Nosso Estranho Amor

44. O retorno da Ágatha e o fim de um sonho

Um costume que minha família sempre prezava era que jantássemos todos  juntos. Era a única desempregada dali, os outros tinham rotinas bastante puxadas, então só tínhamos esse momento para nos reunir.

Meus pais, Renan, Rebeca, Rafinha (se bem que minha sobrinha recém-nascida dormia profundamente no carrinho) e eu jantávamos tranquilamente, conversávamos amenidades, até que Joana entrou na sala de estar deixando minha mãe meio chateada. Grazi odiava ser interrompida nesses momentos.

–Joana, você não sabe mais bater na porta? Sabe que o momento do jantar é sagrado para nós.

–Desculpa dona Graziele, mas há uma visita para a Srta. Giovanna e a pessoa não quis saber de voltar outra hora. –nossa empregada tratou de se explicar rapidamente.

–Filha, já conversamos várias vezes sobre isso. Pode chamar alguém sempre que quiser para jantar, mas nos avise com antecedência.

–Mãe, eu não convidei ninguém para jantar. Quem está aí Joana? –perguntei curiosa.

Antes que nossa empregada desse alguma resposta fui surpreendida pela voz da minha noiva.

–Sou eu Giovanna. Ou por acaso esqueceu que somos noivas? –por essa não esperava. Meu coração quase saiu pelo peito ao ver minha noiva parada na porta trajando um elegante vestido vermelho de mangas compridas, saltos, e os cabelos ruivos escovados maravilhosamente, mas a minha ruivinha estava mais magra e parecia abatida. Admito que nessa hora só passou sacanagem pela minha cabeça. Estava com saudades da Ágatha e morrendo de raiva por suas inúmeras mentiras. Uma estranha combinação, reconheço.

–Ágatha! –apenas balbuciei seu nome, ainda era grande a surpresa por vê-la depois de quase um mês. –Nem sabia que você havia chegado de viagem. Foi uma surpresa e tanta… –falei tentando me recuperar do susto.

–Você saberia se tivesse atendido minhas ligações ou respondido as minhas mensagens. –falou em um tom acusador.

–Cunhadinha, não sei se reparou, mas queremos continuar a jantar em harmonia. Converse com a minha irmã em outro momento. Se manda daqui! –Renan falou mal-humorado.

–Filho, não foi essa a educação que lhe demos. Ágatha, por favor, jante conosco. Será uma honra lhe conhecer melhor. –meu pai respondeu polidamente.

–Muito obrigada Marcos. Aceito o convite.

–Perdoe o meu filho, ele anda meio desajustado. –minha mãe comentou simpaticamente. –Finalmente tenho a oportunidade de conhecer a noiva da minha caçulinha. A Giovanna esqueceu de mencionar que tinha uma noiva muito bonita.

Joana tratou de colocar um lugar a mais na mesa e reiniciamos o jantar, instantaneamente minhas narinas se impregnaram com o perfume amadeirado da Ágatha que estava sentada ao meu lado, como sentia saudade dela, no meu coração não havia mais lugar para Pietra ou qualquer outra pessoa, só a ruivinha me desajustava daquela forma.

Como será que poderia definir esse jantar? O clima não estava completamente ruim visto que Ágatha havia engatado em uma conversa animadora com meus pais e respondia as perguntas dos dois simpaticamente, porém o clima não estava perfeito visto que meu irmão lançava um olhar mortal para a minha noiva o tempo todo, e sabia que se ele falasse alguma merda, a Ágatha não deixaria barato.

Meu pai estava todo feliz e babão com a chegada da Rafinha que contava apenas com alguns dias de vida.

–Ágatha, você não imagina o quanto Rafaela está trazendo alegria para o nosso lar. É uma bebê adorável e nem dar trabalho. Espero que você e a Giovanna não demorem para me dar mais um netinho. Estou amando o trabalho de ser avô. –percebi o mal-estar no olhar da minha noiva e tratei de quebrar o clima estranho que se estabeleceu.

–Pai, ainda é muito cedo para pensarmos nessas coisas. Ágatha e eu ainda nem casamos, por enquanto vamos aproveitar a presença e o amor da Rafinha. –comentei com um sorriso amarelo.

–Giovanna, para de enrolar os nossos pais e conta logo a verdade. –meu irmão começou a atacar.

–Renan, você não tem nada haver com esse assunto. Não se meta onde não é chamado. –falei alterando um pouco meu tom de voz.

–Posso saber sobre o que vocês dois estão falando? Tenham modos na frente da nossa convidada. –Grazi intercedeu.

–A verdade é que a Rafa será a única neta que vocês terão, então é bom irem se acostumando apenas com ela. –Renan falou calmamente voltando a comer.

–Como assim? Que história é essa de única neta? –meu pai parecia sem entender.

–É simples pai. Rebeca e eu conversamos e optamos por ter apenas a Rafaela como filha, não queremos muitos custos. A Giovanna não será mãe. A Ágatha não suporta crianças, não leva o menor jeito com elas e já descartou a possibilidade de ser mãe. Então é bom irem se acostumando com a ideia de terem apenas uma neta. –dessa vez o clima ficou completamente pesado.

–Então quer dizer que você não pensa em ser mãe juntamente com a minha filha? –Grazi perguntou diretamente para Ágatha.

–A Giovanna sempre soube da minha decisão de não querer ser mãe e concordou em permanecer comigo. Tenho três sobrinhos, os quais trato muito bem, apenas acho que não preciso de filhos para ser uma mulher completa como a sociedade hipócrita idealiza. –palavras curtas e grossas da minha noiva.

–Eu nunca obriguei que minha filha me desse netos, mas sempre foi um sonho da minha pequena se tornar mãe um dia, desde a adolescência. Você mudou de ideia, Giovanna? –meu pai perguntou diretamente para mim.

–Bom… Na verdade eu pensei muito e… –comecei a falar gaguejando, mas minha fala foi cortada pelo Renan.

–A minha irmã com certeza quer ser mãe, mas a Giovanna faz tudo o que a Ágatha quer, até perdeu o emprego na escola por causa dela. Pra vocês terem noção do quanto a situação é delicada, a Gigica se afastou dos sobrinhos da Pietra porque a Ágatha mandou, acho que ela tem medo de levar chifres. –Pronto! Agora a merda estava feita.

–Renan! Cala boca! –tentei conter meu irmão, mas o estrago já havia sido feito. Com a discussão, minha sobrinha acordou chorando muito e Rebeca lhe levou dali rapidamente.

–Licença, a sobremesa estar pronta. –Joana disse entrando e servindo os mousses de chocolate.

–Então a minha teoria de que você está vivenciando um relacionamento abusivo não estava completamente errada, Giovanna? –minha mãe perguntou soltando faíscas com o olhar.

–Grazi, por favor, você ainda está se recuperando. Sabe que não pode se aborrecer. –meu pai disse tentando acalmar os ânimos. –Ágatha, você aceita uma taça de vinho ou um mousse? –meu pai perguntou educadamente.

–Tenho certeza de que a Ágatha vai aceitar, ela adora doces em geral, principalmente chocolate. –respondi tentando dissipar o clima ruim.

–Não meu amor, não vou beber nada alcoólico e nem comer doce. Hoje prefiro uma refeição mais leve.

–Tá vendo o mesmo que eu, Marcos?! –minha mãe disse se levantando da cadeira e lançando um olhar furioso para a minha noiva. –Essa mulher deve ser do tipo que só vive perdendo tempo na academia, não quer ter filhos por medo de engordar na gravidez, vive seguindo uma dieta maluca, em outras palavras, é uma mulher extremamente fútil. Se já não bastasse tudo isso, ainda quer ditar regras na vida da minha filha… Mas não vou permitir mesmo. Antes você mandava e desmandava na vida da Giovanna, mas não vou mais permitir que faça mal para a minha filha. Entendeu bem?! –minha mãe parecia possuída e só não partiu para cima da Ágatha porque meu pai lhe segurou. –Prefiro que minha filha fique com a Pietra, ela sim merece o amor da Giovanna, não você. –minha mãe cuspiu de uma só vez as palavras e notei o quanto minha noiva havia sido ferida. Ágatha tinha toda essa pose de durona, mas nos conectávamos pelo olhar. Nesse exato momento sabia o quanto ela lutava para não chorar. O problema é que poucas pessoas conheciam minha noiva, ela não deixava conhecerem seu lado bom.

–Viu só Giovanna? Até a nossa mãe concorda que você merece alguém melhor, e talvez a Pietra seja a solução. –eu ia falar algo, mas Ágatha explodiu e se dirigiu pegando o Renan pelo colarinho da blusa e lhe imprensando contra a parede, juro que não sei de onde surgiu tanta força.

–Você é um miserável, Renan. Você que causou todo esse mal-entendido e jogou a mãe da Gi contra mim. Você é um ser desprezível e insignificante. Eu deveria te odiar, mas apenas sinto pena… Você é infeliz porque no fundo tem a plena consciência de que o orgasmo que proporciono à uma mulher com o meu corpo inteiro, você jamais conseguirá fazer igual, mesmo que tivesse cinco paus para essa tarefa. E quem diria que minha noiva seria sua irmã?! É muito rancor guardado. –Ágatha continuava imprensando meu irmão contra a parede e eu não sabia o que fazer.

–Me solta sua ignorante, bruta… –meu irmão resmungava.

–Solta agora meu filho ou você não sai viva daqui. –ouvi minha mãe falar, ainda sendo contida pelo meu pai.

–Ágatha, tenho muito respeito por você, mas por favor, vá embora. –ouvi meu pai suplicar.

–Vou sim, mas não sou o monstro que vocês imaginam. E para a dona Graziele só não respondo como deveria em respeito ao seu estado e por ser mãe da Giovanna. –Ágatha disse saindo em disparada pela porta e segurando algumas lágrimas.

Meu coração estava dividido entre ficar com a minha mãe ou ir atrás da minha noiva. Não demorou para que o meu cérebro tomasse uma decisão e saísse correndo dali.

–Pequena, para onde você vai? Vamos esquecer o que passou e voltar para o nosso jantar. –minha mãe falou.

–A mamãe tá certa. –Renan balbuciou.

–Eu vou imediatamente atrás da Ágatha e não serão vocês que vão me impedir. –falei enquanto já me aproximava da porta de saída.

Corri para o meio da rua tentando avistar o carro da minha noiva já que quase não havia luminosidade por ali. Não reparei que o sinal estava aberto e quase fui atropelada.

–Giovanna, você pirou? O carro ia te pegar em cheio se eu estivesse dirigindo mais rápido, aí iam querer jogar mais uma acusação nas minhas costas.

–Abre a porta desse carro. Vamos embora o mais rápido daqui. –disse ignorando a ironia da minha noiva.

Ágatha fez o que pedi e mais do que depressa arrancou com o carro dali, pelo caminho percorrido acho que estávamos indo para o seu apartamento. Obviamente minha noiva estava bastante estranha, por vezes tentei enlaçar nossas mãos, mas ela sempre desfazia o contato mesmo sem falar nada. Imediatamente lembrei-me do fato que Débora não estava na cidade nas semanas anteriores, mesmo querendo negar, tinha quase certeza de que as duas poderiam estar juntas fazendo meu coração ser dilacerado só de pensar nessa possibilidade.

Entramos no apartamento da minha noiva em silêncio, e esse fato já estava me incomodando bastante.

–Não vai falar nada? Me chamou até aqui para ficarmos em silêncio? –perguntei tentando conter minha raiva.

–Você veio porque quis, então não reclame do meu silêncio. –Ágatha disse deitando no sofá da sala me deixando ainda mais estressada.

–Mas foi você que foi me procurar na minha casa. Fala logo o que queria. –falei sem paciência me sentando ao seu lado.

–Queria não é a palavra certa, quero terminar o nosso noivado, namoro ou seja lá o que estamos tendo. Não vejo mais motivos para continuarmos juntas. –ainda bem que estava sentada, caso contrário minhas pernas iriam tremer tanto que eu iria cair dura diante dessa notícia. Só nesse momento olhei para a mão da Ágatha e percebi que ela estava sem a aliança.

–Cadê todo amor que você dizia sentir por mim? Por acaso esse seu suposto amor acabou durante essa viagem que você fez? O que te levou a terminar o nosso noivado e querer me deixar nesse estado? –perguntei andando de um lado para o outro com o rosto banhado em lágrimas. Não estava nos meus planos perder a Ágatha.

–Simplesmente não sei, Giovanna. Creio que eu é que deveria te fazer todas essas perguntas. –mesmo em meio a voz fria da ruiva, percebia que ela chorava.

–Aliás, como foi essa viagem, fechou o contrato? E o seu avô melhorou de saúde? –perguntei irônica.

–Não sejamos hipócritas, Giovanna. Tanto você quanto eu sabemos que não teve viagem a negócios e muito menos para ver o meu avô. –respondeu se afastando de mim.

–É mesmo, Ágatha. Foi uma viagem para ver outra mulher, né? Qual é o nome dessa puta que você está agora? O que ela tem que eu não tenho?! É a Débora, né? –perguntei sentindo meu nariz entupido de tanto chorar.

–Se foi uma viagem para ver ou não outra mulher não sei nem porque você estar interessada em saber, não fará diferença. A partir desse momento nós duas somos livres.  –a ruiva disse com o olhar mais frio possível.

–Que merda, Ágatha! Se você não queria mais nada comigo por que me fez de besta? Por que brincou com todos os meus sentimentos? Por que disse que me amava em vão? Você sempre prometeu que falaria a verdade. –rebati exaltada com os olhos nublados por tantas lágrimas.

–Pelo que me conste você não tem o menor direito de exigir a verdade. Giovanna, você sempre foi um posso de mentiras, desde o início. Você nunca me amou e nem pensou em mim e nos meus sentimentos, eu acabava por ser a idiota da história, o seu parque de diversões com o seu namoro mal resolvido com a Pietra.  –rebateu exaltada.

–Como assim? Do que você tá falando? –perguntei desviando o meu olhar na mesma hora.

–Por favor, não testa a minha paciência que eu posso explodir a qualquer momento e não quero partir pra agressão verbal ou agressão física. Vá viver a sua vida e me deixa em paz. Eu te imploro! –falou em um fio de voz.

–Mesmo correndo riscos eu não vou sair daqui e sei que você não tem coragem de me bater até porque você me ama. Eu sei que você não é a pessoa ruim que todos falam… –disse sem me mover do lugar. –Só saio daqui quando você me disser porque está terminando comigo dessa maneira.

–Você quer mesmo que eu exploda, né?! Tá bom, depois não diga que eu não te avisei. –nessa hora me assustei quando Ágatha levantou e começou a derrubar tudo em volta.

–Ágatha, para… –tentei lhe trazer de volta para a realidade.

–Não vou parar, você pediu e agora vai ter que aguentar. Maldita hora em que te conheci. Eu te dei todo o meu amor, e o que você me dar em troca? Enfeita a minha cabeça com a Pietra na boate e eu perdoei, mas volta a ter recaída com ela e quase transa com a DJ no chão da sala da sua casa, ainda por cima beija a minha melhor amiga. Queria ter um namoro saudável, mas eu mesma acabei virando uma abusadora e te controlando, eu me transformei em alguém ruim, tudo por sua causa, achando que assim teria o seu amor, mas não se pode ter algo que nunca foi seu… –a ruiva falava transtornada me surpreendendo com tal revelação ao mesmo tempo em que chorava.

–Amor, eu não imaginei que você soubesse, eu sei que errei muito, mas juro que te amo com todas as minhas forças. A Pietra não representa nada pra mim, é você que eu amo… –nem pude terminar tal revelação e fui cortada.

–Não me chama de amor que você não sabe o significado dessa palavra. Esperei por meses para que você pudesse falar a verdade, mas deveria imaginar que você jamais seria capaz de admitir seus erros.

–Como você soube? –foi a única coisa que tive coragem de perguntar.

–Eu me faço de burra pra não dar na cara o que tô pensando. Naquele dia cheguei cansada do trabalho na sua casa, te chamei e você não respondia. Qual não foi minha surpresa quando entro na sala, a Pietra estava em cima de ti e vocês se beijavam como duas apaixonadas! Minha vontade era de matar a Pietra, mas depois pensei bem e percebi que você manipulou a ela e a mim, ela não deixou de ser uma vítima nas suas mãos. Voltei pra perto do carro e não presenciei mais aquela cena. Depois nós transamos e finalmente você tirou ela do seu guarda-roupas. Sabe por que viajei nas férias com a minha família pra Buenos Aires? Não foi por falta de empatia ou de amor, mas precisava dar um tempo pra você resolver o que queria pra sua vida, se queria ficar comigo ou com a Pietra. Não teve um instante sequer que desviei meus pensamentos do Brasil, de você. –Ágatha falou com lágrimas nos olhos, tentei me aproximar dela, mas fui impedida.

–Ágatha, eu… –nem terminei de falar e fui interrompida.

–Cala boca que eu ainda não terminei de falar. Sabe o que mais me dói? Eu sempre te deixei livre para voltar com a sua ex caso você quisesse, quando retomamos o nosso namoro, juramos que não haveria mentiras e traições. Não satisfeita, você ainda fica com a Tainá, minha secretária me contou tudo o que aconteceu enquanto estive ausente… Puta que pariu Giovanna. Não sei se tenho mais raiva de você por bancar a namorada, a noiva perfeita ou da Tainá que jogou nossa amizade no lixo. Quantas vezes vocês transaram que eu ainda não sei? E aí? Agora quer falar algo ou não tem nada pra dizer em sua defesa? –Ágatha indagou gritando, totalmente transtornada.

–Eu jamais fiquei com a sua melhor amiga. A Tainá me pegou desprevenida, ela que me puxou para me beijar. Quando ia empurra-la para longe a sua secretária chegou e entendeu tudo errado, em nenhum momento correspondi a esse beijo. Pode perguntar pra Tainá, se ela tiver consciência falará a verdade. –fui completamente sincera. –Com a Pietra reconheço que tive um momento de fraqueza sim, não contei porque não queria te perder, por favor, me perdoa! Eu te amo! Demorei para entender que meu amor sempre foi seu, mas hoje sei que é você que amo. –contei sentindo várias lágrimas inundarem meu rosto. –Isso não voltará a acontecer…

–Claro que não voltará a acontecer porque não confio mais em você e o que tínhamos acabou. Fique com a Pietra, com Tainá, com quem você quiser, simplesmente esqueça da minha existência. –Ágatha disse indo até a porta me mandando ir embora, mas eu não ia.

–Esse tempo que você viajou foi pra ficar com outra mulher? Você estava viajando com a Débora, né? Até retirou a nossa aliança. –falei sem me importar com as lágrimas que caíam pelo meu rosto tocando na sua mão direita, por sua vez, a ruiva também chorava e não impedia o toque na sua mão. –Fala logo pra mim, Ágatha. Ainda estávamos juntas teoricamente, então tenho todo o direito de saber. Onde você estava todo esse tempo?

–E se eu estivesse com a Débora? –sussurrou no meu ouvido me deixando com raiva. –Sentindo outro corpo no meu, sentindo alguém me fazer gozar abundantemente, beijando outro corpo da cabeça aos pés. Precisava desse tempo longe de você, precisava me divertir. –respondeu com uma gargalhada.

–Justo quando mais precisei de você, né? Minha mãe em uma cama de hospital entre a vida e a morte. Depois quis dividir minha felicidade sobre terem achado um doador e onde você estava? Com certeza enfiada entre as pernas de qualquer uma. Se não fosse a Pietra me ajudando, com certeza minha mãe não estaria viva… –falei sentindo uma imensa raiva da Ágatha.

–Estou quase para construir um altar para a Santa Pietra! É muita santidade pra uma pessoa só. –a ruiva ria debochadamente. –Se eu estava com outra mulher, você estava com a Pietra, logo chifres trocados não doem. A Pietra é o anjo e eu sou o demônio, ela é o bem e eu sou o mal, ela é o céu e eu sou o inferno. –Ágatha não parava de rir, ao mesmo tempo em que estava completamente aborrecida e triste com ela por causa da traição, ficava excitada, meu sexo estava molhando só de ouvir os gritos dessa mulher,  me perguntava como seria minha vida longe dela. Eu era louca por essa mulher.

–Já vou embora! Não preciso ficar aqui ouvindo tantos absurdos juntos de uma vez só. Não vou deixar que você me machuque mais. –disse contendo minhas lágrimas.

–Olha só quem fala! E quem disse que você também não me magoou tendo recaídas com a sua ex e transando com a minha melhor amiga?!

–De novo esse assunto? Já te falei que não tive nada com a Tainá… –falei já esgotada dessa conversa.

–Mas teve com a Pietra e contra fatos não há argumentos.

–É melhor eu ir. Essa conversa não vai dar em nada. –respondi resignada. –Apenas vamos nos magoar mais.

–É só calarmos nossas bocas, fechadas elas funcionam melhor.

Nessa hora Ágatha me suspendeu e começamos a nos beijar desesperadamente, um beijo de saudades e muitas mágoas reprimidas, nossas línguas brigavam furiosamente em uma luta onde não havia vencedores.

Meu celular achou de tocar na hora mais inapropriada, não era a primeira vez que tal fato acontecia. A ruiva se afastou de mim para pegar o aparelho.

–Por que será que a Pietra está te ligando mais de meia noite? –Ágatha perguntava morrendo de raiva.

–Não faço a menor ideia, mas você mesma disse que não temos mais nada… Então nem se atreva a quebrar meu celular novamente. –rebati no mesmo tom. Essa ruiva não me despertava mais medo, só desejo e amor.

Sem dizer mais nada, minha noiva ou ex-noiva, sei lá o que aquela mulher significava para mim, simplesmente desligou o telefone e jogou em um canto qualquer do sofá.

–Onde foi mesmo que paramos?! –indagou se aproximando de mim.

–Paramos na briga furiosa que nossas línguas travavam.

Em um movimento inesperado joguei Ágatha no sofá e recomeçamos a nos beijar furiosamente. Em segundos já havia rasgado aquele maldito vestido sem me importar se ele havia custado os olhos da cara.

O tempo em que permanecemos longe não diminuiu o amor e a conexão existente entre os nossos corpos durante o sexo.

–Vou te chupar todinha! Quero ver se Pietra ou qualquer outra sabe te fuder do jeito que só eu sei. –Ágatha dizia enquanto rebolava aumentando o contato entre nossos sexos me fazendo gemer alto.

–Não mesmo. Você está toda encharcada e eu só vou parar quando você gozar na minha boca. –disse gemendo no seu ouvido.

–Acontece que eu estou no comando. –rebateu de volta.

–Não está mais! –disse já mudando as posições dos nossos corpos.

Posso dizer que nessa guerra não houve vencedores, estávamos tão sedentas uma da outra que o 69 foi a única posição para que ambas ficássemos satisfeitas. Nessa madrugada fizemos todas as posições possíveis e adormecemos quando já estava amanhecendo.

Despertei com o sol forte no meu rosto, toda dolorida… Tanto da maratona de sexo quanto da posição desconfortável que foi dormir no chão da sala. Não foi preciso me mexer para saber que a ruivinha dormia grudada no meu ombro. Tentei sair dali sem acordá-la, mas foi em vão.

–Que horas são? –perguntou com uma voz manhosa se espreguiçando acelerando meu coração.

–Passa pouco mais de onze horas. –disse encarando a tela do meu celular.

–E o que você tá fazendo no meu apartamento? Já era pra você ter ido embora. –juro que me etei com tanta frieza.

–Ágatha, você não lembra que disse que me amava e não queria me perder? –perguntei desacreditada.

–Eu queria gozar, então falei o que você queria ouvir. Vou repetir o que você mesma já me falou há muito tempo atrás. Não é com sexo que vamos acertar as coisas. –respondeu calmamente enquanto se vestia.

–E o que preciso fazer para nós nos acertarmos? –perguntei esperançosa.

–Não há nada para fazer, o estrago já foi feito. Volte para a Pietra e eu sigo com minha vida, aliás, já estou seguindo. –nunca tinha visto a Ágatha tão fria na minha vida como antes.

–Você tem noção do quanto está me magoando… –disse sem me conter e fui cortada.

–Ué! Eu não sabia que putas tinham sentimentos, pensei que se satisfaziam só com orgasmos. –nessa hora não aguentei e minha mão foi parar no rosto da Ágatha.

–Posso ter errado, mas não vou permitir que me trate dessa maneira. Você passou um mês na cama da Débora e não estou te faltando com respeito. –disse tentando me controlar.

–Some daqui, Giovanna! Desde que você entrou na minha vida só fez merda atrás de merda, até no trabalho me prejudiquei por sua causa. Some pra nunca mais voltar. –a ruiva disse ainda segurando a bochecha em que eu havia desferido o tapa e abrindo a porta.

Só nessa hora a ficha caiu de que meu noivado já havia acabado e eu era a única idiota que ainda usava a aliança, a qual tirei na mesma hora. Se pensam que fiquei chorando igual uma idiota, saibam que estão enganados. Se a Ágatha já estava feliz vivendo com a minha maior inimiga, eu também seguiria minha vida. Pelo menos estava me libertando de um relacionamento abusivo como todo mundo falava, mas não podia negar o quanto meu coração estava destroçado, nunca senti uma dor profunda desse jeito, nem mesmo quando descobri as traições da minha ex-namorada. O término com a Pietra foi alívio, o fim do meu relacionamento com a Ágatha me deixava desesperada e sem chão.



Notas:



O que achou deste história?

Deixe uma resposta

© 2015- 2019 Copyright Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução total ou parcial do trabalho sem a expressa autorização do autor.