Nosso Estranho Amor

51. As divergências começam.

A Pietra havia saído para resolver alguns processos burocráticos da boate, nada demais, logo ela estava em casa normalmente. Agora que tínhamos profissionais de confiança, trabalhávamos menos e tentávamos acompanhar a Kathleen na carreira dela. Bem no meio do jantar, nossa filha volta a tocar no assunto de antes.

–Mami, comi todo o jantar, não sobrou nadinha. Sou uma boa criança, né? –Kat disse indo sentar no colo da Pietra e acariciando seus longos cabelos pretos. Sabia onde e como essa história terminaria…

–Você é a melhor criança e a melhor filha do mundo todo, além de ser a criança mais linda, mais inteligente, mais talentosa, mais fofa… –observava minha esposa só fazer elogios à minha filha lhe “enchendo a bola” e me preocupando.

–Já chega, Pietra! Nós já sabemos todas as qualidades, mas também os defeitos da nossa filha. –disse querendo colocar na cabeça da morena para ver se ela também compreendia a palavra defeitos.

–Só que não custa nada reiterar as qualidades para a Kat saber o quanto é amada. –a morena disse dando mais uma garfada, ainda com nossa filha no colo. –A minha filhinha tá com cara de quem quer pedir alguma coisa. Fala pra mamãe!

–Mãezinha linda que tanto amo, quero fazer aula de canto. Diz que sim, quero começar logo. –Apesar da pouca idade, Kathleen sabia muito bem manipular as emoções da Pietra. Era só dar abraços, beijos, carinhos, falar algumas palavrinhas fofas que minha esposa cedia a tudo.

–Kathleen, nós já conversamos sobre esse assunto hoje e você sabe a resposta. –tentei intervir mesmo sabendo que sairia como a chata da história.

–Bebezinha, nem precisa pedir, a mamãe faz tudo o que você quiser. Amanhã mesmo vou te matricular na melhor escola de canto, depois das gravações vamos até lá. –tive que me controlar para não jogar um copo de vidro na direção da morena.

–Obrigada mamizinha. Te amo, te amo, te amo… –Kathleen comemorava feliz da vida abraçando minha esposa enquanto me encarava com seu típico olhar desafiador, ela sempre vencia naquela casa.

–Só que agora está ficando tarde e tá na hora da minha estrelinha ir dormir e ficar muito linda pra novela. –Pietra comentou pegando Kat nos braços.

–Eu já sou linda, mamãe… Me coloca pra dormir e conta uma história? –sabia que a pergunta havia sido direcionada para a Pietra, mas fingir não perceber.

–Posso te colocar pra dormir e ficar contigo até você dormir meu amor! –disse tentando me aproximar.

–Não estou falando com você, Giovanna. Tô falando com a minha outra mãe! –rebateu autoritária. Como não fiz a sua vontade, agora não era mais a mãezinha amada, era apenas a Giovanna…

Ainda sentindo o peso daquelas palavras machucarem o meu coração, fui para o quarto que dividia com a Pietra. Tentei inutilmente colocar minha atenção no livro à minha frente, mas sabia que era uma missão impossível.

–A nossa neném nem demorou pra dormir, pegou logo no sono… –a morena disse sentando ao meu lado, mas parou de falar quando notou meu semblante de chateação. –Que bicho te mordeu? Tá aborrecida? –indagou me fazendo explodir.

–Poxa! Pensava que nunca iria perceber que estou mais do que puta da vida, você merece até um prêmio por ter acertado que tô morta de raiva. –rebati de maneira irônica fechando o livro e jogando em qualquer lugar.

–Espera aí Giovanna! Por que você tá tão chateada? Não fiz nada pra ser tratada dessa maneira.

–Pietra, você tira toda a minha autoridade diante da nossa filha e ainda me pergunta o motivo da minha chateação? O que mais me aborrece é porque não é a primeira vez que isso acontece. Por que você disse que vai matricular a Kathleen nessa aula de canto enquanto eu disse que a resposta seria não? O final é sempre o mesmo. Você é a mãe dos sonhos, a mãe legal, e eu me saio como a mãe chata. Desse jeito a Kathleen vai se afastar ainda mais de mim. É isso que você quer? –vomitei tudo de maneira furiosa.

–Calma! Não foi minha intenção quebrar a sua autoridade, nem sabia que a Kat já havia te pedido…

–Pois é, só que ela pediu e eu disse que não, aí você vem e simplesmente deixa ela fazer o que bem quer. Será que você não percebe o quanto a nossa filha te manipula para ter todos os desejos atendidos da maneira e na hora que ela quer? –gritei ainda sem conter minha irritação.

–Posso falar agora?! Com brigas não chegaremos a lugar nenhum. –Pietra disse e sabia que ela estava certa. –Por que você não quer que a Kat faça essas aulas de canto? Sabemos que ela tem talento, e com essas aulas pode ser bom pra ela ganhar mais destaque e notoriedade, realizar o sonho dela que é seguir os passos no mundo artístico.

–Esse é o problema, Pietra! Pensa comigo… A Kathleen tem apenas cinco anos, ela tá crescendo antes do tempo. Se formos olhar, a agenda dela está repleta por estudo, desfiles, balé, novela, aula de ehol, viagens a trabalho, em casa ainda fica decorando textos. Não acha que nossa filha já tem compromissos demais pra essa idade? O quarto dela está cheio de brinquedos sendo que ela quase nem tem tempo pra brincar. Quero ver nossa filha como uma criança normal… Brincando, fazendo bagunças, tendo amiguinhos. A Kathleen não tem amigos, é muito mimada, egoísta ao extremo. Tenho medo do futuro dela. –disse tentando conter as lágrimas.

–Agora entendo e também tenho esse medo, só que não podemos podar os sonhos da Kat. Já percebeu como aqueles olhinhos azuis brilham quando ela está na frente das câmeras? Ela ama o que faz e seremos péssimas mães se não incentivarmos… –cortei a fala da Pietra antes mesmo que ela terminasse.

–Mas já percebeu qual tá sendo o resultado de tudo isso? Você faz as vontades da Kathleen, mas nossa filha é uma criança chata, impaciente, mimada, egoísta, arrogante, rebelde, prepotente…

–Giovanna, será que você pode deixar terminar minha fala, por favor? Já entendi seu ponto de vista, compreendo, mas também me deixa falar. –Pietra pediu de uma maneira tão educada e gentil que era impossível não abrandar meu coração, aliás, era uma das qualidades que mais gostava na minha esposa, ser tranquila mesmo diante da tempestade.

–Desculpa, pode continuar a falar. –limitei-me a dizer.

–Concordo que sou coração de manteiga e sempre faço o que nossa filha quer, mas você também tem seus erros que não são poucos. Já perdi a quantidade de vezes que você chamou nossa filha de chata, mimada e birrenta, tudo isso na frente dela. Se eu tento realçar as qualidades dela não é porque quero que a Kathleen se ache perfeita e superior aos outros, mas para ela não pensar que é apenas um zero a esquerda e repleta de defeitos. Sabe por que a Kat pede para que eu conte histórias antes de dormir? É porque vou lá e conto, faço carinho até ela dormir. Agora você não… Coloca qualquer CD infantil para tocar, parece que não tem paciência para ficar com a própria filha.

–O que tá querendo insinuar com tudo isso? Que sou uma péssima mãe e que a Kat tem esses comportamentos por minha causa e pra chamar minha atenção? –perguntei sentindo os pesos das palavras da Pietra, a dor era maior por saber que ela não mentiu em nada.

–Nunca teria essas intenções meu Pinguinzinho, mas é bom sabermos onde estamos errando para mudarmos pelo bem da nossa princesa. Você é uma excelente mãe, só que a Kat tem sim uma personalidade forte. Apenas quero que toda paciência e disposição que você tinha com o Mateus, a Natalie e o Enzo, você seja capaz de ter com a nossa menina. –Pietra disse entrelaçando nossas mãos e me passando coragem.

–Bem verdade quando dizem que não há um guia correto para a maternidade, a tarefa é árdua. Pietra, você não sabe o quanto te agradeço por estar ao meu lado. Acho que sem você já teria desmoronado há muito tempo… –disse limpando algumas lágrimas que temiam em cair pelo meu rosto.

–Estou ao seu lado porque te amo e amo nossa filha, eu é que tenho que agradecer pela nova oportunidade que você me deu. Sempre serei grata e farei de tudo para que nunca se arrependa de estar ao meu lado. Te amo demais! –disse me dando um abraço acolhedor e mordendo o lóbulo da minha orelha.

–Por falar em amor, acho que você tá com roupa demais. Já passou da hora de tirar essa blusa. –disse começando a desabotoar a blusa da minha esposa.

–Safadinha! E pra mim já passou da hora de te jogar contra essa parede e te fazer gemer muito… –Pietra disse já me beijando alucinadamente e eu tendo que imaginar uma certa pessoa na minha mente para poder entrar no clima. Poderiam passar meses, anos, até mesmo décadas que o meu amor pela Ágatha nunca iria morrer.

Pietra e eu firmamos um novo acordo de que conversaríamos juntas sobre qualquer coisa que Kathleen pedisse, por menor que fosse, e eu também tentei me manter mais paciente. Com essa nova atitude, nossa filha passou a receber limites e passava a se tornar mais chorona, só que a personalidade forte não mudava em nada. Era surpreendente que na frente das câmeras nossa filha parece que se transformava, era uma criança doce e fofa, daquelas que você quer levar para casa, quando estava sozinha conosco era muito birrenta, como se tivesse dupla personalidade.

Ao mesmo tempo, no trabalho percebia Pietra mais distante, menos brincalhona, andava chateada, mas não queria me dizer o porquê, até nossos momentos íntimos haviam esfriado. No início até pensei na possibilidade de traição ou estar cansada pelas atitudes da Kathleen, mas confiava muito nela e logo descartei tais possibilidades, era só insegurança mesmo. Só precisava entender o que estava acontecendo com a Pietra.



Notas:



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