Nosso Estranho Amor

22. Agora é que a porca torce o rabo (Pietra contra ataca)

Ainda muito atordoada e abalada emocionalmente, deixei minha amiga me conduzir para fora daquela casa. Todo trajeto até ao apartamento do meu irmão foi realizado em completo silêncio.

Já no prédio e observando meu estado catatônico, Dani me conduziu até o apartamento.

Se já não bastasse tudo o que me aconteceu, ainda tive que lidar com o meu irmão me azucrinando, infernizando a minha vida.

–Giovanna, o que foi que aconteceu? Sua maquiagem tá toda borrada, tá descabelada, vermelha de tanto chorar. Seu estado tá péssimo. –Renan perturbava sem nem ligar para mim.

–Diga algo que eu não saiba. –disse ironicamente.

–A Gi e a Ágatha se desentenderam, ainda não sei o porquê, mas ela agora só precisa de muito amor, paz e sossego. –Dani respondeu por mim.

–Quer dizer que esse namoro acabou?! Já tava na hora hein! –Renan parecia comemorar.

–Renan, cadê sua empatia? Sua irmã está sofrendo e você tá comemorando? –minha amiga parecia desacreditada.

–Não esquenta Dani! O Renan nunca gostou da Ágatha, então agora ele realmente está muito feliz.

–Não é bem assim Gigi… –não lhe deixei completar e logo fiz um pedido, na verdade uma súplica para Dani.

–Daniela, eu te imploro, me tira desse apartamento. Não quero ficar aqui nem mais um segundo. –falei voltando a chorar.

–Giovanna, você não sabe o que tá falando. Sou seu irmão, você não pode sair daqui desse jeito.

–Já chega Renan! Querendo ou não, vou levar a Gi comigo.

–Faça como vocês quiserem! –Renan disse e por fim foi para o seu quarto.

Não sei o que seria de mim se não fosse a Dani. Minha amiga achou duas malas e nela colocou todas as minhas roupas que encontrou, além de colocar nas malas meu material de trabalho.

Carregando as duas malas e me ajudando a caminhar devido meu estado catatônico, Dani dirigiu meu carro em direção a casa em que residia com os pais e a irmã caçula.

Como uma grande amiga, Dani escutou todos meus desabafos, me ajudou a tomar banho, enfim, teve toda a paciência do mundo comigo.

–Dani, será que poderia conversar com a sua mãe? –perguntei após comer, estava um pouco mais calma.

–Acho que uma hora dessas ela já deve estar dormindo, mas se for algo que eu possa resolver.

–Sei que a dona Helena é corretora de imóveis, gostaria que ela me ajudasse a alugar um imóvel, de preferência mobiliado, não tenho dinheiro para gastar com mobília agora.

–Giovanna, não é hora pra pensar nisso. Tenta dormir um pouco, amanhã é dia de trabalho. Descansa! Não toma decisões de cabeça quente.

–Tá bom amiga, mas fica comigo essa noite? –não queria ficar sozinha e voltar a lembrar da Ágatha.

–Claro que sim. Vou cuidar de você.

Obviamente a semana não começou fácil. Chorava constantemente, quase não dormia e nem conseguia me alimentar direito. Na segunda-feira fui dar aula com muitos quilos de maquiagem no rosto e óculos escuro, tentativas de esconder meu mal-estar. Sei que havia errado, mas mesmo assim não iria me humilhar e procurar a Ágatha, eu estava bastante magoada e com um pouco de raiva por todas as besteiras que fui obrigada a escutar por causa do seu gênio impulsivo.

Assim, os dias foram se arrastando… No meu tempo livre chorava é claro, mas também aproveitei para comprar um celular novo visto que a ruiva fez o favor de quebrar meu aparelho antigo, peguei o resto dos meus pertences no apartamento do Renan e fui visitar algumas casas. Era ótimo morar com a Dani e a família dela, mas agora mais do que nunca apenas queria o meu cantinho.

Em um dia qualquer terminava de dar aula para a turma de Enzo. Liberei a sua turma para o recreio, mas reparei que o menino não havia deixado a sala de aula, muito pelo contrário… Aproximava-se para perto da minha mesa com o caderno.

–Alguma dúvida sobre o exercício, Enzo? –tentei em vão parecer normal.

–Não. Na verdade quero saber como você está tia Gi.

Nessa hora não aguentei e desatei a chorar. Enzo não disse mais nada, apenas veio para perto de mim e me deu um abraço de urso… Um abraço que precisava muito.

–Tia, não precisa chorar, as coisas vão se acertar, só tenha paciência. –disse ainda me abraçando.

–Isso não tá certo. Você como uma criança, não deveria saber dessas coisas.

–Tia Gi, eu sei de tudo, todos os dias. Pode não parecer, mas a tia Ágatha não é mais a mesma. Agora trata mal as pessoas, até meus avós, só vive mal humorada e trancada no quarto, dá patada em todo mundo. E você ainda não me disse como está… Ainda ama a minha tia? –o menino indagou curioso. Mesmo com a pouca idade dele, resolvi ser sincera.

–Amo muito a Ágatha, um amor que nunca terá fim, mas ela me machucou profundamente. Mesmo assim morro de saudades dela todos os dias. Do sorriso dela, do cabelo fogo, dos olhos, dos beijos, dos abraços, das piadas sem graça, até do jeitinho implicante dela com a minha falta de altura. –respondi rindo, lembrando de cada momento inesquecível que vivenciamos juntas.

–Tia Gi, tenho uma notícia que talvez possa alegrar o seu dia.

–Qual noticia? –estava sem entender.

–Sabe o anel que a minha tia te deu? Ela ainda usa ele, não desgruda dele por nada, então é sinal de que ela te ama muito, ama de um jeito doido, mas ama… –Enzo disse fazendo alusão ao anel de compromisso que minha namorada me deu no dia que sucedeu o aniversário dos gêmeos.

–É mesmo! –estava um pouco mais feliz. –Eu também não tiro esse anel por nada desse mundo. –disse beijando o anel que continuava no meu anelar direito.

–Bom saber tia Gi. Espero que se acertem logo. Vocês se amam muito e não merecem ficar separadas.

–Assim espero. Promete que essa conversa vai ficar apenas entre a gente? –sim, tinha medo de que o Enzo comentasse sobre esse assunto com alguém.

–Nem precisa pedir. Palavra de escoteiro.

Depois dessa conversa com meu aluno pude trabalhar um pouco melhor, e assim os dias foram se arrastando e se transformando em semanas, e eu me afogava no trabalho e na busca incessante por uma casa que coubesse no meu orçamento.

Até o meu relacionamento com o Renan havia esfriado de vez, quando me mudei do apartamento dele, o rapaz não ficou nada satisfeito. Evitávamos nos falar até mesmo na escola.

Era uma sexta-feira, fazia pouco mais de três semanas que não tinha notícias da Ágatha. Já morava sozinha em uma casa que consegui alugar, só que ela era um pouco afastada do centro e eu ainda não havia mobiliado completamente. Como ainda não havia fogão, o jeito era almoçar no restaurante perto da escola todos os dias.

Foi só eu sentar para almoçar que na minha frente apareceu a última pessoa que precisava encontrar nesse mundo. Se você pensou na Pietra, saiba que está completamente certa. A morena alta do cabelo curto arrepiado trajava uma calça jeans rasgada, all star e uma camiseta de rock da sua banda preferida e seus inseparáveis fones de ouvidos, deixando a mostra todas suas inúmeras tatuagens e piercings. Uma visão que há muito tempo me tirava o fôlego e me fazia ter vontade de me jogar naqueles braços fortes e musculosos, mas agora só sentia raiva, desprezo e queria distância… Na verdade não sei explicar outros sentimentos ocultos que tive ao avistar a Pietra, mas ela estava muito linda, gata como sempre foi, os olhos azuis piscina eram apenas um detalhe perfeito a mais, só que ela não precisava saber disso…

–Será que posso sentar? –perguntou na maior petulância, mas eu não iria me estressar. Não valeria a pena.

–Não sei se reparou, mas há muitas mesas vazias. Por que escolher sentar justamente aqui? –perguntei debruçada jogando meu peso sobre a mesa. Já estava muito cansada de tudo o que estava ocorrendo na minha vida ultimamente.

–Porque eu gostaria de conversar contigo, numa boa… Se for possível. Te liguei muitas vezes, mas você nem me atendeu, então hoje o jeito foi…

–Já sei. O jeito foi você me seguir até perto do meu local de trabalho e praticamente me obrigar a te ouvir pois sabe que aqui há vários pais de alunos e eu não vou poder te expulsar daqui… A menos que exponha toda minha vida pessoal e me prejudique no trabalho. –falei lhe encarando profundamente. Indiretamente era por culpa da Pietra que minha namorada e eu não estávamos juntas.

–Sim, mas a culpa foi sua por não me atender, caso contrário poderíamos resolver alguns assuntos pendentes de outras maneiras…

–Não temos assuntos pendentes. Diz logo o que quer e me deixa em paz. –disse lhe cortando de vez.

–Depois daquele encontro no supermercado, o Tiago tentou te prejudicar de alguma forma? –agora meu bom senso foi para o espaço.

–O que foi agora Pietra? Veio conferir o estrago… Tenho certeza de que vocês dois estiveram de complô para arruinar com o meu namoro. Parabéns! A missão dos dois surtiu efeito. A pessoa que tanto amo não está mais ao meu lado. –alterei o tom de voz atraindo a atenção de pessoas que estavam por perto.

–Você já foi mais calma, por isso nos dávamos tão bem. Giovanna, entenda que não sou tão ruim quanto pareço, um dia talvez você me dei razão. Quero saber se ele tentou algo contigo contra a sua vontade e… –disse pegando na minha mão, mas rapidamente tratei de impedir.

–Olha só Pietra! Você está se superando cada vez mais. Merece até um Oscar por ser uma excelente ex-namorada preocupada. –respondi com desdém.

–Realmente não vai dar para ter uma conversa madura contigo enquanto você me tratar dessa maneira. Você está namorando? –perguntou observando meu anel de compromisso.

–Claro que estou namorando ou acha que uso esse anel para enfeite? –fui sarcástica ao extremo.

–Você disse que o Tiago arruinou seu namoro, então pensei que já estava livre. Giovanna, mesmo sendo difícil de acreditar, as únicas coisas que faço da vida é dormir, trabalhar e pensar em você, não fiquei com mais nenhuma garota.

–Pietra, cala boca! O que você faz ou deixa de fazer com a sua vidinha medíocre e miserável não é da minha conta, então nos poupe. –disse lhe cortando de vez.

–Só me responde uma coisa e prometo que te deixo em paz. A pessoa com quem você namora é com a advogada Ágatha Médici, aquela ruiva responsável pelo fim do nosso namoro?

–Sim Pietra, é comigo que a Giovanna namora, e estamos muito felizes juntas. Quero saber por que você não a deixa em paz. –nesse momento uma terceira voz se fez presente.

Meu coração acelerou tanto que eu pensei que eu iria enfartar naquele mesmo momento. Olhei para trás e vi o amor da minha vida. A Ágatha estava com um vestido de alcinhas e rasteirinhas, maquiagem leve e os cabelos ruivos antes soltos, agora estavam presos em um rabo de cavalo frouxo. Ela estava mais magra do que da última vez que a vi, com olheiras profundas e parecia muito abatida, olhei para sua mão e vi que ela ainda estava com o nosso anel. A sua aparência pálida me deu a certeza de que ela sofreu tanto quanto eu enquanto estivemos afastadas.

–Ágatha? –ouvi Pietra balbuciar assustada. –Olha, eu não quero confusão como ocorreu na boate. Apenas queria mesmo saber se vocês estavam namorando e dar um aviso muito importante para a Giovanna.

–Bom, você já percebeu mesmo que estamos namorando. Agora com relação ao aviso, pode falar na minha frente. Entre minha namorada e eu não há segredos. –a ruiva disse sentando ao meu lado e colocando o braço ao redor do meu pescoço de maneira possessiva.

–Tá bom, vou falar… É até bom você tá presente Ágatha, até porque daqui pra frente a missão de cuidar da Giovanna será toda sua. Vou dizer agora para você o que já disse para minha ex-namorada há um tempo. O Tiago não é uma pessoa confiável. Ele tem uma grande obsessão pela Giovanna, o ódio dele por mim agora virou um ódio contra você. Por favor, tomem muito cuidado! O Tiago não vai sossegar até fazer algum mal a qualquer uma de vocês duas. Eu tinha vindo até aqui para reconquistar a Giovanna, mas vou respeitar o namoro e amor de vocês. Só te peço um favor Ágatha… Não deixa o Tiago fazer nada de mal para a Giovanna.

–Já enrolou muito, Pietra. Agora pode ir ou quer experimentar o peso da minha mão novamente? –Ágatha perguntou de maneira sarcástica.

–Você está enganada se pensa que tenho medo de você, Ágatha. Se precisar te dou uma surra pelo bem da Giovanna, juro que não hesitarei em fazer isso. Agora vou indo, não tenho mais nada para tratar com vocês. Podem não acreditar, mas espero que sejam felizes. Só que o tempo será capaz de dizer se você merece ou não o amor da Giovanna pois eu não acredito que você seja merecedora, advogada. A Gi pode até não ficar comigo, mas creio que ela merece alguém melhor. –Pietra disse e simplesmente foi embora, me deixando ali sozinha sem saber o que falar com a minha namorada.

Oi meninas. Quero agradecer a recepção do capítulo anterior, muita gente revoltada com a atitude da Ágatha. Agora a Pietra deu o ar da graça, resta saber se ela foi sincera ou está aprontando alguma. Será que esse namoro vai continuar? Até a próxima. Beijos.



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