Nosso Estranho Amor

57. O casamento começa a desmoronar

Com o passar dos anos fui conseguindo sustentar a imagem de mulher feliz, austera e forte, mas só Deus sabe o quanto meu coração estava ferido por dentro, saber que o amor da minha vida apenas nutria ódio por mim, mas agora estava na hora de agir, não havia espaço para sentimentalismo e essas bobagens.

–Kathleen, vá agora mesmo ao seu quarto e traga o seu celular, seu tablet e seu notebook. A partir de hoje eles ficarão comigo por tempo indeterminado! –fui logo dizendo após o almoço.

–Qual é, mãe?! Você não pode fazer isso, eles são meus. –Kathleen começou a esbravejar. –Não vou te dar eles.

–Ah é? Acontece que quem comprou foi sua mãe e eu. Se você não vai pegar pra mim, não há problema, eu mesma faço isso. –disse tranquilamente já pegando os equipamentos eletrônicos no quarto da minha filha.

–Eu vou contar tudo pra mamãe quando ela chegar e você vai se arrepender. –nessa altura Kathleen já gritava pela casa toda atraindo a atenção de todos os funcionários. –O que vocês estão olhando seus bestas?! Voltem a trabalhar.

–Tenho certeza de que sua mãe irá adorar saber o que você andou aprontando hoje na escola e a maneira que trata os funcionários, garanto que seu castigo apenas começou. Agora você vai enxugar toda a louça do almoço enquanto a Francisca descansa, você já dá muito trabalho pra ela. –respondi firmemente sem ligar para a cara emburrada de Kat.

–Não é justo, mãezinha! Sou uma criança e lavar essa louça vai me deixar cansada. –Kat já ia querendo me manipular com abraços e beijos quando percebeu que eu falava sério.

–Engraçado que no carro você veio falando que já era uma adulta, mudou rápido de ideia? Francisca, leva a Kat para a cozinha e supervisione o trabalho dela. –disse piscando o olho para a empregada a fim de que a mesma não permitisse que minha filha se machucasse com a louça.

–Você não me ama mais! –ouvi Kat falar e começar a chorar. Claro que me mantive firme com muito custo.

–Muito pelo contrário Kathleen, é justamente por te amar tanto que a partir de hoje teremos limites nessa casa. –disse enquanto a empregada já conduzia minha filha para a cozinha.

A tarde toda se passou com a minha filha de cara fechada, não quis tomar banho por não querer minha ajuda  e nem ajuda da babá para lavar os cabelos, Kathleen me via como uma grande inimiga. Agora o jeito era esperar Pietra voltar do trabalho e ver qual era o seu posicionamento sobre a atitude da Kat.

–Passei o dia todo com saudades da minha esposa linda e da minha princesinha! Posso saber por que essas expressões tristes? –Pietra indagou com seu auto astral de sempre, mas ela sabia que algo havia acontecido. –Kat, por que você ainda não tomou seu banho para o jantar?

–Porque você ainda não havia chegado, mamãe, e queria sua ajuda pra lavar o meu cabelo. Senti saudades! –Kat já disse indo encher minha esposa de abraços e beijos, e eu só observava aquela cena patética.

–E por que não pediu ajuda pra sua mãe? Sabe que a Gi ou a Francisca sempre te ajudam no banho.

–Ela não é mais minha mãe, ela é muito chata e não quero a ajuda dela, só a sua. –se a Kathleen tivesse noção do quanto suas palavras me machucavam, com certeza não falaria.

–Não fale assim com a sua mãe, Kathleen! Independente do que tenha acontecido, nós duas te amamos e conversaremos depois do jantar. Agora vá pegar a sua toalha e vamos logo tomar esse banho antes que fique tarde. –Pietra falou de maneira mais autoritária impondo limites.

–Linda, se prepara que a conversa vai ser muito longa, não tenho notícias tão animadoras. –disse no ouvido de Pietra após Kat deixar a sala e em troca recebi um abraço caloroso. Meu cérebro indagava o motivo para não conseguir amar essa mulher, ela era tão perfeita. –Sei que você teve um dia corrido e cansativo no trabalho e não queria te perturbar com certos assuntos, mas é necessário.

–Amor, amo muito você e a nossa filha. Tudo o que diz respeito a vocês duas me interessa. –Pietra disse beijando os meus lábios. –Só vou tomar um banho, ajudar a Kat e depois resolveremos juntas o que quer que seja.

O jantar transcorreu em absoluto silêncio, Kathleen sabia que teríamos uma conversa séria e acabou comendo menos do que o normal.

–Então Kat, comece me contando o que ocorreu para você está tão chateada com a sua mãe. –Pietra iniciou a conversa com sua fala costumeira.

–Ela tirou meu celular, meu tablet, meu notebook e ainda me obrigou a enxugar a louça da cozinha. –Kat me fitava com ira.

–Agora diga para a sua mãe porque fiz isso. –comentei olhando para minha filha que baixou o olhar e não falou nada.

–Giovanna, parece que a nossa filha ficou muda, então me conte você mesma o que aconteceu. –Pietra me pediu.

Narrei tudo o que havia ocorrido pela parte da manhã, cada detalhe do comportamento vergonhoso da Kat, não escondi nada, assim a Pietra perceberia que não estava exagerando. Percebia o choque no olhar da morena após tudo o que falei.

–Kathleen, você tem noção do quanto magoou a sua amiguinha de turma? Palavras ferem. Estudei muito para ser engenheira e se a sua amiguinha estudar, ela também poderá ser uma brilhante engenheira, até melhor do que eu, minha filha. –Pietra disse pegando nas mãozinhas da nossa filha.

–Ela não é minha amiguinha, mamãe. Eu não gosto dela… –Kathleen rebateu gritando.

–Mude o tom de voz para falar comigo, a autoridade aqui ainda sou eu. –Pietra rebateu, mas sem se alterar. –Por que você não gosta dessa menina? Só por que ela tem uma cor diferente da sua? Responde Kathleen!

–Não sei, apenas não gosto dela e pronto. –Kathleen disse, mas sabe como é coração de mãe? Sentia que havia algum motivo para tamanha antipatia que ia muito além da cor da pele, mas não sabia o que era.

–Kat, tudo bem que você não é obrigada a gostar de todas as pessoas, mas respeito é muito importante. Eu e sua mãe também não gostamos de certas pessoas, mas respeitamos. Percebe a diferença meu amor? –perguntei acocando na frente da minha filha, sabia que ali havia um coração cheio de amor de uma criança de quase seis anos, não uma armadura. –Lembra quando a Paula te tratou muito mal no aniversário dela e você ficou triste? Não faça à Iara ou a qualquer outra criança algo que você sabe que deixará triste! –pela primeira vez notei que minhas palavras haviam sido captadas por aquela cabecinha difícil.

–Isso quer dizer que preciso respeitar a Iara, mas não serei obrigada a ser amiga dela? –não era bem isso que queria transmitir com a minha fala, mas acho que já valeria a pena.

–Exatamente meu amor. Não iremos te obrigar a ser amiga dela, mas respeite. Todo ser humano merece respeito independente da cor de pele. –respondi ainda sendo observada por aqueles olhos azuis atentos.

–Tá certo, não desrespeitarei essa menina, mas não serei amiga dela. –Kat disse com seu posicionamento rígido de antes. –Agora vocês podem devolver meu tablet? Preciso dele pra conversar com as minhas primas e com a Pat.

–É claro que não, Kathleen! Você precisa entender que suas atitudes geraram consequências e terá que responder pelo que fez. A Gi foi muito boazinha por ter apenas tirado seus equipamentos, agora chegou a minha parte do castigo. A partir de amanhã sairá apenas para a escola, balé e seus compromissos profissionais. Seus passeios pra casa da Rafaela e da Natalie, assim como pra qualquer outro lugar estão proibidos. –Pietra completou e fiquei feliz pelo apoio que recebi.

–Mãezinha, sábado a Rafinha vai dar uma festa e eu não vou?! Isso só pode ser brincadeira, né? –Kat perguntava chateada.

–Olha bem pra nossa cara e veja se estamos rindo ou com cara de brincadeira? Agora vá para o seu quarto dormir. Amanhã cedo tem escola. –falei com um tom de voz firme.

–Vão me contar história antes de dormir? –Kathleen fazia uma expressão que derreteria qualquer coração.

–Não Kathleen, ainda estamos muito chateadas. Só mais um aviso, amanhã mesmo… Você vai pedir desculpas para essa menina que você ofendeu. –Pietra disse sem ligar para a cara de insatisfação da nossa filha.

–Mãe, não vou e…

–Nós não estamos pedindo, isso é uma ordem, e eu vou me certificar se fez ou não o que sua mãe falou. –disse apoiando minha esposa.

–Vou fazer poque estão me obrigando, mas não é um arrependimento sincero. Boa noite! –Kathleen disse nos deixando de boca aberta e indo para o quarto.

Era incrível a conexão existente entre Pietra e eu, quando nos recolhemos para o nosso quarto, ela entendeu perfeitamente que não havia falado tudo o que aconteceu na frente da loirinha.

–Pinguim, você ainda tá me escondendo algo. O que não teve coragem de dizer? –Pietra estava muito cansada do dia corrido no escritório. Kat ainda dava dor de cabeça. Hoje entendo melhor o posicionamento da Ágatha quando naquela época não queria ter filhos, mas logo tratei de afastar esse pensamento.

–A diretora quer que a nossa filha vá estudar no terceiro ano, acha que será melhor. O que mais me preocupa é que a mãe dessa Iara vai querer fazer de tudo pra ferrar com a nossa vida, mas já conversei com a Bianca e ela disse que podemos contar com ela… –aos poucos fui inteirando minha esposa de todos os acontecimentos.

–De jeito nenhum, nossa loirinha não irá para turmas de crianças mais velhas, a escola precisa fazer algo pra que a Kat seja inserida. Não quero briga com a mãe dessa menina, mas se ela pensa em prejudicar minha filha, faço questão de levar esse processo até o fim, e ela que vai se dar mal. Aliás, quem é essa mulher que tá se metendo a besta? –era agora que precisava falar a verdade, não podia adiar.

–Quem tá por detrás de todo esse processo é a Ágatha, a Kathleen mexeu com a filha dela. –falei tudo de uma vez só.

–É sério que com tanto colégio nessa cidade, a Kat tinha que ser da mesma escola e da mesma turma da filha dessa mulher? Ainda não entendi como a Ágatha conseguiu ser mãe, esse papel não combina com ela. Mudei de ideia, vamos falar com a diretora e a Kat será transferida o mais rápido possível para a turma do terceiro ano. Minha filha não será amiga dessa garota, ela não quer e eu muito menos. –Pietra falava transtornada tomada pelos ciúmes.

–Pietra, você mudou completamente de ideia só por descobrir que a Ágatha é mãe dessa menina, e quer colocar a Kathleen em outra turma. Não esqueça que nossa filha foi racista e a Iara não parece ser má criança… –nem pude terminar de falar e tive minha fala cortada.

–Agora você tá colocando essa menina que você nem conhece como vítima e nossa filha como carrasca. Tudo isso por que ela é filha do grande amor da sua vida? Espero que essa volta para o Brasil não traga problemas para o nosso casamento. –minha esposa comentava furiosa.

–Você que tá colocando palavras na minha boca, Pietra. Estou sendo racional e não colocando minhas emoções a prova. Agora quero dormir, a Kathleen é uma irresponsável que me fez sair mais cedo do trabalho, tô morrendo de dor de cabeça e amanhã ainda tenho que chegar mais cedo pra colocar meus relatórios em dia. Você também tá cansada, deveria ir dormir também ao invés de querer brigar.

–Olha só o que tá falando, chamando minha filha de irresponsável, ela é apenas uma criança maravilhosa que precisa de cuidados e ser educada. Mas, você não quer aceitar a verdade, vamos dormir. Boa noite, Giovanna.

Oi meninas. Como prometido estou de volta com mais um capítulo. Parece que a Pietra se irritou e a partir de agora a relação da Gi e da DJ estará mais complicada. O que acham que está por vir? Conto com as ideias, críticas, comentários e sugestões de todas. Beijos e até terça-feira.



Notas:



O que achou deste história?

4 Respostas para 57. O casamento começa a desmoronar

  1. Que saudade que eu tava dessa história. Torço sempre pelo amor.

    E kat, realmente precisa uma lição. As mães poderiam proibi-la de fazer o que ela mais gosta

    • Peço desculpas novamente pelo sumiço, mas minha inspiração era zero.
      A Kat ainda vai dar um trabalhinho…
      Obrigada pelo comentário.
      Beijos 🙂

    • A Gi e a Ágatha passaram por tanto sofrimento que merecem ser felizes e deixa que a Kat vai se arrumar kkkk.
      Obrigada pelo comentário.
      Beijos 🙂

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