Nosso Estranho Amor

4. Desmascarando a cobra

Na quinta-feira a noite estava assistindo um filme de comédia com o meu irmão até que ele me fez um convite.

–Maninha, acho que você anda muito em casa ultimamente, amanhã a noite vamos a um barzinho com a Rebeca e os primos dela? O Tiago, a Dandara, a Pat e o Alexandre estarão lá.

–Já tá querendo jogar o Tiago pra cima de mim de novo? Obrigada, mas não precisa. -O Tiago era um dos primos da namorada do meu irmão, nós namoramos por pouco tempo, ele ainda gostava de mim, mas não era reciproco.

–Tá bom. Sei que não gosta dele, mas pelo menos sai com a gente e se diverte.

–Renan, amanhã a noite vou sair com uma conhecida. Vamos até uma boate e…

–Como é, Giovanna? Você está de caso novo e não me falou nada? Que tipo de irmã você é? Já estão namorando? -meu irmão não parava de me encher de perguntas.

–Tá maluco?! Não estou namorando e nem de rolo com ninguém, apenas vou resolver uns problemas.

–Resolver problemas em casa noturna? Se não quer falar, tudo bem, mas não me faça de bobo.

–Mas eu tô falando a verdade, caramba! Será que é tão difícil de acreditar?

–Bem difícil de acreditar, mas eu vou te ajudar a escolher uma roupa legal.

–Já te falei que não é um encontro, vou de qualquer jeito.

–Não vai de qualquer jeito porque eu não vou deixar. -disse mostrando a língua.

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Assim que a sexta-feira chegou, meu irmão estava bastante entusiasmado, só o vi entusiasmado desse jeito quando fui aprovada no vestibular. Com a ajuda do chato do Renan, acabei escolhendo um vestido preto frente única, decotado que realçava meus seios junto com um par de sandálias altas, delas eu realmente não abria mão visto que altura nunca foi meu forte, sou muito baixinha, tenho só 1:55 m. Coloquei alguma maquiagem para realçar meus olhos verdes e minha boca, deixando meu cabelo loiro caindo pelas costas nuas, mais alguns acessórios e parti sem saber o que aquela noite me reservava.

O que mais me apavorava era o fato de que não parava de pensar naquela ruiva um minuto sequer, resolvi que iria trata-la de maneira fria, depois daquele dia nunca mais iriamos nos ver, então procuraria não ficar apreensiva.

Acabei chegando antes da hora visto que peguei uma carona com meu irmão que ia se encontrar com a namorada ali perto. Esperava pela Ágatha em frente ao estabelecimento alternativo que estava bastante movimentado quando ouvi uma voz conhecida atrás de mim.

–Descobri mais uma qualidade, você sabe ser pontual. Boa noite, loirinha! -sabia muito bem de quem era aquela voz.

Odiava quando ela me chamava assim, ia rebater. Só que quando me virei, não estava pronta para o que ia presenciar. A Ágatha estava muito gata (redundante, mas é a verdade). Ela estava com um macacão florido muito decotado nos seios e ele ia até as coxas, uma maquiagem leve, sapatilha sem salto (também ela já era alta por natureza) e os cabelos fogos estavam presos em um rabo de cavalo. A visão daquelas pernas torneadas de fora e aqueles seios cheios de sardinhas que imploravam para pular para fora fez com que meu bom senso fosse água abaixo.

Acordei do meu devaneio com estalos no rosto.

–Fecha a boca e vamos entrando antes que você engula vários mosquitos loirinha! -a ruiva disse ironicamente.

–Você sempre é implicante ou é só comigo? -indaguei começando a ficar mau humorada.

–Loirinha, viemos até aqui para você ver o verdadeiro caráter da Pietra, não para você ficar de boca aberta suspirando pelos meus peitos. -fui pega no flagra.

–Já te falei que meu nome é Giovanna, para de me chamar de loirinha que eu odeio. Ah, e para de ficar se achando a toda boazuda pois eu não estava olhando pros seus seios.

–Você está muito linda, os seus seios também são apetitosos. Vamos logo antes de começarmos a discutir por besteiras. -disse enquanto nos direcionávamos para dentro da boate.

–Você é descarada falando assim dos meus seios. -disse zangada.

–Você só estava faltando colocar os meus seios na sua boca se pudesse, a diferença é que eu digo o que penso, enquanto você guarda pra si, fica bancando a certinha…

Quando ia rebater fomos interceptadas por uma garçonete.

–Boa noite Srta. Ágatha. Vejo que já conseguiu uma companhia pra essa noite. -a garota asiática disse me lançando um olhar malicioso.

–Milena, não pedi sua opinião. Reserve a mesa de sempre e nos traga duas águas de coco. A propósito, sabe por onde anda a Pietra?

–Ainda não começou o turno dela, deve estar perdida por aí se atracando com alguma sortuda.

–Sortuda? -indaguei curiosa.

–Sim docinho. A Pietra é nossa DJ, ela é muito gata e sempre foi solteira, não é segredo pra ninguém que ela é a mulher mais cobiçada daqui e pega geral, aliás acho que ela e a Ágatha disputam pra ver quem pega mais mulher, só que a Ágatha é mais cuidadosa, não beija qualquer uma.

–Milena, não começa… -a ruiva disse envergonhada.

–Mas é verdade, a diferença é que todos nós sabemos que a Ágatha não mente, sempre é sincera, mas a Pietra faz juras de amor vazias para todas as menininhas que ficam com ela.

Acomodamo-nos em um ambiente mais calmo e reservado da boate, mas que dava para ter uma visão privilegiada do palco. Algum tempo depois presenciei um beijo triplo, uma negra e uma loira beijavam juntas alguém que parecia ser minha ex-namorada, mas eu não acreditava no que estava vendo.

–Aquela garota de camiseta azul é a Pietra? -indaguei curiosa.

–Sim, é a sua ex-namorada. -Ágatha respondeu simplesmente. -Vamos até lá para desmascará-la.

–Nós não namoramos mais, o que você pode fazer? Nada. -disse sem me importar.

–Relaxa! -a ruiva disse simplesmente me puxando na direção das três.

–Oi Pietra. -falei sem me conter quando já estávamos perto da minha ex-namorada.

Com o susto da minha voz, a morena praticamente jogou as duas mulheres do colo dela.

–Giovanna, o que faz por aqui? -Pietra perguntou se recompondo enquanto me encarava surpresa, mas sem emoção.

–Isso eu posso explicar. Chamei a loirinha até aqui para mostrar pra ela o tipo de vagabunda que você é, nunca respeitando o relacionamento que vocês tinham, expondo pra todo mundo daqui que era solteira. -a ruiva disse se aproximando.

–Você não tem moral pra isso sua cretina! Por sua causa a Giovanna terminou nosso namoro. -Pietra disse começando a ficar furiosa.

–Mentirosa! Mesmo enquanto você namorava com ela, transou com muitas garotas daqui e de outros lugares sempre dizendo que era solteira. Pelo menos seja mulher para assumir seus erros. -ouvi a Ágatha muito brava pressionando a minha ex-namorada contra a parede.

–O que ela está dizendo é verdade, Pietra? Quantas vezes você me traiu? -indaguei com muita raiva.

–Já que você quer tanto saber… É verdade o que ela está dizendo, eu sempre disse nas festas que era solteira. Desde o inicio do nosso namoro fiquei com muitas garotas que até perdi a conta, a maioria até bem melhor de cama que você se quer saber. -mesmo não gostando mais da Pietra, não estava preparada para o que tinha acabado de ouvir.

–Por que você não foi honesta comigo e ficou me fazendo de besta durante todos esses anos? Enfrentei meus pais, toda minha família para assumir o nosso namoro, achando que poderíamos até nos casar e você sempre me traindo, Pietra… -estava sem reação.

–Era muito legal poder me divertir as suas custas, Gi. Você sempre foi muito sonhadora, romântica, muito bobinha, era legal te fazer de idiota pelas costas. Agora você entende porque não transávamos tanto, sempre foram as outras que me satisfaziam, no fundo você não tem capacidade pra ter ninguém ao seu lado, ninguém merece suportar alguém sem graça como você, aguentei até tempo demais.

Não esperava por essa confissão. A Pietra falava isso na maior naturalidade enquanto outras pessoas que eu nem conhecia riam da minha cara, eu só sabia chorar.

–Eu não acredito nisso, juro que estava me aguentando para não ser violenta, mas já me segurei muito. -Nessa hora apenas vi a Ágatha agarrando a Pietra e sacolejando minha ex-namorada violentamente enquanto lhe dizia vários xingamentos até que ouvimos sons de tapas. -Cada uma dessas bofetadas é por você ter causado tanta dor e sofrimento a uma pessoa maravilhosa e fantástica como a Giovanna, quero que doa em você cada lágrima que ela derramou por sua culpa, desgraçada! Você é um tipo de imundície que só serve pra destruir qualquer lugar por onde passa.

–Para sua louca! Sai de cima de mim! -ouvia a Pietra gritando por ajuda pedindo para a Ágatha parar de bater nela.

–Ágatha, por favor, vamos sair daqui. Você já bateu nela o suficiente, e agressões não vão fazer a Pietra deixar de ser uma mau caráter.

–Ela já teve o suficiente mesmo. Não quero nunca mais olhar na sua cara seu estrume!

Assim saímos daquela boate e eu estava sem palavras para agradecer a maneira como a ruiva me defendeu.

–Muito obrigada por tudo, Ágatha! -respondi sorrindo quando já estávamos na calçada da boate.

–Ora, obrigada pelo quê? -ela parecia sem entender.

–Obrigada por ter me defendido da Pietra. Já imaginava que ela não tinha caráter, só não sabia que chegava a esse extremo.

–Não tem nada do que agradecer, jamais poderia deixar que ela te tratasse daquela maneira.

–Outra coisa, você provou mesmo que tem caráter e que a Pietra é que não prestava, quero te pedir desculpas pela maneira que te tratei no restaurante.

–Eu entendo. Com certeza teria feito a mesma coisa no seu lugar.

–Agora preciso ir pra casa, são quase 1 da madrugada, não quero chegar muito tarde, moro um pouco longe daqui.

–Você está de carro? -perguntou curiosa.

–Não, eu vim de carona com o meu irmão. Quero ver se consigo um táxi.

–Posso te levar no meu carro, não vai ser problema.

–Acho que já abusei muito de ti. Você deve tá querendo voltar à boate, ficar com pessoas mais interessantes do que eu que tô me sentindo meio triste. -respondi prendendo a vontade de chorar.

–No momento nada é mais interessante do que te ver bem. Você ainda gosta da Pietra, né? -indagou com o cenho franzido.

–Fui sincera quando disse que não gosto dela, o que tá me doendo são as coisas que ela me falou porque sei que é tudo verdade. Antes da Pietra só me relacionei com homens e todos eles, até meus pais sempre disseram que sou muito bobinha e ninguém gosta de pessoas assim, essa constatação me machuca. -disse não aguentando mais e começando a chorar.

Sem falar nada, a Ágatha me puxou para os seus braços e me abraçou ali mesmo, fortemente, como se estivesse consolando uma criança.

–Fica assim não! Qualquer pessoa em sã consciência ia amar ter você ao lado. Além de ser um mulherão, linda e gostosa por fora, você é muito meiga, verdadeira, sensível, honesta, batalhadora, paciente; mas essas qualidades já havia te falado lá no restaurante, vou acrescentar mais algumas que acabei de descobrir: você é romântica, amável, maravilhosa, afável, um doce de pessoa.

–Sei que você diz essas coisas apenas porque está com pena de mim e deve sim me achar bobinha.

–Claro que não, Giovanna. Não é do meu feitio agir assim.

–No restaurante você disse que eu não fazia o seu tipo, tô mentindo? -perguntei com a sobrancelha arqueada.

–Disse essas coisas depois que você falou com todas as letras que não iria a um encontro comigo, a amante da sua ex-namorada, precisava me defender de alguma forma.

–Então você não pensa assim, ficaria comigo? -perguntei nervosa.

–É claro que sim.

–Entendi. Realmente preciso ir, Ágatha. Moro muito longe daqui.

–O meu carro está estacionado aqui perto. -disse me pegando pelas mãos.

–Vou de táxi!

–Claro que não, disse que vou te levar e não falamos mais nisso.

Resolvi deixar de frescura e aceitei que a Ágatha me levasse até em casa. Achei meio cômico e ao mesmo tempo fofo, durante todo o trajeto ela segurava a minha mão como se estivesse transmitindo boas vibrações, mesmo assim seguimos em silêncio, ela estava respeitando meu espaço, apenas algumas músicas românticas do Roupa Nova quebravam o silêncio estabelecido dentro do carro.

Estava me sentindo muito calma e tranquilizada, só com o carinho da Ágatha na minha mão era o suficiente para eu me sentir bem, ela só podia ler mentes para saber disso. Eu nunca havia sentido toda essa sensação de conforto e calma nos meus namoros anteriores, nem mesmo com a Pietra, meu cérebro dizia que isso poderia ser extremamente perigoso, mas meu coração me dava forças para não quebrar esse contato, o pior era que eu não sabia qual dos dois deveria seguir.



Notas:



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