Nosso Estranho Amor

58. Onde há fumaça há fogo

Meninas, desde já aviso que esse capítulo talvez provoque algumas opiniões positivas ou negativas sobre a Ágatha, mas o capítulo de hoje é extremamente necessário para o rumo que a história vai tomar a partir de agora. Justamente por esse motivo o capítulo saiu bem mais longo. Espero que gostem. Boa leitura!

 

Os próximos dias foram bem complicados, minha esposa estava chateada comigo, sendo que eu não tinha culpa de nada, o ciúme falava alto. Por medo de que a Kathleen voltasse a aprontar, levava parte do meu trabalho para fazer em casa, assim poderia chegar à escola dela mais cedo a fim de saber se tudo estava correndo bem. E foi em um desses dias que vi Ágatha chegando, linda e imponente como sempre, vestida no seu terninho feminino com os cabelos ruivos escovados, pior ainda, sentando no mesmo banco em que eu estava.

–Sua filha me surpreendeu quando pediu desculpas pra Iara na minha frente. –apenas ficaria calada, nessa hora o desprezo e o silêncio são as melhores respostas. –Recebi uma intimação de Bianca Farlen. Sua cunhadinha tá mesmo disposta a competir comigo? E se eu ganhar essa briga?  –continuava a perguntar não ligando pra falta de respostas. –Giovanna, eu tô falando com você, sabe que eu odeio ser ignorada. –nessa hora meu estresse já iria transbordar.

–Pra você é Sra. Giovanna Farlen, promotora Médici. Lhe falei que você poderia se dar mal, a Sra começou com essa confusão, então agora aguente. A Kathleen é minha filha e jamais ficaria desamparada. E, não se preocupe, minha filha está longe da Iara, tenho certeza de que não terá mais queixas. –falei com um sorriso falso.

–É sobre isso que quero falar. Eu tiro toda a denúncia e não pretendo prejudicar a carreira da Kathleen, mas quero que ela continue na turma da Iara, e você esqueça daquela ideia de lhe colocar na turma do terceiro ano. Se ela é muito inteligente, é uma forma de ajudar outras crianças. –estava boquiaberta diante do que havia escutado.

–Ágatha, até outro dia você falou justamente o contrário, foi a primeira a querer minha filha longe das crianças do primeiro ano. A única explicação pra essa mudança repentina de ideia é que você é portadora de transtorno bipolar, não vejo outra explicação. É melhor manter nossas filhas longe… –meu lado sensato estava no comando.

–Por que a Iara e a Kathleen devem se manter tão longe se estudam na mesma sala? Com certeza aí tem dedo da Pietra, seria típico dela agir assim. Antes ela me perguntava se eu não me garantia, só que atualmente creio que é ela que não se garante, acha que se brotar uma amizade entre as meninas, também reacenderá algo a mais entre nós. –Ágatha comentou ironicamente.

–O que é passado, ficou no passado. Minha esposa não tem motivos para ter essa desconfiança, nem você tem que ficar relembrando algo que eu mesma já esqueci. –falei com raiva.

–Será que esqueceu, Giovanna? –percebendo meu silêncio, a ruiva continuou. –A questão é que a Patrícia irá sair da escola e sua filha ficará sem amigos, em compensação a Iara é amiga de quase todos os coleguinhas, poderá ajudar sua filhinha a se socializar. A Iara precisa da ajuda da sua filha pra melhorar as notas, a Kathleen precisa da minha filha para fazer novas amizades. Eu te ajudo, você me ajuda! –Ágatha dizia me fazendo pensar seriamente nessa proposta, seria bom para as duas crianças. –Só que a Pietra não pode saber de nada, sei que sua esposinha não concordaria e não quero intromissão da família Farlen na minha vida.

–Você está enganada, não pretendo esconder nada da Pietra, ela é tão mãe da Kat quanto eu, depois irei lhe contar sobre essa ideia… Mas e a sua esposa? A Sabrina não parece que ficará feliz quando souber do seu plano. –comentei de propósito.

–A Sabrina não é minha esposa, mãe da Iara e nem nada do gênero como a maioria pensa, é apenas uma idiota com quem tracei uma amizade colorida pra conseguir a guarda definitiva da Iara de forma mais rápida. –falou calmamente e não pude esconder minha alegria.

–Ágatha Médici usando as pessoas como seus brinquedinhos. Não acho legal o que está fazendo, a mulher parece apaixonada por você. –resolvi ser sincera. –E vocês pareciam muito felizes no aniversário dos filhos da Dani.

–Com o passar dos anos aprendi a usar as pessoas da melhor maneira possível para conseguir o que quero, você deve saber disso melhor do que eu quando usou a Pietra pra tentar me esquecer, a diferença é que não surtiu o efeito desejado. –Ágatha falou me encarando profundamente, mas não iria entrar no jogo dela.

–Não tenha tanta certeza de que não te esqueci, pode se enganar. –falei com uma calma absurda. –Está bem, Ágatha. Quando colocaremos nosso plano em prática? Não se preocupa que dou um jeito para a Kathleen não abrir a boca e comentar qualquer coisa com a Pietra antes de mim.

–Hoje mesmo. Daqui levo a Kathleen para o meu apartamento, assim, ela e a Iara vão se conhecendo. –a ruiva comentou para meu eto total.

–Mas hoje não dá, Ágatha… Preciso fazer hora extra no trabalho, tô com muito serviço acumulado. Não vou poder ficar com a Kathleen na sua casa.

–Não tô dizendo que você precisa ficar, apenas deixe a Kathleen comigo. Ou você acha que serei louca de fazer mal pra sua filha?

–Tá bom, tô precisando mesmo de um descanso dessa menina, pelo menos por hoje. –pensei comigo mesma.

Poucos minutos depois Iara apareceu radiante abraçando a mãe, era óbvio que a garotinha era uma criança adorável. Quem me dera se minha filha fosse assim… Como Kathleen ainda estava de castigo, precisamos espera-la mais um pouco.

–Boa tarde, mamãe. Já podemos ir? –Kat indagou ignorando totalmente a presença da Ágatha e de Iara enquanto beijava minha face.

–Sim, mas hoje você irá pra casa da Ágatha. A Iara está com algumas dificuldades em português, você é muito inteligente e não vai te custar nada ajudar. Mais tarde te apanho na casa da Iara. –disse sem dar espaço para dúvidas.

–Eu não gosto da Iara, já lhe disse… –Kat falou me estressando ainda mais.

–E por que você não gosta da Iara, alguma coisa haver por ela ser negra? –Ágatha perguntou calmamente.

–Não, ela e a Paula ficam me chamando de metida, chata e patricinha. –Kat falava me surpreendendo, mas como saber se minha filha falava a verdade ou mentia?

–Isso é verdade, Iara? –a ruiva perguntou se voltando pra filha.

–Sim, mas foi apenas de brincadeira. Desculpa Kathleen. –Iara era muito fofa pedindo desculpas.

–Desculpo desde que fique longe de mim. –Kat rebateu. –Por favor, mãezinha, eu não quero ir pra casa dessa menina.

–Kathleen, pense que esse é um bom momento pra que você e a Iara sejam amigas. –disse pegando nas mãozinhas da minha filha.

–Sim Kathleen, sua mãe está certa. –Ágatha falou. –Você vai gostar muito do meu apartamento, tem vários brinquedos.

–Você disse que não me obrigaria a ser amiga dessa menina, parece que mentiu… Vai mesmo me obrigar a fazer o que não quero? Vou contar tudo pra mamãe quando chegar em casa. –Kathleen falava me ameaçando desafiadoramente.

–O mundo não é cor de rosa, Kathleen. Nem sempre fazemos apenas o que queremos. Várias vezes enquanto aguentava seus chiliques queria estar em uma praia, então não reclame. Agora vá com a Ágatha!

–Minha mãe vai adorar saber o que você está me obrigando a fazer… –ainda resmungou.

–Não me ameace! Se Pietra e eu estamos brigando parte da culpa é sua. Agora vai que ainda tenho muito o que fazer.

–Tchau tia Gi. Adorei te conhecer! –Iara disse vindo me abraçar. Essa menina já tinha ganhado meu coração.

–Tchau Giovanna! Até mais tarde. –Ágatha disse me piscando um olho e indo embora com as meninas.

Parece rude a maneira que tratei minha filha, mas não deixaria que ela me chantageasse ou gritasse mais alto do que eu.

Por fim, depois de tantos anos tive uma tarde tranquila de trabalho. O meu eto geral foi quando meu celular tocou urgentemente e Ágatha implorava para que fosse até ao seu apartamento buscar a Kat, meu coração disparou. Sua voz soava de preocupação e fiquei paralisada de medo.

Saí em alta velocidade sem cinto de segurança e avançando em vários sinais vermelhos pelas ruas do Rio de Janeiro, em breve com certeza receberia algumas multas. Se não atropelei ninguém, bati meu carro ou sofri algum acidente foi porque Deus me protegeu.

O elevador estava demorando muito ou vai ver que eu é que estava apressada, acabei subindo seis lances de escada com aqueles saltos, minhas pernas já sentiam o efeito desse sacrifício.

Quando adentrei naquele apartamento vi uma das piores cenas da minha vida, uma cena que até hoje está gravada no meu cérebro. Kathleen chorava e berrava de maneira desesperada enquanto se debatia contra o chão, ela tossia desenfreadamente do tanto que chorava, nunca vi minha filha desse jeito antes. Ágatha tentava lhe acalmar de todas as maneiras, mas era inútil.

–Ágatha, o que você fez com a minha filha? Ela não é de chorar e ter esse tipo de comportamento. Pelo amor de Deus, a Kat é uma criança. –tentava fazer minha filha parar de chorar e falar algo, mas era em vão.

–Que tipo de monstro você acha que sou?! Nunca faria nada de mal a uma criança que ainda por cima é sua filha. –a ruiva falava nervosamente e eu não sabia direito o que pensar.

–Então me conta o que aconteceu pelo menos. Olha só, a Kathleen não para de chorar. –falei sem saber mais o que fazer para conter os choros e os berros da minha filha.

–Eu não sei Giovanna, aconteceu tudo tão rápido… –a ruiva comentava sem me olhar. –Eu não bati na sua filha se é o que tá pensando.

–Não tô pensando, tô começando a ter certeza. Nesse momento me sinto a pior mãe do mundo por ter trazido minha filha até aqui. Tchau Ágatha!

Peguei minha filha no colo e saí apressadamente daquele prédio, o choro e os berros não paravam, atraindo a atenção de muita gente, até eu mesma já estava começando a perder a paciência. O pior é que a Kathleen não falava nada, só chorava.

Em casa, quando pedi para que ela fosse tomar banho, aconteceu mais uma surpresa desagradável.

–Não vou tomar banho, você não manda em mim e nunca vai mandar. –gritava em meio ao choro me desafiando.

–Esqueceu que sou sua mãe e você vai me obedecer sim. Vai agora pro banheiro! –falei enquanto lhe segurava firmemente pela cintura, mas sem machucar.

–Você não é mais minha mãe, Giovanna! Não vai mandar em mim! –nessa hora Kathleen me deu uma forte bofetada no rosto e eu fiquei sem reação. Minha filha nunca havia agredido ninguém fisicamente, muito menos a mim, não sabia o que fazer.

Nesse exato momento Pietra chega e se depara com aquela cena deplorável.

–Mamãe, mãezinha, até que enfim você chegou. –Kat se transformou novamente em uma criança doce enquanto ia abraçar a minha esposa. –Por que demorou, mamãe? Sinto tanto a sua falta.

–Tudo isso é saudades de mim meu amor? –a morena indagava sem me dar atenção.

–Claro que sim, você nem passa mais tanto tempo comigo, prefere o trabalho. –Kathleen parecia não querer largar a Pietra de jeito nenhum, mais uma vez eu estava sobrando.

Ainda agarrada à Pietra, Kathleen voltou a chorar novamente, pegando-nos de surpresa.

–Por que minha filha preferida está chorando? Aconteceu algo meu anjo? –Pietra indagava preocupada.

–Eu tentei falar com a Kat, mas ela não quis me dizer o que houve. Mas tá vendo o meu rosto vermelho? Ela me bateu. –Pietra ficou pálida quando ouviu minha fala.

–Cala boca, Giovanna! Eu não tô falando com você. –mais uma vez fui interrompida.

–Kathleen, a Giovanna também é sua mãe! Por que você bateu nela? Sua mãe te ama. Será que cada vez mais seu comportamento vai piorar? Filha, tô tentando te educar de todas as maneiras possíveis, mas sinceramente não sei mais o que fazer. –Pietra respondeu com um semblante cansado. –Será que você não nos ama? Sempre tento te fazer feliz, e é assim que você retribui?

–Mãezinha, eu juro que te amo e vou tentar me comportar melhor com você, eu só não gosto da Giovanna. Ela não ama a gente, mamãe… Ela ama a Iara e a Ágatha. –fiquei chocada com essa fala da Kathleen.

–Espera aí! Giovanna, como a nossa filha sabe da existência da Ágatha e por que ela tá falando algo assim? Tá acontecendo alguma coisa e exijo saber o que é.

–A Giovanna me obrigou a ir pro apartamento da Iara com a mãe dela, nem me acompanhou, quer que eu seja amiga dessa menina, mas eu não quero mamãe, eu não quero… –Kat falava ainda com voz de choro e não queria de jeito nenhum desgrudar da minha esposa. Pietra me olhava e conseguia sentir seu olhar de ódio sobre mim.

–Você não vai voltar nesse apartamento e muito menos te obrigarei a ser amiga dessa menina. Confia em mim? Confia que a mamãe vai te proteger contra tudo de ruim. –Pietra repetia essas palavras com o rosto emocionado. –Agora vou pedir pra Francisca te ajudar no banho enquanto nosso jantar é preparado.

–Confio mamãe. Eu te amo! Por favor, posso ir dormir depois do banho? Eu tô sem fome e muito cansada, amanhã é dia da novela.

–Claro meu amor, mas só por hoje, não vá se acostumar a ir dormir sem jantar. Boa noite, filhinha! Não esqueça que a mamãe te ama muito! –Pietra falava controlando a vontade de chorar.

–Não vou esquecer. Eu também te amo mamãe. Você é a melhor mãe do mundo! –Kat disse e depois deixou a sala sendo seguida pela babá.

O silêncio na sala se fazia presente e sabia que viria mais uma bomba para o meu casamento. Perdi o número de vezes que Pietra respirava profundamente antes de iniciar a conversa que teríamos a seguir.

–Agora somos só nós duas. Explica que ideia maluca foi essa de mandar a minha filha pro apartamento da sua ex, ainda por cima desacompanhada. Você já tá querendo forçar uma amizade entre a Kat e essa Iara para quando me pedir o divórcio, as duas serem amigas de longa data, irmãs, assim você pede a guarda definitiva da minha filha e vai querer que ela chame a Ágatha de mamãe? –Pietra indagava furiosa. Juro que essa nunca foi minha intenção.

–Claro que não meu amor. Sou extremamente grata por tudo o que você fez por mim, você é uma esposa maravilhosa, não poderia ter escolhido alguém melhor. A Ágatha fez uma proposta sobre retirar a acusação da nossa filha se em troca a Kat fosse para o apartamento dela ajudar a filha com o dever de português. A Patrícia tá pra sair do colégio, a Iara é bastante sociável, na hora pensei que seria uma boa ideia as duas se entenderem pelo menos, e a Kathleen poder ir fazendo novas amizades depois, independente de ser ou não com a Iara. Disse e volto a mencionar, não quero nossa filha com crianças mais velhas e crescendo antes do tempo. –disse indo abraçar Pietra, mas a morena se afastou. Só queria que ela acreditasse em mim mesmo porque tudo o que falei era verdade.

–Giovanna, por tudo o que é mais sagrado. Sei que vai doer, mas se você ainda nutre algum sentimento pela Ágatha me diz, essa é a hora certa pra pedir o divórcio, juro que não vou estragar a felicidade de vocês, só não afasta a Kat de mim. –Pietra já chorava e não escondi a surpresa com o seu estado.

–A resposta é não para as afirmações. Não quero me divorciar de você e jamais seria louca de te afastar da própria filha. –falei verdadeiramente.

 Excepcionalmente nessa noite, Pietra resolveu ir dormir no quarto da nossa filha, sentia-se em falta com ela. Quando penso que as coisas não podem piorar na minha vida e no meu casamento, percebo que estou completamente enganada, tudo sempre pode ficar pior do que já está. A verdade é que nosso casamento já estava indo de mal a pior. A Pietra passava o dia na construtora, tinha até medo de que o passado se repetisse e novamente minha cabeça estivesse enfeitada com tantos chifres, de noite toda a atenção dela ia para a Kathleen, não sobrava absolutamente nada para mim, parece que eu sempre ficava sobrando, depois ia dormir. Desde que retornamos ao Brasil, nossa vida sexual estava quase que inexistente. A preocupação da minha esposa sempre era ao redor dessa menina, ninguém ligava para mim ou para os meus sentimentos.

Enquanto já me arrumava para levar Kathleen para a escola, mais uma preocupação nova. Agora a Pietra não quis que a babá ajudasse a lavar o cabelo da menina, quis ela própria dar banho na Kat, parece que a garota estava regredindo.

Minha preocupação foi maior quando Pietra chegou na sala-de-estar com cara de enterro.

–Amor, o que aconteceu? Por que você tá tão séria? –indaguei assustada.

–Giovanna, enquanto dava banho na Kat, notei umas manchas roxas no braço direito dela e em uma parte da barriga, e ela não quer ir pra escola de jeito nenhum. Eu acho que a Ágatha bateu na nossa filha. –Pietra falou enquanto as lágrimas escorriam pelo seu rosto pálido.

–Não pode ser minha linda, deve ter alguma explicação, a Ágatha não faria isso… –nem pude terminar de falar que já fui interrompida pelos gritos da Pietra. Fiquei mais do que assustada porque ela nunca gritou comigo, muito pelo contrário.

–A Ágatha é uma louca que não gosta de crianças, sua obsessão por ela é tão séria que você não é capaz de perceber. Eu vi as marcas roxas no corpo da minha filha, perguntei e ela disse que a mãe da Iara bateu nela. A Kat não mentiria. –Pietra me fuzilava com o olhar.

–A Kathleen já mentiu sobre outros assuntos graves desde que ela começou a ser muito amiga da Rafaela, sempre te disse que a filha do Renan não seria boa companhia. Esqueceu quando ela roubou o dinheiro da sua bolsa e disse que havia sido o José? Se não fosse pelas câmeras de segurança da casa dos meus pais, o homem perderia o emprego de décadas. Nossa filha precisa urgentemente de um psicólogo infantil, já te falei mais de mil vezes, mas parece que você não me escuta. –rebati revoltada. De dez brigas no meu casamento, onze era por causa da minha filha. –Ela destrata as crianças na escola, é agressiva, malina, bateu até em mim ontem, mas você fecha os olhos pra tudo o que essa garota faz de errado. –agora era eu que chorava.

–Essa garota como você mesma diz, é minha filha e sua também, você querendo aceitar ou não. A Kat está muito chateada contigo, talvez com razão porque parece que você não ama essa menina… Até porque foi por culpa dela que a Ágatha e você não ficaram juntas no passado, você culpa essa criança pelo que aconteceu naquele dia, mas foi você que quis levar essa gravidez adiante quando poderia ter interrompido se achava que não seria capaz de suportar todo trauma, Giovanna. Você fez a sua escolha, a menina nasceu e agora você não pode mudar o passado ou querer colocar a Kat como o pior ser humano do universo. –agora eu  já chorava de tristeza.

–Pietra, cala boca! Mesmo você não acreditando, juro que nunca me arrependi de ter levado adiante minha gravidez. Eu sempre quis ser mãe, amo a nossa filha, ela é linda, talentosa, muito inteligente e doce quando convém, mas isso não me impede de enxergar os defeitos e ver que nós duas perdemos as rédeas e não sabemos mais o que fazemos com a Kathleen. Você pode pelo menos uma vez na vida me escutar e iniciarmos um tratamento psicológico com aquele amigo da minha mãe? –implorei exausta desse assunto.

–Hoje não é um bom dia para a Kathleen ir à escola. Outra coisa que queria te implorar, deixa que a partir de agora fico mais a frente da educação da Kat, não vou trabalhar hoje e não sei quando retorno à construtora. Você poderia assumir a minha função na construtora? Você é competente o bastante para o cargo. Sei que tem seu emprego, mas pra assumir o meu cargo precisa ser  alguém de extrema confiança.

–Claro que sim, creio que é o melhor, até porque eu mesma sinto falta da minha sanidade mental, algo que não tenho perto dessa menina. E já que a Kathleen ama apenas você e eu não represento nada na vida dela como ela mesma fez questão de frisar, não sou mais a mãe dela, acho que é melhor assim. Pelo menos o trabalho não me dará tantos problemas.

–Vou seguir o seu conselho, Giovanna. Hoje mesmo agendarei um psicólogo infantil e levarei a Kat, também vou levar a minha filha pra realizar alguns exames a fim de saber se essas marcas roxas são ou não provenientes de maus tratos. Juro que se a Ágatha tiver agredido minha filha, vou mata-la com minhas próprias mãos e nunca te perdoarei por ficar ao lado dela. –Pietra rebateu enquanto me deixava sozinha com minhas lágrimas indo para o quarto da filha dela como ela mesma fez questão de enfatizar.

A partir desse dia, a situação na minha casa se tornou insustentável. Kathleen me desrespeitava direto, eu não tinha mais autoridade alguma desde que levei aquele tapa, em compensação a menina morria de amores pela Pietra, o comportamento começava a melhorar com todos, apenas comigo é que as coisas pioravam. Dessa forma meu casamento ia se destruindo, tudo por causa dessa menina, minha esposa não me dava atenção, parece que tudo era até melhor quando eu não estava por perto. Mesmo estando muito triste com tudo o que acontecia, não conseguia deixar de amar a Kat, acho que é isso que chamam de amor de mãe, só que estava na hora de fazer algo por mim. Apenas comuniquei à Pietra que iria me mudar para a casa que tínhamos na região metropolitana do Rio, e que ela podia fazer o que quisesse com a Kathleen porque ninguém me ouvia, ninguém se importava comigo e eu mesma já havia desistido. No início, minha esposa implorou dizendo para não me mudar, mas depois compreendeu que foi melhor assim. Não sei até quando nosso casamento duraria… Mesmo a Pietra repetindo com todas as letras que me amava, que não estava com outra mulher, que se não me dava atenção era porque estava muito preocupada com a garota, os fantasmas do meu passado retornavam com força total e eu não conseguia acreditar… Minha mente sempre gritava: Uma vez corna, sempre corna. Ainda mais agora que estávamos em casas separadas, talvez ficasse mais fácil para a Pietra colocar alguma mulher ali dentro e arrumar outra mãe para essa menina já que eu havia fracassado no meu papel.

Mesmo que quiséssemos esconder, Kathleen fez alarde para toda a família que havia sido agredida pela Ágatha, que eu não amava ela e blá blá blá. Confesso que não esperava, mas o apoio maior a passar por esse momento difícil veio da família da Pietra, tio Damon e tia Marcela me ajudaram muito nessa situação complicada, a Bibi também era maravilhosa, sempre trazia a Natalie para me visitar e acabei desenvolvendo um vínculo afetivo muito forte com a garotinha, minha afilhada, a menina fazia questão de enfatizar que era uma segunda mãe, mas Mateus antes carinhoso, agora estava arredio, creio que era por causa da adolescência e por me ver como monstro. Renan não parava de apitar no meu ouvido dizendo que eu era uma péssima mãe e Kat estava certa, parece que ele sentia prazer em me deixar mal, pior foi ver meu pai apoiando meu irmão. Como psicóloga, minha mãe sabia que poderia ser mentira a história dos maus tratos, mas até que os resultados médicos saíssem, ela preferia não emitir opinião e continuou a me tratar da maneira carinhosa de sempre, mas meus tios e minha avó sempre infernizavam minha vida.

 

Depois desse capítulo quero saber o que acharam, meninas. Será que a Ágatha foi capaz de bater na Kathleen ao ponto da criança ficar roxa? A decisão da Gi em deixar a menina ir pra casa da promotora foi acertada? O que levou a Kathleen a chorar e berrar sem parar? Conto com os comentários e sugestões de vocês. Um grande beijo e até sábado.



Notas:



O que achou deste história?

Deixe uma resposta

© 2015- 2020 Copyright Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução total ou parcial do trabalho sem a expressa autorização do autor.