Nosso Estranho Amor

46. Mais momentos conturbados e um novo fim.

Sem fazer qualquer outra pergunta, minha melhor amiga apenas me puxou para o seu braço e me permiti chorar, chorar e chorar até que o sono me venceu.

Acordei torcendo para que tudo o eu havia vivenciado não passasse de um pesadelo. Tenho certeza de que não passou de um sonho ruim e quando abrisse os olhos tudo estaria resolvido.

–Dani, foi um pesadelo, né? Isso não pode estar acontecendo. –disse me sentando na cama.

–Infelizmente foi tudo verdade, Gigica. Agora precisamos pensar no que  vamos fazer.

–Não sei Daniela, realmente não sei que decisão tomar… –disse por fim voltando a chorar. Só que não era um choro normal, era um choro que me fazia soluçar bem alto, um choro de dor.

Acho que as coisas estavam tão complicadas, meu choro deveria estar tão alto que minha própria mãe entrou no meu quarto para saber se estava bem.

–Meninas, vocês estão bem? O que aconteceu aqui? –minha mãe perguntou ao notar que Dani e eu estávamos com cara de choro.

–Não foi nada tia Grazi. Nós estávamos assistindo um filme de drama que teve final triste, muito emocionante…

–Então como é que a TV está desligada? –minha mãe indagou desconfiada.

–É que o filme terminou há um certo tempo e já desligamos a TV. –minha amiga tentava arrumar várias desculpas.

–Dani, você está sendo uma amiga maravilhosa, mas prefiro conversar a sós com a minha mãe. –disse me recostando na cabeceira.

–Está bem. Desejo que tudo dei certo. Gi, você sabe que pode contar comigo pra tudo o que precisar. –Dani disse me dando um beijo e se despedindo de nós.

–Agora somos só nós duas. O que precisamos conversar minha filha? –minha mãe perguntou quando já estávamos a sós.

Alinhei-me ao seu abraço protetor e terminei chorando, contando sobre a descoberta da minha gravidez inesperada.

–Não sei o que fazer, mãe. Será que eu devo ter essa criança e talvez reviver esse trauma olhando pro resto da minha vida pra esse ser? Ou eu faço um aborto e me livro desse problema? Também posso dar essa criança pra adoção. No fim não sei o que faço. –disse voltando a chorar.

–Gigica, não sei o que você irá fazer, seu coração irá te guiar, mas quero que saiba que te apoiarei em qualquer decisão que você tomar. –disse acariciando meus cabelos tão loiros quanto os seus.

–Você está falando como psicóloga? –perguntei com um sorriso fraco.

–Não Giovanna. Estou falando como sua mãe e sua melhor amiga. –disse me dando um beijo na face.

–Preciso de um tempo para pensar sobre o que vou fazer com essa nova descoberta. Não quero tomar nenhuma decisão de cabeça quente. –nessa hora já não chorava muito.

–Só não demore muito, Gi. Se você optar por realizar um aborto deve ser logo nas semanas iniciais da gravidez para evitar danos para a sua saúde.

–Entendo mãe. Até agora apenas você e a Dani sabem dessa gravidez, por favor, não conta pra ninguém, nem pro papai. –implorei com o olhar.

–Claro que não falarei nada meu amor! Só que é como lhe disse… Você não vai poder esconder por muito tempo, sua barriga começará a crescer e começarão a desconfiar.

Minha mãe estava mesmo certa. Não poderia esconder para sempre o que estava acontecendo, até pelo bem da minha própria saúde. Os dias passavam rapidamente e aos poucos iam se transformando em semanas. Os enjoos se tornavam cada vez mais frequentes e o cansaço também. Minha mãe e a Dani sempre me “acobertavam” desviando o foco da atenção.

Quando estava no início da sexta semana de gestação minha mãe me acompanhou para realizar a primeira Ultrassom e alguns exames de sangue , o médico garantiu que os exames estavam dentro da normalidade e a criança estava se desenvolvendo de maneira saudável.

–E aí minha filha? Já tem alguma decisão tomada? Sua gravidez está saudável. Melhor tomar logo alguma decisão antes que as coisas se compliquem.

–Calma mãe! Ainda não estou nem com dois meses de gestação e minha barriga ainda não está visível. Prometo que muito em breve vou tomar uma decisão. –com essa fala colocava um ponto final na discussão.

Só que eu não sabia o que fazer e meio que ficava empacada, e o tempo ia passando. Por fim chegou o terceiro mês de gravidez, as desconfianças foram iniciadas, pois eu começava a engordar e minhas roupas antigas já não cabiam mais em mim. A única que parecia não perceber nada era a Ágatha que só fazia me cobrir de mimos e me encher de beijos, cada vez mais cumpria com a promessa dela de vivermos um relacionamento saudável e feliz.

Estava com pouco mais de três meses e já havia tomado minha decisão. Apesar de saber o que fazer, fui pedir conselho justamente à minha ex-namorada, a Pietra. Eu já havia retomado o contato com o Mateus e a Natalie, então a Ágatha não surtava tanto quando via minha ex-namorada perto de mim. Em uma dessas visitas aos sobrinhos da Pietra pedi para falar com a morena.

–Oi Gi. Tem muito tempo que não conversamos… –Pietra parecia sem jeito. –O que você quer? –perguntava enquanto de longe víamos os seus sobrinhos brincando.

–Quero te fazer uma pergunta na verdade. Olha bem pra mim, Pietra! Notou algo de diferente em mim? –nessa hora, minha ex-namorada me olhava da cabeça aos pés parecendo não entender ao que estava me referindo.

–Notei algumas coisas, mas acho que deve ser loucura ou então andei bebendo demais, de qualquer forma não faz sentido visto que sou abstêmia. –falou rindo.

–Por favor, diz o que viu, quero ver se você é boa observadora. –falei calmamente.

–Posso até estar enganada, mas tenho a impressão que você está um pouquinho mais gorda, seus seios parecem que estão maiores, poderia dizer que está grávida…

–Você acertou, Pietra. Aquele abuso que sofri me desencadeou uma gravidez. –falei pausadamente.

–Eita Giovanna! Isso é péssimo! Não sei nem o que dizer. Você já sabe o que vai fazer? A Ágatha sabe da sua gestação? –Pietra perguntava ainda chocada com a notícia.

–Apesar dessa gravidez não ser planejada e ser fruto de um estupro, não consigo sentir raiva dessa criança, muito pelo contrário… Mais do que nunca esse serzinho aumentou minha vontade de ser mãe, não vou fazer aborto. O problema é que a Ágatha ainda não sabe e tenho medo de que essa notícia abale nosso namoro. –falei expondo meu maior medo.

–A Ágatha realmente não quer ser mãe, mas se ela te ama verdadeiramente creio que vocês encontrarão uma forma de lidarem com essa situação inesperada, e você Gi… Tenho certeza de que será a melhor mãe do mundo, essa criança já tem sorte de ter uma mãe como você, a Ágatha será muito boba se perder a oportunidade de viver esse momento ao seu lado. –Pietra disse acariciando minha barriga.

–Sabe que é muito estranho conversar contigo como se fôssemos velhas amigas depois de tudo? –comentei de forma divertida.

–Imagino, mas quero que as coisas sempre permaneçam tranquilas entre a gente, principalmente agora que a sua vida está se arrumando e eu não sei quando te verei novamente.

–Como assim? Não sabe quando me verá novamente? –perguntei de maneira curiosa.

–Daqui a alguns meses estarei me mudando para os Estados Unidos, vou ficar mais próxima do meu pai.

–Uau! –estava sem fala. –Essa decisão tem alguma coisa haver por eu estar com a Ágatha? –perguntei temendo a resposta.

–Em partes sim. No Brasil a família da Bianca já está formada, meus sobrinhos estão crescendo, minha mãe está com um novo amor… Não quero que de forma alguma se sinta culpada, mas eu sinto saudades do meu pai, lá talvez consiga me apaixonar novamente, quero reconstruir minha vida.

–Entendo Pietra e eu te apoio. Sabe que torço muito pela sua felicidade. Vai passar muito tempo por lá? Aliás, seu pai tá em qual cidade? –perguntei interessada.

–Vou só com a passagem de ida, talvez não volte mais. Vou ficar em Atlanta ou Nova York. Só não sei se vou abrir meu próprio negócio, ser dona de uma balada eletrônica com o meu primo ou se trabalharei como engenheira, uma coisa de cada vez. –respondeu rindo.

–Você vai viajar quando exatamente?

–Só daqui a alguns meses, depois do aniversário do Mateus. –respondeu pensativa.

–Desejo de todo meu coração que você encontre sua felicidade em outro país, Pietra. Quero te ver bem e feliz.

–Obrigada Pinguim. Que você e a Ágatha sejam excelentes mães e que essa criança venha repleta de saúde.

Depois dessa conversa sai dali renovada e esperando de coração que a Pietra conseguisse conquistar a sua verdadeira felicidade. O próximo passo seria contar para a minha namorada sobre a descoberta da minha gravidez.

Ágatha e eu estávamos no meu quarto, namorávamos como duas bobas apaixonadas. Precisava falar… Era agora ou nunca.

–Amor, preciso te contar algo muito importante. –disse antes que me faltasse coragem e eu não poderia mais fugir desse assunto.

–Precisa ser agora?! Primeiro me dar um beijo. –disse me dando um selinho. –Fala, princesa. Sou toda ouvidos.

–Tem relação com aquele abuso que sofri… –estava meio sem jeito.

–Falei com a Bianca e ela disse que é questão de tempo para pegarem esse desgraçado, a polícia já tá na cola dele, ele vai pagar bem caro por tudo o que te fez. –respondeu em tom de fúria.

–Ágatha, preciso te contar algo antes que perca a coragem. Esse estupro ocasionou o que mais temia. Fiz testes de gravidez e eles deram positivos, estou grávida de três meses. –soltei a bomba de uma só vez.

–O que? Como assim? Você está grávida? Pelo amor de Deus, diz pra mim que isso é mentira. –Ágatha disse levantando da cama e passando as mãos no cabelo nervosamente.

–É isso mesmo que você ouviu. Eu estou grávida, já pensei muito sobre esse assunto… Independente de como essa criança foi gerada não quero e nem vou interromper essa gravidez. Você quer assumir essa criança comigo ou nosso namoro vai chegar ao fim? –perguntei sem rodeios. Não estava com paciência para joguinhos ou ficar dando voltas.

 –Deixa ver se entendi bem. Você foi estuprada pelo seu ex-namorado, engravidou e quer que eu assuma uma criatura que é fruto de um abuso? Assumir uma criança que não é bem-vinda e que só veio para estragar os nossos planos? –perguntou me encarando perplexa.

–Não Ágatha. Eu gostaria que pudéssemos formar uma família juntas. Se for pelo lado financeiro ganho o bastante para sustentar o meu filho e você não vai gastar com nada. Essa criança não tem culpa do que aconteceu. –falei acariciando minha barriga.

–Lado financeiro é o de menos, Giovanna. Eu não tenho paciência com crianças, principalmente se forem recém-nascidas, aguentar choros, crises de cólica e trocar fraldas não é comigo. No momento estou concentrada em montar meu próprio escritório porque a convivência com a Tainá anda insuportável… O concurso para a Polícia Federal está próximo, daqui a alguns anos quando fizer 30 anos quero poder ingressar na Promotoria do Rio. Além de não ter paciência, uma criança nessa altura do campeonato vai estragar todos os meus planos profissionais. –Ágatha disse me deixando estarrecida.

–Creio que a Tainá tem razão quando disse que você não é capaz de amar ninguém, só a si própria. Você é uma pessoa muito egoísta, Ágatha. Não sei como fui capaz de acreditar que você me amava. –disse tentando conter as lágrimas que escorriam pelo meu rosto.

–Só por que não quero assumir uma criança você acha que sou egoísta? Então precisa rever seus conceitos. Perdoei a sua traição com a Pietra, suas mentiras, tô tentando controlar meus ciúmes, fora a minha personalidade que precisei mudar para te agradar, confiar em você depois de tudo o que aconteceu não está sendo uma tarefa fácil… Você sabe que meu pai não gosta de ti, também me afastei dele, fora outras coisas que fiz e que talvez você nunca saiba…

–Não se preocupa, Ágatha. A partir de hoje não vou mais atrapalhar a sua vida e poderá resgatar todo amor do seu pai. –disse agora já sem chorar. Precisava ser forte por mim e pela vida que se formava no meu ventre. A Ágatha não merecia mais uma lágrima minha.

–O que você tá querendo dizer? Tá pensando em terminar o nosso namoro? Justo agora que estamos nos acertando.

–Eu não penso em abortar essa criança e muito menos entregar pra adoção. Você está focada na sua vida profissional e também não quero te atrapalhar. Estamos em momentos diferentes das nossas vidas. Não te culpo, mas não chegaremos a nenhum consenso, só nos resta terminar. –disse fingindo uma calma que não existia.

–Giovanna, eu te amo muito, tenha certeza de que você é a única mulher que amo e sempre amarei na minha vida, mas entenda meu lado… Infelizmente não estou preparada pra assumir uma responsabilidade tão grande que é ser responsável por uma vida. Espero que um dia possa me perdoar. –Ágatha disse me abraçando fortemente como se não quisesse me soltar.

–Não há o que ser perdoado, Ágatha. Você fez a sua escolha, eu também já fiz a minha. Com relação ao seu amor desculpa pelo que vou falar, mas eu não acredito nele. Essa não é a primeira situação difícil em que me encontro e você não está por perto. Não vou mais ficar dando murro em ponta de faca. Não temos mais nada para falar. Vá embora da minha casa antes que tudo se torne mais doloroso. –disse abrindo a porta do meu quarto.

–Eu te amo, Giovanna. –Ágatha dizia enquanto limpava as lágrimas. Minha mãe passava pelo corredor e assistia a cena.

–Não acredito no seu suposto amor. Vaza!

Fechei a porta do meu quarto bruscamente. Definitivamente a Ágatha não merecia o meu amor, sempre estive ao seu lado nos momentos de maiores dificuldades, mas ela não era capaz de retribuir. A porta foi aberta novamente, sem falar mais nada, minha mãe apenas me protegeu em seus braços e me permiti chorar como nunca havia feito antes na vida. Era um choro de dor, de desespero e sofrimento por saber que estava me despedindo do único amor da minha vida, mas também era um choro de renovação e libertação para a nova vida que enfrentaria dali para frente.

Nas próximas semanas avisei o restante de toda minha parentela sobre a gravidez, mas sem entrar em detalhes sobre quem era o pai da criança, as únicas pessoas que sabiam do estupro foram os meus pais e o Renan. Apesar do ocorrido, Renan ficou extremamente feliz por saber que seria tio, disse que seria como um pai para essa criança, e a Rafinha e meu filho seriam criados como irmãos. Ele era tão carinhoso e se mostrava um tio babão, mas minha mente não parava de formular diversas hipóteses sobre o porquê do meu irmão e da Ágatha não se suportarem. Nesse ínterim fiquei um pouco mais tranquila quando soube que o Tiago havia sido preso, a Bianca era uma advogada bastante competente e empenhada.



Notas:



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Uma resposta para 46. Mais momentos conturbados e um novo fim.

  1. então eu não sei pra que insistir na gih e na agatha,não dá certo cara ,coloca logo ela pra pietra e tchau…

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