Nosso Estranho Amor

3. O primeiro contato

–Ah! Então é você? -meu dia com certeza terminaria mal.

–Sim, vejo que deve ter se lembrado de mim. Posso ou não me sentar aqui?

–Claro, já estou mesmo de saída. -respondi me levantando rapidamente pegando minha bolsa.

–Espera! Não precisa sair apressada. -nessa hora aquela mulher tocou o meu ombro me impedindo de sair e senti um calafrio percorrer minha espinha, com certeza era raiva. -Você pode não querer falar comigo e entendo, só que eu realmente gostaria muito de conversar contigo.

–E se eu não quiser? -falei entredentes.

–Tenho uma moeda aqui. Vamos deixá-la decidir por nós. Você quer cara ou coroa?

–Você só pode tá de brincadeira com a minha cara.

–Não, juro que estou falando sério.

–Tudo bem, escolho coroa. -não tinha mesmo nada a perder, o máximo que poderia acontecer era ela rir da minha cara.

Assim, aquela mulher jogou a moeda no ar, só que para o meu azar caiu cara, ou seja, ela ganhou.

–Agora podemos conversar? -indagou meio reticente.

–Pelo visto não tenho escolha e você ganhou. -disse emburrada.

–Se não quiser conversar comigo tudo bem, pode ir. Não quero te obrigar a nada.

–Vou cumprir minha palavra e ouvir tudo o que você tem para dizer. Não sou a Pietra e muito menos você que fazem as coisas erradas pelas costas.

–Você não me conheceu nas melhores ocasiões, dizem que a primeira impressão é a que fica, mas juro que não sabia que a Pietra tinha namorada, se soubesse nunca teria aceitado transar com ela. -a ruiva disse sentando ainda mais perto de mim. Só ali pude observar melhor o quanto ela era extremamente boa de lábia e muito gata, o cabelo fogo descia até pelo meio das costas, era bem alta, deveria ter quase 1,80cm, os olhos castanhos claros combinavam harmoniosamente com as suas sardas lhe conferindo um ar infantil e sedutor ao mesmo tempo.

–Ruiva, por que eu deveria acreditar nisso? Além do mais, meu namoro com a Pietra já havia esfriado há muito tempo. Claro que isso não justifica ela ter me traído, mas não posso fazer nada se vocês se apaixonaram e decidiram viver essa linda história de amor, só me resta desejar felicidades. -meu nível sarcástico era altíssimo.

–Loirinha, nunca me apaixonaria por alguém cafajeste como a Pietra, o que rolou entre nós foi puramente atração sexual, a sua ex-namorada não é do tipo que se apaixona, eu realmente não imaginava que ela tinha namorada, já disse isso, mas você parece que ainda não entendeu.

–Vou repetir a pergunta que fiz e você não respondeu, ruiva. Por que deveria acreditar nisso tudo?

–Porque caráter é algo que nunca faltou na minha vida, trago essa virtude de berço. Loirinha, não tenho motivos pra mentir, eu transei apenas uma vez com a Pietra que foi quando você nos flagrou, mas antes disso ela sempre te traiu com outras meninas da boate. -a ruiva disse encarando profundamente nos meus olhos como se quisesse desvendar minha alma. Ela mentia muito bem ou então estava mesmo sendo sincera.

–Para de me chamar de loirinha, isso é irritante. Meu nome é Giovanna. -falei em um tom mais ameno diminuindo minha antipatia por ela instantaneamente.

–Só se você me chamar de Ágatha, meu nome de batismo.

–Um nome forte para uma mulher sedutora, combina mesmo. -era para eu guardar esse comentário apenas para mim, mas a ruiva ouviu.

–Então você me acha sedutora? Não sabia disso. -podia jurar que ela me lançou um olhar sensual propositalmente.

–Isso não vem ao caso. Agora preciso mesmo ir embora. -algo no meu intimo dizia que seria perigoso continuar por mais tempo ali.

–Calma! Se quiser posso te levar até a boate onde conheci sua ex-namorada, então verá que não menti sobre tudo o que te falei.

–Não me interessa mais o que a Pietra faz ou deixa de fazer da vida dela, sou livre e solteira, não tenho que me preocupar com o que a minha ex apronta.

–Aposto que você não quer ir até essa boate porque não quer flagrar a sua ex-namoradinha com outra mulher, ter um ataque de ciúmes ou então ter recaída e acabar na cama dela. -a ruiva disse com desdém tomando um gole de suco de laranja, uma gota escorreu dos seus lábios, a sacana passou a língua para recolher e não sei porque achei aquilo muito excitante.

–Alguém já disse que você é completamente insuportável? Se ninguém nunca falou, fique sabendo agora. Eu não sinto mais nada pela Pietra, mesmo que tenhamos namorado por alguns anos, já tem tempo que não sou mais apaixonada por ela, só que não preciso provar isso a ninguém, muito menos a alguém com uma índole tão baixa quanto a sua. -respondi nervosamente, mas não por eu ser apaixonada pela Pietra, mas sim porque aquela ruiva estava mexendo com a minha cabeça e com meu sexo, mas claro que não queria que ela percebesse.

–Você parece meio nervosa, mas não é nesse ponto que quero chegar… Apenas quero te provar o quanto está tendo uma visão completamente distorcida sobre mim, você acha que sou sem caráter, cafajeste, alguém ruim; mas preciso de uma chance pra te mostrar justamente o contrário. -aquilo me balançou um pouco, mas eu ainda estava muito desconfiada.

–Por que faz tanta questão de que eu tenha uma visão positiva sobre você, Ágatha? Por que se preocupa tanto com a minha opinião se não nos conhecemos, qual a importância disso tudo? -indaguei voltando a me sentar, agora menos desarmada.

–Eu sou advogada, no meu curso sempre aprendi que honestidade é tudo, então preciso provar minha teoria de que estou certa.

–Então você é advogada? Por isso é tão boa assim de lábia e é muito boa com as palavras. -respondi sorrindo sem perceber.

–Primeira vez que você me elogiou e ainda ganhei um sorriso lindo em troca, até que tô no lucro. -respondeu com uma gargalhada gostosa.

–Mas também há advogados que defendem bandidos e usam argumentos falsos para liberá-los da cadeia, quem me garante de que você falará a verdade? -voltei a me armar.

–Você pode ser linda e fofinha, mas também sabe ser chata e grossa quando quer. -disse bebericando mais suco antes de prosseguir. -Usei a minha profissão apenas pra tentar descontrair, mas a verdade é que no meu cotidiano estou acostumada a lidar com mulheres interesseiras, que se aproximam de mim unicamente buscando sexo, status e dinheiro…

–Ainda não entendi porque está me contando tudo isso e o que eu tenho haver com a sua vida, e nem mesmo o porquê de querer me passar uma imagem diferente. -confesso que fui completamente mal educada interrompendo a ruiva.

–Por favor, não me interrompe! Como ia dizendo, na minha vida estou acostumada a conviver com mulheres sem escrúpulos, mas desde aquele dia fatídico que nos conhecemos pela primeira vez percebi que você é completamente diferente da Pietra e de todas as outras. Você é meiga, verdadeira, sensível, honesta, batalhadora, paciente, além de linda e marrenta é claro. Por isso acho que você precisa me conhecer, acreditar quando te digo que não sabia que a Pietra era sua namorada, na boate ela pega todo mundo e diz que é solteira. Eu não namoro, não tenho compromisso fixo com ninguém, mas sempre respeitei os namoros alheios, não é do meu feitio transar com quem namora ou iludir pessoas. -nessa hora fiquei boquiaberta com o que a ruiva, ou melhor, Ágatha pensava ao meu respeito.

–Ágatha, não sei onde conseguiu enxergar tantas qualidades em mim, mesmo em tão pouco tempo, mas mesmo assim obrigada pelos elogios. Tem razão, não te conheço o suficiente pra saber sobre como é o seu caráter, mas ao mesmo tempo vi minha ex-namorada me pondo chifres, te peguei na cama em que eu fazia amor com a Pietra, pra mim é difícil ter boas impressões de você. -disse com toda sinceridade.

–Só quero fazer uma correção, você fazia amor, a sua ex fazia sexo, são coisas completamente diferentes. Eu sei onde fica a casa noturna em que a Pietra é DJ a partir das quintas-feiras, vamos até lá e posso te provar tudo o que digo.

–Pensando bem até que não é uma má ideia… -respondi pensativa.

–Pode ser nessa sexta-feira então? Me passa o seu endereço que te pego às 21:00. Tá bom pra você, Giovanna? -a ruiva perguntou toda entusiasmada.

–Ágatha, isso não é um encontro. -respondi um pouco grossa. -Seria muita loucura ficar com a amante da minha ex-namorada. Passa o endereço da boate que estarei lá nesse horário. Vamos até lá apenas pra provar a sua teoria.

–E quem disse que eu quero ter um encontro com você, Giovanna? Você não faz meu tipo, apenas estava tentando ser educada, não precisava levar as coisas pro outro lado. -nessa hora senti um grande balde de água gelada ser jogado no meu rosto, loucura achar que a Ágatha se interessaria por mim. -Aqui está o endereço. Até sexta! Agora preciso ir, ainda tenho uma audiência no fórum daqui a pouco. Seja pontual! -disse me estendendo um papel com o seu telefone e o endereço da boate, indo embora sem se despedir direito.

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Depois daquela conversa inesperada com a amante da minha ex-namorada, a ruiva que agora sabia que se chamava Ágatha, fui pensativa até a casa do meu irmão. Parecia que haviam me jogado uma praga, eu não conseguia parar de pensar nela, sabia que não tinha a menor chance visto que assim como eu, a Ágatha parece que se atraia por mulheres dominadoras, no estilo da Pietra, ela mesma disse que não tinha compromisso fixo com ninguém, então era melhor eu tirar meu cavalinho da chuva, sem falar que não precisava de mais problemas na minha vida.



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