Nosso Estranho Amor

49. Um adeus à Ágatha e ao Brasil

Saí daquela casa ainda chorando. Minha mente dizia que não deveria percorrer aquele trajeto, mas fazer o que se a boba aqui apenas seguia o seu coração. Enviei uma mensagem para a Pietra e para os meus pais avisando que dormiria na casa da Daniela para lhe ajudar a cuidar das crianças enquanto o Arthur fazia uma viagem de negócios, sabia que minha melhor amiga me daria cobertura. Sem mais delongas desliguei meu celular, não queria ninguém me perturbando, não naquela noite.

Parei em frente a um prédio residencial luxuoso onde apenas pessoas autorizadas poderiam entrar, mas além de já ser conhecida ali, havia pessoas que sabiam que eu era filha de um dos melhores contadores do Rio de Janeiro e ex-deputado estadual, não seriam loucos de barrar minha entrada.

Assim, apertei o botão do 18° andar e mesmo sentindo meu coração aos pulos, e Kathleen chutando mais do que o normal, talvez por perceber o nervosismo da mãe, fui até ao apartamento onde vivi momentos maravilhosos da minha vida, mas também conturbados.

Confiante do que havia ido fazer apertei a campainha e quando a porta abriu, recebi uma expressão surpresa do outro lado.

–Giovanna?! Será que tô sonhando ou você tá na minha frente? –a ruiva estava muito mais magra e abatida, mas nem por isso deixava de estar linda. Minha ex-noiva usava um vestido simples e estava descalça e os cabelos presos em um rabo de cavalo. Impossível essa mulher ficar mais gata.

–Piadista como sempre. É claro que tô na sua frente, você não tá falando com assombração. –disse lhe dando um beliscão no braço.

–É mesmo, esse beliscão foi real. Entra! –a ruiva disse me dando espaço.

Estava muito nervosa. Kathleen não parava de chutar e parece que eu já havia esquecido a minha motivação para ir até aquele lugar. Quando entro na sala-de-estar não acreditei na pessoa que estava sentada no sofá, a filha de Deus parece que não gostou nada de me ver também.

–Ágatha, o que a Débora está fazendo aqui? –perguntei me dirigindo para a minha ex-noiva. Só que antes que a ruiva falasse, a nissei tratou de ir destilando veneno.

–Eu é que deveria te fazer essa perguntinha. Você é noiva da Pietra e o que faz no apartamento de outra mulher? E esse barrigão aí? Aposto que você nem deve saber quem é o pai dessa criança, e a trouxa da Pietra tá sendo besta de assumir algo que não fez. Se esse ser aí tiver a mesma índole da mãe, não vai prestar…

Débora só parou de falar quando sentiu um soco no rosto dela que lhe arrancou sangue do nariz e lhe deixou bastante tonta. Ágatha fez exatamente o que eu iria fazer caso ela continuasse a cagar pela boca, falando mal da minha filha.

–Eu te falei que não responderia pelos meus atos se continuasse a destratar a Giovanna. Some daqui e não me procura mais! –Ágatha disse pegando a nissei furiosamente pelo braço e lhe empurrando contra a vontade para a porta da rua.

–Ágatha, por que você me bateu?! Vocês ainda vão me pagar bem caro. Vou me vingar de cada uma.

–Xô satanás! –disse quando vi a ruiva arremessar a nissei para fora do apartamento sem se importar com os olhares de curiosos.

Depois do ocorrido ficamos caladas e sentadas na sala de estar. Só fazia me questionar se a Ágatha havia descido mais baixo do que o chão para dar mole para a Débora.

–Nosso noivado mal esfriou e você já tá de conversinha fiada justamente com a Débora?! A minha maior inimiga… –falei sem conseguir me conter. –Não era nem para eu ficar surpresa visto que você passou um mês fora com ela, até inventou compromisso profissional e doença. –respondi com um olhar acusador.

–Olha só quem fala! Você não tem moral alguma para falar dos meus erros, Giovanna. –a ruiva disse se levantando do sofá. –Você me traiu com a Pietra enquanto estávamos juntas! E agora vocês duas estão em um relacionamento de fachada. Nem adianta me dizer que você ama ela porque sou eu quem você ama. –Ágatha disse me encarando profundamente e sustentei o olhar.

–Não nego, realmente te amo mesmo você não merecendo. –disse me dando por vencida. –Você soube que tive sim um deslize com a Pietra, mas aí o que você fez?! Viajou, passou quase um mês fora, me traindo com a minha pior inimiga? –disse sentindo algumas lágrimas nublarem meu rosto só de imaginar a Ágatha e a Débora juntas.

–Giovanna, eu jamais te trair enquanto estivemos juntas, não pagaria o seu erro na mesma moeda, não tenho nada com essa mulher. Não sei o que andaram te contando ou onde a Débora estava, mas comigo é que não era. Precisei me ausentar da cidade por motivos bastante delicados. Talvez tenha errado em mentir, mas foi melhor assim. –Ágatha disse baixando o olhar, mas não conseguia acreditar nela.

–E quais seriam esses motivos delicados?! Você ficou um mês fora, sem falar a verdade, pouco se importando se minha mãe estava ou não a beira da morte e que eu precisava de você ao meu lado. –falei deixando as lágrimas jorrarem pelo meu rosto.  –Onde você estava?

–Isso já não importa mais, o que interessa é que tive sim os meus motivos para permanecer afastada de você e não estava com outra mulher. –Ágatha respondeu bufando, sentando ao meu lado.

–Claro que teve seus motivos, você estava com outra mulher sim, com a Débora, vivendo maravilhosamente todos os desejos carnais. Ágatha, não mente pra mim, você está até mais magra, tá de dieta?! Querendo agradar as mulheres? Chego no seu apartamento e encontro com a Débora aqui. O que você quer que eu pense? –falei furiosa, estava morrendo de raiva da Ágatha.

–Não adianta eu falar nada, você mesma disse… Não acreditará em nada do que eu disser, então tire suas próprias conclusões, Giovanna! Ainda não entendi porque veio ao meu apartamento essa hora da noite.

–Só pra te avisar que daqui a três dias viajarei para os Estados Unidos e não pretendo voltar para o Brasil.

–Podia ter enviado por mensagem, pouparia o seu tempo. –Ágatha falou com desdém tomando um copo d’água.

–Tem razão! Não sei nem o que vim fazer aqui. –disse pegando minha bolsa para sair o mais rápido dali.

–Giovanna, espera! –ouvi Ágatha me chamar. –Eu realmente não quero que você vá embora. Te amo! Fica, por favor… Vamos tentar. –a ruiva disse me trazendo mais para ela, me envolvendo  nos seus braços.

–Eu te amo Ágatha, mas também amo a minha filha e não pretendo abrir mão dela. Você tá focada na sua carreira profissional e…

–Shhh! –a ruiva disse colocando o polegar na minha boca. –Podemos falar sobre esses assuntos em outro momento, mas te prometo que vamos dar um jeito. Só te imploro… Não viaja e não se casa com a Pietra! Nós vamos cuidar juntas da Kathleen e seremos uma família feliz. –Ágatha praticamente suplicou.

Como meu coração acelerou mais do que o normal com a possibilidade de poder ficar com o grande amor da minha vida, mas eu não sabia o que dizer, então simplesmente puxei a Ágatha para meu colo e lhe calei com um beijo apaixonado.

Nossos corpos estavam com saudades um do outro, a urgência de nos sentir era enorme. Rapidamente nossas roupas foram ficando por cada canto daquele apartamento.

Completamente nuas nos amamos de todas as maneiras possíveis e inimagináveis, sabia que era a última vez que estaria ao lado do amor da minha vida, então aproveitei o máximo possível para amar a Ágatha.

Já altas horas da madrugada estávamos suadas e exaustas de tanto fazer amor, mas fui descendo beijando cada pedacinho daquele corpo branquinho.

–Gi, você ainda não cansou?! –a ruivinha indagou dengosa pois já estava muito cansada e queria dormir.

–De você nunca vou cansar. Eu te amo Ágatha, te amo com todas as minhas forças…

Continuei a beijar todo seu corpo esbelto até chegar ao seu sexo, iniciando um delicioso oral, só me dei por satisfeita quando senti o amor da minha vida gozar abundantemente na minha boca.

–Agora, vem cá! Deita aqui comigo. Vamos dormir! –a ruivinha pediu manhosa me fazendo deitar ao seu lado. –Promete que não vai embora e vamos nos dar uma nova chance? Serei uma ótima mãe junto com você. Eu juro! Tenho muitas coisas para te contar, inclusive sobre o porquê de ter ficado quase um mês ausente. Preciso te falar também algumas coisas sobre o Renan, precisa tomar cuidado com ele… Só preciso que você fique!  –continuava a perceber a súplica no olhar da Ágatha, mas não tinha certeza de mais nada.

–Não sei meu amor… –respondi acariciando os seus lindos e longos cabelos ruivos.

–Pelo amor de Deus, eu tô te implorando. Você não me ama? Porque eu te amo muito. –falou toda dengosa e eu já havia voltado a chorar pensando em como seria minha vida longe dessa mulher.

–Claro que te amo, Ágatha. Confesso que antes tinha dúvidas, mas hoje sei que todo meu amor é e sempre será seu.

–Então fica aqui, só tenha um pouco de paciência comigo… –a ruivinha disse entrelaçando nossas mãos e logo adormeceu, ela estava muito cansada.

Ao contrário da Ágatha que dormia profundamente, eu não preguei o olho um segundo sequer. O grande amor da minha vida pediu para tentarmos e acharíamos uma solução concreta, a esperança no meu coração se reacendeu que não tenho nem palavras para explicar, mas ao mesmo tempo outra parte de mim me alertava que não seria uma decisão inteligente permanecer ao lado da Ágatha, seria muito egoísmo prejudica-la na sua vida profissional para ficar ao meu lado, e obriga-la a ser mãe mesmo nunca sendo seu sonho, não queria que a Kathleen e eu fôssemos um peso na vida dela. Passava pouco mais das quatro da madrugada, precisava pensar sobre que decisão tomaria antes que a advogada acordasse.

Acreditem, eu amava a Ágatha com todas as minhas forças, não foi fácil a decisão que tomei, mas sabia que era o melhor para nós duas, em decisões importantes temos que colocar o cérebro para raciocinar e deixar o coração de lado. Enquanto fitava o amor da minha vida dormindo serenamente, parecendo um anjo, só Deus sabe o quanto meu coração sangrava ao escrever o bilhete que deixaria para a advogada. Meu rosto estava banhado de lágrimas e muito vermelho.

“Ágatha, no momento que você ler esse bilhete, com certeza vai ficar com muita raiva de mim já que você implorou para que eu não partisse, mas já tomei minha decisão, eu vou para os Estados Unidos com a Pietra. Mesmo você não acreditando, mas juro pela minha vida e pela vida da Kathleen que você é e sempre será o grande amor da minha vida, mesmo demorando um pouco para perceber, NUNCA se esqueça disso. Nós nos conhecemos em um momento considerado atípico para a maioria dos casais, mas desde a primeira vez meu coração era capaz de perceber que você seria uma pessoa inesquecível na minha vida. Aí você pode me perguntar… Se não estou sendo covarde por não ficar no Rio de Janeiro e lutar pelo nosso amor, só que precisamos perceber que essa é a vida real, não é um filme de romance com final feliz. Estaria sendo muito egoísta se te obrigasse a sacrificar sua vida profissional, suas realizações por minha causa.

 

O meu coração está implorando para não sair do Brasil, mas fazendo uma retrospectiva de todo nosso relacionamento não consigo sentir a confiança necessária de que conseguiremos superar esse obstáculo, essa gravidez inesperada. Vivenciamos um relacionamento abusivo inúmeras vezes, terminamos e voltamos diversas vezes no meio de brigas e agressões, não quero que minha filha tenha esse tipo de exemplo… Sem falar que você não esteve ao meu lado quando me reconciliei com meus pais, quando mais precisei do seu amor, do seu afeto, vendo minha mãe entre a vida e a morte. Onde você estava? Simplesmente não sei. Minha família não gosta de você, seu pai e até mesmo a Alana não me suportam, sem falar que você odeia o meu irmão, não podemos permanecer juntas desse jeito e fingir que nada está acontecendo. Você diz não estar com a Débora ou outra mulher, então qual foi o motivo para tantas mentiras? E na descoberta da gestação você também simplesmente sumiu. Perdão pelo que vou dizer, mas não acredito que permanecer no Rio seja a melhor solução, não consigo confiar em você…

 

Às vezes é preciso realizar sacrifícios para ver o bem das pessoas que amamos. Seu maior sonho é ser delegada da P.F e posteriormente uma brilhante promotora, não tenho dúvidas de que conseguirá realizar o seu sonho. Determinação, competência e força de vontade não faltam. Mesmo em outro país, quero ouvir falar na brilhante promotora de justiça Ágatha Médici. Mesmo me doendo escrever isso, espero que você ainda seja muito feliz. Reconstrua a sua vida e encontre um grande amor.

 

PS: “Amo-te Ágatha e sempre te amarei, minha eterna ruivinha (meu único amor).”.

Vi o nascer do sol e com muito custo dei um beijo na testa da Ágatha, me vesti e fui embora antes que meu coração me traísse e voltasse para perto dela. Precisava ser forte e tomar a melhor decisão para nós duas. A dona Cida já havia chegado. Entreguei-lhe o bilhete dentro de um envelope, a mesma jurou que entregaria para a patroa assim que ela acordasse.

Mesmo sendo início da manhã e já estava há quase 24 horas sem dormir, morrendo de sono é claro, fui para a casa da Dani, desde que voltei para a casa dos meus pais, ainda não havia pagado todo aluguel e devolvido a chave do imóvel que aluguei graças a imobiliária onda a mãe da Daniela trabalhava. Passei o cheque com valor correspondente aos meses que fiquei na casa, mas antes conversei com a minha melhor amiga sobre o fato de naquela casa ainda estar repleta de lembranças, fotos, presentes, momentos felizes que Ágatha e eu tivemos. Obviamente não poderia levar todos esses momentos inesquecíveis comigo para os Estados Unidos, mas não estava pronta para me desfazer. Por sorte, a Dani prometeu que cuidaria de tudo, desde as fotos, ursinhos de pelúcias até alguns eletrodomésticos e coisas mais caras que compramos juntas.

–Giovanna, a Pietra também é minha amiga. Vocês estão noivas… Não achei nada legal da sua parte mentir que passou a noite aqui enquanto na verdade estava transando loucamente com a Ágatha. Seu celular estava desligado e a coitada da Pietra passou boa parte da noite e madrugada me ligando para saber como você estava e a bebê. Sempre tinha que inventar uma desculpa diferente, não fiquei nada feliz por ter que mentir. Vocês nem se casaram e já tá aí traindo a sua futura esposa. –Dani me chamava atenção enquanto observava os gêmeos brincando alegremente e dando pequenos passinhos, Paulinha e Pedrinho já estavam com pouco mais de um ano.

–Dani, eu precisava me despedir da Ágatha, ver o amor da minha vida pela última vez, provavelmente não voltaremos mais para o Brasil. Foi só uma vez, não vou mais trair a Pietra. Sou muito grata a tudo o que ela tá fazendo por mim e pela minha filha. E vou tentar corresponder à altura os sentimentos dela. –respondi convicta.

–Minha amiga, acho que você apenas está querendo enganar a si própria. Tanto a sua família quanto a família da Pietra estão no Brasil, nos EUA apenas está o pai dela e alguns poucos amigos. Vocês podem morar lá por algum tempo, mas duvido muito que morem em outro país pra vida toda e façam a Kathleen crescer em um ambiente totalmente estranho. E se por ventura, vocês voltarem a morar no Rio e a Ágatha tiver reconstruído a vida dela?! Tem certeza de que estará pronta pra isso? –as palavras de Dani realmente me balançaram bastante, mas não estava a fim de pensar nisso, pelo menos não agora.

Quando ia fazer menção de falar alguma coisa, a empregada entrou na sala acompanhada da Pietra.

–Gi, meu pinguinsinho! Por que não atendeu minhas ligações? Fiquei tão preocupada com você e a nossa filha. Tá tudo bem? –minha noiva foi enchendo de perguntas enquanto nos olhava de maneira intrigada.

–Eu tô bem, mas meu celular deve ter descarregado e esqueci de colocar pra carregar. Tô bem Pietra. Não precisa se preocupar. –disse com a cara mais deslavada, mas com a consciência pesando por dentro.

–É Pietra. Como te falei… A Gi estava muito cansada e acabou indo dormir logo. –Dani intercedeu ao meu favor.

–Imagino, a gravidez está na reta final, agora o cansaço é maior do que nunca. –Pietra disse chegando perto de mim para me abraçar e beijar minha barriga.

–Por falar em cansaço, ainda tô morrendo de sono. Será que podemos ir? Pietra, você dirige pra mim? –perguntei bocejando. Era óbvio que estava com sono, mas não por conta da gravidez e sim por estar a mais de 24 horas sem dormir.

Dessa forma, despedimo-nos da Dani que ainda sussurrou no meu ouvido um: “Pensa bem se quer viajar. Você não vai poder fugir a vida toda”. Só que minha decisão já estava tomada. Hoje era segunda-feira, na quarta-feira a tarde iria viajar com a Pietra e ponto final.

Nem me surpreendi quando horas depois acessei minhas redes sociais e vi que a Ágatha havia me bloqueado em absolutamente tudo. Chorei é claro, mas creio que foi melhor assim, para nós duas.

Rapidamente a quarta-feira chegou. Em meio a muitos abraços apertados das nossas famílias, nossos amigos, choros de saudades, Pietra, Kathleen e eu embarcamos no avião, rumo a uma nova vida nos Estados Unidos, em Nova York. Ia para um novo país, mas sempre sentindo que meu coração havia ficado na cidade maravilhosa, no Brasil. No avião Avril Lavigne era capaz de embalar todas as minhas dores e tristezas ao som de wish you were here. Despedidas sempre são tristes, mas necessárias.

 

 

 

 

 



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