Pontualmente às 15h00min recebi a mensagem de que ela já estava me aguardando, por sorte, ao sair do apartamento o Renan não estava mais por lá. Enquanto me dirigia ao seu carro pedia muito a Deus para que ela não percebesse que por dentro eu não estava nada bem.

–Oi amor, que saudades. –disse lhe depositando um selinho.

–Oi meu anjo, além de linda, ainda tá muito cheirosa. Parabéns Gi! O aniversário é seu, mas eu que ganho o presente.  –Ágatha disse cheirando e dando uma mordidinha de leve no meu pescoço, arrancando suspiros.

–Olha só quem fala, beleza é seu sobrenome do meio. –disse me aconchegando um pouco mais aos seus braços.

A minha namorada estava com um short jeans desfiado, camiseta, all star, óculos escuros, o cabelo descendo pelas costas e uma maquiagem discreta, para muitos um visual bastante casual, mas estava linda demais, isso sim.

–Ei, se comportem, eu ainda tô no carro. –uma terceira voz se fez presente me fazendo rir.

–Oi Enzo, desculpa não ter te cumprimentado, não havia te visto. –disse um pouco envergonhada.

–Disso eu já sei, quando você vê a tia Ágatha fica toda boba e cega, o tio Arthur mesmo já me disse isso. –se eu já estava envergonhada, agora mais do que nunca.

–Eu mato o seu tio. –ouvi Ágatha resmungar entredentes.

–Então Enzo, você vai nos acompanhar no passeio? –esperava que o Enzo fosse com a gente, assim a Ágatha não teria tanto tempo para ficar me observando e perceber que eu não estava bem.

–Tia Gi, você tá muito enganada se acha que vou sair com vocês duas pra ficar segurando vela…

–Enzo, por favor, cala essa boquinha! –ouvi a Ágatha ralhar com o menino e me segurei para não rir. –O que o meu sobrinho querido quer dizer é que apenas vou deixá-lo na escolinha de futebol e depois a tarde será só nossa, não é?!

–Isso mesmo tia. –percebi que com a Ágatha o menino não tirava tanta brincadeira.

Levamos o Enzo até a escolinha de futebol, na despedida ainda fui “advertida”.

–Tia Gi, o vovô pediu para você cuidar muito bem da tia Ágatha, ela só tem tamanho, não deixa ela fazer muita besteira, e nada de exagerar no algodão doce, chiclete, jujuba e nos outros doces. –nessa hora não aguentei e comecei a rir sem parar.

–Enzo, seu avô mandou mesmo você falar tudo isso ou tá apenas querendo me fazer passar vergonha? –a ruivinha indagou desacreditada.

–Palavras dele, eu apenas estou transmitindo o recado. Hoje antes de sair ele me deu uma lista com vários itens do que você não pode comer e do que não fazer também, e pediu para eu entregar para a tia Gi, tá aqui. –Enzo retirou do bolso uma lista com várias recomendações.

–Menino, joga isso no lixo. Giovanna, nem se atreva a ler essas coisas…

–Tarde demais meu amor. –já estava com aquele papel nas mãos. A cada item que lia não conseguia parar de rir. –Nada de trem fantasmas porque minha filha é uma medrosa que se assusta fácil; nada de montanha russa, a Ágatha fica enjoada; Giovanna controle todos os doces que ela comer, no último exame a taxa de glicose estava muito alta… –lia cada um desses e outros itens rindo muito, Enzo também me acompanhava na gargalhada para a raiva da minha namorada.

–Enzo, você e seu avô estão muito encrencados, amanhã acertaremos as contas, você que deveria ter ajudado a sua tia não fez isso. Agora o que a Giovanna vai pensar de mim? –a ruivinha estava mesmo brava, não sabia se ria ou se tentava desmanchar aquele biquinho com vários beijos.

–A tia Gi vai saber apenas a verdade, que você sempre foi e sempre será filha preferida do vovô, a princesinha preciosa que inspira cuidados.

–Tá bom, Enzo. Você já tá atrasado pra sua aula. Pode ir…

–Não vai me dar um beijo tia Ágatha? –o menino perguntou triste.

–Não mesmo, você e seu avô já aprontaram muito só por hoje.

–Lindinho, deixa que eu cuido da sua tia e lhe dou dois beijos pra compensar o dela. –disse indo até aquele menino de cabelos castanhos, lhe dando vários beijos e abraços.

Já no carro a Ágatha parecia que estava irritadíssima, sei que se fosse em momentos anteriores eu até iria rir, mas o clima não era propicio para isso.

–Gatinha, não fica assim. Levei tudo isso na brincadeira. –disse tentando arrancar um sorriso da minha namorada.

–Não é isso, Gi. O meu pai sempre me tratou como uma criança, nem meus irmãos caçulas são tratados desse jeito, quando eu casar é capaz dele querer que minha esposa vá morar lá com nossos pets. –a ruiva brincou, mas me acendeu alerta para outro assunto importante.

–Como assim pets, amor? Você não pensa em ter filhos? Amo animais, mas uma criança acaba se tornando uma dádiva, deixa a família mais completa.

–Vou ser sincera, nunca quis e nem quero ser mãe, criança é muita responsabilidade, gera prejuízo financeiro e psicológico, sempre deixei claro esse pensamento para os meus pais, é bom que eles têm já o Enzo como neto, e podem cobrar dos gêmeos para darem mais netos. Vejo como a Alana e o meu cunhado se privam de muitas coisas para colocarem o Enzo em primeiro plano, não quero isso pra mim. –essa fala da Ágatha me deixou chocada, mas felizmente fingi que nada me abalou.

–Ai amor, vamos deixar as coisas fluírem, ainda tá muito cedo para pensarmos nesse assunto… –tentei sair pela tangente.

–Você quer ser mãe, né? Percebi isso nos seus olhos. Desculpa Gi, mas não pretendo abrir mão dessa minha decisão, não vou realizar esse seu sonho, será um impasse no nosso relacionamento.

–Ágatha, na verdade nunca pensei nesse assunto, sei que filhos geram muitas despesas e privações, mas ao mesmo tempo trabalho com crianças todos os dias, vejo o quanto elas são uma benção, anjos em forma de ser humano. Vamos parar de falar sobre esse assunto e curtir nosso passeio. –falei lhe depositando um selinho logo que chegamos ao estacionamento do parque.

Durante todo o nosso passeio percebi que meu sogro tinha razão em partes, a minha namorada era muito medrosa para alguns brinquedos. Na hora do looping vertical na montanha-russa minha namorada só fazia gritar e implorar para não morrer, foi engraçado, mas ao mesmo tempo ficava com dó. Fomos a vários brinquedos: scramber, autopista, mega loop, carrossel, na xicara onde fiquei completamente tonta, um efeito mais alucinógeno do que quando fiquei bêbada no meu aniversário de 15 anos, nem preciso mencionar que agora foi a Ágatha que estava se aproveitando para rir às minhas custas. Finalizamos nosso passeio no Twister, boliche e tiro ao alvo. A pontaria da minha namorada era excelente, então isso nos rendeu alguns presentes como um urso de pelúcia bem grande, um cachorro de pelúcia e um gato, uma bola, além de duas bonecas que vinham com cheiro de morango, mas em nada lembravam a boneca Moranguinho, já ia esquecendo de mencionar, ganhamos uma terceira boneca que era a cópia fiel da Anabelle.

–Anjo, antes de irmos, vamos lá na fila comprar só mais algumas balas? –sim, a minha namorada era uma formiguinha mesmo, apaixonada por guloseimas.

–Amor, seu pai tinha razão quando pediu para que eu ficasse de olho na quantidade de doces. Desde que chegamos você já tomou seis sorvetes de chocolate com baunilha, foram sete algodões doces, dois milk-shakes, dezenas de chicletes, pirulitos e quer mais balas ainda?

–Gi, não se preocupa que não vou te envergonhar ficando fora de forma, não vou engordar…

–Que bebê mais linda! –disse apertando aquelas bochechinhas brancas e sardentas. –Amor, isso é de menos. Não quero te vê diabética, sem falar que não quero que você tenha cárie e precise extrair esses dentes brancos que são minha perdição. –disse lançando um olhar provocativo.

–Princesa, você é muito engraçada. Não vou ficar diabética porque estou com muitas ideias sobre como gastar esses carboidratos a mais, não se preocupa também com os meus dentes, cuido muito bem deles, são meus amores, e eles continuarão te proporcionando orgasmos alucinantes. –recebi em troca aquele sorriso safado que bambeava minhas pernas.

–E como você pretende gastar esses carboidratos? –perguntei deixando minha alma se acender.

–Em breve você descobrirá minha baixinha! –disse beijando o topo da minha cabeça.

Já no carro acomodamos todos os prêmios que ganhamos no porta-malas. Estranhei quando a Ágatha começou a fazer um caminho bastante desconhecido para mim, era um percurso que não levaria nem ao meu apartamento, ou a casa dela, ou a escolinha de futebol do Enzo.

–Amor, para onde estamos indo? Não temos que apanhar o seu sobrinho? –indaguei curiosa.

–Baixinha, o Enzo é responsabilidade dos pais dele, uma hora dessas ele já deve tá em casa há muito tempo. –minha namorada disse voltando a prestar atenção para o trânsito.

–E para onde estamos indo? Esse local parece ser muito afastado do centro, não tem uma viva alma por aqui. –observava a escuridão que já se fazia presente na estrada onde quase não havia carros e nenhum transeunte.

–Surpresa meu amorzinho! Apenas confia em mim e sei que você irá adorar o nosso destino final.

Bom dia meninas, esse é apenas o inicio do aniversário da Gi. Já perceberam uma discordância? A Ágatha não quer ter filhos, a Giovanna já pensa o contrário. Será que isso vai gerar problemas? Conto com os comentários de vocês. Beijos.



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