Nosso Estranho Amor

30. Uma viagem ao passado

Seis anos atrás.

Eu era apenas uma jovem de vinte e um anos. Apesar da pouca idade tinha plena certeza de que era completamente feliz em tudo… Pais que me amavam e faziam de tudo por mim, um irmão mais velho que era meu melhor amigo. Apesar de o Renan estar morando longe, em Montreal, nossa amizade e cumplicidade continuavam a mesma de sempre.

Estava recém-formada no curso de letras, e mais feliz ainda por saber que havia sido efetivada na escola onde anteriormente era apenas uma simples estagiária. Claro que ser professora de crianças pequenas não me rendia um salário tão bom, mas era o suficiente para continuar a pagar minha faculdade de administração, ainda faltava mais dois semestres para chegar ao fim. Com o apoio financeiro e moral de papai e mamãe tudo ia se encaminhando na minha vida.

Nunca pensei que estaria tão aliviada por estar solteira, mas eu não gostava mais do Tiago, na verdade nunca gostei, foi apenas um namoro com o rapaz mais bonito do curso de biologia e que era muito bom de cama, só que com o tempo até o sexo ficou chato, então não havia motivo para que permanecêssemos juntos.

Era uma sexta-feira de feriado e meus pais haviam viajado para a casa dos meus avós no interior, optei por ficar em casa e fazer uma reunião com as minhas amigas, não era sempre que conseguíamos nos reunir. Com exceção de mim, todas ali tinham seus contatinhos, peguetes, ficantes e namorados, menos eu. Sem ter o que fazer o assunto acabou indo para vielas de relacionamento e eu era a peça principal do jogo, as atenções se concentravam na minha pessoa.

–E aí Giovanna? Quando é que você vai voltar pra ativa? Já deve ter uns sete, oito meses que você e o Tiago terminaram. Já passou da hora de voltar a pegar geral. –Ana Luísa perguntava.

–Ai Lu… Eu não sei. Sabe perfeitamente que não curto ficar por ficar. A faculdade e o trabalho tão pegando todo meu tempo. Quando chega no final de semana só quero comer e dormir.

–Piupiu, será que você não gosta do Ti ainda? Se for isso posso dar uma ajudinha pra que vocês voltem. Ele ainda gosta de ti. –foi a vez de Nicole falar.

–Tá doida, Nic? Lembra que eu é que terminei o namoro com o Tiago. Nunca gostei dele e o sexo também já estava sem sal.

–Então vamos sair para uma baladinha, é a chance de conhecer rapazes legais novamente. Lembra do nosso lema: pegar, mas sem se apegar. –Dani comentou.

–Meninas, na verdade eu não vejo mais graça nos rapazes. Até acho alguns bonitos, mas nada além disso. Não quero ficar com homem algum.

–Então tá explicado. A Piupiu tá querendo experimentar mulheres e descobrir sua nova vocação. Nossa missão é encontrar uma mulher que te pegue de jeito. –não aguentei e comecei a tossir. Havia me engasgado com a própria saliva depois de ouvir a ideia descabida da Nicole, ela sempre a mais doida.

–Nicole, tá ficando louca? Eu sou hétero, apenas ando sem cabeça pra essas coisas. Eu não sou lésbica, bissexual ou coisa do gênero. Gosto mesmo é de homem.

–Acho que a Nicole está certa. Se não quer ficar com homens, por que não ficar com uma mulher? Talvez seja apenas uma simples curiosidade.

–Ana Luisa, não acredito que até você vai dar pilha pra esse assunto! –comentei indignada. –Vocês querem que eu beije a primeira mulher que passar?

–A Deb é lésbica. Por que não dão um selinho agora?

–Nem que eu fosse maluca. –Débora que até então permanecia calada comentou. Não ia com a cara dela, mas a aturava por ser amiga da Nic e da Aninha.

–Prefiro nunca mais beijar na vida do que ficar com essa garota insuportável. –rebati de volta.

–Meninas, a Giovanna é muito certinha, é católica. Jamais iria beijar uma mulher.

–Você está enganada, Débora. –disse controlando minha fúria. –Beijo a mulher que eu quiser.

–É mesmo? Vocês sabem que eu adoro o Carpe Dien. Desafio a Giovanna a ir conosco nessa boate hoje a noite e beijar uma mulher.

–Não vai dar. Amanhã já começo a montar meu TCC. –não queria ir de jeito nenhum a um ambiente que reunia viado, sapatão e todas essas coisas que não faziam parte do meu mundo.

–Sabia que ia fraquejar. Sem coragem pra ir nessa boate LGBT. Giovanna é uma medrosa mesmo. –Débora comentou maldosamente.

–Gi, aceita ir na boate e mostra que a Débora tá errada. –Aninha disse.

–Amiga, não faça nada que não se sinta bem. Não se sinta pressionada a nada. –Dani que era minha melhor amiga desde sempre me apoiou, mas eu já tinha minha decisão tomada.

–Já decidi. Vamos nessa boate e eu não saio de lá sem beijar uma mulher, só pra provar que não gosto da fruta, e não será um beijo que mudará minha sexualidade. Assim provo que sou mente aberta, sou hétero e vocês largam do meu pé.

–Não é que a Piupiu tem coragem? –Nic comemorava minha decisão.

E assim as horas foram se seguindo. Já era quase meia-noite quando chegamos à boate, nunca imaginei que na capital carioca havia tantos gays, lésbicas, drags, travestis e coisas do gênero. A nojenta da Débora logo se mandou para ficar com alguma garota, restando apenas Aninha, Dani, Nicole e eu na mesa. Nic e Ana Luisa começaram a beber e sumiram. Quando fomos procurar nossas amigas, as duas estavam aos beijos e amassos. Quase tive um troço ali mesmo, e com ajuda da Dani voltei para a nossa mesa.

–Jesus! Jamais imaginei que nossas amigas pudessem curtir mulher, principalmente a Nic… Ela dava geral pros caras. –Dani comentou desacreditada.

–Pelo visto as aparências enganam. Também jurava que nossas amigas fossem héteros.

Ficamos conversando sobre a descoberta recente até que começou a tocar uma música eletrônica que eu amava. Meu olhar acabou indo na direção da música, ali me deparei com uma moça morena, muito alta e cabelos curtos, lisos e pretos, ela estava de costas para mim, por isso não me viu, mesmo não vendo seu rosto imaginei o quanto ela deveria ser gata pois estava rodeada por várias meninas, as quais  imploravam pela sua atenção. Parece que ela notou que estava sendo observada, virou-se e seu olhar bateu no meu, ela tinha uns olhos claros magníficos, os seus piercings eram perfeitos, o nariz pequeno combinava harmoniosamente com os lábios carnudos. Quando notei que ela me olhava sorrindo, fiquei mais vermelha do que tomate e quebrei o contato visual. Eu me sentia uma completa idiota por estar babando por uma completa estranha.

–Aposto que você não prestou atenção em uma palavra do que disse. –Dani reclamou.

–Desculpa amiga. É que meus pensamentos voaram pra longe, tô preocupada com meu TCC. –menti descaradamente, mas a Dani me conhecia bem para saber que não era verdade.

–Talvez seus pensamentos voaram para alguma moça interessante que conheceu.

–Não diga bobagens! –respondi nervosamente tomando o resto do meu suco.

Voltei a olhar para onde a moça bonita estava. Para a minha sorte ou azar… Definitivamente não sei qual termo usar… Ela continuava com um sorriso perfeito e me olhando com cara de safada sem dar atenção para as meninas que estavam ao seu redor lhe paparicando.

Novamente quebrei o contato visual e procurei voltar a atenção para o que a Dani falava. Tudo estava indo bem até que algum tempo depois um garçom chegou com uma bebida para mim.

–Deve ter algum engano moço, eu não pedi bebida nenhuma. –era a verdade.

–Mas me pediram para deixar nessa mesa e estou apenas obedecendo uma ordem. –o rapaz insistia.

–Dani, então pega a bebida pra você. Deve ser alguma mulher te paquerando. –disse rindo.

–Não, é para você mesma. Pediram para que a entrega fosse feita para a mulher loira. –disse e se retirou.

Até pensei na possibilidade daquela linda moça de cabelos curtos ter pagado a bebida, mas não a vi mais, então logo descartei essa hipótese. Simplesmente peguei o líquido e despejei na lixeira.

–Não acredito que fez uma coisa dessas. –Dani comentou indignada.

–Fiz e faria novamente. –falei sorrindo.

Voltamos a conversar até que senti uma voz pelas minhas costas, a qual me arrepiou inteira.

–Seus pais não te ensinaram que é feio não aceitar os presentes alheios? –para a minha surpresa me deparei novamente com a mulher alta e de cabelos curtos. Pessoalmente ela era muito mais linda e charmosa, além de simpática. Seus olhos mudavam entre o verde e o azul.

–Meus pais me ensinaram que não devo aceitar bebida de desconhecidos, vai que pode ter algo pra me dopar. –disse levando meu suco à boca. Percebi que a estranha mordeu o lábio inferior e eu achei esse ato muito sexy.

–Não seja por isso. Meu nome é Pietra, agora não sou mais uma desconhecida.

–Pietra, sou a Dani, e a loirinha é a Giovanna, minha melhor amiga. Senta com a gente. Minha amiga é tímida no início, mas é muito gente boa. –minha vontade era esganar a Dani e ao mesmo tempo lhe abraçar.

Iríamos engatar em uma conversa animada até que Aninha, Nicole e Débora voltaram e se sentaram conosco. Sempre podia contar com a Nic para me fazer morrer de vergonha.

–Ana Luisa, eu tô muito bêbada ou tem uma morena de parar o trânsito na minha frente? Sou hétero, mas com uma mulher dessas nunca mais ia querer saber de homem. –Nic ria do seu próprio comentário.

–Sabemos o quanto você é hétero minha amiga, não precisa repetir. –Dani disse enquanto trocávamos um sorriso cúmplice lembrando do beijo trocado entre nossas amigas.

–Nicole, ainda tá muito cedo para você pagar mico, deixa um pouco pra mais tarde, mas convenhamos… Nunca vi uma mulher tão linda na minha vida. –Ana Luisa falava encantada. –Você é amiga da Débora?

–Aninha, não seja boba! Com um mulherão desses, eu seria muito mais do que amiga, casava na igreja, dava casa, comida e roupa lavada. De onde você conhece a Daniela e a esquisita? –Débora indagou indo sentar descaradamente ao lado da Pietra enquanto levantava o vestido propositalmente para mostrar as coxas.

–Então, estava passando e achei uma das suas amigas muito simpáticas, resolvi sentar com elas… –Pietra nem pôde terminar de falar e foi interrompida por Débora.

–Sinto muito em informar, mas a Daniela é hétero e deve ter pelo menos uns vinte ficantes nessa cidade. –Débora não parava de tentar chamar atenção para si. –Em compensação eu estou solteirinha e sou a única do grupo que curte mulheres.

–Débora, foi a Giovanna que chamou a atenção da morena, não eu. –Dani falou e notei o olhar desacreditado da nissei.

–Dani, já conheço você e a Giovanna. Por que não me apresentam o restante das meninas?

–Sou a Nicole e só pra constar, não sou hétero como a Deb falou, tenho curiosidade em ficar com mulher, principalmente se for você, a que tá me olhando torto é a Ana Luisa e a japinha é a Débora. –Nicole dava em cima descaradamente da Pietra que parecia nem se importar, linda daquele jeito já deveria estar mais do que acostumada.

–É uma enorme satisfação conhecer todas vocês, meu nome é Pietra. –respondeu simpaticamente.

–Você é a Pietra Gonçalves Faoen? A nova DJ da boate? Tá explicado porque nunca te vi antes, se tivesse visto jamais deixaria escapar um pedaço de mau caminho desses. –Débora indagou empolgada.

–Sou a nova DJ, mas meu sobrenome não é Faoen, é Pietra Failen. –a estonteante morena falou educadamente. Com certeza ela seria a nova conquista da Débora naquela noite, por esse motivo fiquei um pouco triste.

–Ah sei… Sobrenome italiano, né?! –Débora comentava querendo bancar a inteligente.

–Não Débora, na verdade é um sobrenome inglês. –comentei e senti seu olhar furioso sobre mim.

–Sim, a Giovanna está certa. Ela sabe o que diz. –a morena tinha um sorriso tão lindo que não era trabalho algum me perder nele.

–Você é brasileira, Pietra? Fala tão bem o português. –Aninha indagou.

–Não, nasci em Atlanta, mas minha mãe e minha irmã mais velha são brasileiras, meu pai é americano. Depois da separação vivi entre os dois países, passei as últimas férias por lá, mas já estou de volta.

–É óbvio que uma gostosa dessas não seria brasileira, é uma beleza rara. –Nic comentou.

–Nem começa, Nicole. Abaixa o fogo que eu vi primeiro. –foi a vez de Débora falar.

As meninas monopolizaram a atenção de Pietra apenas para elas. Nicole e Débora competiam entre si para saber com quem a DJ ficaria, Ana Luisa não conseguia disfarçar os ciúmes que sentia de Nic. Dani tentava me pedir calma com o olhar, mas eu nem ligava, pouco me importava com quem a morena iria ficar, pelo menos era o que tentava me convencer inutilmente.

–Meninas, a conversa está ótima, mas preciso retornar ao trabalho. Se quiserem, podem me esperar que ao final do meu turno deixo cada uma nas suas casas e com segurança.

–Você tem carro? –Débora nem conseguia disfarçar o quanto era interesseira.

–Sim, com licença. –Pietra se despediu de nós e voltou para o seu trabalho.

Podia até ser coisa da minha cabeça, mas sentia que Pietra escolhia as músicas para jogar indiretas para mim, pelas próprias letras das canções e pelo seu olhar libidinoso na minha direção.

Cerca de uma hora e meia depois, a morena terminou o seu trabalho e nos ofereceu uma carona, sem chances para recusas. Débora fez questão de ir no banco do carona, mas Pietra fez questão de deixar claro quem queria que fosse ao seu lado no carro.

–Débora, vai atrás com as meninas, a Giovanna vai ao meu lado. –a morena disse de maneira tão natural que obviamente fiquei surpresa.

–Eu posso ir ao seu lado no lugar da Giovanna. –Nic comentou.

–Por que a esquisita vai ao seu lado? Ela nem é lésbica e é tão sem graça, não tem a experiência que tenho. –Débora insistiu.

–E eu não sei o porquê de você está sendo tão desagradável com a sua amiga. Já entendi desde o início que você quer ficar comigo, deixou o recado mais do que explícito, mas você também deveria ter entendido nas entrelinhas todos os cortes nas cantadas descaradas que me deu. Nem você e nem a Nicole me interessam. Se tem alguém daqui que faço questão de conhecer desde que meus olhos bateram é a Giovanna, mas vocês não nos deixaram a vontade. –todas nós ficamos perplexas diante daquela resposta, principalmente eu, e demorou até que alguém emitisse uma fala. Pietra parece que falava na lata as coisas.

–Depois dessa acho que é até melhor irmos embora e deixar a Pietra com a Gi. –Ana Luísa ponderou.

–Não sei o que você viu nessa garota, Pietra. Ela é tão sem graça. –Débora falou.

–O que eu vi na Giovanna não sei te responder e é o que pretendo descobrir, mas o que vi em você é fácil de deduzir: uma mulher fútil, vulgar, interesseira e invejosa. –a morena comentou tranquilamente.

–Déb, não vamos continuar aqui. Vamos de táxi mesmo. –Nicole disse me olhando com certa raiva. Elas eram amigas de longa data, não esperava mesmo que Nic fosse sair ao meu favor.

–Agora eu vou, mas ainda teremos revanche, Giovanna. Você me paga. –sussurrando essas palavras no meu ouvido, Débora, Nicole e Ana Luisa se mandaram dali.

–Meninas, se vocês quiserem também posso ir embora, assim terão mais privacidade. –Daniela comentou de forma meiga.

–É claro que não minha amiga, você fica. –disse indo dar um abraço apertado na Dani.

–A Giovanna está certa, senti que é a única amizade verdadeira da loirinha. –Pietra disse piscando para mim.

Depois tudo foi acontecendo rapidamente. Assim que deixamos Dani na casa dela, e ficamos a sós, Pietra começou a me falar mais sobre a vida dela enquanto dirigia rumo à minha casa. Éramos quase da mesma idade, ela era apenas um ano mais velha. Por influência do pai estava terminando a faculdade de engenharia civil, mas seu maior amor era pela música, adorava ser DJ. Naquela manhã de sábado demos nosso primeiro beijo em frente à porta da minha casa. Não tenho palavras para descrever o quanto é maravilhoso beijar uma mulher, sentir o roscar de uma língua feminina na minha foi uma das melhores sensações que já havia sentido, nunca antes minha calcinha havia ficado molhada com apenas um beijo, se soubesse que era assim tão bom já teria experimentado ficar com uma mulher há muito tempo. Lábios macios, nada de barba espetando, até o cheiro da mulher é diferente. Definitivamente estava completamente encantada pela Pietra e pela maneira carinhosa que era tratada.

Dei meu número, mas nem esperava que a morena fosse entrar em contato, ela tinha cara de cafajeste e as meninas caíam matando em cima dela, eu deveria ser apenas mais uma que ela beijou. Obviamente fui surpreendida quando recebi sua ligação no dia seguinte, pedindo para que almoçássemos juntas.

–Confesso que fiquei com medo de você recusar o meu convite. –Pietra comentou enquanto estacionava o carro na frente da sua casa onde morava sozinha.

–E eu fiquei extremamente surpresa com esse convite. Você tem tantas meninas no seu pé que não imaginei que lembraria justamente de mim e tão rápido. –falei um pouco tímida.

–Você é muito atraente, interessante e instigante, Giovanna. Despertou em mim a vontade de me aproximar, te conhecer melhor, te proteger e ver no que dar. Nunca senti algo assim antes. –falou me encarando profundamente.

–Pietra, nunca estive com outra mulher, mas confesso que me senti atraída por você e aquele beijo que trocamos… Não tenho nem palavras, nunca antes fiquei excitada com apenas um beijo. –falei sem graça. –Creio que você deve estar acostumada com mulheres mais experientes e não sei se vou conseguir fazer as coisas corretamente caso role algo a mais entre a gente…

–Sssshhhh! –Pietra colocou o dedo indicador na minha boca. –Adoro ser professora e vou adorar te ensinar os mínimos detalhes de uma relação entre duas mulheres, tenho certeza de que você não vai se arrepender.

Começamos a nos beijar delicadamente, posteriormente o beijo foi tomando proporções maiores e já estávamos em um amasso gostoso no sofá. Tudo estava maravilhosamente bem, eu estava mais excitada do que nunca quando comecei a sentir Pietra chupar e lamber meu pescoço me arrancando gemidos enquanto massageava meus seios ainda por cima da blusa. Lembrei que poderia ser mais uma na lista da DJ e não queria parecer vagabunda.

–Por favor, não vamos apressar as coisas. Vamos com mais calma! –respondi afastando aquela morena deliciosa do meu corpo.

–Peço desculpas, mas a culpa é toda sua por ser tão gostosa. É melhor almoçarmos antes que você vire o prato principal. –Pietra jogou uma piada safada, odiaria se tivesse vindo de algum homem, só que vindo dela, era uma honra.

–Cafajeste! –disse lhe dando um leve beliscão.

 Nos próximos dias passamos a tomar café da manhã sempre juntas, amava estar ao lado de Pietra mesmo que não tivéssemos um compromisso fixo, tudo nela me encatava. Tudo estava indo bem até que na quarta-feira tive uma briga feia com a Débora. A nissei insinuou para nossas amigas que gostava da Pietra, mas eu roubei a DJ dela, tanto a Nicole quanto Ana Luisa ficaram ao lado dela, minha sorte é que a Dani sempre permaneceu ao meu lado. Não satisfeita em afastar minhas duas amigas, ainda prometeu que iria se vingar de mim, isso tudo aconteceu na quarta-feira, justamente no dia em que a Pietra me pediu em namoro e disse que nunca se interessaria pela nissei.

Na quinta-feira estava radiante, ainda não havia ido além com a Pietra, se é que me entendem… Estava um pouco grilada sobre como iria apresentar uma namorada para os meus pais, como seria o sexo entre duas mulheres e se a morena iria gostar da minha performance, mas no momento apenas queria curtir essa sensação de estar com uma mulher, ainda mais alguém tão bela, simpática e inteligente quanto a DJ. Neste dia realizei minha rotina de sempre… Trabalhei durante a manhã e de tarde fui para a faculdade, mesmo com o tempo corrido sempre dava um jeito de trocar mensagens carinhosas com a linda morena.

Quando cheguei em casa meus pais aparentemente estavam normais. Tínhamos o costume de jantarmos juntos, mas na minha opinião os dois estavam muito calados. Estranhei principalmente a minha mãe, ela era muito falante, então para estar naquele silêncio irritante, algo não estava bem.

–Mãe, pai… Aconteceu algo de ruim? Tiveram dia difícil no trabalho? –perguntei encarando os dois.

–Minha caçulinha, na verdade acho que você foi vitima de calúnias e inveja. Mesmo sabendo que se trata de uma mentira ficamos chateados com o que ouvimos. –minha mãe disse se aproximando de mim para me abraçar.

–Grazi, sobre o que está falando? Não tô entendendo. –Graziele teve o Renan ainda no auge da adolescência, e eu nasci quando mamis tinha apenas dezenove anos, por isso as vezes lhe chamava pelo nome. Meus pais eram muito jovens.

–Baixinha, hoje a Débora veio em casa conversar com a gente, teve a audácia de falar que você estava se relacionando com uma mulher. Dá pra acreditar nisso?! –meu pai, Marcos, andava pela sala de jantar rindo. –Ela deve achar que você sofre do mesmo mal que ela. Por mim deixaria esse assunto pra lá, mas sua mãe fez questão de conversarmos com você.

–Confesso que foi bobeira me preocupar com esse assunto. Até parece que minha neném seria uma sapatão asquerosa. Não tem cabimento. –minha mãe comentava.

Meus pais começaram a rir e fazerem alguns comentários maldosos sobre LGBTs, até que não aguentei e com lágrimas nos olhos resolvi me assumir logo.

–Dá para vocês dois pararem com essas gozações? A Débora jamais deveria ter se vingado de mim dessa forma, mas sinto em dizer que é verdade tudo o que ela falou. Eu gosto e estou namorando com uma mulher. Eu é que deveria falar. Não adianta mentir pois mais cedo ou mais tarde vocês iriam descobrir. –falei de uma só vez antes que perdesse a coragem.

Minha mãe era loira e branca, aliás, eu era a cópia dela fisicamente. Grazi se sentou extremamente pálida e com as mãos suando, meu pai também estava pálido. Nenhum dos dois saberia o que dizer.

–Marcos, diz que é mentira o que estou ouvindo. Diz que a minha filha não é sapatão. –minha mãe bebia um copo de água com açúcar nervosamente.

–Giovanna, percebe a seriedade desse assunto? Você não deveria brincar com algo assim. –não sabia qual dos dois estava mais pálido.

–Pai, não estou brincando. Não estava nos meus planos, mas estou gostando de uma mulher e é reciproco…

–Cala boca Giovanna! Não se atreva a fazer um comentário a mais sobre esse assunto. De hoje em diante abriremos uma corrente de oração na igreja. Seu caminho será só para o trabalho e para a faculdade. Para me certificar de que você não estará me enganando, o motorista irá te levar. –sabia que meus pais não teriam a melhor reação do mundo como católicos convictos, mas não esperava que chegaria a esse nível.

–Mãe, eu já sou maior de idade. Sabe que não pode mais ditar as regras na minha vida.

–Eu ajudo a pagar sua faculdade, você mora debaixo do meu teto, pago suas roupas, sapatos, tudo o que você usa. Não tem escolha, Giovanna. –minha mãe era a mais mente fechada.

–Não vou me submeter ao que você quer. Não sou mais criança e não vou deixar que interfiram na minha vida pessoal.

–Marcos, fala alguma coisa. Sua filha está me desafiando.

–Giovanna, vá para o seu quarto. Preciso conversar com a sua mãe.

Na minha cabeça inocente pensava que meu pai que sempre foi meu herói iria conversar com a minha mãe para lhe fazer mudar de ideia, mas não estava preparada para o que viria a seguir. Depois de quase três horas no meu quarto, senti sede. Quando tentei abrir a porta, descobri que a mesma estava trancada.

–Mãe, pai. O que estão fazendo comigo? Não podem me manter trancada aqui para sempre. Isso não mudará em nada quem sou. –gritei batendo na porta.

–Nós faremos qualquer coisa para tirar essa ideia louca de se meter com mulheres, nem que você vire uma cativeira. –minha mãe gritava ainda mais alto.

–Pai, você sempre foi meu herói. Sempre continuarei a ser sua filhinha que você colocava pra dormir e morria de medo do escuro. Cadê todo amor que dizia sentir por mim? –estava desesperada. Minha mãe estava irredutível, então só me restava apelar para o amor do meu pai.

–Pequena, é justamente por te amar tanto que preciso evitar que cometa algumas loucuras. Durma e amanhã conversaremos.

Continuei a gritar, esbravejar, mas tudo era em vão. A sorte era que eu estava com o meu celular e a bateria estava cheia. Enviei uma mensagem para Pietra explicando tudo o que estava acontecendo. Ela pareceu bastante apreensiva… Disse que estava no meio do trabalho, mas que era para eu preparar algumas malas que de uma forma ou de outra me levaria dali. Achei que minha namorada não estava falando sério e acabei cochilando. Fui despertada com a porta do meu quarto sendo arrombada por dois homens fortes e a Pietra logo atrás.

–Pinguim, por que ainda não arrumou suas coisas? Disse que viria te buscar. Precisamos ser rápidas.

–Pietra, eu não tenho pra onde ir. Não posso fazer nada.

–Apenas confia em mim. Vamos logo arrumar suas malas.

Para encurtar tudo o que aconteceu naquela maldita quinta-feira. A Pietra acionou alguns policiais explicando toda a situação e eles foram até à minha casa. No final das contas meus pais me pagaram uma pequena indenização para não responderem judicialmente por cárcere privado.

 A última vez que vi meus pais foi quando deixei aquela casa, praticamente fui expulsa. Ainda está na minha memória as últimas palavras deles.

–Jamais esperava essa atitude sua, Giovanna. Eu te odeio. A partir desse momento esqueça que tem mãe. Você morreu pra mim. –essas palavras de Grazi que até então considerava como minha melhor amiga doeram mais do que inúmeras facadas e torturas possíveis.

–Você também me odeia, meu pai, meu herói? –indaguei encarando o homem mais velho.

–Eu te amo e sempre vou te amar pequenina, mas no momento sua mãe precisa muito mais de mim do que você. Por enquanto não me procure mais minha filha.  Moça, por favor, cuide bem do meu tesouro. –meu pai disse se voltando para a Pietra e entrando na casa sem dizer mais nada.

Em meio á choros e um rosto completamente inchado fui conduzida de carro e depois paramos em frente à uma casa em um condomínio calmo, a casa de Pietra.

–Prometo que vou ficar só durante um tempo e vou te ajudar com as despesas. –dizia enquanto a Pietra me apresentava cada cômodo da casa.

–Eu não quero você só por um tempo, Pinguim. Quero você pra sempre, enquanto quiser ficar comigo. –adorava esse apelido carinhoso.

–Pietra, você mal me conhece. Vou trancar a faculdade e com o dinheiro do meu emprego ajudo com as contas.

–Uma das primeiras leis sapatônicas é morar logo junta. E eu vou segurando as barras até você se estabilizar financeiramente e emocionalmente também. Nem pense em largar sua faculdade. Sei que você ama seu curso e a administração representa muito na sua vida. –disse me arrancando um beijo apaixonado.

–Eu não posso aceitar. Isso não seria justo. –ainda tentei argumentar.

–Injusto será se eu quiser fazer amor agora e você não quiser. –disse já acariciando o meu corpo fazendo todos meus sentidos se acenderem.

–É o que mais quero! –disse indo abraçar minha namorada carinhosamente.

O beijo apaixonado que veio a seguir balançou todas as minhas estruturas, tudo bem que já havíamos nos beijado antes, mas dessa vez sabia que seria um beijo diferente, estava carregado mais de desejo e urgência para que nossos corpos estivessem mais próximos. Em questão de segundos nos perdemos em um delicioso amasso no sofá até que Pietra se afastou.

–Amor, por que você parou? Tava tudo tão bom. –perguntei meio desacreditada.

–Nossa primeira vez não será em um sofá, amanhã não quero te ver com dores. Vamos para o nosso quarto!

Quando fiz menção de levantar, fiquei sem jeito quando Pietra simplesmente me pegou no colo com seus braços musculosos, e mesmo no curto trajeto até ao quarto não parava de beijar minha boca.

Tentamos fazer tudo com calma e de maneira romântica, mas nossos corpos se desejavam tanto que era impossível agirmos de maneira equilibrada. Habilidosamente, a morena se livrou de todas as minhas roupas e das dela, ficamos apenas com peças íntimas.

–Como você consegue ser tão gostosa, Giovanna? –Pietra indagava mordendo o lóbulo da minha orelha. –Questiono porque não te encontrei antes.

–Porque ainda não era o momento certo, mas agora estou aqui e não pretendo partir. –dizia com o pouco de fôlego que me restava.

A morena desceu beijando e lambendo toda extensão do meu pescoço chegando rapidamente aos meus seios, e minha namorada não escondeu o fato do quanto ficou maravilhada com eles.

–Nunca vi seios tão lindos na minha vida! –dizia apertando meus peitos.

–E o que tá esperando?! Eles estão implorando pela sua boca neles. –falei de uma forma mais ousada.

Com aquele olhar cafajeste, a estonteante morena se apoderou dos seios que agora eram apenas dela, chupando-os, lambendo e me levando a loucura quando mordia os biquinhos.

Algum tempo depois, a DJ desceu mordendo toda extensão da minha barriga. Gemi alto quando vi a morena cheirar meu sexo ainda por cima da calcinha, seu olhar era tão libidinoso que imaginei que não seria difícil gozar ali mesmo.

–Acho que você ainda tá com roupa demais. –gemeu de maneira safada e com a voz rouca.

Em frações de segundos minha calcinha foi rasgada e senti meu sexo ser devorado com ânsia e desejo, carinho e amor. Quando senti minha buceta ser massageada por aquela língua sacana em toda sua extensão, concentrando-se no meu clitóris e meu interior ser preenchido por dois dedos, comecei a entender o que as pessoas falavam sobre as lésbicas possuírem algum tipo de mestrado nessa área, pelo menos Pietra sabia o que fazia. Era a primeira vez na vida que gozava tantas vezes com o sexo oral, mal me recuperava de um orgasmo e já vinha outro.

–Vai amor, me come! Isso tudo é tão gostoso. –gemia de forma alucinada e Pietra apenas satisfazia meus desejos.

Acho que depois do quinto ou sexto orgasmo puxei Pietra para o meu colo.

–Nunca gozei tanto na vida. –dizia ainda sentindo meu coração acelerado.

–Você é muito gostosa, não é difícil te proporcionar prazer. –a gatinha falou enquanto acariciava meus cabelos.

–Por falar em gostosa, você ainda tá de sutiã e calcinha, quero você completamente nua. –disse fazendo menção de tirar o restante das roupas da morena, mas fui impedida.

–Tudo bem, deixa que eu tiro. –comentou falando calmamente retirando as peças íntimas. Seus seios eram de tamanho médio e tinham as auréolas marrons, meu olhar caiu descaradamente no seu sexo depilado e não pude controlar o quanto senti sede de experimentá-lo com a minha própria língua. Só que quando fiz menção novamente de ir para cima de Pietra, fui barrada outra vez quando ela percebeu minha intenção.

–Giovanna, por favor, não faz isso! –comentou voltando a se deitar na cama.

–Por que não? Você é tão linda e maravilhosa, também quero experimentar seu corpo. Sei que sou inexperiente no assunto, mas vou tentar não te decepcionar. –falei sem entender o motivo da recusa de Pietra.

–Não se trata de experiência, Pinguim… Mas há lésbicas que sentem prazer proporcionando prazer à parceira, eu sou assim. Não tenho prazer em ser tocada. –fiquei em dúvidas sobre como alguém sentia prazer sem ser tocada, mas achei que não era o melhor momento para entender a mente da Pietra. –Vou te ensinar mais uma forma gostosa de sentir prazer. –a DJ comentou ao notar meu embaraço.

A morena posicionou o seu sexo sobre o meu e começamos uma dança alucinada, e eu que pensava que o sexo entre mulheres era chato, ledo engano. Durante nosso rebolado erótico até tentei tocar nos seios da Pietra, só que fui impedida, em um movimento rápido, ela colocou minhas mãos acima da cabeça e começou a chupar novamente meus seios enquanto gemíamos horrores. Novamente gozamos e nos amamos pelo resto da madrugada.

Meu plano inicial era me estruturar e depois ir morar sozinha, mas não consegui resistir ao charme da Pietra. O tempo foi passando… Terminei a minha faculdade de administração e trabalhava já ajudando com as despesas da casa. Com a Pietra era a mesma coisa, ela terminou o curso de engenharia civil e continuava trabalhando como DJ. Nos três primeiros anos e meio de namoro vivíamos como duas apaixonadas, a morena me proporcionou momentos maravilhosos preciso reconhecer, descobri que Pietra era ativa e dominadora na cama, mas de vez em quando podia lhe fazer um oral ou tocar seus seios, melhor do que nada.

Eu era muito esquentada quando tinha algum problema, mas ela sempre tratava de me animar e me fazia sorrir com as piadas mais sem graças possíveis. Cuidava de mim quando estava doente, com cólica e fiscalizava até mesmo se eu me alimentava bem ou não, sempre “puxando minha orelha” quando comia fora do horário. A família da Pietra também era maravilhosa, e acabei me apegando muito na tia Marcela, minha querida sogrinha que por tanto tempo cuidou de mim como uma mãe. De brinde, ainda ganhei uma irmã mais velha, a Bianca que era mãe do fofo do Mateus. Um dos momentos que mais me senti amada, não apenas por Pietra, mas também pelo restante da minha nova família, foi no aniversário da minha sogrinha. Justamente neste dia a virose me pegou de jeito e eu não tinha forças nem para me alimentar direito.

–Meu bebê, você tá muito doentinha! Não vai dar pra ir no aniversário da mamãe desse jeito. –Pietra dizia após medir minha temperatura.

–Pior que eu sei, amor… –falei com a voz fraca. –Acho que é melhor você ir logo pra casa da tia Marcela antes que fique tarde.

–E te deixar dodói e sozinha? Só se eu fosse muito louca. Não mesmo! –Pietra falava irredutível.

–A Dani pode me fazer companhia enquanto estiver longe, esse é dia muito especial pra titia, é o aniversário dela e não é justo faltar por minha causa. –minha fala foi seguida por um espirro.

–Tá bom, mas vou tentar não demorar.

Pietra foi embora assim que Dani chegou para me fazer companhia. Confesso que achei estranho quando menos de duas horas depois, ouvi uma movimentação estranha pela casa. Segundos depois não acreditei no que ouvi e vi.

–SURPRESA! –no meu quarto entraram várias pessoas conhecidas e que eu já amava, toda família da Pietra estava ali, inclusive a aniversariante. Estavam vestidos de maneira engraçada, com bolo e outras guloseimas na mão.

–O que significa isso, Pietra? –indaguei já sabendo a resposta. –Deveriam estar comemorando o aniversário da tia Marcela.

–E o que acha que estamos fazendo, querida? Vamos comemorar o meu aniversário, só mudou a localização. Achou mesmo que iria fazer minha festa longe da minha terceira filha? Não teria cabimento. –tia Marcela sempre dizia que havia ganhado mais uma filha com a minha chegada na família.

–Não precisavam ter mudado tudo por minha causa, mas muito obrigada. –respondi com lágrimas nos olhos, minha emoção era palpável.

–Pinguim, foi mal a demora. Precisávamos de um tempinho pra preparar algumas coisas que você pudesse comer mesmo doentinha. –Pietra disse se aproximando de mim e encostando a cabeça no meu ombro.

–Amor, você não existe. Eu te amo muito, muito e muito… –disse lhe agarrando e lhe dando um beijo apaixonado.

–Eu te amo e sempre vou te amar, Pinguim. –Pietra dizia ainda retribuindo o beijo.

–Olha só essas duas no maior love, poderiam casar logo. –Bianca dizia enquanto se jogava na nossa cama. –Eu também quero atenção.

–Cara, você é muito espaçosa. Larga da minha namorada… –Pietra reclamava fingindo indignação.

–Deixa a Bibi em paz, ela é minha irmã também. –disse formando um abraço triplo entre eu, a Pietra e Bianca.

Como minha saúde ainda estava um pouco fragilizada, não pude me aproximar tanto do filho da Bianca, contentava-me em vê-lo engatinhar.

–O Mateus tá tão lindinho, tá crescendo rápido, só faz a minha vontade de ser mãe aumentar. –dizia observando de longe o pequenino.

–Nós seremos mãe meu amor! Vamos casar e ter um filho. –Pietra comentava entrelaçando nossas mãos.

–Só um filho, Pietra? Quero ter quatro filhos, dois casais. –falava feliz da vida.

–Pinguim, vamos com calma! Quatro crianças nos deixarão maluquinhas. –a morena comentava rindo.

–Tá bom, eu me conformo com três filhos, menos do que isso não quero.

–Anotado meu bem! Seremos mães de três crianças. É bom que já sei trocar a fralda do Mateus. Quando tivermos nosso primeiro filho, não teremos problemas dessa natureza.

–Mãe, vem vê só! Suas filhas já estão até planejando a quantidade de filhos, só falta comprar os cachorros, gatos e papagaios. –Bibi zombava de nós.

–Para sua boba! –dissemos em um coro mostrando língua para Bianca.

–Bianca, deixe suas irmãs em paz! –tia Marcela ralhava em tom de brincadeira.

Nesse clima contagiante sentia todo amor possível e que estava no lugar certo.

A fase complicada do meu relacionamento veio quando consegui um emprego melhor, passei a trabalhar o dia todo e chegava estressada em casa, soltando fogo pelas ventas, com o passar do tempo minha namorada e eu passamos a conviver quase como colegas de quarto, sexo era raridade, e quando a Pietra tentava estabelecer algum diálogo comigo, sempre lhe tratava de maneira grosseira. O exemplo disso foi quando tivemos uma pequena discussão justo no dia que seria a nossa folga.

–Meu amor, o que você acha de pegarmos um cineminha hoje? Não passamos mais tanto tempo juntas e morro de saudades dos nossos passeios românticos. –Pietra dizia começando a massagear meus ombros. A massagem que era para me desestressar teve efeito contrário.

–Pietra, não sei se reparou, mas tenho dezenas de provas pra corrigir, amanhã mesmo preciso lançar essas notas. Queria saber se está cega pra não ter visto esse monte de papel na mesa. –respondi mal humorada e morrendo de dor na coluna.

–Não combinamos de tirar um dia de folga para que pudéssemos curtir o nosso namoro? Giovanna, você tá trabalhando desde muito cedo e ainda não comeu nada, nem café tomou.

–Agora você vai ficar fiscalizando se eu como ou não? Já sou bem grandinha, sei me cuidar perfeitamente e não preciso que me vigie 24 horas por dia. –dizia ainda mais estressada.

–Depois dessa patada, vou até embora. –Pietra disse calçando os sapatos.

–Posso saber pra onde você vai? –perguntei ainda concentrada nas provas.

–Por enquanto vou pra casa da Bianca ficar bem longe do seu mal humor, vai que é contagioso… Mas se você não melhorar suas atitudes comigo, talvez eu vá procurar uma nova namorada ou amante. Procurar na rua o que não tenho em casa.

–Isso é uma chantagem dizendo que vai me trair? –perguntei ironicamente.

–Não Giovanna, é apenas um aviso. Cabe a você decidir se esse fato se concretizará ou não, depende das suas atitudes. –Pietra comentou me olhando fixamente.

–Chega de conversinha fiada e vitimismo, Pietra. Faça o que quiser, apenas me deixe trabalhar em paz. –disse voltando minha concentração para os papéis à minha frente.

–Como você quiser, Giovanna. –Pietra disse indo embora de vez e me deixando com meu trabalho.

 Confesso que quando a Pietra queria ir além eu sempre dava um jeito de escapar, era dor de cabeça, menstruação adiantada, as desculpas mais esfarrapadas possíveis, eu havia conseguido um emprego muito bom em uma das mais prestigiadas escolas do Estado, estava tão contente com meu sucesso profissional que larguei completamente meu namoro de mão, e quando eu queria transar a Pietra dizia não estar no pique, até que ela se cansou e por sorte não me procurava mais, acho que foram aí que as traições começaram, lembro como se fosse ontem.

Em um domingo qualquer estávamos sem nada para fazer em casa, assistindo um filme sem graça, não conversávamos, parecíamos duas estranhas. Minha namorada estava mais gata do que nunca, e meu apetite sexual reacendeu com força total. Maliciosamente fui sentar no colo da Pietra, comecei a beijar todo seu rosto e quando ia chegar na sua boca, ela me afastou bruscamente.

–Porra Pietra, quase que você me derruba do sofá. Endoidou foi?! –indaguei com raiva na voz.

–Eu é que deveria perguntar se você endoidou. O que te deu para querer me beijar e me agarrar dessa forma? –falou de maneira alterada.

–Que eu saiba você é minha namorada e tô doida pra fazer amor agora. –falei e para meu eto Pietra começou a rir sem parar.

–Já tem mais de dois meses que você não quer transar mesmo tendo te procurado várias vezes, agora você quer? Giovanna, não sou seu brinquedinho sexual pra te dar prazer na hora que quiser. Sou um ser humano com sentimentos, os quais você não valoriza. –Pietra levantou bufando indo em direção ao quarto pegando sua bolsa.

–Pietra Gonçalves Failen negando sexo? Isso só pode ser uma pegadinha muito da sem graça ou então você tem alguma amante. FALA PIETRA! VOCÊ TÁ ME TRAINDO? –gritei nervosamente.

–O que vai importar se estou te traindo ou não? Você apenas se importa com o próprio trabalho. Vou embora antes que me irrite mais ainda… E nem se atreva a perguntar pra onde vou pois adianto que não é da sua conta. –Pietra falou furiosa enquanto pegava a chave do carro me deixando estarrecida com tais palavras.

A Dani, o Renan que já estava novamente no Brasil e até mesmo Bianca, me alertavam das traições, mas eu me fazia de boba, de ingênua. No fundo sabia que era corna, mas por que não terminei essa relação ou tive uma conversa definitiva com a minha namorada? Porque estava muito mais preocupada com o meu trabalho no colégio, acomodação e talvez por ter esperanças que pudesse salvar meu relacionamento.

 

 

Olá meninas, resolvi trazer um flashback para conhecerem mais sobre o passado da Gi e da Pietra. Gostaram? Até terça-feira. Beijos.



Notas:



O que achou deste história?

Deixe uma resposta

© 2015- 2019 Copyright Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução total ou parcial do trabalho sem a expressa autorização do autor.