Nosso Estranho Amor

43. Um círculo interminável de mentiras

Nos próximos dias a equipe médica realizou o transplante, para a alegria de todos nós, minha mãe estava se recuperando mais rápido do que o previsto, tudo estava correndo bem. A Pietra cumpriu com a promessa, se afastou completamente, meu pai e Renan estranharam sua ausência, mas não teceram um comentário a respeito. O tempo ia passando e de vez em quando minha noiva enviava mensagem dizendo que estava bem e conversávamos as vezes pelo celular, mas sentia a Ágatha cada vez mais distante. Falei sobre a alta médica da minha mãe, mas a mesma parecia indiferente, pouco se lixando e isso me deixava chateada. Meu coração sangrava com a frieza da ruiva e eu sempre fingindo que tudo estava bem.

A dona Grazi aos poucos ia retomando a sua vida normal, tomando os medicamentos necessários para auxiliar o seu organismo a não rejeitar o novo órgão, com o tempo voltaria normalmente ao seu trabalho de psicóloga.

A quinta-feira era para ser um dia de felicidade e realizações pois comemorávamos o retorno da minha mãe a sua vida profissional, organizamos um almoço para toda família. Embora estivesse completamente feliz por ter novamente os meus pais ao meu lado, não conseguia esconder a tristeza por estar afastada da Ágatha, minha noiva não estava por perto para partilhar essa felicidade, também sentia falta da Pietra não vou negar, a falta era mais do seu apoio como amiga, não chegava nem a um milésimo da saudades que sentia da minha ruivinha. Embora quisesse demonstrar que tudo estava sob controle, nada escapou dos olhares atentos da minha mãe.

–Adoraria saber o que se passa nos pensamentos da minha loirinha. Você não comeu nada. –Graze disse sentando ao meu lado no jardim, estávamos em uma parte mais isolada da casa.

–A confusão de sentimentos que já te contei no hospital, mãe, mas agora é diferente… Cada dia que passa me convenço mais de quem amo, meu coração só busca a Ágatha o tempo todo. –puxei o ar antes de poder prosseguir. –Só que agora as coisas se complicaram mais. A minha ex-namorada se afastou depois que falei que meus sentimentos são maiores pela Ágatha, não tá mais sendo minha amiga, já a minha noiva simplesmente disse que faria uma viagem para um Congresso e depois visitaria o avô, mas não consegui engolir essa história, acho que ela mentiu pra mim. Sempre que nos falamos pelo telefone percebo que a Ágatha está mais distante de mim, tô com medo dela estar gostando de outra pessoa. Não quero viver longe da Ágatha, não agora que estou percebendo a dimensão dos meus sentimentos por ela. –falei sentindo algumas lágrimas escorrerem pelo meu rosto.

–Não parou pra pensar que sua noiva esteja desconfiada de algo e por isso resolveu se afastar? –minha mãe indagou me observando.

–Acho que não. Depois que trair a Ágatha passei a fazer de tudo para que nos déssemos bem e da maneira que ela queria, mas para esse relacionamento durar não depende de mim, as vezes parece que a minha noiva está fugindo de mim. –respondi cabisbaixa e chorando.

–Talvez esse seja um alerta do destino mostrando para onde o seu coração deve ser guiado. Seu pai me falou que enquanto estive internada, sua noiva quase não apareceu por lá, foi apenas sua ex-namorada que esteve por perto te passando forças e limpando cada lágrima sua, sem falar da ideia de atrair doadores através das redes sociais, se não fosse por ela acho que não teria uma segunda chance. Onde sua noiva estava enquanto você sofria? –minha mãe indagou me fazendo voltar ao passado, me fazendo lembrar que a Ágatha não esteve ao meu lado quando mais precisei.

–Ela estava se divertindo com a família em Buenos Aires e sem atender minhas ligações, talvez não lembrando da minha existência. –falei em um tom magoado.

–Aos poucos você está encontrando as respostas que tanto procura. –minha mãe disse me apertando nos seus braços.

–Tá querendo dizer que eu devo largar da Ágatha e ficar com a Pietra? A minha ex funciona mais como uma válvula de escalpe quando as coisas estão de mal a pior com o meu amor e essa situação não seria justa pra ela. –perguntei em dúvida sobre a resposta que iria receber.

–Não filha, apenas você é que sabe com quem deve ficar. Só que percebo que você não confia na sua noiva, acabou de me dizer que essa viagem é mentira, falou também que a Ágatha está distante e fria, não tem como um relacionamento dar certo desse jeito. Se você tem tantas dúvidas sobre onde a sua noiva estar, procure por respostas e tenho certeza que encontrará o que quer saber, por mais que não sejam respostas agradáveis.

–Obrigada mãezinha. Você é a melhor mãe do mundo. –falei por fim me recostando nos braços da mulher mais velha. –Amanhã mesmo vou procurar saber por onde a Ágatha anda.

–Por que deixar para amanhã o que você pode fazer hoje? Vá agora mesmo averiguar as informações que você tanto quer saber. –disse me levantando com força total do banco onde estávamos sentadas. –Mas antes tome um banho e se arrume.

–Mãe, hoje é o seu almoço. Não preciso sair com toda essa rapidez. –falei sorrindo.

–Não adianta seu corpo estar em casa, mas seus pensamentos estarem muito longe daqui. Vá logo e faça o que precisa ser feito! Você precisa resolver rapidamente essa bagunça que anda o seu coração. Se quiser peço para que o nosso motorista fique a sua disposição. –não pude deixar de rir da colocação da minha mãe.

–Vou me arrumar e vou sair, mas não preciso de motorista… Prefiro ir dirigindo, sabe que funciona como uma excelente terapia para mim. –disse dando um último beijo na Grazi e indo tomar um banho.

Durante o banho algo em mim dizia que não ia gostar do que descobriria, mas já estava na hora de tomar uma atitude e descobrir o que seria da minha vida amorosa.

Coloquei qualquer roupa, os meus saltos de sempre, prendi os meus cabelos, pois não estava a fim de perder tempo me arrumando muito. Sabia exatamente para onde deveria ir primeiramente…

Cheguei ao escritório da Ágatha e como já imaginava, a secretária me informou que a mesma estava viajando, então esperei para conversar com a Tainá. Mesmo sem saber se a melhor amiga da minha noiva me receberia ou não, resolvi aguardar, a surpresa foi ainda maior quando cerca de vinte minutos depois minha entrada foi autorizada.

–Confesso que fiquei de queixo caído quando Ana disse que você queria conversar comigo. A que devo a honra da sua visita inesperada? –Tainá perguntou debochadamente esticando as pernas sobre a mesa que estava repleta de papéis.

–Será que podemos conversar como duas adultas sem ironias ou maiores indiretas? –perguntei seriamente.

–Como quiser. Diga o que você deseja. –Tainá respondeu de maneira séria e se arrumando na cadeira do escritório.

–Você é a melhor amiga da Ágatha, então não sei se será sincera, mas não custa nada tentar. Já tem quase um mês que não vejo a minha noiva. Ela me disse que iria para outra cidade participar de um Congresso e que vocês estavam prestes a fechar contrato com uma Multinacional, de lá parece que ela iria para Santa Catarina visitar o avô que está doente. Nós estamos nos falando cada vez menos, e sempre percebo a Ágatha triste, distante e meio fria. Essa história toda é verdade ou ela está com alguma mulher por aí? –notei o longo silêncio e cara da paisagem da Tainá, achava que ela iria inventar mais alguma mentira esfarrapada. Fiquei meio aflita com todo o silêncio da advogada. –Será que dá pra falar algo? Estou sem paciência…

–A Ágatha é uma baita de uma mentirosa, mentiu para nós duas. –Tainá respondeu levantando bruscamente da cadeira para o meu eto. –Nosso escritório não trabalha com a área de direito internacional, não estamos prestes a fechar nenhum contrato, muito pelo contrário… O rendimento do nosso escritório está caindo por culpa dela. Tá vendo essa pilha de papéis acumulados nessa mesa? Todos esses processos estão nas minhas costas há muitos meses porque a Ágatha não tá me ajudando em porra nenhuma, só tá atrapalhando. Há mais ou menos um mês, ela disse que viajaria com você pois iriam comemorar a lua de mel com um pouco de antecedência, mas depois eu teria direito a férias… Só que tô vendo um bando de trabalho se acumular e eu ter que resolver tudo sozinha. –agora eu que precisei sentar. Eram muitas informações para o meu cérebro processar.

–E essa história do avô da Ágatha estar doente é… –não pude deixar de completar e mais uma vez fui cortada pela voz irritada da Tainá.

–É mais uma enorme mentira para te fazer de besta. A Ágatha não se dar bem com os pais da dona Michele pela questão da aceitação da sexualidade dela, e os avós paternos da sua noiva não estão em Santa Catarina, estão na Europa realizando um cruzeiro e comemorando sessenta anos de casamento. Essa daí agora inventa até a morte do Sr. Antônio, quer que o velho morra… –agora eu estava pálida demais. Não é possível que meu noivado com a Ágatha era uma mentira. Percebendo que estava prestes a ter um troço, Tainá solicitou um copo d’água com açúcar para a secretária. Rapidamente tomei tudo de uma só vez.

–Por que a Ágatha mentiu dessa maneira? Você sabe ao menos onde ela está? Você é a melhor amiga dela, deve saber de algo. –falei tentando recuperar minha calma após tantas informações inesperadas.

–Não faço a menor ideia de onde a Ágatha se enfiou, ninguém sabe de nada, pode apostar que se eu soubesse enviaria metade desses processos trabalhistas por correio. Essa ruiva sempre se isola quanto tá com algum problema ou prestes a surtar. Eu era a melhor amiga dela antes, agora não mais. Há meses venho notando que ela anda toda estranha, não é mais a mesma pessoa que conheci.

–Você poderia me explicar como seria esse comportamento estranho? Acha que ela está com outra mulher, me traindo? –perguntei preocupada.

–Não sei se ela tem ou não outra mulher, na verdade é o que menos me importa, minha preocupação maior é com todos esses processos que preciso dar andamento. –percebi que Tainá estava furiosa. –Há tempos percebo que a Ágatha anda com a cabeça no mundo da lua. Ela era uma excelente advogada, ganhava todas as causas, só que no fórum começou a perder causas extremamente simples, levando pra lama o nome do nosso escritório. Durante as reuniões sempre estava triste, cabisbaixa, chateada, chorava do nada, não interagia nem mesmo com a família. O corpo estava presente, mas a mente sabe Deus por onde anda. O seu sogro até reclamou que durante a viagem de Buenos Aires, a Ágatha não fazia questão de sair do quarto e as vezes chorava sem motivo, não queria nem se alimentar. Tentei ajudar, mas não estou com paciência pros chiliques dela. –eu estava completamente chocada diante da fala da advogada. Será que minha noiva estava doente?

–Não sei como, mas vou tentar ajudar a Ágatha no que puder, e fazer o que estiver ao meu alcance para descobrir o que estar acontecendo. –na verdade não tinha muita certeza do que falava, não sabia nem por onde começar, mas eu ia reerguer a minha ruivinha, era a única certeza que tinha. Minha família podia não gostar dela, mas ninguém me impediria de lutar por ela.

–Agradeceria se puder trazer a brilhante Ágatha Médici de volta, talvez assim tivesse mais momentos de paz e tranquilidade. Fica de olho na sua noiva! Pode ser que ela não te mereça e está te usando em um círculo de mentiras intermináveis. –Tainá disse se aproximando de mim.

–Tem certeza que há algo que você não me contou? –perguntei encarando no fundo dos olhos de Tainá.

–Já te contei tudo o que sabia. Só quero dizer que vocês estão noivas. Não creio que a Ágatha tenha maturidade para estar ao seu lado, você merece alguém melhor.

–Confesso que me eta o jeito solícito que você está me tratando. –disse ainda abismada pela forma educada com que era tratada por Tainá.

–Simplesmente percebo que você não é a pessoa ruim que a Débora me fez acreditar, e tenho humildade para reconhecer meu erro. –não sei se eu que estava imaginando loucura, mas tive a leve impressão que Tainá umedeceu os lábios e não tirava os olhos da minha boca.

–Obrigada pela sua disponibilidade. Agora preciso ir. –disse pegando minha bolsa e indo embora.

–Espera! Você está esquecendo disso.

Tainá simplesmente me puxou para o seu corpo e me beijou. Claro que fiquei pasma com tanta loucura. Quando iria fazer menção de empurrá-la, a porta foi aberta abruptamente.

–Mil perdões Dra. Tainá. Não sabia que estava ocupada, mas vim avisar que o seu cliente acabou de chegar. –a secretária falou nos olhando curiosamente.

–Obrigada. Diga que já irei atendê-lo. –disse e por fim a secretária se retirou.

–Você perdeu o juízo? Cara, eu sou noiva da sua melhor amiga. Jamais se atreva a fazer algo assim novamente. –disse limpando minha boca.

–Desculpa, é que você tem um jeitinho inocente que é irresistível. E depois de tudo que a Ágatha te fez não medi as consequências dos meus atos.

–Deu pra perceber que você não pensou em nada. Não se aproxima mais de mim, Tainá. –respondi pegando minha bolsa e saindo dali feito um furacão.

–Realmente me desculpa, não sei o que deu em mim… Prometo que não contarei nada sobre o que aconteceu. –ouvi Tainá dizer antes que eu fosse embora.

Na minha mente vieram diversos palavrões possíveis e pensamentos de raiva, não vou mencionar tudo o que passou pela minha cabeça, primeiro porque são palavrões pesados e pensamentos que sempre terminavam na minha noiva com outra mulher, minha irritação aumentou quando pensei na possibilidade de Ágatha estar me traindo com a Débora, meu sogro adorava a nissei, e sabia o quanto minha noiva era influenciável pela opinião da família. Segui o conselho da minha mãe de tirar essa história a limpo, mas agora estava com mais perguntas do que respostas, para completar toda a merda, a melhor amiga da Ágatha ainda me beija.

Já diz o velho ditado: Quem estar na chuva é para se molhar… A minha próxima parada seria na casa dos meus sogros. A advogada não morava mais ali, mas era impossível que ninguém soubesse de nada.

Fiquei imensamente feliz por saber que os pais da Ágatha estavam trabalhando, assim meu estresse não aumentaria ainda mais. Na casa estava apenas Alexandre e o Enzo. Iria fingir que nunca havia conversado com a Tainá, talvez a morena estivesse mentindo para querer me deixar em maus lençóis com a ruiva, só precisava saber quem era a mentirosa da história.

–Tia Gi, tem tanto tempo que não te vejo. Pensei que havia esquecido de mim desde que saiu da escola. Joga baralho com a gente? –Enzo disse me abraçando alegremente sem querer me soltar.

–Nunca esqueceria de você meu amor. A minha mãe estava com alguns problemas de saúde, por isso andei afastada, mas agora tá tudo bem. Vamos jogar se o seu tio deixar.

–Então vamos jogar cunhada. Agora é a sua vez. –Alex disse rindo.

Durante o jogo pensava em uma forma de puxar conversa sobre o assunto que motivou a minha ida para aquela casa.

–Vocês não imaginam o quanto morro de saudades da minha ruivinha. Alex, o seu avô está melhor? –perguntei de supetão.

–O meu avô…? –parecia sem entender. –Ah! Claro! Minha irmã está cuidando dele e aos poucos tá melhorando. –Alex disse com um sorriso amarelo. Não precisava ser muito inteligente para saber que meu cunhado estava mentindo. Ele era do tipo de pessoa que não sabia mentir.

–Tio, será que você pode trazer um lanche pra gente? Tô morrendo de fome e acho que a tia Gi também. –Enzo disse mudando o rumo da conversa.

–Claro que sim. Vou preparar uns sanduíches bem gostosos. Prometo que não demoro. –Alex disse indo para a cozinha me deixando a sós com Enzo na ampla sala.

–Tia Gi, não sei se devo te contar ou não uma coisa. De qualquer maneira meus pais sempre dizem que é feio mentir. –Enzo falou baixinho para que Alexandre não nos escutasse.

–Seus pais estão certos meu lindo. Há algo que você saiba e queira me contar? –perguntei tentando controlar as batidas do meu coração.

–O tio Alex mentiu. O meu bisvovô tá muito bem de saúde, ele tá passeando com a bisvovó na Eha no navio. –sabia que o Enzo jamais mentiria. O que ele falou bateu completamente com o que Tainá já havia me falado… Nem no Brasil os avós da minha noiva estavam.

–Você sabe por onde a Ágatha anda? Você não tem noção do quanto morro de saudades dela. –respondi sincera. Sentia saudades intermináveis da minha noiva.

–Não sei tia. Tem muito tempo que não vejo a tia Ágatha. Só sei que ela viajou na mesma semana que a bruxa da Débora também viajou. –nessa hora fiquei muito pálida, parece que as peças do quebra-cabeça começaram a se encaixar.

–Quer dizer que a Débora não está na cidade?! Muito bom saber. –disse para mim mesma de maneira irônica.

O Enzo iria falar algo a mais, só que Alex voltou com os nossos lanches e demos o assunto por encerrado.

–Não sou muito bom na cozinha, mas espero que os sanduíches estejam no seu agrado. –meu cunhado falou e tentei mostrar um sorriso falso. Era óbvio que ele estava compactuando com as coisas erradas da irmã.

–Está muito bom. –disse fingindo uma simpatia que não existia. –Alex, quando sua irmã volta de viagem? Estou morrendo de saudades.

–Cunhada, eu não sei. Tem tempo que não falo com a Ágatha, mas talvez ela esteja de volta essa semana.

–Não tem tempo não tio Alex. Ontem mesmo você estava conversando com a minha tia pelo Skype. –Enzo falou acusando o tio.

–Enzo, você deve estar enganado, não era a sua tia, era outra pessoa… –como disse. Alex era um péssimo mentiroso, apenas se enrolava cada vez mais nas palavras.

–Tio, já tenho quase dez anos, era sim a tia Ágatha, até a voz era a mesma. –o garotinho rebateu novamente e dessa vez meu cunhado não falou nada.

–Bom, agora preciso ir embora. Está ficando tarde e meus pais devem estar preocupados comigo. –disse ao receber uma mensagem da minha mãe querendo saber onde estava.

–Giovanna, não ligue para o que o Enzo falou. Tenho certeza de que minha irmã te ama e logo vocês irão casar. –Alex falou apressadamente.

–Eu prefiro acreditar no Enzo pois sei que ele jamais mentiria pra mim. Preciso ir.

Sem esperar um minuto a mais, me despedi do Enzo com um forte abraço, prometendo que voltaria para que fizéssemos mais passeios, e tentei nem olhar para a cara do Alexandre.

Coincidência ou não, Ágatha passou a me telefonar e me ligar com mais frequência, com certeza o irmão havia comentado algo sobre a minha visita. Só que agora era eu que não fazia mais questão de conversar com a minha noiva, quando via que se tratava do número dela, deixava apenas chamar até que caísse na caixa postal.

Resolvi esquecer temporariamente da Ágatha e da Pietra. Meu entusiasmo era grande porque meu pai era contador e me falou sobre a abertura de uma vaga para administração na empresa que trabalhava. Tinha a formação e mesmo nunca tendo trabalhado na área, sempre fazia alguns cursos para me qualificar, então estava muito otimista quanto a conseguir essa vaga de emprego.

Nesses dias aconteceu mais uma novidade para a minha família, a filha do Renan, minha sobrinha nasceu. As despesas aumentaram com o nascimento da criança, assim meu irmão passou a trabalhar em uma nova escola e passava quase o dia todo na rua. Com isso, Rebeca, minha cunhada, e a Rafinha iriam morar conosco por um tempo, pelo menos até a Rafaela crescer um pouco.

Além dos meus pais, estava dividindo a casa com o Renan, minha cunhada e minha sobrinha, mesmo assim a relação com o meu irmão era muito complicada, se dependesse da vontade dele, meu contato com a Rafaela seria nulo.

–Não quero te ver muito próxima da minha filha, entendeu bem? –ele sempre alertava quando não havia ninguém por perto.

–Qual é, Renan?! Você acha que contaminarei minha sobrinha com o germe da homossexualidade? –rebatia de maneira irônica.

–Não seja tola irmãzinha. Não sou um preconceituoso de merda como você pensa, já te falei várias vezes. –respondia sem paciência.

–Não… Então por que não posso ficar perto da Rafinha? –queria ver qual a resposta do Renan.

–Você é noiva da Ágatha Médici, para mim isso já é motivo mais do que suficiente. Se seu noivado fosse com a Pietra ou qualquer outra mulher desse mundo não me importaria, mas não quero essa ruiva insuportável perto da minha filha. –se antes achava que o problema do Renan com a Ágatha era pessoal, dessa vez tinha certeza.

–Cara, por que você e a Ágatha não se dão bem? Aconteceu algo que você jamais me contou? –perguntava desconfiada.

–Simplesmente não gosto dela. Para você não dizer que sou tão ruim assim… Pode ficar perto da Rafa, passear, pegar no colo e tudo o que quiser fazer, mas não deixe sua noivinha se aproximar da minha filha ou juro que não responderei pelos meus atos. –Renan disse saindo para mais um dia de trabalho e me deixando ali com várias dúvidas rondando minha mente.



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