Nosso Estranho Amor

34. Mais problemas e confusão

–Gi, Dani, eu tava procurando vocês por todos os lados. O Arthur já está na mesa esperando por vocês… –nessa hora minha namorada parou de falar e seu olhar foi de encontro com a Pietra que continuava parada observando tudo. –Garota, o que você tá fazendo perto da minha namorada e da minha cunhada? Tá querendo apanhar novamente?

–Ágatha, não fale assim com a Pietra, ela também é minha amiga. –Dani comentou, e era verdade mesmo.

–Como você pode ser amiga de alguém assim? Giovanna, por que demoraram tanto? Tem algo haver com essa idiota? –de lado observei o sorrisinho de canto da DJ. Ela estava muito calma e não respondia às provocações da minha namorada. Percebendo que não ia falar nada, Dani tomou as rédeas da situação.

–Sabe o que é, cunhada… Ficamos procurando pelo Arthur por muito tempo, mas não o achamos. Aí do nada senti enjoo, acabei vomitando e a Gi ficou todo esse tempo me ajudando. Encontramos com a Pietra agora e por acaso, quando já voltávamos para a mesa. –para minha sorte minha melhor amiga tinha explicações na ponta da língua e sem levantar suspeitas. De soslaio percebi que a Pietra não havia ido embora ainda. Continuava parada, calada e observadora.

–E você sua DJ de araque… Nem pense em se aproximar da minha namorada novamente ou então sou mulher suficiente para fazer um grande estrago no que você chama de cara. –a Pietra era uma pessoa paciente, mas foi nítido que o limite de paciência dela extrapolou.

–Posso até apanhar, mas também vou te bater muito. E só vou me afastar da Giovanna se eu quiser. As vezes até me questiono se você tem pique para realizar as fantasias dela. Você parece muito fraquinha e que não dar conta do recado. –minha vontade era de esganar a Pietra.

–Repete isso na minha cara se você tiver coragem…

–Ágatha, você não se garante, e se a Giovanna me der uma chance, vou fazer o impossível para reconquistá-la e tê-la só pra mim. –a DJ revidou. Nessa hora mulheres já se aproximavam para assistir nosso show de camarote.

BRIGA, BRIGA, BRIGA, BRIGA… –várias desconhecidas começaram a gritar.

–Vou ter o prazer de quebrar cada dente da sua boca…

Minha namorada partiu para cima da Pietra querendo lhe dar um soco no rosto, mas a DJ se desviou habilidosamente e caiu no chão. Ágatha foi para cima dela e as duas começaram a trocar várias bofetadas. Rapidamente tratei de afastar as duas com a ajuda da Dani e outras desconhecidas.

–Desgraçada! Você não vai conseguir arruinar o meu namoro, nem que pra isso eu tenha que te mandar pro inferno. –Ágatha vociferava sem parar sendo segurada por mim e mais duas mulheres.

–Não seja idiota, advogada. Você mesma será capaz de acabar com a paciência da Giovanna. Quando ela descobrir que você não é mulher pra ela, vou estar rindo na primeira fila. –Pietra gritava ainda mais sendo segurada pela Dani e outras pessoas.

–Pietra, já chega! Se manda daqui! –respondi sem a mínima paciência.

–No fundo você sabe que eu tô certa, Giovanna. –disse me encarando profundamente, não sei explicar o porquê, mas não fui capaz de sustentar o olhar.

–Galera, vamos “se” dispersando. Acabou o barraco. –falou uma mulher.

–Que pena! Agora que as coisas estavam esquentando. –disse uma segunda voz.

–Gata, você tá podendo. Até eu queria dois mulherões brigando por mim desse jeito. –uma mulher baixinha falou e tentei não dar ouvidos.

Não pensem que fiquei feliz com o que havia ocorrido no banheiro, estava me sentindo o pior ser humano do mundo por quase ter transado com minha ex-namorada, sempre falei mal de quem traía, mas agora pagava pela boca. Tio Damon estava certo, enquanto não era capaz de entender a complexidade dos meus sentimentos deveria me afastar das duas, mas principalmente… Tinha que me afastar da Ágatha pois era pela ruivinha que meu coração sempre acelerava mais, aos poucos não ia dando importância às provocações da Pietra, ela me traiu, como dizem por aí. Quem trai uma vez, trai sempre. Só de pensar na besteira que havia cometido, tinha que me controlar para não chorar na frente da ruiva. Deveria parar de ser egoísta, estava na hora de pensar na Ágatha, maravilhosa era pouco para descrevê-la. Antes da minha namorada viajar, contaria absolutamente tudo o que havia acontecido, não esconderia nada, a ruivinha merecia a minha sinceridade, mesmo sabendo que essa decisão implicaria no fim do meu namoro, a Ágatha merecia uma mulher muito melhor do que eu, mais íntegra, merecia ser feliz. Depois disso se eu voltaria para os braços da Pietra? É óbvio que não. Ainda me restava um nível de dignidade e empatia para fazer o que era certo. Por enquanto ia aproveitar o último dia ao lado da Ágatha, sei que sentiria saudades daqueles cabelos fogos, do sorriso, dos nossos passeios românticos, até dos seus ataques ciumentos, de absolutamente tudo, mas as coisas não podiam continuar como estavam, ainda mais depois da grande merda que fiz, não seria mais canalha.

Já de volta, na mesa, tentava não fazer um segundo escândalo em respeito ao meu cunhado e à Dani, mas a tal Elisa continuava a comer minha namorada com os olhos, e a Ágatha parecia nem ligar. Eu afirmei que as coisas não poderiam piorar, mas o Murphy sempre trata de me provar o contrário quando Débora apareceu na mesa onde eu estava, nada mais, nada menos acompanhada da cara de pau da Pietra.

–Que coincidência encontrar todos aqui. Será que podemos nos sentar com vocês? –perguntou no maior deboche.

–Tainá, por que você chamou a Débora? Te disse várias vezes que não queria voltar a ver essa mulher. –Ágatha reclamou.

–Não tenho nada haver com isso! A Débora é minha amiga, mas juro que não convidei. –a amiga da minha namorada parecia estar sendo sincera.

–Claro que não. A Tainá parece que aos poucos está esquecendo de mim, nem me convida mais para os rolês, mas eu perdoo. Ainda não responderam… Minha acompanhante e eu podemos sentar com vocês?

–É óbvio que não, Débora. Estamos muito bem para ter que suportar sua presença agradável. –respondi ironicamente só observando a cara deslavada da Pietra que continuava calada, mas atenta a tudo.

–A minha namorada está certa. Nós não queremos nem você e nem a sua acompanhante nessa mesa. –Ágatha disse chido de ódio só de olhar para a cara da Pietra.

–Espera gente! Acho que já passou da hora de esquecermos o passado e ter uma relação mais bacana. A Pietra é minha amiga e acho que a Deb merece um voto de confiança, então por mim elas sentam com a gente. –eu amava a Dani, mas nessa ocasião só queria lhe encher de porradas.

–Eu não vou compartilhar dessa loucura. Elas não ficam aqui de jeito nenhum. –respondi bufando.

–Concordo com a Gi. Não quero tolerar as duas pela madrugada toda.

–Vamos então realizar uma votação. Que a maioria vença!

Além da Dani, Tainá concordou com a permanência da amiga é claro, Arthur notei que concordou apenas para ficar de bem com a namorada e a tal Elisa também concordou, logo Ágatha e eu fomos voto vencido.

Agora eu nem conseguia respirar direito… Com a presença ali da Pietra, minha namorada me puxou para o seu colo e me apertava muito, mesmo sem perceber. Conhecia a morena o suficiente para saber que ela estava se divertindo muito com a situação apesar de não dizer nada. O clima pesado foi cortado pela voz de Arthur.

–Gente, a Dani e eu queremos dar uma notícia.

–Vocês estão falando isso há muito tempo e até agora não disseram nada. –Ágatha reclamou começando a beber seu uísque.

–Sem mais delongas. Arthur e eu seremos papais… A família Médici ganhará novos herdeiros. –Dani falou toda feliz me deixando de boca aberta.

–Herdeiros no plural? –perguntei apenas querendo ter certeza.

–Sim, eu estou esperando gêmeos, estou grávida de um casal, quase cinco meses já.

–Que ótimo! Se já não bastasse o Enzo, agora terei mais dois pestinhas para atazanar minha vida. –ouvi Ágatha reclamar e fiquei meio chateada em ouvir esse comentário.

–Por que você escondeu sua gravidez por tanto tempo? –Tainá perguntava demonstrando interesse. Como minha amiga já era gordinha se tornou mais fácil esconder a gravidez.

–Queríamos saber o sexo da criança e fazer uma surpresa.

–Uma surpresa e tanta… –Ágatha resmungou. –O Enzo é que ficará feliz quando souber.

–Continuando… –Dani pigarreou trazendo a atenção para ela. –Nós já escolhemos as madrinhas dos nossos bebês e queremos saber se elas aceitam.

–Não tem graça. Todos sabem que as madrinhas serão a queridinha da Giovanna e a Ágatha. –Débora comentou para perturbar.

–Você está redondamente enganada, Débora. –Arthur comentou impaciente.

–Então quem serão as madrinhas? Até eu estou curiosa. –Tainá falou curiosa.

–O Arthur e eu conversamos de comum acordo e queremos que a Giovanna e a Pietra sejam as madrinhas dos nossos bebês. –por essa eu fiquei surpresa, e Ágatha também.

–Como é que é, Arthur? Sou sua irmã, era pra eu ser escolhida, não essa daí. –disse apontando para a Pietra que se segurava para não rir. –Você vai escolher essa safada para ser madrinha de um dos meus sobrinhos? Cadê seu respeito por mim?

–Ágatha, você já é madrinha do Enzo, cá entre nós também… Você não tem muito jeito com crianças, então concordei que a Dani escolhesse as madrinhas dos nossos filhos.

–E qual o seu intuito querendo que a Pietra seja madrinha do seu filho, Daniela? O que fiz para você querer me provocar dessa maneira? –Ágatha estava mais do que furiosa e me apertava mais ainda contra o seu corpo.

–Assim como a Giovanna, a Pietra também é minha amiga há anos e adora crianças. Por favor, Ágatha, não leve essa decisão como algo pessoal, saiba separar as coisas. Vocês duas aceitam serem madrinhas dos nossos filhos?

–Até parece que serei louca de recusar um convite desses. –Pietra comentou tranquilamente. –Mas eu quero ser a madrinha do menino, desde cedo ensinar meu afilhado a jogar futebol. –a DJ comentava toda eufórica.

–Nem precisava perguntar minha amiga. Eu serei madrinha da sua filha. Para mim é uma grande honra ter sido escolhida. Que esses dois anjinhos cheguem ao mundo com muita saúde.

–Você é um enorme paspalho, Arthur. Você ainda nem se casou com essa mulher e a Daniela já tá mandando em tudo. Você é mesmo um frouxo. –Ágatha comentou indignada com a decisão do casal.

–Se você é infantil para respeitar a decisão do casal guarde suas asneiras, não precisa ficar cagando pela boca. –Pietra comentou para a infelicidade da minha namorada. Algo me dizia que isso terminaria mal.

–Por favor, não quero saber de brigas nessa mesa… –Dani se posicionou antes que começasse uma nova discussão.

De repente o papo mudou para quais seriam os nomes das crianças, planos a longo prazo, conversa profissional, dentre muitos outros assuntos, mas percebia que a Ágatha estava muito magoada com a atitude do irmão e da cunhada, ela estava muito calada e isso partia meu coração, involuntariamente lágrimas também rolavam pelo meu rosto ao constatar que ninguém parecia ligar para o abalo emocional da minha ruivinha. Sem falar absolutamente nada,  Ágatha se levantou e sumiu entre as pessoas, deixando-nos completamente perplexos.

–O que deu na sua irmã pra ela sair desse jeito? –Dani perguntou para o Arthur.

–Simples Dani, a Ágatha surtou depois que soube que indiretamente entrei pra família Médici, serei madrinha do sobrinho dela. Ela vai ter que se acostumar com a minha presença, nesse aspecto e em outros. –Pietra comentou lançando um olhar libidinoso na minha direção. Diferentemente das outras vezes, essa foi a primeira vez que senti raiva da Pietra naquela noite, minha preocupação maior era com a Ágatha.

–Vocês poderiam ao menos ter incluído a minha namorada na conversa, mas não terem agido dessa forma. Tratar a Ágatha como se fosse o pior ser humano do mundo só porque não leva jeito com crianças, praticamente deixaram a ruivinha de lado. –falei revoltada e nem percebi que lágrimas ainda rolavam pelo meu rosto.

–E por que você tá chorando, Giovanna? É consciência pesada ou o que? –Pietra indagou sarcástica.

–Não te interessa. Eu vou procurar a Ágatha. –disse sem saber onde minha namorada poderia estar.

Sabia que quando minha namorada estava triste, ela sempre se refugiava em lugares desertos. Rapidamente dirigi-me para a cobertura da boate, estava certa na minha escolha, Ágatha estava sentada em um canto qualquer, mirando as estrelas com um olhar perdido. Apenas fui ao seu encontro, abracei-lhe por trás, ela não disse nada por um longo tempo, mas senti suas lágrimas molharem o meu corpo e o meu vestido, tentei ser forte, mas agora eu também estava chorando. Chorava pela minha consciência pesada, pelo meu egoísmo, por ter magoado a minha namorada, por vê-la sofrendo, por não saber o que queria para a minha vida, pela falta dos meus pais, por tudo.

–Gi, não queria que me visse chorando dessa forma, mas o Arthur nunca gostou de mim porque o papai dava mais atenção pra mim do que pra ele, ele cresceu com certa raiva de mim, mas eu não tinha culpa, só que agora ele achou uma forma pra se vingar de mim colocando a Pietra como madrinha dessa criança. –no meu colo não estava a imponente advogada Ágatha Médici, estava um ser humano fragilizado que inspirava cuidados.

–Meu amor, não leva essa escolha para o mérito pessoal. A Dani falou a verdade quando disse que é amiga de longa data da Pietra. Você já não é madrinha do Enzo? Então… Tente não ligar para esse fato. –tentava consolar minha namorada de qualquer jeito.

–Eles acham que sou ruim por não gostar de crianças. –a ruivinha começava a chorar ainda mais abraçada a mim. –O pior de tudo é saber que no fim das contas a Pietra vai ganhar tudo o que ela quer e sempre quis… –a ruivinha ainda chorava enquanto se afastava de mim.

–Amor, a Pietra só vai ser madrinha do seu sobrinho, nada mais do que isso. –tentei argumentar em vão.

–Não, a Pietra ganhará o carinho dos meus sobrinhos e nunca deixou de ganhar o seu amor que sempre foi apenas dela, eu que me apaixonei por alguém cujo coração já tinha dona. –Ágatha levantou bruscamente me deixando sem ter o que dizer.

–Meu bem, não é verdade o que você tá dizendo, não coloque bobagens na cabeça. –falei entrelaçando as nossas mãos, perguntando-me se a ruivinha desconfiava de algo.

–Vai dizer que não ama a Pietra? –Ágatha indagou me olhando profundamente.

–Não minha linda, eu não amo a minha ex-namorada. –era a verdade. Não sabia mesmo quem amava. –Podemos conversar em casa? –indaguei querendo sair dali o mais rápido possível.

–Está bem, conversaremos na sua casa, mesmo que isso marque o fim dos meus sonhos ao seu lado. –Ágatha falou enquanto se encaminhava de volta para a boate, fiquei perdida por alguns instantes. Será que ela sabia de algo?



Notas:



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