Nosso Estranho Amor

55. Mais decepções e perdas

Ainda conversei com o Enzo por mais algum tempo enquanto limpava as lágrimas, por fim não mencionamos mais o assunto Ágatha. Tudo estava indo bem até que escutamos alguns gritos, torcia muito para estar enganada, mas reconhecia a dona daquela voz, era da Kathleen discutindo com outra voz também infantil.

Quando cheguei perto da piscina, Kat estava discutindo furiosamente com a Paulinha, filha da Dani. Por frações de segundos percebi que Ágatha observava toda briga, mas não se metia na confusão. Quase no mesmo instante, Dani e Pietra também chegaram.

–Ei, posso saber o que está acontecendo? Isso daqui não é um campeonato de ringue. –Daniela, Arthur, Pietra e eu separamos as crianças antes que as duas começassem a se bater.

–Eu quero essa menina fora do meu aniversário, não quero ela aqui. –Paulinha gritava sem parar.

–Também não queria vir nessa festa sem graça sua gorda! Minhas mães que me obrigaram. –Kat gritava ainda mais alto.

–Minha filha, por favor… Olha a educação! –disse segurando Kat pelo braço.

–Falam em educação, mas tenho quase certeza de que vocês duas não sabem educar essa menina. A Paulinha é uma doçura de criança. –essa voz era da Ágatha e odiei a maneira que ela se referiu à minha filha. Quis chorar, mas ali não era momento para pensar nos meus sentimentos.

–Olha Ágatha, nem se atreva a fazer qualquer comentário sobre a minha filha ou não respondo por mim. –Pietra disse notando minha revolta. –A Kat é uma criança maravilhosa, mas não sei qual educação a Paula recebeu.

–E o que você está insinuando, Pietra? Que a minha filha não presta e a sua é boazinha? –agora a Daniela também já estava saindo do sério.

–Calma gente! Não precisamos de mais brigas… Vamos deixar que as meninas contem o que aconteceu. –Arthur falou de maneira pacífica e eu concordei.

–A Kathleen roubou a pulseira do Eric, roubou também o cordão do Pedro. –Paula acusava minha filha de roubo, apenas aumentando minha raiva. A Kat tinha todos os defeitos, mas roubo? Com certeza não.

–É mentira mamãe, eu não roubei nada… –dessa vez minha filha já chorava e não aguentei minha fúria.

–Paula, conheço muito bem a minha filha, ela pode ter muitos defeitos, mas não é uma ladra. Você está mentindo! –confesso que falei em um tom mais alto do que deveria.

–Quer dizer que sua filha não pode ser taxada de ladra, mas minha filha é uma mentirosa? –Dani vociferava.

–Para sermos justos vamos chamar o Pedrinho e esse Eric. Eles nos dirão o que aconteceu. –minha esposa disse antes que aquela briga aumentasse.

–A Pietra está certa. –Arthur por fim concordou.

Depois de mais de dez minutos procurando o irmão da Paula e o famoso Eric, por fim os meninos deram as caras. Descobri que Eric era um amiguinho de escola dos gêmeos de quem a Paula gostava. Os dois pareciam meio chateados por haverem sido interrompidos na partida de futebol.

–Meninos, só precisamos de um momento da atenção, depois voltem a brincar. Essa pulseira que a Kathleen está usando é sua, né Eric? –juro que morri de raiva pelo tom que a Daniela usou, colocando minha filha como culpada daquela situação. Nessa hora Ágatha parou de implicar e apenas prestava atenção em tudo o que acontecia.

–Não é mais minha, eu dei a pulseira do Ben 10 de presente pra menina bonita. –o garoto falava fazendo referência à minha filha. –A Kat é muito legal e quero namorar com ela um dia.

–Eric, você namora com a minha irmã. A Kathleen vai namorar comigo, não com você. –foi a vez do Pedro falar.

–Tá doido?! Eu não namoro com a balofa. –o menino murmurou com cara de desagrado.

–Pedrinho, e esse cordão que a Kathleen está usando… Em algum momento ela tirou de você? –perguntei me inclinando ficando na altura do irmão de Paula.

–Não mesmo tia Gi. Eu dei o meu cordão da sorte de presente pra Kat. Nunca vi uma menina tão linda e queria saber se ela aceita namorar comigo . –Pedrinho falou com os olhos brilhantes e me deixando sem ação. Como essas crianças falavam em namoro com essa idade?

–Pedro, ainda tá muito cedo para falarem sobre namoro. Nós já descobrimos o que queríamos. Pelo visto, a Paula não é tão inocente assim. –Pietra falou contendo sua raiva. –E você, Daniela… Precisa saber o que diz antes de acusar a minha filha.

–Meu amor, para evitar maiores confusões, por favor, devolva esses objetos. Você ainda é muito novinha pra falar em namoro e receber presentes de meninos. –disse olhando para minha filha.

–Tá bom mamãe, mas não tô namorando ninguém, eu sou uma criança. –Kat disse devolvendo os presentes. Acho que a companhia do Enzo fez um bem danado para minha filha. –Só que eu não quero mais ficar aqui, me leva pra casa.

–Por favor, menina bonita… Fica mais um pouco, é o meu aniversário. –Pedro ainda insistiu.

–Não quero, sua irmã é muito chata e não gosta de mim. –Kathleen disse ainda com um rostinho de choro que partia meu coração.

–Tá vendo só o que você fez, Paula? Por sua culpa a Kathleen vai embora, e para de dizer pros outros que sou seu namorado, nunca namoraria uma balofa. –Eric respondeu furioso. O menino de sete anos também parecia ter um temperamento difícil.

–Mãezinha, tira essa menina do meu aniversário, não quero mais ela aqui, eu não suporto ela. O Eric tá mentindo, ele é sim meu namorado. –Paula chorava sem parar e com certeza bateria na minha filha se pudesse.

–Também não quero mais ficar mesmo. Não tenho culpa se sou muito mais bonita e os meninos gostam de mim enquanto você é uma gordinha e baixinha sem graça. –minha filha estava até comportada, mas agora parece que tinha prazer em falar mal de Paula.

–Não vou deixar essa menina falar mal da minha filha na minha própria casa. Peça desculpas se você entende o significado dessas palavras.

–A minha prima não vai pedir desculpas, foi a sua filha que inventou mentiras sobre a Kat. –agora Natalie defendia a prima. Era até bonito de ver a forma como as duas se defendiam.

–Kat, adorei te conhecer, pelo menos fica com o meu cordão. –ao contrário da irmã, Pedro havia adorado minha filha.

–Nunca pensei que fosse concordar com algo dito pela Natalie, mas ela está certa. Vocês devem educar melhor a Paula pra que ela não diga tantas mentiras. Vamos embora meu amor! Não precisamos continuar aqui. –disse pegando Kat no colo e sendo seguida por Natalie. –Pietra, você vem com a gente ou vai continuar parada? –indaguei chateada enquanto observava que minha esposa permanecia sem ação. Nem ousei olhar para Ágatha, estava bastante aborrecida com tudo o que havia acontecido, não precisava de outro problema.

–Daniela, sinto muito… A Paula pode ser minha afilhada, mas a Kat é minha filha e ela chamou a minha pequenina de ladra, meio difícil de perdoar. –Pietra disse me acompanhando e por fim saímos daquela casa.

Nunca imaginei que levar a minha filha naquele aniversário viraria uma situação tão insustentável, e ainda tive que lidar com o desprezo do amor da minha vida, muitos problemas para apenas um dia. No decorrer daquela mesma semana ainda precisei lidar com mais uma situação incômoda, a visita inesperada da Daniela enquanto eu estava sozinha em casa, até pensei que ela iria pedir desculpas pelo comportamento da filha, mas estava completamente enganada.

–Quero que você devolva o cordão do Pedro, ele foi bastante caro. –fazia alusão ao presente que o menino havia dado para a minha filha.

–Boa tarde pra você também. –disse ironicamente. –Coisas caras é o que menos me importam, eu e a Pietra temos dinheiro de sobra para comprar qualquer presente que a Kathleen queira. Toma! –disse literalmente jogando o cordão de ouro na cara de Dani.

–Tinha esquecido mesmo que agora vocês duas não são mais as mesmas e criam a filha de vocês no maior luxo. Adoraria saber se a Pietra continuaria casada contigo se soubesse que dias antes de vocês embarcarem para os EUA, você transou com a Ágatha. –Daniela falou em um tom de raiva que não conhecia mais a minha melhor amiga ali.

–O que você tá querendo insinuar, Daniela? Vai falar para a Pietra tudo o que aconteceu? Quer destruir meu casamento? Pelo visto a minha “melhor amiga” mudou bastante. –respondi sarcasticamente.

–Depois do aniversário dos meus filhos, apenas percebi o que nunca quis dar ouvidos, a Débora estava certa o tempo todo. Você não vale nada, Giovanna. É bom educar a sua filha ou no futuro ela vai ser a cópia fiel da mãe biológica.

–Não se atreva a falar mal da minha filha! –disse apertando firmemente o braço da Daniela. –A Kat não tem culpa se a sua filha é rejeitada e tem complexo de inferioridade. –notei a contração da mandíbula de Daniela em um ato de raiva.

–Um último aviso, todas aquelas lembranças suas e da Ágatha, que você deixou nas minhas mãos, entreguei pra sua ex-noiva, e ela fez questão de doar algumas coisas e jogar outras fora, então se a sua volta para o Brasil tem haver em reconquistar a Ágatha ou bagunçar novamente a vida dela, não vai conseguir…

–A Ágatha se desfez de todas as nossas lembranças? –indaguei em um fio de voz tentando conter a vontade de chorar.

–Claro que sim, Giovanna. Ela não te ama mais e já organizou a vida dela. Achava que ela iria te esperar por vários anos?! Você não é tão irresistível assim. Se você ousar se meter com a minha cunhada, a esposa ou a filha delas, juro que vou contar toda a verdade para a Pietra sobre a traição e você ficará sem as duas. –Daniela falou em tom de ameaça, mas já tinha tomado minha decisão.

–Não precisa me ameaçar! Não procurarei a Ágatha e nem a família dela. Você pode não acreditar, mas desejo apenas a felicidade dela. A partir de hoje só quero paz na minha vida, e isso inclui a Pietra não visitar mais os seus filhos. Não quero nenhum tipo de vínculo com a família Médici. –falei em tom de raiva.

–Do jeito que a Pietra é uma marionete nas suas mãos não me admiro se você conseguir afastá-la dos afilhados. Ela pode até visitar os meus meninos se quiser, mas não quero saber de você ou da sua filhinha perto deles.

–Creio que não há mais nada para ser dito, Daniela. Vá embora da minha casa antes que eu chame os seguranças! –disse já segurando o botão de alarme.

–Não precisa, sei muito bem o caminho. –falou enquanto saía imediatamente da minha casa.

Aproveitei que minha filha iria dormir na casa dos meus pais, e iria fazer algo que jamais faria se Kat estivesse por perto, simplesmente beber para esquecer os problemas ou até minha cabeça pesar. Desde que eu havia retornado ao Brasil, minha vida estava sendo repleta de muitas perdas, havia perdido o grande amor da minha vida, a minha melhor amiga tinha se afastado, eu também iria me distanciar do Enzo visto que era sobrinho da Ágatha, tomaria essa decisão pelo bem da minha própria saúde mental, não queria ligação com a família Médici. O problema maior se fez quando meus planos não se concretizaram porque a Pietra achou de chegar justamente quando ainda nem havia terminado de tomar o primeiro copo de uísque.

–Pinguinsinho, posso saber por que você está bebendo em plena tarde de segunda-feira? –para minha fúria, Pietra retirou o copo das minhas mãos, sem permissão é claro.

–E por que você chegou em casa tão cedo? Uma hora dessas não tinha que estar na construtora? –rebati de volta.

–Porque a Kat está na casa dos meus sogrinhos e não é todo dia que tenho a sorte de ficar sozinha em casa com o amor da minha vida. –Pietra disse me abraçando por trás e tal atitude amoleceu meu coração. –Vai me dizer porque já ia começar a beber? –falaria que o motivo principal é que morria de saudades da Ágatha e resolvi me afastar definitivamente da família Médici? É óbvio que não.

–Prepara que a história é longa. Hoje a Daniela esteve aqui em casa pra me perturbar, ela não quer nem eu e nem a Kat perto dos filhos… –aos poucos narrei toda a conversa que tive com a Daniela menos a parte que envolvia a Ágatha é claro. –Sei que você adora aquelas crianças, por isso vou entender se continuar a visitá-los.

–Gosto muito mesmo é do Pedrinho e ele gostou da Kat, não reconheço mais a Paula, ela se tornou uma criança insuportável e mentirosa acima de tudo. Vou sentir saudades dele, mas isso dá pra superar. –Pietra mentia muito mal, sabia que ela estava triste.

–Amor, não se afasta do Pedro. O problema da Daniela é comigo, não com você, então vamos separar as coisas. –falei visivelmente sem graça.

–Vou falar com a Daniela amanhã mesmo, não vou deixar ela te desrespeitar dessa maneira. –minha esposa falava de forma tão furiosa que sabia que ela seria capaz de procurar minha antiga amiga. Imediatamente lembrei da ameaça da Daniela de falar sobre a minha traição enquanto estávamos noivas e empalideci.

–Pietra, eu te imploro, não procura a Daniela, não quero mais confusão! Vamos aproveitar que voltamos para o Rio, daqui a pouco a Kat vai começar no colégio, fará novos amiguinhos, aí você vai acabar se afeiçoando a algum amigo da Kat. –implorei apavorada.

–Não é a mesma coisa meu amor! –Pietra disse beijando suavemente meus lábios. –Amo a nossa filha, mas seria tão bom se pudéssemos ser mães de um menino. Já pensou? Dar um irmãozinho para a Kat? –não queria nem pensar nessa possibilidade, seria muita loucura.

–Não minha linda! Essa ideia é muito maluca, totalmente fora de cogitação, não faz o menor sentido. –disse começando a andar pela sala nervosamente. –Você mesma dizia que queria ser mãe de apenas uma criança, algum motivo pra mudar? –comentava apavorada.

–O que não faz o menor sentido é você oferecer tanta resistência para não termos outro filho. Você mesma dizia que queria ter ao todo três ou quatro filhos. Temos dinheiro suficiente para ter essa quantidade e até mais se quisermos. –Pietra comentava desconfiada.

–Amor, não é que eu não queira ser mãe novamente, mas a maternidade não é tão simples quanto parece. –respondi com um sorriso amarelo. –Pensa bem! Nós acabamos de voltar ao Brasil. Você tá trabalhando na construtora, eu também comecei a trabalhar na empresa de turismo. Além disso, precisamos acompanhar a Kat na carreira dela e educá-la, ela vai precisar muito da nossa ajuda quando começar na escola pois não tá acostumada em um ambiente com tantas crianças. Não tô dizendo que não quero ser mãe de novo, mas podemos adiar um pouco esse plano.

–Tá bom, Giovanna! Não precisa de mais explicações. Você já me convenceu e tá tudo bem. –Pietra falou tentando esconder sua decepção diante do meu posicionamento.

–Se tá tudo bem, então vamos esquecer essa briga a aproveitarmos a sorte de ter toda essa casa só pra gente. –disse me atracando na morena linda e começando a beijar seu pescoço. Naquela tarde e noite transamos em cada cômodo daquela casa, sabia perfeitamente como amolecer o coração da Pietra.



Notas:



O que achou deste história?

Deixe uma resposta

© 2015- 2020 Copyright Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução total ou parcial do trabalho sem a expressa autorização do autor.