Nosso Estranho Amor

6. Encontro por acaso

Em uma segunda-feira como tantas outras, estava lecionando tranquilamente para uma das turmas do quinto ano quando a diretora da escola interrompeu minha aula.

–Com licença Giovanna, preciso que me acompanhe até a diretoria.

–Aconteceu algo dona Rita? -indaguei preocupada.

–A responsável de um dos alunos do quarto ano gostaria de falar com você, parece que o menino tirou nota baixa na sua prova. Fique tranquila que eu cuido dos seus alunos.

–Classe, continuem realizando os exercícios de regência verbal e nominal de onde paramos. Quando voltar quero todos eles em cima da minha mesa.

–Sim, professora Giovanna! -a classe concordou com um único grito enquanto me retirava, ainda bem que meus tímpanos já estavam acostumados.

Tratei de caminhar rapidamente até a sala da diretoria, pelos vidros não acreditei quando vi quem estava lá, era a Ágatha, precisei tomar um copo d’água e respirar fundo antes de entrar naquela sala.

–Bom dia Srta. Em que posso ajudá-la? -estava mantendo meu profissionalismo, isso incluía fingir que não conhecia a Ágatha.

–Giovanna? -percebi sua expressão surpresa. -Sabia que era professora, mas não que dava aula para o Enzo, nunca poderia imaginar… -ela continuava surpresa e confusa, a sacana ficava muito mais gata quando estava de terno.

–A diretora Rita falou que gostaria de conversar comigo, o que aconteceu? Em que posso ajudar? -fiquei me questionando se ela era a mãe do meu aluno do quarto ano, a escola era grande, então eu não conhecia todos os pais.

–Gi, por favor, não fica falando de uma forma como se não me conhecesse. -vê-la me chamar de Gi amoleceu meu coração, mas eu estava muito chateada pelo sumiço dela.

–Srta., aqui é o meu local de trabalho, então seja breve, por favor. -respondi em vão tentando esconder meu nervosismo.

–Percebo que sempre fica sem jeito quando estou por perto, por que será? -indagou com um sorriso lindo, mas não iria ficar babando por ela.

–A diretora disse que você gostaria de falar comigo sobre a nota baixa que o Enzo tirou na prova. -disse mudando completamente de assunto.

–Pelo visto você não vai me dar uma chance de me explicar, mas eu preciso dizer que…

–Gostaria de saber sobre o desempenho do seu filho na sala de aula e como podemos fazer para que as notas dele melhorem? -não estava com a menor paciência para as desculpas lavadas da ruiva.

–Que filho? -ela indagou como se não soubesse sobre o que eu estava falando.

–Ora, o Enzo, sobre quem mais seria? -indaguei um pouco arisca.

–Não tenho filhos, o Enzo é meu sobrinho. Minha irmã e meu cunhado precisaram fazer uma viagem de negócios em cima da hora e pediram para que eu viesse falar com a professora dele, no caso você. -não sei porque, mas nessa hora tive uma sensação de alivio. -Por favor, para de me tratar como se nunca tivesse me visto antes, quero muito falar com você.

–Ágatha, já disse que aqui é meu lugar de trabalho, não é lugar para expor minha vida pessoal, podemos conversar depois se você quiser e em outro local, mas agora não. -respondi apreensiva, estava com medo de que alguém pudesse ouvir nosso diálogo.

–Tudo bem então. Quando posso te ver?

–Não sei, essa semana estou meio enrolada. Agora me diz, no que posso ajudar em relação ao Enzo.

Percebendo que eu não iria facilitar as coisas, Ágatha também adquiriu um tom sério e comecei a elucidar as suas dúvidas sobre a melhor maneira de melhorar as notas do seu sobrinho. Cerca de uns trinta minutos depois ela já se preparava para ir embora.

–Muito obrigada, Gi. Minha irmã e meu cunhado ficarão felizes por saber que o Enzo não é um caso sem jeito. -ela disse se aproximando de mim, meu cérebro detectou que aquela aproximação seria perigosa.

–Fico feliz por ter ajudado, mas esse é meu dever como professora. Acredito nas crianças. -disse já saindo da sala, seria perigoso ficar ali com a Ágatha.

Mesmo já do lado de fora ela ainda insistia em saber quando poderíamos nos ver novamente.

–Já te disse que essa semana estou sem tempo, quando puder te aviso. -respondi já sem paciência.

–Vou esperar Gi, só não demore por favor. Até mais! -Ágatha sem minha permissão se despediu depositando um beijo estalado próximo à minha boca, ainda bem que não havia ninguém por perto, se não perceberiam que existia algo além de uma relação professor – responsável.

No restante do dia trabalhei no automático, meus pensamentos agora mais do que nunca iam em busca daquela ruiva, mas eu estava muito chateada com o sumiço de dois meses dela. Lembrei que na última vez que nos vimos ela disse um até mais, uma despedida que significava que não nos veríamos novamente, tive certeza absoluta de que ela estava apenas compadecida por talvez eu ter criado uma ilusão qualquer, mas eu já estava ciente de que ela não me procuraria.

Mesmo demorando uma eternidade, lá pelas 18h50min h terminei a última aula do dia com a turma do 9° ano. Tranquilamente fui me dirigindo ao estacionamento quando alguém me agarrou pelas costas e senti um abraço bastante apertado, sem dúvidas aquela pessoa não queria me largar.

–Ágatha, por favor, me solta! -pedi com certa dificuldade sentindo aquele cheiro de perfume cítrico inigualável.

–Como sabia que era eu? -ela perguntou e eu me virei encarando aqueles olhos castanho-claros.

–A maciez da sua pele, seu cheirinho indescritível, seus braços longos, enfim, não foi difícil descobrir quem era. -respondi com as bochechas coradas. -Ainda não entendi o que está fazendo aqui.

–Estava morrendo de saudades e já disse que queria conversar contigo.

–Poderia esperar mais, seu sobrinho pode nos ver aqui… -disse me afastando.

–Não se preocupe, deu tempo para leva-lo na casa dos avós, ainda consegui tomar banho e voltar pra te ver.

–Como sabia que eu estaria aqui? -estava curiosa.

–Inventei para a diretora que ainda gostaria de esclarecer dúvidas com você sobre o Enzo, ela me disse o seu horário de saída da escola, deduzi que viria para o estacionamento e cá estou.

–Ágatha, acho que não temos mais nada para falar, vou acompanhar o Enzo mais de perto e no próximo bimestre com certeza ele estará com nota azul.

–Odeio quando você se faz de desentendida, Giovanna. Será que não percebe que estou morrendo de saudades e doida pra te beijar? -ela foi falando enquanto me prendia contra o meu carro.

–Você não deu sinal de vida todo esse tempo e acha que vou simplesmente acreditar em qualquer coisa que diga? O que foi? Aposto que não conseguiu nenhuma paquera hoje, por isso achou de vir atrás de mim.

–Pode falar o que quiser, não vou ficar afetada, sei que tá com tantas saudades quanto eu.

Eu ia sim rebater, ir embora, literalmente dar o fora dali, mas meu corpo é muito filho da puta e me trai quando aquela ruiva estar por perto. Instantaneamente começamos a nos beijar e nos abraçar ali mesmo, eu estava imprensada contra o meu carro e Ágatha em cima de mim me beijando ardentemente. Por fim, ainda tive um pouco de discernimento para saber que qualquer funcionário do colégio poderia me flagrar ali, e não seria maluca para colocar meu emprego em risco.

–Ágatha, quantas vezes tenho que repetir que aqui é meu local de trabalho e você não pode sair me agarrando dessa forma?

–Desculpa, mas é que não resisti, estou com muitas saudades. Janta comigo essa noite naquele mesmo restaurante em que nos reencontramos, já te disse que precisamos conversar.

–Não me leva a mal, mas eu tô muito cansada. Só quero ir pra casa, jantar e dormir. -o dia foi corrido, então não estava mentindo, mas também era uma tentativa para que não desse tanto na cara os pensamentos obscenos que eu imaginava.

–Tudo bem, então podemos jantar na sua casa mesmo, assim você fica mais a vontade e podemos conversar. -disse com a maior cara de pau entrando no banco do carona.

–Você não desiste mesmo… Quem te deu autorização pra entrar no meu carro? -já não estava com raiva, a saudades estava bem maior.

–Ué! Você não me convidou pra entrar no carro, fiz por conta própria. Vamos logo antes que fique tarde.

A Ágatha tinha um jeito muito mandão, quem não lhe conhecia não suportava esse detalhe nela, mas na minha humilde opinião esse fato lhe conferia um ar extremamente sexy e fofo ao mesmo tempo. Cerca de uns vinte minutos depois, estávamos no apartamento, ainda bem que meu irmão não estava, assim teríamos mais privacidade.

–Então é aqui que você se esconde… -ela disse observando o apartamento.

–Ágatha, fala logo sobre o que você quer conversar. Amanhã meu turno começa bem cedo e preciso descansar.

–Se eu não te conhecesse bem, diria que está me expulsando e querendo se livrar de mim, mas como te conheço bem sei que está com medo do que possa acontecer entre nós duas, seu cérebro acha loucura, mas seu corpo todo está ansiando por outra coisa que você sabe que não poderá resistir. -respondeu rindo.

–Tem certeza de que você é advogada? Jurava que era cartomante, agora deu pra ler mentes? -rebati nervosamente.

–Não sei se já te falaram, mas você é muito transparente Gi. Relaxa, toma um banho e conversamos com calma. Não estou com pressa.

–Esqueceu que te disse que não estou com muito tempo e preciso descansar? -falei começando a me estressar.

–Não esqueci, prometo que não vou tomar muito do seu tempo.

Eu estava em um nível de estresse muito grande, sabia perfeitamente que era devido à traição do meu corpo de querer se entregar aos braços da Ágatha, se a ruiva me beijasse, eu iria cometer uma loucura da qual me arrependeria depois. Tomei um banho rapidamente com todos esses pensamentos desconexos na minha cabeça, por fora estava calma, mas minha mente não dava um minuto de sossego.



Notas:



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