth sabia muito bem como era a minha vida e que eu continuaria mantendo ela do mesmo modo quando decidiu que a guarda do Arthur ficaria comigo.

Nos últimos meses Erika tinha voltado para a casa dela, mas acabou morando mais com Alex e os pais da guitarrista para poder cuidar melhor do bebê já que eles tinham mais espaço na casa. Nesse tempo Erika voltou a correr e a treinar. Com alguns meses de treinos ela já tinha recuperado completamente a forma física anterior, Pablo só precisou de alguns dias para agendar uma luta de ‘retorno’ para Erika. A turnê de Alex acabou dois dias depois de Erika voltar para casa. Depois disso ela e a guitarrista se dedicaram exclusivamente à cuidar de Arthur e aos treinos de Erika.

Judith quando soube ficou incrivelmente irritada, mas apenas se pronunciou quando ficou sabendo que Alex iria ficar com o bebê dentro do ginásio onde aconteceria a luta. Por isso a ligação dela, 40 minutos antes da luta da morena começar. Fazendo Erika ter de ficar vários minutos conversando com a mãe e tentando fazê-la parar de reclamar.

– Dona Judith – disse Alex interrompendo um novo discurso que viria da mãe de Erika – Eu sinto interromper, mas a Erika tem uma luta em menos de 15 minutos e ainda não terminou de se preparar. Eu sinto muito que a senhora não concorde com a forma com que ela está criando o Arthur, mas eu posso garantir que ele está sendo muito mais do que apenas bem cuidado.

– Mãe, eu vou desligar – avisou Erika antes de encerrar a chamada e entregar Arthur para Alex que o pegou já colocando os protetores de ouvido nele.

– Ok, acabaram as distrações – avisou Michael se aproximando da morena e a ajudando a colocar as luvas – Sua adversária é alguém do UFC Erika, você precisa de concentração – alertou ele preocupado.

Pablo, por meio de alguns contatos que Angeline conseguiu e usando a influência da ruiva, conseguiu acertar com o treinador de uma lutadora que já era do UFC. Depois de diversas ligações e reuniões Pablo falou com alguns dos executivos e, com alguns acordos, Erika acabou sendo escalada para um evento de abertuda da temporada do UFC feminino. A oponente era muito forte, experiente e competente, o que deixava Michael completamente inseguro. Mas Alex e Erika não estavam preocupadas, elas confiavam no treino que Erika tinha imposto a si mesma.

– Ok, eu vou lá fora esperar a deixa para te chamar, esteja pronta nos próximos 3 minutos – falou Michael terminando de ajeitar as luvas e se afastando da morena para dar lugar à Alex que se aproximou da mesma.

A maior continuou sentada no banco e Alex se posicionou entre as pernas dela, Arthur estava no berço cochilando porque a guitarrista tinha sussurrado uma canção que ele adorava ouvir para dormir. Ela se aproximou colocando as mãos na cintura da lutadora e Erika envolveu o pescoço da menor.

– Vai dar tudo certo – disse Alex encarando os olhos azuis.

– Vai sim – confirmou Erika com um olhar decidido antes de puxar Alex pelo pescoço e elas se beijarem.

O beijo foi longo e lento, deixando Erika um tanto desligada quando acabou, mas ela só precisou abrir os olhos e encarar aquele olhar calmo de Alex para se sentir pronta para encarar qualquer coisa. A guitarrista se afastou deixando a morena se levantar para ir até onde Arthur estava deitado. Depois de dar um beijo na testa do bebê e mais um nos lábios de Alex a morena ficou sozinha no vestiário enquanto a guitarrista foi para a arquibancada.

Quando a chamaram Erika saiu calmamente, como sempre, seguindo seu próprio ritual e não olhando para a plateia. Por um pedido que a morena insistiu em fazer, ela ficou no corner azul. A oponente tinha 179cm, 60Kg e 8 lutas profissionais no UFC. Tinha os cabelos negros como Erika, mas com a pele era mais branca e os olhos castanhos.

 

POV Alex

Eu levei Arthur naquela cestinha que usavam para carregar os bebês, era a mesma que virava a cadeirinha dele no carro. Na arquibancada, em lugares VIP’s marcados, Angeline, Kat, Mel e Ted me esperavam. Sentei ao lado deles numa cadeira ao lado de Angeline deixando na cadeira do meu outro lado a cesta do Arthur, que ainda estava adormecido, o que não me surpreendia já que passava das 22h e ele já estava começando a adquirir um ritmo de sono que ia das 22 até as 4h da manhã.

Todos quiseram dar uma olhada nele e o protetor auricular que eu coloquei ajudou para que ninguém o acordasse. Esse pequeno tem um sono mais pesado do que eu quando adormece de verdade. Ange depois comentou que dependendo do desempenho de Erika eles poderiam negociar com o UFC. A ruiva estava confiante de que, com um bom desempenho da minha namorada, ela conseguiria fazer com que sua marca se tornasse parte dos patrocinadores oficiais.

Nos últimos 10 meses muita coisa acabou acontecendo, incluindo Katerine se formar e receber uma proposta de emprego nas empresas de Angeline, mas em um cargo baixo para começar. A Horizons fez um sucesso enorme tanto que novas turnês estavam para serem marcadas. Mas a maior surpresa foi Ted pedir Melissa em casamento assim que chegamos de viagem, ela aceitar era bem óbvio. Eles estavam de casamento marcado para dali a 4 meses e já estavam ficando loucos com tanta coisa a fazer.

Parei meus devaneios quando o nome Erika Anderson foi anunciado nos auto-falantes e a procurei com os olhos logo podendo vê-la chegar perto do octógono. Seguindo o mesmo ritual de sempre ela entrou e ficou no canto azul sem encarar diretamente a oponente. A grande luta da noite era esperada para as 24h e, antes dela, haveria mais uma. Erika era só o evento de abertura e ninguém esperava muito dela.

Quando a luta começou Mary, a oponente dela, veio para cima de Erika com tudo sem dar tempo nem da minha morena racioncinar. Quando vimos ela já estava presa num canto recebendo socos, cotoveladas e joelhadas repetidas vezes. Eu fico desesperada enquanto vejo Erika levar tantos golpes, a maior parte deles não acertava realmente, mas alguns entravam. Sou obrigada a me sentar quando a mão de Angeline me segura pelo ombros e me puxa para baixo, mas isso só dura alguns sengudos porque Erika acha um espaço entre os golpes e solta um soco direto que acerta Mary exatamente entre os olhos fazendo-a recuar um pouco.

Minha morena avança com socos no bom e velho estilo do boxe, sempre se protegendo das tentativas de Mary de afastá-la. Erika mantem a guarda alta e se aproveita que a visão da outra deveria estar um tanto turva por conta do soco no rosto para acertar mais golpes. Mary tenta afastá-la com socos, mas Erika se move pelas laterais sempre se esquivando até que a oponente desiste disso e se joga em cima de Erika tentando derrubá-la.

Minha namorada evita que Mary segure suas pernas ao se jogar para trás e as duas caem no chão com Erika sobre a outra. A oponente dela tenta aproveitar que caíram para atacar Erika com golpes de jiu-jitsu, mas minha morena é mais rápida e consegui girar e ficar por cima das costas da outra. Elas ficam um tempo tentando segurar uma a outra e conseguir uma imobilização. Mary consegue girar e deixa Erika de costas no chão. A morena tenta conseguir uma imobilização, mas Mary consegue escapar faltando apenas 20 segundos para o final do round.

Erika se levanta e elas trocam alguns socos, mas o round termina antes que qualquer uma consiga alguma coisa. Quando entra no octógono Michael começa a falar muito. Erika parece estar tentando recuperar o fôlego quando Michael chama a atenção dela que o ignora. Ele parecia desesperado tentando passar instruções para ela, mas Erika apenas o olhou e, parecendo muito calma, disse alguma coisa. Logo depois ele teve que sair e a luta recomeçou.

Mary veio, novamente, tentando colocar pressão e empurrar Erika para algum canto, mas a morena desviava. Quando a outra tentou novamente colocar a luta no chão Erika conseguiu evitar isso e ainda ganhou alguns pontos ao acertar socos nas costelas da outra. Eu já estava em pé novamente porque a luta delas estava sendo muito acirrada com golpes de ambos os lados, mas dessa vez eu não era a única.

Perto da metade do round Mary consegue finalmente colocar Erika no chão ao desequilibrar a minha morena perto da grade se jogando com a mesma para o solo. Erika ainda luta por alguns instantes antes de ter seu braço imobilizado por Mary que procurava um ângulo melhor para forçar Erika a se render. Mesmo com o barulho das pessoas no ginásio eu ainda pude ouvir o grito de dor de Erika quando a outra conseguiu achar o ângulo certo.

Eu não me aguentei e comecei a gritar o nome da minha namorada com tudo o que eu tinha. Ela estava completamente presa e a oponente forçava o braço dela num ângulo desconfortável só de olhar e pela expressão de Erika aquilo estava doendo como o inferno, mas a minha morena não desistia e a outra apenas continuava a torcer ainda mais o braço dela.

O juiz estava a ponto de parar a luta para preservar Erika, eu pude notar isso pela expressão do Michael, então olhei para os que estavam do meu lado. Mel foi a que pegou primeiro o que eu queria fazer quando eu comecei a gritar o nome de Erika. Não demorou para que nossos amigos começasse a fazer o mesmo e, mesmo com a gritaria do ginásio nossas vozes em conjunto começaram a ser percebidas. Mas não fomos os únicos, logo pudemos ouvir pessoas espalhadas pelas arquibancadas se unindo a nós. Simples desconhecidos que estavam, por qualquer motivo que seja, torcendo por Erika Anderson.

O nome dela era gritado cada vez mais alto: E-RI-KA!, E-RI-KA!

Eu já me sentia sem voz, mas continuava gritando e, quando o Juiz pareceu decidir interromper, Erika jogou o corpo para frente, sobre a própria cabeça, fazendo suas pernas baterem nas grades. O aperto diminuiu de repente e Mary ficou confusa por um segundo o que fez Erika conseguir tirar o braço do lugar e, usando o impulso dos pés contra as grades ela virou de volta e, ainda no chão rolou para o lado sentando sobre as pernas de Mary que ficou meio sentada e meio deitada contra as grades.

Erika começou com vários socos e cotoveladas, eram tantos e tão rápidos os golpes que Mary apenas se encolheu tentando evitar que eles a acertassem, mas parecia que Erika estava esperando por isso porque assim que ela viu que a outra estava apenas se defendendo ela girou rápido e conseguiu pegar uma das pernas de Mary. Erika conseguiu aplicar uma chave de perna torcendo tanto o joelho quando o quadril da oponente que ficou com o rosto contra o chão numa expressão contorcida de dor enquanto Erika lutava com a perna dela para manter a torção mesmo com um braço quase perdendo as forças.

Mary estava para desistir, em seu rosto via-se que ela não aguentava mais de dor, mas o gongo sinalizou o fim da luta antes disso e Erika a soltou caindo para o lado, ficando deitada no chão junto com a outra. Ange, Katerine, Michael e Melissa subiram enquanto que eu fiquei na primeira fila de onde estávamos assistindo. Câmeras e repórteres entraram também para pegar imagens das duas e dos treinadores e equipes enquanto os árbitros somavam os pontos para decidir quem havia vencido a luta. Eu estava apreensiva demais e queria estar do lado de Erika, mas fiquei no meu lugar com Arthur no colo já que ele havia acordado por conta do tamanho barulho feito ao final da luta.

Eu o segurava sobre minhas pernas de frente para o octógono enquanto o deixava meio encostado contra mim, a cabecinha dele bem em frente ao meu ombro direito quando Erika apareceu contra as grades. Uma câmera estava fixa nela, mas ela parecia não notar, apenas me producou com os olhos e deu um pequeno sorriso fraco quando me achou com Arthur no colo. Eu sorri de volta tentando passar naquele sorriso toda a confiança que tinha nela e, como se soubesse que ela precisava de apoio, Arthur ergueu as mãozinhas quando a enxergou. Ele só queria o colo dela, mas eu segurei as mãos dele levantando um pouco mais para cima como se ele estivesse comemorando comigo. Isso fez Erika rir e acenar com a cabeça.

O Juiz entrou de novo com o resultado e chamou as duas, deixando uma delas a cada lado dele e segurando a mão esquerda de Erika. A voz nos auto-falantes anunciou que seria revelado a vencedora e todos se calaram para ouvir o nome que sairia por aqueles aparelhos de som. No momento em que o nome foi dito o juiz ergueu o braço de Erika e a morena caiu de joelhos sem acreditar. Eu comecei a dar pequenos pulinhos no mesmo lugar e a rir alto junto com Arthur que estava ali batendo palmas porque tinha visto alguém fazer isso.

Quando vi Erika já estava pulando os quatro degraus que levavam ao octógono e correndo na minha direção. A primeira fila ficava sobre uma pequena arquibancada, apenas um degrau que me deixava alguns centímetros maior que Erika. Ela veio e só parou quando me abraçou pela cintura, abraçando Arthur ao mesmo tempo. Não pude evitar um gritinho meio gay quando ela me puxou e me ergueu com um braço só me tirando daquele degrau e rodando algumas vezes comigo no colo.

Quando ela me colocou no chão a primeira coisa que fez foi pegar Arthur no colo e beijar o rostinho dele que riu como se aquele beijo cheio de suor fosse a coisa mais engraçada do mundo. Logo depois eu a segurei pela cintura e a abracei. Ela passou o braço pelos meus ombros, mas então colocou a mão na minha nuca e me beijou (beijo suado não é a melhor coisa do mundo, mas beijar a Erika, mesmo com ela suada, sempre era incrivelmente bom). Só depois nos lembramos de que haviam câmeras registrando aquela comemoração dela, mas isso não importava muito. Ela tinha ganhado uma luta incrível contra uma lutadora profissional do UFC e isso com toda certeza do mundo renderia muito para ela.

Estávamos felizes. A partir desse momento nada seria capaz de estragar a nossa felicidade. E a prova disso era o sorriso alegre e verdadeiro do nosso Arthur. Nosso porque, mesmo sendo só uma tia, eu era tia dele também. E pretendia fazer isso ser algo realmente oficial o mais rápido possível.



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